[Venenum Saltationes] A Dança & O Tarot – A Imperatriz

por Hölle Carogne 

Naissance de Venus - Alexandre Cabanel

93!

Nesta edição falaremos sobre o Arcano III ~ "A de muitos tronos, muitas disposições, muitas manhas, filha de Zeus."

A Imperatriz representa o verbo, o ternário, a plenitude, a natureza, a fecundidade, a geração nos três mundos. É o arcano da Magia Sagrada, instrumento do poder divino. É o símbolo da palavra e representa o envoltório material do corpo, seus órgãos e suas funções. O filósofo Ouspensky a imaginou repousando sobre um trono de luz, bela e fecunda, em meio à interminável primavera.

A Imperatriz é a ligação entre o Pai e a Mãe. O número III simboliza a síntese criativa e a perfeição: o elemento que está subjetivo neste arcano é a água. Como Mãe ela é a doadora da vida e em seus braços ela demonstra o amor maternal protegendo e cuidando daquilo que pensa que é a sua necessidade. É a mulher arquetípica, a derradeira expressão do que é feminino, sendo receptiva e magnética. É a Grande Mãe Criadora, poderosa, fértil e equilibrada, determinada e de um amor sutil. Estamos diante de Vênus em seus mais variados aspectos, de Urania a Pornós. O Caminho Cabalístico que percorremos neste Arcano une Chokmah a Binah, a Sabedoria à Compreensão (se descendente) e a Compreensão à Sabedoria (se ascendente). A letra hebraica correspondente é Daleth, “a porta”.
Austin Osman Spare

 
Símbolos:
  • Caminho da Árvore da Vida – De Chokmah a Binah.
  • Letra Hebraica – Daleth (porta).
  • Valor – 4.
  • Tattwa – Água e fogo.
  • Planeta – Vênus.
  • Lótus Azul – Santo Graal (Polaridade Masculina e Feminina, Sol e Lua).
  • As Duas Luas – Dualidade necessária.
  • Lua Crescente – Eva.
  • Lua Minguante – Lilith.
  • Cinturão – Zodíaco.
  • Cisne – Símbolo da Grande Mãe.
  • Escudo – Simboliza o Poder.
  • Águia de Duas Cabeças – Exacerbação de Poder.
  • A Lua atrás da Águia – A Polaridade Feminina.
  • A Pomba – Vênus.
  • O Pardal – Símbolo Fálico.
  • Chamas azuis abaixo da Pomba – O Fluxo Menstrual.
  • As abaixo do Pardal – O Glúten ou a secreção feminina normal.
  • Posição da Esquerda, como se segurasse uma criança – Os Projetos e pensamentos mais importantes.
  • Flor de Lis – Símbolo da Abelha, é uma referência ao produto que alimenta a Rainha: a Geleia Real.
  • Portal – Fertilidade e a passagem para Daäth.
  • Coroa com Orbe – Que possui poderosa capacidade de uso da mente.
  • Rosa Mística abaixo dos Pés – Símbolo do Graal, que a Imperatriz é a Suprema Guardiã.


Representação:


Marselha: Uma mulher loira, sentada em um trono, com uma coroa, um escudo com uma águia dourada na mão direita e um cetro na mão esquerda. Está sentada, com as pernas afastadas e os pés ocultos pela túnica. No ângulo inferior esquerdo da estampa cresce uma planta. A Imperatriz e a águia olham para a esquerda.

Marselha
Rider-Waite: Uma figura majestosa, sentada, com ricas vestes e um aspecto real, como a filha do céu e da terra. Sua coroa é de doze* estrelas reunidas em grupos. O símbolo de Vênus está sobre o escudo perto dela. Um milharal* está em amadurecimento à sua frente e além dela uma corrente de água. O cetro que ela segura é coroado pelo globo terrestre. Ela é a parte inferior do Jardim do Éden, o paraíso terrestre, tudo o que é simbolizado pela casa visível do homem.

Curiosidade: Há quem diga que ela está grávida, uma vez que em algumas versões da carta, dentro do escudo em formato de coração está o símbolo do feminino.

*referência aos 12 signos do zodíaco.

*no texto do Waite usa-se “milharal” (um possível erro de tradução), mas parecem trigos, que representam a fertilidade.

