por Aerith Asgard
Esse texto é para arrematar os pontos dos meus textos anteriores sobre o assunto. Ele foi gerado a partir de uma conversa com a leitora Pâmila (esqueci seu sobrenome xD Caso veja esta postagem, me lembra de atualizar, por favor =) ) há um tempo atrás.
Essas são apenas minhas reflexões e impressões pessoais sobre todo o processo. Comentários são bem-vindos e servem para aprendermos mutuamente ^^
É difícil falar uma coisa que não vivi.Comecei a ser praticante de tribal no final de 2008. O processo que tento fazer é o mesmo que historiadores fazem,que é coletar dados, informações e tentar encaixar um com o outro de forma que façam sentido entre si. É um processo investigativo. Claro que uma pessoa que viveu esse processo vai falar com muito mais convicção, detalhe, clareza e propriedade sobre tudo isso =) Por isso vejo nas entrevistas uma grande ferramenta de ajudar a reconstruir a nossa História Tribal Brasileira, pois cada um conta suas experiências e como a dança desenvolveu em tal época. Desta forma, podemos ir juntando as peças deste grande quebra-cabeça.
A dança tribal entrou no país em 2001, com Shaide Halim. Não existia
youtube, a conexão era ruim e a informação disponível na internet era rara. Ou
seja, quando a dança entrou aqui foi porque a Shaide teve contato com a dança
lá fora e, o que ela aprendeu lá, ela trouxe para cá, introduzindo o que era
peculiar ao estilo dela. Ela foi a primeira disseminadora do estilo no país. Os
primeiros grupos que tenho conhecimento, começaram a ser criados com maior
intensidade a partir de 2005-2006. Ou seja, a dança já tinha entrado, mas havia
a dificuldade de comunicação e de divulgação, pois não existia meios de propagação. Uma novidade demorava meses
para chegar ao interior do mesmo estado,por exemplo. Imagina a informação sobre
o tribal alcançar diferentes localidades numa extensão territorial que é o
Brasil? Por isso o processo inicial foi lento. As pessoas começaram a ter mais
informações sobre o estilo a medida que
a mesma foi se tornando globalizada e,portanto, acessível, e claro que a
internet foi um marco nisso tudo;mas mesmo com algumas informações aparecendo,
ainda não existia o youtube , por isso, o jeito era conseguir dvds didáticos
para estudar que , mesmo assim não eram tão fáceis. Por volta de 2006, o
Youtube tornou a informação mais acessivel a diferentes partes do Brasil e do
mundo. Assim, cada localidade começou a ter conhecimento do que outras regiões distantes estavam fazendo e, assim, a
cena tribal começou a andar em saltos, sendo conhecido pelo mundo inteiro. Primeiramente, pelo principal ícone, Rachel Brice, através dos dvds do BDSS; e,
segundo, através do Tribal Fest, maior evento do gênero do mundo, cujos vídeos
começaram a pipocar com a ascensão do Youtube. Mais ou menos nessa época, os
primeiros workshops internacionais de tribal fusion no país começaram a
acontecer e as bailarinas começaram a embasar melhor aquilo que só tinham
conhecimento por vídeos,por experiências relatadas por redes sociais e
workshops nacionais como da Shaide.
Entende o motivo das bailarinas
recorrerem por vídeos? Por necessidade da ocasião! Era tudo o que elas tinham
em mãos, então elas tinham que aprender a dança com as ferramentas que tinham
disponíveis.E isso não foi nada fácil. Vai por insistência, tentativas e erros,
passar por preconceitos por uma paixão doida chamada tribal.
Eu acho que assistir uma fusão tribal e uma fusão de dança do ventre
exemplifique o quero dizer. As bailarinas podem usar o mesmo tema, mas com
certeza vão ter posturas diferentes, repertório de passos diferentes, expressão
facial diferentes e intenções diferentes. Tudo isso alcança o público, que
terão respostas diferentes ao que assistiram. O impacto que o tribal causa no
seu público é de prender a atenção, hipnotizar, conseguir transcedentar o
arquétipo feminino e sensual da mulher para simplesmente uma palavra: Arte. O
tribal emana força e não fragilidade.
