Nossa entrevistada do mês de Setembro é a bailarina da Bahia, Bela Saffe! Bela nos conta sobre sua trajetória na dança do ventre, entre o teatro e a psicologia, até se envolver pelas fusões afros, populares brasileiras e indiana, encontrando-se, por fim, com o Tribal;suas conquistas nos principais eventos dos EUA ; além de comentar sobre seu Grupo Kairós , projetos e eventos já realizados na Bahia, cuja Caravana Tribal Nordeste é um dos principais eventos de destaque do país. Confiram a entrevista =)
BLOG:
Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou
para você?
Meu primeiro contato com a Dança do Ventre
foi em 1993, há 20 anos. Na época eu fazia parte de um grupo de Teatro em Salvador
(Grupo Via Magia) e em uma das cenas eu tinha que dançar a Dança do
Ventre. Minha referência imaginária eram os filmes Hollywoodianos ou algo do
gênero nos programas de TV. Não existiam professoras, shows, DVDs ou internet
para estudar ou pesquisar. Fiz a personagem intuitivamente e me sai muito bem,
de tal forma que quando terminava a peça, várias pessoas me procuravam para
elogiar e perguntar onde havia aprendido a dançar. Fiquei entusiasmada não
exatamente por causa desse retorno positivo do público, mas porque eu realmente
gostei de ter entrado em contato com aquela movimentação. Senti tamanha
identificação que comecei a pensar que por ser descendente de árabe ( meu pai
nasceu no Líbano), essa afinidade já estava no sangue. Nenhuma mulher da minha
família dançava, mas ouvir aquelas músicas e dança-las era como estar num lugar
de pertencimento.
A partir disso, então, fiquei atenta para
saber se havia alguém ensinando dança do ventre, mesmo que fosse em outro
estado. No mesmo ano, aconteceu um congresso de abordagens terapêuticas
corporais em Salvador e eu soube que viriam duas dançarinas do ventre do Rio de
Janeiro. Participei, claro, do congresso e das aulas. Não lembro o nome delas,
mas conversamos ao final do curso e, já estando com uma viagem agendada pra São
Paulo, perguntei se elas conheciam alguma professora por lá. Elas me
responderam que São Paulo era o melhor lugar pra fazer aula e me deram o
contato da Khan El Khalili.
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Zaar |
Fui na Khan El Khalili primeiro para
tomar o chá e ver o show antes de resolver fazer as aulas. A primeira bailarina
que vi dançar foi Nájua! Fiquei absolutamente encantada! Resolvi então
que passaria um tempo de aprendizado em São Paulo pra poder me dedicar a dança
do ventre profissionalmente. Não sei exatamente quanto tempo fiquei em São Paulo
dessa primeira vez, mas eu fazia aula todos os dias e às vezes mais de uma vez por
dia. Além disso, conheci uma outra dançarina que não era da Khan El Khalili
e que dava aulas particulares. Ela também era psicóloga como eu e fazia um
trabalho interessante em relação a uma maior consciência do feminino através da
dança.
Comecei a dar aulas em Salvador no ano
seguinte, em 1994, quando ainda não havia ninguém ensinando. Mas sabia que
ainda teria muito o que aprender e retornei a São Paulo incontáveis vezes para
fazer aulas. Portanto, 20 anos de aprendizado e ensino, com muitos altos e
baixos (claro! Rs), mas com muito amor e paixão!
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1996 - Espetáculo Meera |
O interesse pela dança tribal surgiu em 2006,
através de vídeos da Carolena. Mas costumo dizer que eu sempre fui
tribal. O segundo espetáculo de dança que produzi e coreografei em 1996, Meera,
tinha uma estética totalmente tribal: figurinos rústicos sem qualquer brilho ou
lantejoula, utilização de músicas não árabes e fusão com a cultura indiana. Ou
seja, durante os quase 20 anos de dança do ventre sempre me aventurei, nunca
segui os padrões estabelecidos do que era (ou não) dito como “dança do ventre”.
Quando encontrei pessoas que faziam algo similar, simplesmente me identifiquei
e mergulhei mais ainda naquilo que já expressava.
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por
quê?
Fiz aulas de dança do ventre com muitas
professoras e sem dúvida aprendi muito com elas, mas serei sucinta, dando
destaque para FáduaChuffi, porque além de excelente dançarina tem uma
forma muito humana de ensinar.
Na dança Indiana, Patrícia Romano, por
ser uma mulher guerreira e amorosa.