‎‎Rider-Waite

Thoth: Ela representa uma mulher com coroa e trajes imperiais sentada a um trono, cujas colunas de apoio sugerem colunas azuis torcidas, simbolizadoras de seu nascimento da água, o feminino, o elemento fluído. Em sua mão direita ela segura o lótus de Ísis, o lótus representando o feminino ou o poder passivo; suas raízes estão na terra sob a água, ou na própria água, mas ele abre suas pétalas para o Sol cuja imagem é o bojo do cálice. É, portanto, uma figura viva do Cálice Sagrado (O Santo Graal) santificada pelo sangue do Sol. Empoleirados nas colunas de apoio em forma de chama de seu trono estão duas de suas aves mais sagradas, o pardal e a pomba. Há abelhas sobre seu manto e também dominós, circundado por linhas espirais contínuas. A significação é similar em toda parte. Em torno dela, como um cinto, se acha o Zodíaco.

Sob o trono há um piso coberto de tapeçaria bordada com flores-de-lis e peixes, os quais parecem estar adornando a Rosa Secreta, que é mostrada à base do trono.

A heráldica da Imperatriz é dupla: de um lado o Pelicano da tradição alimentando seus filhotes do sangue de seu próprio coração, do outro, a Águia Branca do Alquimista.

Ao fundo da carta está o Arco ou Porta, que é a interpretação da letra Daleth. Esta carta, em síntese, pode ser denominada Porta do Céu.

‎Thoth Tarot

 
Shadowscapes: Presa ao seu corpo como uma criança, ela segura uma cesta de recompensas/frutos da terra. Frutas e feixes de trigo e flores gloriosas. Ela é a essência primordial e encarnação da vida e está profundamente ligada à natureza. Coroada de hera, ela está entrelaçada em roupas das cores do mundo ao seu redor.

‎Stephanie Pui-Mun Law


Estrutura Mística:
  • Posição normal: inteligência, compreensão, influência benéfica, gravidez, receptividade.
  • Posição invertida: indecisão, falta de clareza, frivolidade, esterilidade, incapacidade de criar coisas concretas.
  • Sentido geral: crescimento, nascimento do novo, gravidez, ritmos e forças da natureza.
  • Sentido espiritual: percepção da multiplicidade.
  • Símbolo: A águia dourada representa a força espiritual.
  • Arquétipo: A mãe.
  • Objetivo: Preservar a vida.


Interpretações usuais na cartomancia:
Sabedoria, discernimento, idealismo, influência solar intelectual, gravidez, criatividade, sucesso, compreensão, inteligência, instrução, encanto, amabilidade, elegância, distinção, cortesia, domínio do espírito, abundância, riqueza.

  • Mental: Penetração na matéria por meio do conhecimento das coisas práticas. Os problemas vêm à tona e podem ser reconhecidos.
  • Emocional: Capacidade para penetrar na alma dos seres. Pensamento fecundo e criador.
  • Físico: Esperança, equilíbrio. Soluciona os problemas. Renova e melhora as situações. Poder contínuo e irresistível nas ações.
  • Desafios e sombra: Desavenças, discussões em todos os planos. As coisas se embaralham e ficam confusas. Atraso na realização de um acontecimento que, no entanto, ocorrerá.
  • Afetação, pose, vaidade, presunção, desdém.
  • Futilidade, luxo, prodigalidade. Deixa-se levar pelas adulações, falta de refinamento, modos de novo-rico.


Trabalhos relacionados à dança:

1) Empress por Anandha Ray:

‎Tribal Secrets Tarot

Card do Tribal Secrets Tarot Deck de Anandha Ray, com a bailarina Sedona Soulfire.

Considerações: Confesso que fiquei extremamente impressionada com este card da Anandha! É maravilhoso!
Certamente inspirado no Rider Waite, uma vez que a bailarina, além de ser loira, veste túnica branca, está coroada e segura com a mão direita o cetro (que inclusive se parece muito com o de Waite e com o de Marselha também, ambos com cores amareladas, porém, no lugar do globo e da cruz, fogo!). Ela também segura flores brancas na mão esquerda.

