por Débora Dharma & Carla Michelle Coelho
Rachel Brice e as brasileiras no Tribal Fest ®15 |
O Tribal Fest® é um evento anual de Tribal, ATS®, Fusão e
Dança do Ventre alternativa, que ocorre na terceira semana de maio, em
Sebastopol – Califórnia, nos Estados Unidos. O evento consiste em diversos workshops
durante toda a semana e dias inteiros de shows no final de semana.
Por ser um evento de peso na cena tribal mundial, a
expectativa de estar presente e participar é altíssima, haja coração!
O Tribal Fest 15, que ocorreu nesse ano de 2015, foi
realmente uma reunião familiar do tribal, tendo reunido grandes nomes do tribal
como Carolena Nericcio, Suhaila Salimpour, Rachel Brice, Kajira Djoumahna
(organizadora do evento), Mardi Love, Zoe Jakes, dentre outros.
Entrada do evento |
A cidade onde ocorre o Tribal Fest é uma típica cidade de
interior, chamada Sebastopol, onde os habitantes te recebem de forma super
calorosa e se locomover a pé é perfeitamente satisfatório. O local do evento é
de fácil acesso, sem maiores dificuldades para ser encontrado, e possui
diversas salas de aula, para que possam ser ministrados vários workshops
simultaneamente. Ainda, uma linda e animada feirinha é organizada nos arredores
do centro cultural comunitário, onde você pode encontrar artigos variados,
característicos dos praticantes e adeptos deste estilo de vida, que é o tribal.
Dessa maneira, há a possibilidade de se equipar dos acessórios mais desejados,
desfrutar de tratamentos terapêuticos (um deles, que era fantástico, envolvia o
contato com cobras) e massagens, em um ambiente arborizado e natural.
A atmosfera do evento é algo inexplicável, onde todos
parecem velhos amigos se encontrando, com um clima de união e amizade, todos
interagindo e deixando de lado quaisquer “estrelismos”. A impressão que se tem
é de que membros de uma mesma família estão se juntando em um encontro muito
esperado. Há um sentimento de pertencimento muito grande a esta comunidade,
dividido por todos que comparecem ao evento, o que pode ser percebido
visualmente pelos imensos sorrisos em cada rosto e intensos abraços
compartilhados durante todos os dias. A energia flui de maneira única e pessoas
que nunca se viram antes parecem ser amigas íntimas há tempos.
Carla Michelle na feirinha |
É uma honra poder correr de um workshop para o outro e
esbarrar nessas bailarinas que tanto admiramos nos corredores, ainda tendo tempo
entre um workshop e outro para poder trocar várias idéias sobre dança e
qualquer outro assunto cotidiano. A troca acontece naturalmente, não há uma
preocupação em se manter segredos ou separar os alunos dos professores e
profissionais. Todos se encontram lado a lado em uma mesma “vibe”. Isto reforça
que o tribal não é somente uma forma de dança, mas um estilo de vida. Há
generosidade entre seus adeptos e alegria em se compartir o que cada um está
estudando e praticando.
Percebemos que todas as nossas ídolas, que temos
acompanhado a distância, são muito receptivas e ao mesmo tempo abertas a
compartilhar o seu conhecimento, em toda a sua amplitude. Elas dividem o que
estão estudando e experimentando no momento e, até mesmo, repassam sequências e
movimentos que integram suas performances, as quais dançaram no final da
incrível semana de cursos.
Zoe Jakes e Coven | Foto de Chuck Lehnhard |
A qualidade dos workshops é impressionante. Nós duas
voltamos com uma bagagem digna de mudança de paradigmas na dança, além da
grande realização de poder ter contato direto com as bailarinas que balizaram o
nosso desenvolvimento profissional na dança tribal. Não se pode avaliar o
crescimento que tal encontro proporcionou, a transformação pela qual passamos é
intensa.
