Olá!
Estava eu a pensar sobre as atuais apresentações de tribal fusion no Brasil e no mundo. Notório é o “atraso” do nosso país em relação ao EUA. Mas em vários movimentos artísticos o Brasil e outros países do mundo se manifestam depois, já que tais movimentos nasceram em outras partes do mundo e depois foram importados.
Na América do Norte o tribal fusion nascera do ATS e ainda se parecia muito com esse, visto os trajes, passes e músicas muito influentes de seu genitor. Então no início dos anos 2000 o tribal fusion tinha ainda muitas características de tribos e povos do Oriente Médio e Norte da África, ascendência fortíssima do ATS. Mais ou menos por volta de 2007 observamos uma mudança drástica do cenário tribal, este incorpora muito do estilo vintage/burlesco. Por volta de 2009 e 2010 aparece uma linha tendendo ao tribaret. Claro que também há outras tendências como o hip hop e a dança contemporânea, mas basicamente o tribal tem seguido, até agora, esses três principais estilos em sua trajetória na dança. Comparando-o com as fases da vida humana, na minha opinião, o tribal fusion inicial poderia ser comparado a nossa adolescência, uma fase de paixões e grandes emoções, e muito exagerado(visto os adornos); o descobrimento da sua guerreira interior; depois de passada, entramos numa fase em que reconhecemos nossa feminilidade e sensualidades; nos descobrimos como mulher, o que é claramente visto no vintage/burlesco. Agora o tribaret vem como algo que busca retormar o charme da dança do ventre tradicional, ou seja, alcançou-se uma certa maturidade na dança.
Há alguns meses venho perdendo algum interesse em assistir vídeos de apresentações em grupo de tribal fusion. Isto se deve ao fato das apresentações ficarem na mesmice. Você até já prevê o próximo passo de tão batido que é a coreografia ou o estilo de dança apresentado. As pessoas, na febre e ânsia de quererem dançar tribal, acabam se esquecendo do sentido de se dançar tribal, querendo só causar, ao invés de dançar porque se sente bem em dançar esse estilo, porque encontraram uma maneira de se expressar como são ou o que sentem.
Além disso, não há mais um elemento surpresa. O espectador de tribal já espera ser surpreendido. E em uma dança que você já vai saber qual é o próximo passo acaba tornando-se extremamente monótona. A música já é aquela que todo mundo do meio tribal já está careca de saber. O figurino é mais Xerox de uma bailarina famosa, sem toques pessoais. Não estou querendo dizer que copiar é de todo mal. Copiar é sim necessário em um primeiro momento, quando você está conhecendo a dança, destrinchando-a, e tal. Mas, a partir do momento que você já se familiarizou e você já é capaz de trilhar o próprio caminho, isso acaba se tornando obsoleto. Quando você está em uma festa mais particular, entre amigos, em um restaurante, etc, vale sim dançar uma música já conhecida como de “tribal fusion” com passos de tribal usuais. Mãs, quando você vai se apresentar em um evento de tribal, onde vai ter sim um público leigo, mas vai ter com toda certeza pessoas do meio, que já tem um olhar crítico, vale a pena trabalhar mais sua apresentação em questão, principalmente em relação a música, combinações, expressão, propósito e figurino que mostre um pouco de si ou do que você vai representar. E lembre-se do elemento “X”.
Contudo, não é só isso que anda me incomodando nas apresentações que muitas vezes assisto pela internet. Muitas vezes vejo grupos e mais grupos sem sincronia nenhuma! E não digo só em falta de exatidão na execução de passos entre os membros do mesmo , mas na falta de algo que une o grupo, de algo comum, de uma filosofia do grupo, algo que torne os integrantes do mesmo parte do todo porque têm idéias parecidas, que convergem os mesmos ideais, que pensam parecidos e portanto, vão ter uma intimidade e se compreender em uma apresentação de dança. Assim é em uma banda musical para que ela continue unida e crie músicas de forma harmônica e que passe um pouquinho de cada integrante e ao mesmo tempo a proposta, a filosofia da banda, aquilo que reflete a imagem que ela quer passar com suas composições. Assim deveria ser também com os grupos de dança.