Uma das partes mais incríveis da arte da Anandha são as romãs que estão ao lado da bailarina, uma forte alusão às romãs da túnica da Imperatriz no Rider-Waite.
Achei uma excelente interpretação, cheia de simbolismos e muito bonita!

  
2)The Empress por Rachel Brice:

Datura Tarot

Datura Tarot

Rachel tem duas versões da Imperatriz no Datura Tarot. Ambas extremamente ricas em símbolos, como sempre.

Considerações:Na primeira, uma deusa de pedra está em meio à uma plantação de trigos, símbolo da fertilidade e, assim, profundamente relacionada com o papel da Imperatriz. Símbolo usado também no card do Rider-Waite. Ela já parece estar coroada (em sua forma natural: de pedra), mas também possui flores de ambos os lados da cabeça, fazendo com que a coroa fique mais visível e com um ar bem tribal.
Na segunda, minha preferida (não esteticamente, mas simbolicamente), uma mulher está em meio à Natureza, ao seu lado corre um rio, como nas cartas de Waite e Crowley. Ela segura um objeto que não consegui identificar, mas que pode ser um cetro. Os trigos também aparecem nesta versão, na parte inferior da figura. O símbolo do feminino está “tatuado” em seu braço. Ela usa uma coroa, formada por 11 estrelas e um outro símbolo = 12 (signos do zodíaco), contendo este outro símbolo 12 “pétalas”. Seu colar é o sistema solar (o sol e 8 planetas = 9, que também pode remeter ao tempo de uma gestação). Simbologia incrível! Estou fascinada!


  
3) The Empress por Njordarien do Tarot Noir:

O Tarot Noir é um projeto de Moscow (Rússia). 

Njordarien




Considerações: A fotografia da esquerda é belíssima, entretanto, não vejo absolutamente nada que remeta ao Arcano. Já nas fotografias da direita e no vídeo, a bailarina usa um manto e uma coroa, símbolos da Imperatriz! A coreografia, com movimentos graciosos e posturas elegantes reforça a ideia de realeza do personagem. Uma bela apresentação.



4) Solo The Empress, de Lisa Zahiya, no House of Tarot de Zoe Jakes:
Conforme informação do vídeo, trata-se de um trabalho do House of Tarot Asheville, uma colaboração entre Lisa Zahiya e Zoe Jakes. Inspirado pela Imperatriz no Thoth Deck.


Considerações: A bailarina veste branco, uma das cores usadas pelos tradicionais (o Waite, por exemplo). Ela está coroada, como convém. O trabalho coreográfico é bastante delicado e feminino, atributos que com certeza remetem ao Arcano III. A parte mais interessante, na minha opinião, é que ela inicia a coreografia com as mãos na barriga, parecendo estar grávida. Ele repete este ato no meio da coreografia também. Achei tudo muito bom! E finalmente, achei um vídeo solo do House Of Tarot, com indicação do Arcano.

5) Outros:
Vídeos de bellydance inspirados na “Imperatriz”, porém, sem nenhuma referência à simbologia da carta, ao meu ver.




Lembrem-se: Se souberem de algum trabalho envolvendo os Arcanos enviem para mim!

Até a próxima!

93,93/93

Bibliografia:
  • Antigo Tarô de Marselha – Nicolas Conver;
  • O Livro de Thoth – Aleister Crowley;
  • O Tarot Universal de Rider Waite;
  • Clube do Tarô;
  • Ocultura;
  • Agradecimentos especiais à Marina Segalla, que enviou a carta e o texto do Shadowscapes.


[Folclore em Foco] Leitura Musical para ATS® - Parte 3

por Nadja El Balady– FatChance BellyDance Sister Studio


DRAMATIC SLOW
Dramatic slow (lento dramático) é uma expressão criada dentro do American Tribal Style® para designar um tipo de leitura musical para circunstâncias diferentes: Leitura de ritmos em 3, 6 tempos e leitura de ritmos em contagem ímpar.