O ATS® possui todas suas regras, seus passos característicos e um
formato. Quando Carolena criou o ATS® não foi no sentido de instituir dogmas,
mas no intuito da dança não se esvair; ela queria que todos conhecessem sua
criação e suas características. Quando o tribal fusion chegou, ele chegou de
forma abrupta, de forma que a dança que lhe deu origem ainda não tinha sido
finalizada. E todo o processo foi rápido de mais, e claro que a internet tem
importância nessa rapidez toda.
ATS® é isso, é a criação da Carolena. Claro, com muita referência da sua
professora, Masha Archer e, indiretamente, pela Jamila Salimpour. Mas foi um
processo "acumulativo e hereditário" que uma hora tomou forma com a
sensibilidade e sagacidade de Carolena que viabilizou todo aquele processo que a
dança tribal estava tendo desde suas " antecessoras". Resumindamente,
podemos dizer que Jamila foi o estopim do processo. Masha o divisor de águas; e
Carolena quem deu forma a isso tudo, com regras bem estruturadas. Apesar do
mundo todo, descender da veia do “tribal”, ou o "tronco maior" dessa árvore ser proveniente do ATS®/Carolena, vejo que
os EUA possui um tribal não só ligado ao ATS®, mas também ao trabalho das
Salimpours. Elas não deixam de fazer parte do Tribal Norte Americano. Ou
seja, o tribal dos EUA possui o ATS® (base). Essa base possui resquícios do
trabalho da Jamila e Masha, sendo Carolena,a grande visonária, criando a dança
que conhecemos como ATS®, a partir dos processos anteriores, mas com seu "toque especial". Contudo, nos EUA, há uma
fusão da base com uma das gerações que a antecedeu (Salimpours, Jonh Compton, Katarina Burda). No resto do mundo, acredito que o tribal venha
somente da veia da Carolena, do ATS®, pois não tivemos e nem temos contato com
toda essa cultura que o berço do tribal sofreu desde a década de 60.
Eu gosto deste vídeo. Ele mostra a essência da dança tribal, e entendemos um pouco que Jamila foi a progenitora de tudo isso. Muita coisa que assistimos neste vídeo nos lembra arquétipos trabalhados por bailarinas de ATS®, ITS ou tribal fusion. Esse é o cenário do berço do tribal; tribal nascido sob a óptica e licença artística norte-americana
Agora, eu não sei dizer ao certo se para ser Tribal Fusion tem que ter
passos de ATS®. É muito complicado esse ponto. Como eu disse, teoricamente
seria, mas não é isso que vemos na prática. Existem muitas bailarinas que quase
não usam...e ai? Ignoramos ? E quando tais bailarinas são famosonas?
Eu vejo que existem bailarinas que misturam passos "puros" de
ATS®; bailarinas que usam passos de ATS® modificados; bailarinas que usam, em
grupo, os desenhos , disposição de palco,etc baseando-se no ATS®; mas vejo
bailarinas que não fazem nada disso e emanam a tal força ou atitude do tribal.
Eu acho que muito dessas bailarinas que não usam tanto os passos do ATS®, pelo
menos alguma vez, tiveram contato com o estilo ou fizeram aulas do mesmo.
Acredito que para o fusion, o ATS® seja uma espécie de “parâmetro”, de “guia”.
Ou seja, quanto mais próximo desse "guia" você se manter, seja estudando os passo (tendo
aulas, fazendo workshops,etc) ou de fato desenvolvê-lo em
coreografias,improvisações, mais próximo do Tribal Fusion vindo do ATS® as
bailarinas estarão. Acredito que estudar o estilo é importante para você
adiquirir a" filosofia" das bailarinas de tribal fusion ,cuja força e ousadia acaba transparecendo, mesmo você não usando o ATS® , pois sua
filosofia torna-se viva intrínsicamente em cada batimento da sua dança. Um exemplo de tudo isso são bailarinas, principalmente as norte- americanas, que denominam sua dança como fusion bellydance, um bom exemplo disso é a Anasma. Ela não usa passos de ATS®, ela utiliza o repertório do hip hop para fusionar com a dança do ventre. Mas sim, ela já estudou com diversos ícones da dança tribal e , portanto, o feeling, o impacto, a essência da sua dança possui "algo de tribal" intrínseco.