Às vezes somente um integrante é que resolve tudo, desde as escolhas das músicas até o figurino e passos. Acho que deveria ser algo mais igualitário, para haver sintonia entre os membros. Não digo isso para grupos formado entre alunos e professor, porque aí já é outra história. Mas sim para pessoas que formam um grupo de dança, que vão apresentar um projeto a um público específico. Claro que sempre há um diretor artístico do grupo, o cabeça mestre da parada(rs). Porém, há grupos famosos, que têm tal prestígio por mostrarem a peculiaridade do grupo e de cada integrante, sem que um se sobressaia em relação aos demais, como o The Indigo, por exemplo. E sobressair é tanto quando o líder é o único a fazer solo, ou é o único a fazer os passos mais sinistros. Encontrar um grupo que adéqüe a um profissional que tem muito talento também é difícil, e se ele não encontrar acho que o projeto acaba não indo para frente como um grupo e sim como solista, pois ele, ou vai se destacar mais que os outros, ou ele vai ter que limitar seu talento para se igualar aos outros, tornando-se limitado e, portanto, com suas asas podadas.
Exemplo de grupo em sintonia e onde nenhum integrante se sobressai em relação ao outro. A música é conhecida, mas elas arrasam ao dançá-la.
No Tribal Fest (CA), considerado o maior(ou pelo o mais cobiçado rs), evento de tribal do mundo, é onde tudo isso que estou falando até agora pode ser visto. Engraçado que deveria ser justamente o contrário! As pessoas que lá vão se apresentar deveriam pensar em mostrar o seu melhor, como se fossem avaliadas mesmo por uma banca, pois nesse evento encontram-se alguns dos melhores profissionais do mundo. E depois, no Youtube, o mundo inteiro vai assistir a sua apresentação. Eu não sei se as pessoas que dançam lá tem muita consciência disso...às vezes acho que não. Eu sei que querer dançar naquele palco todo mundo quer, mas ele não é para qualquer um, ou pelo menos não deveria ser. Digo isso não para impedir que as pessoas não se apresentem, mas das pessoas refletirem mais em relação a sua dança antes de sair se apresentando só para dizer que dançou lá ( de qualquer jeito) ou em qualquer outro lugar que tenha público tribal. Simplesmente porque somos todos críticos e queremos algo que traga beleza, expressão, técnica e surpresa, principalmente uma apresentação do Tribal Fest(TF).
Quando eu assisto a um vídeo, se nos primeiros minutos de dança ele não me encanta, se a bailarina fica fazendo passos que todo mundo sabe onde vai dar, eu já “troco de canal”. Deixar o melhor para última hora nem sempre é o melhor a se fazer. Porque quem assiste não sabe o que você está pensando; se você não prender atenção no início o povo desanima e nem quer chegar ao final do vídeo onde está o seu melhor.
Exemplo de ter deixado o melhor, ou o elemento surpresa para o final. Tente manter a apresentação sempre em um bom nível e acrescente o elemento surpresa. Começar bem(ou não) , deixar o meio meio mais ou menos e finalizar dando o seu melhor torna um pouco tediante em algum momento e a apresentação não têm tanta repercussão quanto a esperada.
Bom, já disse, mas vou repetir: sincronia em um grupo! Exatidão na execução dos passos e mostrar-se envolvida no que está dançando. O grupo deve ser como um corpo único e cada membro como pernas e braços desse corpo, fazendo- mover em uma só direção.
Música diferente que reflita aquilo que você quer expressar, que seja uma espelho da sua alma; ou se você quiser dançar uma música que é considerada “de tribal”, até pode,mas seria mias legal, então, nesse caso, você mixá-la, juntar essa música com outra ou colocar uma parte dessa música com outras partes de outras músicas, construindo uma música com a sua cara.
Em grandes eventos como o TF, vale a pena dar uma caprichada especial no figurino, já que é a capa do que estará por vir, isto é, você tem que CAUSAR uma primeira(boa) impressão para já ganhar uns pontinhos com o público rsrs; e para o mesmo saber mais ou menos que tipo de apresentação estar por vir(aqueles que estão dormindo ou estão na porta do teatro conversando “acordam” ao ver uma roupa dark se gostam de dark ou vintage se curtem vintage). Coloque um pouco do seu toque especial!
Achei o figurino bem diferente e original, mostrando a sensibilidade da bailarina em relação ao tema que ela quis abordar.
Depois vale a expressão. Seja sincera, seja você. Nem sempre caras e bocas significam que você vai conseguir impressionar ou se expressar, às vezes você pode assustar as pessoas com uma apresentação um tanto quanto caricata. Expressão não só facial, mas corporal. O corpo é o seu maior instrumento em uma dança. E ele deve falar por você. Saiba usar a expressão no momento certo. Isso pode até mesmo ser um elemento surpresa! E atrelado a isso, é facultativo, junte um pouco de atitude e ousadia, mas na medida certa. Isso enriquecerá sua dança.