Na Dança Afro, Armando Pekeno, pela
exigência e bom humor.
E no Tribal:
Rachel Brice, Mardi Love e Mira Betz. As três me ensinaram muito
e continuam me inspirando.
BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há
quanto tempo?
Sim, minha história com a dança é muito anterior a
dança do ventre. Eu comecei no Ballet ainda criança e fiz aulas durante 12 anos.
Em seguida fiz dança moderna, afro e contemporânea. Quando comecei a dar aula
de dança do ventre, em 1994, eu já era preparadora corporal dos atores do grupo
de teatro ao qual fazia parte, participava de grupos profissionais de dança
contemporânea e estava finalizando um curso de especialização em coreografia na
Universidade Federal da Bahia.
Ao longo desses 20 anos de dança do ventre, me
dediquei também a outras vertentes da dança e do movimento corporal: dança
clássica Indiana no estilo Bhatanatyam,
Estudos do Laban, Formação em Reeducação do Movimento (método do Ivaldo Bertazzo), além de estudos e
práticas que envolvem psicologia e corpo, como a Psicologia Formativa de Stanley Keleman.
Ou seja, são mais de 35 anos envolvida com corpo,
movimento, dança e arte.
BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Difícil te dizer quais foram as minhas primeiras
inspirações. Como estou envolvida com a dança e a arte desde criança, o que
posso dizer é que a arte em si que me inspira: um espetáculo, um quadro, um
filme, uma poesia, músicas... Enfim, tudo que me fez e me faz perceber o mundo
de uma forma diferente, criativa, inusitada.
Como meu envolvimento atual tem sido basicamente com
a dança tribal, as profissionais que me inspiram são Mira Betz, Rachel Brice, Mardi Love, Zoe Jakes e Sera Solstice, a nível internacional. E
no Brasil, minhas colegas Cibelle Souza
e Cia Shaman, Kilma Farias e Cia Lunay,
Mariana Quadros, Bia Vasconcelos,
Gabriela Miranda, Karina Leiro e Rebeca
Piñeiro. Aprendo muito com elas e me sinto estimulada a seguir criando
quando vejo seus trabalhos.
BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Poderia te dar uma longa resposta sobre o que a
dança acrescentou na minha vida, mas ultimamente tenho refletido muito sobre as
excessivas expectativas que as pessoas buscam na dança, e começam a fazer aula
ou a se profissionalizar esperando grandes resultados com pouco esforço. Dançar
é uma forma de estar e de ser no mundo, muitas coisas vem e outras tantas são
descartadas. É um compromisso e como todo compromisso envolve perdas e ganhos.
Falo isso porque sempre vejo muito “romantismo” em torno da dança e quando as
pessoas se deparam com as escolhas, não suportam imaginar que dançar (e obter
seus benefícios) possa também lhes exigir muito em troca.
BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
A linguagem sem palavras. O contínuo trabalho de
tentar se expressar através do cinestésico.
BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha
que o tribal está livre disso?
Penso que o que prejudica a dança do ventre é essa
profusão de “clones”. Você vê uma dançarina se apresentar e as demais são
iguais. Todas praticamente escolhem uma música clássica para dançar e seguem o
mesmíssimo roteiro (entrada com véu e blábláblá...). Maquiagem, expressão,
movimentos, tudo igualzinho e previsível. Dificilmente alguém consegue
surpreender. A meu ver, existe muita convenção e pouca criatividade.
Em relação às dançarinas que seguem uma carreira
internacional, infelizmente a maioria se submete a padrões estereotipados de
beleza para se manter no mercado: silicone nos seios, preenchimento nos lábios
e por aí vai. Mais uma vez, padronização no lugar da diferenciação.
O tribal não está livre disso. Parece que as pessoas
tem necessidade de rotular e identificar o que estão dançando ou assistindo. É
assim também nas demais expressões artísticas. Isso é uma cilada que muitas
dançarinas podem cair, ou seja, fazer o já conhecido pra não ter que enfrentar
o estranhamento. Mas, o tribal tem a vantagem de ter nascido justamente com a
intenção de sair de padrões. Mesmo que muitas sigam apenas imitando, vejo muito
mais liberdade criativa na dança tribal do que na dança do ventre.
BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal ? Como foi
isso?