Estar na Califórnia, berço da dança tribal, e em contato
com as criadoras, conhecendo a história da forma como ela ocorreu, nos faz
entender melhor o significado e a intenção primordial desse estilo de dança, o
verdadeiro sentimento de tribo. Os mitos são desfeitos e uma história real se
revela com seus fundamentos artísticos e conceituais, dados por contribuições
diversas e generosas de cada membro desta grande família tribal.
Datura | Foto de The Dancers Eye - Fine Art Photography |
O meet and greet, evento que é realizado na
quinta-feira a noite, é um momento ainda mais a parte, onde todas as
professoras estão reunidas no salão principal com as suas banquinhas de coisas
para vender e nos deixar totalmente loucas. O estímulo surge quando você
percebe visualmente (pelos acessórios, vestuários e artigos em geral delas) que
cada profissional tem sua linha de trabalho e que, por sua vez, todas tem sua
contribuição para o conjunto maior que constitui o estilo tribal. Pensa no
estado de nós brasileiras, vendo todos esses objetos de desejo a venda, pelas
próprias bailarinas! Autocontrole teve que ser a palavra da vez.
Os shows também foram fascinantes. Como foi engrandecedor
prestigiar cada performance e perceber que o mundo todo possui vertentes
maravilhosas e diferentes do tribal. A cada trabalho apresentado, crescia a
sensação de que há uma abertura e uma receptividade imensa para todos que
subiram ou subiriam naquele palco. A autoconfiança dos artistas era alimentada
pelo espírito de comunidade e pelo apoio que o público os presenteava. Não há
plateia tão cativante e calorosa como a do Tribal Fest. Além de muita gente
nova apresentando um trabalho de qualidade, pudemos ver grandes nomes dividindo
o palco, como por exemplo a apresentação da Carolena Nericcio- Bohlman, Kajira
Djoumahna, Jill Parker e Paulette Rees-Denis. Grandes nomes, iniciantes e
artistas em geral se misturam em um show de apresentações que não está
organizado por fama ou falsas hierarquias, porque todos participantes são parte
de um movimento único, é a família tribal fazendo dança em todas as suas
possibilidades.
Momento épico: The Fab Four ( Carolena Nericcio, Jill Parker, Paulette Denis e Kajira Djoumahna) | Foto de Chuck Lehnhard |
Assim, depois de dois dias de apresentações surpreendentes
e impressões maravilhosas, pisar naquele palco e dançar no dia de encerramento
foi um privilégio único e, ainda, sem medos, autocobranças e exigências tolas.
Eu, Carla Michelle Coelho, era uma das faces brasileiras que subia naquele palco
energizado para dividir minha percepção da dança neste momento e ser abraçada
por aquela plateia incrível. Olhar para cada rosto, desfrutar os passos, me
divertir com a família tribal e juntar na bagagem a melhor sensação de dança
que já vivi. Meu coração foi tomado por uma felicidade completa e meu corpo
pulsou uma energia jamais sentida, ao som do maravilhoso Tom Zé, representando
o nosso Brasil. Não sei quanto à técnica, ou até mesmo quanto à execução, o que
eu sei é que fui extremamente feliz naquele palco e que consegui aquilo que um
bailarino se propõe desde o momento em que decide fazer de sua vida a dança.
Desnudei-me e revelei minha alma, comunicando-me diretamente com minha amada
família tribal.
Finalmente, após toda essa experiência maravilhosa e
enriquecedora, tanto para a dança como para a vida, achamos que a qualidade
mais importante que deveríamos “importar” para os eventos brasileiros é a
atmosfera de ser uma tribo, é o apoio mútuo que deve existir e o abandono de
hierarquia ou rivalidade entre os bailarinos, seja professor ou aluno,
especialmente porque essa é a intenção original da dança tribal.
Carla Michelle representando o Brasil em 2015 no palco do Tribal Fest | Foto de Lee Corkett |
Alguns dos nossos vídeos favoritos do evento:
Sema Tribal Fusion Bellydance (black power):
The Fab Four:
Mardi Love and Friends:
Luciterra Dance Company:
Zoe Jakes:
Coven Dance Project: