[Folclore em Foco] Leitura Musical para ATS® - Parte 2

por Nadja El Balady– FatChance BellyDance Sister Studio


MÚSICAS “LENTAS”

As músicas lentas são músicas que vão assumir caráter de valorização da melodia, onde o ritmo de base serve de “chão” para o desenrolar das melodias e harmonias. Desenvolver a leitura musical para músicas “lentas”, é um pouco menos óbvio do que para músicas “rápidas”.

Não seria apenas se deixar levar pela melodia?

Mais ou menos. Nas músicas lentas, nós não fugimos à regra de frases musicais construídas sobre ritmos e mais uma vez, vamos observar os ritmos de base antes de observar o comportamento da melodia.

Ritmo x andamento
Como vimos anteriormente, os ritmos contados em 4 são usualmente usados para leitura “rápida” dentro do ATS®. Se o ritmo for tocado em um andamento verdadeiramente muito lento, é possível mudar a maneira de ler a música, mas se for tocado em um andamento mais corriqueiro para este tipo de ritmo, a música será certamente percebida como “rápida” em termos de ATS®. Por exemplo: Nesta versão da música “Said Roah” gravada pelo grupo Helm, a música inteira tem base no ritmo Said, que é um ritmo 4/4. Em teoria, poderíamos dança-la inteira com movimentos rápidos, porém no início da música o andamento é tão lento que fica quase inviável dançar de forma “rápida” nela. Depois de um determinado arranjo musical, o andamento acelera e já fica mais gostoso de tocar snujs e fazer os movimentos “rápidos”. Então teremos uma leitura “lenta” no início, mudando para “rápida” no final.


Da mesma forma também vamos entender como uma música “lenta”, ou “parte lenta” de determinada música, se os instrumentos melódicos forem tocados com as notas alongadas, em melodias mais lânguidas, mesmo que o ritmo seja em 4 tempos e um andamento bom para movimentos rápidos, vamos acabar puxando a interpretação para os movimentos lentos. Neste caso, é a sua vontade de interpretar o instrumento melódico predominante que determina a escolha dos movimentos usados.

Ou seja: A sua percepção da música é quem vai dizer mesmo ditar o que fazer.

Vejamos este exemplo com a música “Rumelaj” gravada pelo grupo Mawaca: O ritmo de base é o ritmo árabe “Maqsoum”, em 4 tempos, mas a melodia lânguida, a valorização dos instrumentos como acordeom e flauta nos inspiram à movimentação lenta pela maior parte da música, até o arranjo de percussão em que temos uma clara transição onde o andamento da música acelera e a música toma uma energia maior, que vão nos inspirar uma movimentação mais cadenciada, com deslocamentos e batidas no vocabulário “rápido” do ATS®.



Na maior parte das músicas de origem árabe, ou otomana, os ritmos que servem de base para músicas “lentas” podem ter padrões longos de contagem, diferente das músicas “rápidas” que geralmente usam padrões rítmicos em 2 e 4 tempos, os ritmos “lentos” podem ter contagem em 8, 10 ou mais tempos. Contagens em 8 tempos são mais comuns, mas existem alguns ritmos lentos com contagem em 4 tempos.

Vejamos alguns ritmos em 8 e 10 tempos bastante usados para músicas orientais:




Como mencionado anteriormente, a leitura rítmica dentro do ATS® não acontece de forma literal, não é nossa responsabilidade representar os taks e dums dos ritmos, mas é nossa tarefa entender a métrica que o ritmo deixa para a flutuação melódica e encaixar a nossa movimentação nesta métrica rítmica. Tudo vai depender também do andamento em que este ritmo está sendo tocado. Talvez você queira encaixar um Barrel Turn em um compasso de 8 tempos, mas se ele estiver sendo tocado em um andamento mais rápido, sejam necessários 2 compassos para fazer caber o movimento inteiro.

Então se um movimento vai ocupar 1 ou mais compassos, vai depender da complexidade do movimento e também do andamento que que o ritmo está sendo tocado.

Experimente fazer o seguinte exercício:

Escolha alguns movimentos simples ou combinações de movimentos com giros, como por exemplo: Torso Twist; Body Wave; Reverse Turn; Propeller. Experimente dançar estes 4 movimentos nos ritmos Masmoud Kbir e Tchifititelli, ambos ritmos com compasso em 8 tempos, porém tocados em andamentos diferentes. Experimente encaixar os movimentos em apenas um compasso. Quantos Body Wave você encaixa em 1 compasso? Consegue fazer apenas um Body wave em 8 tempos? Fica melhor se forem 2? Mas e se o andamento for mais rápido? Agora experimente com uma combinação mais longa, como Reverse Turn e Propeller, como fica para encaixar o movimento em 1 ou 2 compassos em andamentos mais ou menos lentos?






Depois de dançar com os ritmos puros, experimente o mesmo exercício em músicas que usem os mesmos ritmos na base e perceba como a melodia se comporta com o ritmo para formar as frases musicais, conte as frases musicais, perceba quantos em quantos compassos acontece uma frase musical e tente encaixar os movimentos ao sabor da melodia.





SOBRE MÚSICAS RITMICAS OU ARRITMICAS
Até há algum tempo atrás eu ouvia muito a respeito de uma expressão usada para designar leitura musical para ATS® como músicas rítmicas ou arrítmicas. Eu compreendo que este termo “arrítmico” seria usado para dizer que os movimentos usados no lento do ATS® não teriam uma contagem específica por estarem mais disponíveis a serem adaptados a musicalidades diferentes. O fato que precisa ser esclarecido é que não existe nada e termo de música, e por tanto também de dança, que não tenha ritmo. Não existe música arrítmica, por tanto não existem movimentos arrítmicos. Musicalmente este termo é bastante equivocado. Mesmo que a música em questão não tenha uma percussão, com certeza a melodia foi construída, ou improvisada, em cima de algum padrão métrico de contagem. Na dança, mesmo que não tenhamos uma contagem única para a execução de movimentos lentos, a verdade é que estamos adaptando, mesmo sem saber, a contagem dos mesmos movimentos de música para música. Talvez, em determinada música, você faça o Camel Walk em 4 tempos e em outra música faça em 8 tempos. Você muda a sua interpretação, mas nunca está dançando algo desprovido de ritmo ou alguma contagem.

O que acontece quando você não conta os seus movimentos é que você deixa a cargo da sua intuição a leitura musical, a maneira como você ouve e representa os instrumentos. Quando não temos consciência do que fazemos, podemos não dar o melhor de nós. Toda o método do ATS® pede que você tenha ciência da sua postura, da clareza e limpeza dos seus movimentos e que você conheça a sua música. Que você tenha ciência também dos elementos que compõe a música que você está dançando e isto inclui conhecer os ritmos, conhecer os instrumentos melódicos e percussivos, entender seus arranjos e transições para que as suas escolhas dos movimentos possam ser conscientes, para que o seu desempenho possa ser melhor, sua apresentação possa ser mais interessante, para que você possa ter maior prazer na sua dança e para que o seu conhecimento possa ser repassado sob forma de experiência para outras pessoas.



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