Inicialmente, o ritmo de contagem 6 (conhecidos como 6/8) de origem norte africana era dançado com movimentos “rápidos”, bem como as próprias danças populares das tribos desta região fazem. As músicas berberes e beduínas que usam este tipo de padrão rítmico têm a percussão forte e com muitos instrumentos. A dança é naturalmente muito marcada com movimentos de quadril impactantes como twists e shimmies, redondos e encaixes de bacia. Dentro da linguagem ATS®, usava-se movimentos “rápidos”, mas apenas com contagem em 2 tempos como arabic, shimmie, reach and sit, single bump, pivot bump... Evitando os movimentos com contagem 4 (como egyptian ou Turkish Shimmie) para não atravessar as freses musicais e estar sempre em harmonia com a música.

Posteriormente, após diversas experimentações, esta possibilidade de ler o padrão de 6 tempos com movimentos “lentos” surgiu como uma opção criativa e como recurso cênico de grande impacto para as apresentações de ATS®, onde o coro permanece tocando snujs no padrão “morrocan six” e as pessoas no “feauture” usam os movimentos “lentos” para as dinâmicas da performance.

No “feature” a leitura será feita com movimentos da família dos “lentos”, mas respeitando o andamento mais acelerado em que as músicas são tocadas. É comum que precisemos adaptar um passo que tenha combinações maiores de movimento em vários compassos. Dificilmente vamos conseguir adaptar um Wrap Around Turn em um compasso de 6, por exemplo. É possível que tenhamos que quebrar o passo em 2, 3 ou 4 compassos.

Observe neste vídeo das Sisters Studio Collective no ATS® Reunion de 2018, a partir de 4:58, como elas fazem, uma a uma, a leitura do ritmo em 6 tempos. Alguns passos mais curtos são feitos em 2 compassos, passos mais longos em 3 ou 4 compassos. Temos um Barrel Turn, Loco Camel, e Pulse Turn em 2 compassos cada, Wrap Around em 4 compassos, depois outro Barrel Turn em 3 compassos, Reverse Taxeem usando um compasso para cada lateral, Camel Walk em 2 compassos, e Wrap Around em 2 compassos.


Tendo a contagem em 6 tempos, você vai adaptar movimentos pequenos em 3 ou 6 tempos, os passos grandes em 6, 12 ou 18 tempos, sempre respeitando o que te pede a melodia. A escolha é sempre sua.

Da mesma forma como você estudou os movimentos em ritmos de 8 tempos, exercite seus movimentos lentos nesta nova contagem. Veja estes vídeos de experimentações alongando ou acelerando os movimentos dentro do padrão de 6 tempos:



A música “Beto Baharon” gravada pelo grupo Helm, usa base rítmica em 3 tempos. Da mesma forma que a contagem em 6, a contagem em 3 vai se desmembrar em 3, 6, 9, 12 e assim por diante. A leitura será muito parecida com a da contagem em 6 tempos, alongando ou encurtando os movimentos de acordo com o que pede a melodia.


Vamos ver agora uma nova possibilidade com um ritmo de contagem ímpar. Nesta música “9/4 the ladies” do grupo Balkan Beat Box, encontramos um padrão de contagem 9 (4 +5). Este padrão é usado na Grécia, na Turquia e em outros países daquela região mediterrânea. Dependendo da região, o nome de ritmo é diferente, mas vamos utilizar o nome “Aksak” turco. A contagem em 9 é uma contagem muito veloz. Para efeitos de dança, vamos ficar loucas se tentarmos contar e dançar ao mesmo tempo os 9 tempos de forma corrida. Existe, porém, uma outra maneira de contar este ritmo, (funcional apenas para efeitos de dança, não de contagem musical oficial) que nos facilita compreender início, meio e fim do compasso, que é a contagem 1-2-3-1-2. Veja como a leitura musical dramatic slow pode se aplicar neste tipo de contagem:


Experimente. Dance em diversas músicas diferentes, de maneiras diferentes. Procure estudar e compreender a música que você usa como ferramenta para dançar. “Know your music” (conheça a sua música), dizem nossas mestras. Principalmente se for uma música étnica, procure saber de onde ela vem, como é dançada em sua cultura de origem. Procure saber os nomes dos ritmos, quais são os instrumentos melódicos que são usados, em que época foi composta.

Faça o mapeamento da sua música, buscando perceber de quantos em quantos compassos temos transições entre instrumentos, em quantos tempos são feitos os arranjos, em que momento você pode ter movimentos “lentos” ou “rápidos”, movimentos mais ou menos impactantes.