Ah, sim! Dança do ventre tem um lugar marginal no
meio da dança. É tida como uma dança fácil, menor, com intenção basicamente
sedutora, coisas desse nível. Mas não saberia te dizer um fato específico que
ocorreu comigo. O preconceito pode acontecer de muitas maneiras embutido em
comentários, olhares, indiferença, etc. Ainda bem que existem novas
perspectivas pela frente. Conheço algumas dançarinas, por exemplo, que fizeram
ou estão fazendo mestrado nessa temática. Sem dúvida isso mostra que já existe
alguma abertura no meio acadêmico e que isso pode gerar mais conhecimento e
menos preconceito na área.
BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Muitas e sempre. Acredito que não exista carreira
sem frustação, faz parte do percurso. Mas a única coisa que até hoje realmente
me indigna é a falta de ética e falta de respeito que alguma profissional possa
ter com outra. Isso sempre será lamentável.
BLOG: E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
As conquistas são todos os eventos que realizei e
que não foram poucos. Além de vários espetáculos desde o início de minha
carreira. A partir de 2005 comecei a trazer profissionais nacionais e
internacionais para dançar e dar aulas na cidade: Samya Ju, Anthar Lacerda, Polimnia Garro, Munira Magarib, ShaideHalim,
Kilma Farias, Mariana Quadros, Cibelle Souza, Douglas Felis, Mira Betz (EUA),
Anasma (França), Isabel de Lorenzo (Itália),
etc.Dentre esses eventos estão a Caravana
Tribal Nordeste e o Tribal BA, só
pra citar alguns.
Realizo anualmente, há doze anos, um evento de dança
na Chapada Diamantina (BA), um local belíssimo com muitas cachoeiras e de
natureza exuberante. São nove horas de aula comigo durante a manhã e trilhas à
tarde, durante três dias. Muitas alunas participam, assim como dançarinas de
outros estados. É um evento que me dá grande prazer!
Ministrar workshops em outras cidades também é uma
conquista, assim como dançar em eventos dentro e fora do Brasil. Ter recebido o
convite pra dançar no Massive Spectacular
(Las Vegas), sem dúvida foi uma honra. Assim como em
2011 fui convidada pra uma uma turnê na Índia, uma experiência única!
Considero também uma conquista continuar dando aulas
regulares ao longo desses 20 anos.
BLOG Você foi uma das primeiras bailarinas
do Brasil a se envolver com o estilo tribal. Como eram as informações sobre o
estilo na época em que você começou a pesquisar? Como era visto a dança tribal
naquela época e como hoje ela vem se apresentando na cena brasileira?
Precisamos nos situar no tempo... “naquela
época” ,quer dizer entre os anos de 2006 e 2008, ou seja, não faz tanto tempo
assim. A dança tribal é recente no cenário internacional e é ainda mais recente
no Brasil. Nesse tempo, percebo que ela vem conquistando mais espaço, diluindo
preconceitos e atraindo mais público.
Como já disse mais acima, comecei a
pesquisar o estilo através dos vídeos da Carolena
Nericcio. Em seguida, conheci o trabalho da Shaide Halim e fui fazer algumas aulas em São Paulo, assim como
também produzi um show e workshop com ela em Salvador. Na época as informações
ainda eram poucas, mas acho que em menos de dois anos esse cenário mudou. Já
era possível encontrar muitos DVDs, assistir muita coisa na internet e fazer
aula com as primeiras dançarinas internacionais que estavam começando a vir pro
Brasil. Lembro particularmente da primeira imersão que fiz com a Sharon Kihara, quando Adriana Bele Fusco a trouxe para São
Paulo. Por mais que eu já estivesse estudando algumas coisas através dos
vídeos, a aula dela foi simplesmente incrível e ali tive certeza que teria que
me dedicar muito mais, rsrs.
BLOG: Conte-nos sobre
suas fusões tribais com danças populares brasileiras ,africanas e dança indiana.
Como surgiu a afinidade por tais fusões? Em qual ponto essas danças convergem, em
relação a repertório de passos, figurinos, ritualística, ancestralidade e
rusticidade?
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1995 - Fusão Afro |
Em primeiro lugar penso que
qualquer fusão pra ser bem feita, a dançarina precisa ter um bom domínio do
repertório de movimentos das danças que serão fusionadas e, claro, afinidade.
Estudar apenas alguns passos de uma determinada dança só pra fazer a fusão,
provavelmente vai resultar em algo muito pobre. Isso porque não é simples
descobrir as movimentações e “enredos” que se afinam. Utilizo esses três
estilos que você citou pois eles já fazem parte do meu repertório corporal há
vários anos.