Expressão em excesso pode tender ao caricato e ridículo, como o vídeo acima. Por isso, saiba ponderar.
Uma coisa que sinto muita falta nas apresentações vintage/ burlesca é a falta de expressão! Como isso está na moda todo mundo quer dançar e você vê nos EUA um milhão de apresentações do estilo e a maioria sem sal. Eu sempre espero um jogo de olhar, charme e sensualidade nesses estilos. Principalmente saber brincar com o público, acho muito bonitnho e simpático por parte da bailarina saber fazer isso. E a maioria só faz aqueles passos que já são considerados “de tribal vintage” e pronto. Assassinam a expressão que é uma das partes mais legais do burlesco. Saiba brincar com a platéia! Quem sabe tirar proveito disso com certeza anima o público e ganha uns pontinhos rsrs.
Adorei a apresentação dela! Ela soube brincar com o público e jogar seu charme.
Agora vamos para a parte mais importante: a técnica essa é a mais importante de todas pois, se você pecar em todos os outros requisitos, e acertar nesse, tudo estará a salvo! Rsrs Sério mesmo, mais vale uma técnica avassaladora que tudo o que disse. Claro que tudo o que disse, somado, é importante e faz o público ir às alturas e delirar. Mas saber dominar a técnica é fundamental em todas apresentações( pelo menos se você for se apresentar em um palco de um grande evento como o TF). Mas não adianta você querer mostrar algo técnico sem dominar a técnica. Digo isso, porque o street dance está sendo muito incorporado no tribal, só que algumas pessoas ainda não sabem dominar a técnica escolhida e acaba assassinando esse estilo, por não executar de maneira correta e de forma que agrade aqueles que estão assistindo. De duas uma: ou você não incorpora coisas muito técnicas na sua dança de forma a prejudicar a sua apresentação, ou não coloque movimentos que você ainda não sabe dominar.Se você for com o intuito de dançar algo bem preciso e técnico acho que todos os outros fatores acabam sendo minimizados, já que todo mundo só vai prestar atenção no seu controle corporal e como executa cada movimento com tamanha destreza. E dá-lhe “lilililililililiiiii”
Técnica sendo dominada!
Outro ponto a se destacar, principalmente em iniciante, é o talento. De longe você começa a distinguir aqueles que levam jeito para a dança. Em todas as profissões, há aqueles que estão ali por que querem tirar algum proveito(dinheiro, fama, status,etc);na arte e no esporte, há também aqueles que estão por prazer, como entretenimento e lazer, como auto-satisfação e busca em equilibrar-se com seu organismo; aqueles que gostam da profissão, mas se destacam por serem esforçados, e aqueles que gostam e tem o dom para a coisa. Nesse último caso, é nítido desde quando a pessoa é iniciante, pois tem algo que o destaca dos outros iniciantes, talvez a originalidade, criatividade, atitude e/ou expressão. Acho que de início é mais esses pontos do que o domínio da técnica. Geralmente os movimentos ainda são tímidos e travados, mas isso é questão de tempo e dedicação em trabalhar os pontos “negativos”, limpar os movimentos, ganhar fluidez e adquirir controle sobre os mesmos. Depois de trabalhar alguns aspectos que “atrapalham” a sua dança, isso que era “ruim” pode até mesmo se tornar um grande ponto positivo. No post da Rachel Brice, por exemplo, tem um vídeo dela do início da carreira, quando ela ainda dançava dança do ventre. E já dá para notar que ela já tinha algo diferente, algo que não sabemos o que é,mas simplesmente sabemos que é diferente e encantador.
Enfim, espero ter passado a mensagem correta. Isso vale para mim também que sou iniciante nesse grande mundo que é o tribal. Isso tudo que disse é a compilação de minhas observações como público. E sim, observar também faz parte do aprendizado, pois refletimos sobre isso para podermos nos corrigir e colocar em prática. Só estou querendo dividir com vocês esses meus rascunhos. E lembre-se que o mais importante em uma apresentação é você saber escrever na dança aquilo que você sente, aquilo que você é. Agora é só delinear os primeiros passos desse poema que é o ato de bailar.
OBS: Esse não é um post sobre como se tornar profissional e/ou famoso, pois isto requer muitos outros aspectos a se aprofundar que não cabe a mim ainda escrever, já que não cheguei nesse nível rs.
Aerith