Quanto mais você conhecer, mais elementos terá para expressar esta música na escolha dos movimentos, na escolha dos acessórios do seu figurino, na sua interpretação. Quanto mais você conhecer, mais interessante será a sua apresentação para o público.

Esta apostila não busca ditar regras, apenas convidar a dançarina de American Tribal Style® a se aprofundar e a conhecer melhor a música. Aqui tenho expresso meus parâmetros pessoais para desenvolvimento da minha musicalidade. Veja se você compreende e concorda com estes parâmetros, se eles fazem sentido e podem se aplicar ao seu método pessoal de interpretar a música.

A leitura musical é onde reside a arte da dança, o processo artístico pessoal. No final, quem escolhe como irá dançar, é mesmo você.



[Organizando a Tribo] Elaboração de Projetos Culturais na Dança

por Melissa Souza

Quem convive comigo já me ouviu dizendo mais de uma vez: “dá gosto ler um release bem escrito!”. Eu escrevi sobre release artístico aqui para o blog em 2016 [http://aerithtribalfusion.blogspot.com/2016/05/organizando-tribo-release-artistico.html] e torno a falar desse assunto agora por um motivo especial: estou participando da produção da 4ª edição da Entre Mundos, feira cultural da Idade Antiga e Medieval, que acontecerá neste ano de 2018, em 27 de Outubro, no clube da Cica, em Várzea Paulista, interior de São Paulo. Dentre minhas funções está auxiliar no recebimento das inscrições, organizar as publicações nas mídias sociais e assessorar os participantes no dia do evento. E estou adorando fazer parte de tudo isso e acompanhar de perto o processo de produção deste evento que participo desde 2013!

Eu e meu namorido, Everton Souza, na edição de 2014 da Entre Mundos

Nas duas primeiras edições participei apenas como visitante, na terceira tive o prazer de ir não somente para dançar como também para organizar as intervenções de dança no ritual de fogo e entre as bandas de folk metal, entre 22h e 04h (tem resenha aqui no blog: http://aerithtribalfusion.blogspot.com/2016/11/resenhando-sp-feira-medieval-entre.html). Foi após este episódio que comecei a propor intervenções de dança tribal em festivais de música e cultura alternativa, o que me levou a participar de eventos como o Mundo de Oz, Gaia Connection e Santa Liberdade. A Carla Mirela, idealizadora da Entre Mundos, também administra o Mausoléu Pub e, após nos conhecermos melhor, também tive abertura para organizar haflas no local em 2017 (http://aerithtribalfusion.blogspot.com/2017/03/resenhando-sp-hafla-tribal.html).

Intervenção no Ritual de Fogo da III Entre Mundos (2016)

Para que tudo isso fosse possível, eu precisei escrever, e muito, sobre a minha proposta com a dança, apresentar fotos, vídeos, referências de publicações na imprensa e links externos. Nem todo produtor tem um canal de recebimento desses arquivos, normalmente as inscrições são feitas apenas por e-mail, então eu organizava a apresentação no corpo do mesmo, em Word ou em PowerPoint - este último, para mim, foi o melhor formato até então. Para a Entre Mundos havia um formulário em Word, e eu sugeri de criarmos esse formulário com o Google Docs, mas fiquei surpresa com a criatividade dos proponentes, que enviaram apresentações até mesmo em vídeo e slideshow. O que quero dizer é que, não importa o formato, o tipo de mídia utilizado, desde que as informações cheguem até os produtores com facilidade, claro e conciso o suficiente para convencê-los da nossa proposta.

Oficina de Dança Tribal no festival Mundo de Oz (2017), oferecida em parceria com Kayra Bach

Com um release bem escrito, conseguimos visualizar a dança acontecendo, para isso necessita descrição não só da dança, como do figurino utilizado, da música, do objetivo que se quer alcançar com a apresentação - para divertir, emocionar, impactar. Se há interação com o público; a dinâmica da coreografia, principalmente se é algo em grupo: tudo é relevante. Infelizmente, muitas propostas foram recusadas por conta da falta de informações e clareza da mesma. Claro que, quando se trata de contatos pessoais dos produtores, é muito mais fácil de incluir num evento - muitos festivais só consegui entrar por conta de conhecer uma pessoa que conhece outra e enfim, por isso as parcerias são tão importantes no meio artístico. Mas não se trata de uma “panelinha”, os produtores realmente anseiam em ver coisas novas e diferentes, e muitos patrocinadores tem interesse em apoiar projetos e eventos condizentes com os seus ideais. É gratificante!