Achei interessante uma colocação sobre Masha Archer, sobre estética da dança que ela criou (é interessante ler todo o contexto):
"Se a postura e atitude correta é obtida, então a dança tem uma forte base física e artística. Cada movimento descreve uma linha e uma forma e quando o desempenho é bom, se torna reconhecível para o público como o que agora é chamado de ATS. Cada forma de dança tem a sua própria estética reconhecível."*
(http://www.gypsytrailtribaldance.com/newsletter3.html)
Achei interessante uma colocação sobre Masha Archer, sobre estética da dança que ela criou (é interessante ler todo o contexto):
"Se a postura e atitude correta é obtida, então a dança tem uma forte base física e artística. Cada movimento descreve uma linha e uma forma e quando o desempenho é bom, se torna reconhecível para o público como o que agora é chamado de ATS. Cada forma de dança tem a sua própria estética reconhecível."*
(http://www.gypsytrailtribaldance.com/newsletter3.html)
Quando se estuda o Fusion vindo do Tribal/ATS®, a fusão torna-se diferente, pois
os objetivos tornam-se diferentes do que uma fusão do ventre, em que a bailarina
nunca teve contato com esse novo conceito. A dança não tem o mesmo impacto, não
tem o mesmo hipnotizar, não é tão intensa e densa como uma fusão tribal. Tribal
fusion enraízado no ATS®. ATS® este que derivou de vários processos políticos,
sociais e culturais que aconteceram no mundo, sobretudo na Califórnia. Entender
Tribal é entender tudo isso. Não é algo linear e sistemático. Nunca foi.
Entender Tribal é visualizar esse emaranhado da sua História acontecendo e
servindo como caminho para a criação que estaria porvir.
Entre minhas andanças, encontrei esse comentário da Rachel Brice no blog da Asharah (último comentário):
Entre minhas andanças, encontrei esse comentário da Rachel Brice no blog da Asharah (último comentário):
"Artigo maravilhoso! Formato de Jamila é inegavelmente o idioma raiz do ATS, lindo e surpreendente em sua originalidade e organização. Gostaria de acrescentar que dialetos diferentes podem ser tão coesa e poderosa como o original. Por exemplo, além da postura e traje de Masha mudou o olhar, sentir e toda intenção da forma, enfatizando uma mentalidade de tribo e apoio total, incansável para o outro. A organização de Carolena dos movimentos (levemente alteradas através da tradição oral) nos deu a incrível invenção da improvisação de grupo na dança do ventre. Tudo começou com Jamila, e muitas outras mulheres brilhantes e criativas contribuíram para a idéia original, enriquecendo e animando o formato. Obrigado novamente por seu post muito bem escrito!" *
*Traduções informais da autora
- Para entender o contexto desse texto, leia os posts anteriores:
- Este texto dialoga com o texto da Natália Espinosa, em seu blog, no sentindo de fortalecer a idéia do Tribal Fusion:
- O Blog Nossa Tribo & Nossa Dança está realizando o projeto "Pilares do Tribal", contando sobre os três principais pilares do Tribal: Jamila Salimpour, Masha Archer e Carolena Nericcio. Vale a pena conferir!
- Para aprofundamento sobre o assunto, sugiro os blogs abaixo:
- Divagações Tribais e Afins, de Mariana Quadros (SP);
- ATS e ITS, de Aline Muhana (RJ);
- Tribal Mind, de Ana Harff (ARG/BRA);
- Opinião Alternativa, de Nadja El Balady (RJ)
- Blog Campo das Tribos, de Rebeca Piñeiro e colaboradores (SP)
- Tribalices, de Natália Espinosa (SP)
- ATS e ITS, de Aline Muhana (RJ);
- Tribal Mind, de Ana Harff (ARG/BRA);
- Opinião Alternativa, de Nadja El Balady (RJ)
- Blog Campo das Tribos, de Rebeca Piñeiro e colaboradores (SP)
- Tribalices, de Natália Espinosa (SP)