15
mai
2015

A Influência Cultural Brasileira no Modo de Ver e Expressar o Tribal - parte 2

por Janis Goldbard

Esta pequena pesquisa tem a intenção de apontar artistas, movimentos artísticos e obras de artes brasileiras que podem ter influenciado estética e comportamentalmente o nosso modo de ver e expressar o Tribal Fusion. Já vimos em A Influência Cultural Brasileira no Modo de Ver e Expressar o Tribal – parte 1 que a Semana da Arte Moderna (1922) foi um marco na história do Brasil e que, a partir daí, já não se concebe a arte como antes. Com a Semana da Arte Moderna, tudo passa a ser criticado e analisado sob diferentes pontos de vistas, e isso torna-se um ponto positivo para a busca da identidade artística brasileira. Vimos ainda que O Manisfesto Antropofágico (Oswald de Andrade), publicado em 1928, que começa a romper com todos os antigos condicionamentos e dá abertura a uma nova concepção da arte brasileira.

Neste artigo, proponho uma conexão histórica entre o cenário político do Brasil e o que estava acontecendo com a Dança do Ventre na mesma época que tenha tido uma relevância histórica.

No Cairo, a bailarina sírio libanesa Badia Masabni inaugura, em 1926, o Cassino Badia, que foi uma casa de entretenimento muito frequentada pela sociedade da época. Badia foi uma mulher à frente do seu tempo e que reestruturou a forma como era vista a Dança do Ventre no Cairo e no mundo. No processo dessa reestruturação, contratou coreógrafos ocidentais para ajudá-la nas coreografias, o que, consequentemente, influenciou as posturas das bailarinas - principalmente em relação aos braços, que a partir daí foram para a altura do peito. Badia contratou músicos com formação clássica que passaram a dividir o palco com as bailarinas.



No Brasil, na década de 40, a dança moderna ganha uma grande visibilidade, tornando-se, inclusive, disciplina curricular ofertada nas universidades e que é concebida a partir das definições de Helenita Sá Earp, figura importante quando se fala de dança no Brasil e que influenciou vários profissionais, disseminando assim suas concepções artísticas.

Helenita Sá Earp foi uma mulher ousada que, dentro de uma mentalidade militarizada, na qual o Brasil estava inserido e com um padrão de movimentação rígida, conseguiu se expressar de tal forma que passou a ser reconhecida como uma figura muito importante da dança no séc. XX no Brasil. Ela formou uma companhia diferente de tudo o que se estava acostumado a ver. O caráter pioneiro e inovador é indiscutível e sua postura de vida era muito diferente do comum, não somente no que se refere à dança. Helenita tinha uma aproximação com a natureza muito orgânica e já falava da importância da boa alimentação e a relação com o corpo, antecipando questões que mais à frente seriam muito debatidas. O Tribal possui muito desses conceitos.
                                  


Ainda na década de 40, a rádio estava em seu auge e passava a influenciar o imaginário das pessoas, aproximando-as cada vez mais da informação (lembrando que o mundo vivia sob pressão da segunda Guerra Mundial). Materiais gráficos também passavam a entrar em circulação na intenção de entreter e saciar a curiosidade em relação ao meio artístico, que ganhava cada vez mais notoriedade.

Vamos para o outro lado do mundo novamente? As bailarinas de Dança do Ventre da Era de Ouro (década de 40), como Samia Gamal, Taheya Carioca e Naima Kaif, estavam fazendo seus experimentos, agregando elementos até então não utilizadas na Dança do Ventre às suas performances.

Taheya Carioca, influenciada por seu derbakista, gostava tanto do ritmo do samba que apoderou-se do estilo de tal forma que até mesmo seu nome retrata essa fusão. Samia Gamal optou pelo véu e o tornou bastante popular. Mais tarde agregou movimentos dos ritmos latinos à sua dança. Naima Kaif levou a dramaticidade e elementos circenses ao palco.




Às vezes essas associações podem não parecer muito enfatizadas durante essas décadas, mas como não fazer uma analogia, por exemplo, da reestruturação da cultura brasileira quando, depois d’O Manifesto Antropofágico, nos aparece Helenita Sá Earp com todo o frescor de idéias novas e incorporações de conceitos, como hábitos de vida saudáveis e conexão com a natureza?  E quando percebemos que, na mesma época, na Dança do Ventre, de onde parte toda essa nossa influência, bailarinas tão inovadoras, que com certo sentido antropofágico, absorveram culturas de outros países para reestruturarem e mostrarem uma nova expressão artística dentro da Dança do Ventre?

Bom, o Tribal Fusion tem essa proposta de mesclagem. Fazendo essas conexões, conseguiremos chegar ao ponto em que o Tribal Fusion começa a aparecer nas pesquisas sobre a história da Dança do Ventre no Brasil, mas isso é para outro momento. Continuem acompanhando!


Texto -  Janis Goldbard
Edição de Texto – Samara Zegarra


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