Esse é um dos motivos da Feira Entre Mundos destinar 20% da receita para a Associação Mata Ciliar, em pró dos animais e meio ambiente. A Feira também oferece uma meia entrada promocional em troca de doações para a entidade beneficiada. Além de ajudar a associação, o que vai de acordo com o propósito do evento, a ação também atrai o apoio de muitas organizações, públicas e privadas, como a secretaria de meio ambiente e a participação de artistas que dispensam ou minimizam o cachê em favor dos ideais do evento. Tenho aprendido muito sobre produção colaborativa e espero poder utilizar toda essa bagagem em um evento futuro de dança.

O extinto portal Tribal Archive prestava apoio de mídia à cena tribal nacional e também recebia o apoio e patrocínio de colaboradores e empreendedores da área


Seja com a intenção de dançar, elaborar um projeto artístico ou produzir um evento cultural e assumir esse papel de curador, passamos por etapas similares de planejamento, são elas:

1- Título e apresentação;
2 - Justificativa, metas e objetivos;
3- Cronogramas de pré-produção, produção e pós-produção;
4- Orçamentos - previsão/expectativas e resultados; bem como fontes de captação
de recursos, parcerias e patrocínios;
5- Planejamento de marketing, publicidade, mídias e imprensa...

Dentre outros aspectos que variam de acordo com o projeto. Ao pensar o conteúdo das suas aulas de dança para elaborar um workshop temático ou curso modular, por exemplo, passamos por esse procedimento, seja por escrito ou apenas pensado. Os eventos sazonais de uma escola de dança, bem como os festivais e participações em mostras municipais e organizadas por terceiros tem uma finalidade maior, seja para os alunos adquirem experiência de apresentações, como atrair mais alunos para a escola ou apenas desenvolver um relacionamento com o público nas mídias sociais. Por qual motivo acompanhamos escolas e produções de eventos pelas mídias sem a expectativa de fazer aulas ou participar dos mesmos? Temos essa afinidade com a instituição como um todo ou a temos como um referencial em nosso trabalho diário, algo que almejamos.

Dei início à produção de projetos em 2015, após ouvir alguns podcasts da Sala de Dança e ter a experiência gratificante de participar do Curso de Formação com a Joline Andrade, aprendi muita coisa na prática, com tentativa e erro, mas também tive aulas focadas em marketing, planejamento, técnicas de pesquisa e elaboração de projetos ao longo do curso de Comunicação Social e, em 2017, tive o prazer de participar de um workshop com carga horária total de 6 horas focado em elaboração de projetos, ministrado pela Profª Drª Isaria Maria Garcia de Oliveira, que atua na área de produção de espetáculos de dança e festivais de música. Neste workshop ela ressaltou, dentre outras coisas, a necessidade de avaliar a probabilidade de um projeto de acordo com a relevância social, acessibilidade e antecedentes; investir na capacitação dos mediadores e mensurar os resultados através de pesquisas quantitativas e qualitativas (saiba mais em meu blog pessoal http://blog.melissa.art.br/2017/10/elaboracao-de-projetos-culturais.html).

O 2º ano do Projeto Vídeo & Dança foi realizado em parceria com a Dayeah Khalil, organizadora do Tribal Beach Festival e contou com a participação especial da percussionista Nanda Rodrigues

Para complementar, em abril de 2018, assisti também uma palestra sobre dança empreendedora promovida pelo Sebrae de Tatuapé-SP, com a participação de Octávio Nassur, produtor cultural na agência Dance & Concept e coordenador do MBA em Dança, Gestão e Produção Cultural da faculdade Inspirar, de Curitiba-PR (https://www.centraldancadoventre.com.br/publicacoes/divulguese/119/danca-empreendedora/17561). Apesar de ser voltado para proprietárias de escolas de dança, o palestrante tem uma grande bagagem em administração, elaboração de projetos e agenciamento de artistas e transmitiu muito da sua experiência ao público presente.

O curso de ritmos com a Nanda Rodrigues foi um dos projetos pensados para a escola Portal do Egito®, em Jundiaí-SP. O espaço também recebeu os encontros Mulheres que Dançam com a participação de instrutoras convidadas como a Andreia Elektra (Campinas-SP) e a Samaa Hamra (Santos-SP) trazendo temáticas especiais (Artes Sensuais e Dança Meditativa, respectivamente).


Em resumo: estudar, participar de workshops e assistir palestras na área de produção cultural, administração e comunicação é importante para quem deseja trabalhar com a dança e ter a dança como um negócio, seja como performer, instrutor, produtor ou gestor na área, mas por mais que estudemos, é na prática que vamos experimentar o que funciona e o que não funciona. Acredito que cada experiência que tive de 2015 para cá contribuiu para eu encontrar o meu verdadeiro propósito com a dança e espero conseguir transmitir um pouco disso tudo com vocês, trazendo mais conteúdo acerca do assunto com a minha coluna regular aqui no blog, de acordo também com o feedback de vocês.



[Folclore em Foco] Leitura Musical para ATS® - Parte 2

por Nadja El Balady– FatChance BellyDance Sister Studio


MÚSICAS “LENTAS”

As músicas lentas são músicas que vão assumir caráter de valorização da melodia, onde o ritmo de base serve de “chão” para o desenrolar das melodias e harmonias. Desenvolver a leitura musical para músicas “lentas”, é um pouco menos óbvio do que para músicas “rápidas”.

Não seria apenas se deixar levar pela melodia?

Mais ou menos. Nas músicas lentas, nós não fugimos à regra de frases musicais construídas sobre ritmos e mais uma vez, vamos observar os ritmos de base antes de observar o comportamento da melodia.

Ritmo x andamento
Como vimos anteriormente, os ritmos contados em 4 são usualmente usados para leitura “rápida” dentro do ATS®. Se o ritmo for tocado em um andamento verdadeiramente muito lento, é possível mudar a maneira de ler a música, mas se for tocado em um andamento mais corriqueiro para este tipo de ritmo, a música será certamente percebida como “rápida” em termos de ATS®. Por exemplo: Nesta versão da música “Said Roah” gravada pelo grupo Helm, a música inteira tem base no ritmo Said, que é um ritmo 4/4. Em teoria, poderíamos dança-la inteira com movimentos rápidos, porém no início da música o andamento é tão lento que fica quase inviável dançar de forma “rápida” nela. Depois de um determinado arranjo musical, o andamento acelera e já fica mais gostoso de tocar snujs e fazer os movimentos “rápidos”. Então teremos uma leitura “lenta” no início, mudando para “rápida” no final.


Da mesma forma também vamos entender como uma música “lenta”, ou “parte lenta” de determinada música, se os instrumentos melódicos forem tocados com as notas alongadas, em melodias mais lânguidas, mesmo que o ritmo seja em 4 tempos e um andamento bom para movimentos rápidos, vamos acabar puxando a interpretação para os movimentos lentos. Neste caso, é a sua vontade de interpretar o instrumento melódico predominante que determina a escolha dos movimentos usados.

Ou seja: A sua percepção da música é quem vai dizer mesmo ditar o que fazer.

Vejamos este exemplo com a música “Rumelaj” gravada pelo grupo Mawaca: O ritmo de base é o ritmo árabe “Maqsoum”, em 4 tempos, mas a melodia lânguida, a valorização dos instrumentos como acordeom e flauta nos inspiram à movimentação lenta pela maior parte da música, até o arranjo de percussão em que temos uma clara transição onde o andamento da música acelera e a música toma uma energia maior, que vão nos inspirar uma movimentação mais cadenciada, com deslocamentos e batidas no vocabulário “rápido” do ATS®.



Na maior parte das músicas de origem árabe, ou otomana, os ritmos que servem de base para músicas “lentas” podem ter padrões longos de contagem, diferente das músicas “rápidas” que geralmente usam padrões rítmicos em 2 e 4 tempos, os ritmos “lentos” podem ter contagem em 8, 10 ou mais tempos. Contagens em 8 tempos são mais comuns, mas existem alguns ritmos lentos com contagem em 4 tempos.

Vejamos alguns ritmos em 8 e 10 tempos bastante usados para músicas orientais:




Como mencionado anteriormente, a leitura rítmica dentro do ATS® não acontece de forma literal, não é nossa responsabilidade representar os taks e dums dos ritmos, mas é nossa tarefa entender a métrica que o ritmo deixa para a flutuação melódica e encaixar a nossa movimentação nesta métrica rítmica. Tudo vai depender também do andamento em que este ritmo está sendo tocado. Talvez você queira encaixar um Barrel Turn em um compasso de 8 tempos, mas se ele estiver sendo tocado em um andamento mais rápido, sejam necessários 2 compassos para fazer caber o movimento inteiro.

Então se um movimento vai ocupar 1 ou mais compassos, vai depender da complexidade do movimento e também do andamento que que o ritmo está sendo tocado.

Experimente fazer o seguinte exercício:

Escolha alguns movimentos simples ou combinações de movimentos com giros, como por exemplo: Torso Twist; Body Wave; Reverse Turn; Propeller. Experimente dançar estes 4 movimentos nos ritmos Masmoud Kbir e Tchifititelli, ambos ritmos com compasso em 8 tempos, porém tocados em andamentos diferentes. Experimente encaixar os movimentos em apenas um compasso. Quantos Body Wave você encaixa em 1 compasso? Consegue fazer apenas um Body wave em 8 tempos? Fica melhor se forem 2? Mas e se o andamento for mais rápido? Agora experimente com uma combinação mais longa, como Reverse Turn e Propeller, como fica para encaixar o movimento em 1 ou 2 compassos em andamentos mais ou menos lentos?






Depois de dançar com os ritmos puros, experimente o mesmo exercício em músicas que usem os mesmos ritmos na base e perceba como a melodia se comporta com o ritmo para formar as frases musicais, conte as frases musicais, perceba quantos em quantos compassos acontece uma frase musical e tente encaixar os movimentos ao sabor da melodia.





SOBRE MÚSICAS RITMICAS OU ARRITMICAS
Até há algum tempo atrás eu ouvia muito a respeito de uma expressão usada para designar leitura musical para ATS® como músicas rítmicas ou arrítmicas. Eu compreendo que este termo “arrítmico” seria usado para dizer que os movimentos usados no lento do ATS® não teriam uma contagem específica por estarem mais disponíveis a serem adaptados a musicalidades diferentes. O fato que precisa ser esclarecido é que não existe nada e termo de música, e por tanto também de dança, que não tenha ritmo. Não existe música arrítmica, por tanto não existem movimentos arrítmicos. Musicalmente este termo é bastante equivocado. Mesmo que a música em questão não tenha uma percussão, com certeza a melodia foi construída, ou improvisada, em cima de algum padrão métrico de contagem. Na dança, mesmo que não tenhamos uma contagem única para a execução de movimentos lentos, a verdade é que estamos adaptando, mesmo sem saber, a contagem dos mesmos movimentos de música para música. Talvez, em determinada música, você faça o Camel Walk em 4 tempos e em outra música faça em 8 tempos. Você muda a sua interpretação, mas nunca está dançando algo desprovido de ritmo ou alguma contagem.

O que acontece quando você não conta os seus movimentos é que você deixa a cargo da sua intuição a leitura musical, a maneira como você ouve e representa os instrumentos. Quando não temos consciência do que fazemos, podemos não dar o melhor de nós. Toda o método do ATS® pede que você tenha ciência da sua postura, da clareza e limpeza dos seus movimentos e que você conheça a sua música. Que você tenha ciência também dos elementos que compõe a música que você está dançando e isto inclui conhecer os ritmos, conhecer os instrumentos melódicos e percussivos, entender seus arranjos e transições para que as suas escolhas dos movimentos possam ser conscientes, para que o seu desempenho possa ser melhor, sua apresentação possa ser mais interessante, para que você possa ter maior prazer na sua dança e para que o seu conhecimento possa ser repassado sob forma de experiência para outras pessoas.



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