Dos três, sem dúvida a dança
indiana é a mais difícil de fazer ‘links’. Mas ao mesmo tempo é um desafio
super estimulante. Levo muitas horas pra conseguir uma fluência entre os
movimentos da dança indiana e da dança do ventre/tribal. No caso dessa fusão
outra dificuldade é encontrar músicas que expressem esse contexto.
Tenho especial carinho em trabalhar
com a dança afro e as danças populares brasileiras. Acho que elas se afinam
muito bem com o repertório da dança do ventre/tribal, pois tem movimentações
próximas, principalmente no que se refere ao quadril. Além disso, acho que elas
falam de nossa identidade brasileira e dão o toque especial que nos diferencia
das demais dançarinas de outros países.
BLOG: Conte-nos como surgiu o grupo Kairós
etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele
sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado
até agora.
Kairós
é uma palavra grega e refere-se a um aspecto qualitativo do tempo. Um tempo que
não pode ser medido.Mas pode ser sentido, percebido, acolhido. É diferente,
portanto, de Cronos de onde vem o que chamamos de tempo cronológico, medido pelo
relógio e pelo calendário.Essa é uma maneira de pensar o tempo e os acontecimentos
de forma participativa. É viver não apenas a partir de um tempo
pré-estabelecido, como se tudo já estivesse pronto e ordenado, mas aguçar a
sensibilidade para descobrir a melhor oportunidade de participar e fazer acontecer.
Por isso a escolha do nome para o grupo de dança (Grupo Kairós). É uma forma de afirmar que
no nosso trabalho não só Cronos está presente, afinal ele também é necessário,
mas que cada um de nós possui sensibilidade, criatividade e liberdade para conferir
significado aos acontecimentos da vida.
O grupo existe desde 1996, quando realizei o
primeiro espetáculo de dança do ventre (Meera)
já com uma estética totalmente fora dos padrões convencionais. De lá para cá,claro
que ele sofreu diversas mudanças. Hoje trabalho com o grupo de forma muito
simples. Quem puder estar presente para ensaiar e em condições técnicas de
participar de uma determinada coreografia, fará parte do grupo. Ou seja, uma pessoa
pode dançar uma coreografia e não dançar outra, vai depender desses fatores que
citei.
As coreografias podem ser de dança do ventre (aliás,
adoro coreografia de grupo para dança do ventre!) ou de tribal, sendo fusão indiana
ou danças brasileiras. Esses estilos são os mais presentes no grupo, mas já trabalhamos
também com outras fontes de inspiração, como os anos 20 ou a cultura Celta, por
exemplo.
BLOG: Como é o cenário da dança tribal na
Bahia? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade, repercussão por parte do
público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
Até o ano passado os eventos
exclusivamente de tribal na Bahia foram produzidos por mim: Caravana Tribal Nordeste e Tribal Bahia. Foram workshops e shows
totalmente voltados para a dança tribal. Participaram tanto dançarinas
nacionais quanto internacionais nas suas diferentes edições: Kilma Farias e Cia Lunay (PB), Cibelle Souza e Cia Shaman
(RN), Nanda Najla (MG), Mariana Quadros (SP), Rebeca Piñeiro (SP), Gabriela Miranda (SP), Aquarius Cia de Dança (PE), Isabel de Lorenzo (Itália), Geneva Bybee (EUA), Mira Betz (EUA), Anasma
(França), além de diversas dançarinas daqui do estado.
Além desses eventos, é comum que
nos espetáculos produzidos por professoras de dança do ventre, dançarinas de
tribal sejam convidadas a se apresentar. O público é sempre muito receptivo,
assim como a comunidade de dança do ventre. Claro que tem as pessoas que não
gostam do estilo, mas nunca aconteceu qualquer fato desrespeitoso que eu tenha
presenciado.
Neste ano de 2013 outras
professoras e dançarinas começaram a produzir eventos de tribal. Provavelmente
o cenário da dança tribal na BA ganhará muito com isso. Fico na torcida pra que
eles se multipliquem!
BLOG: Em 2010 você participou da Cia Dancers South America(DSA),
como uma das bailarinas do corpo inicial de tribaldancers, dirigida por Adriana Bele Fusco. Como surgiu a oportunidade de
fazer parte do DSA ? Comente como
foi a experiência de dançar em grupo tão diversificado em modalidades de dança
e em proporção de projeto? Como foi sua contribuição para o espetáculo de 2010?
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DSA 2010 |
O
convite veio num momento bem interessante. Estávamos no meio da Caravana
Tribal Nordeste em Salvador. Era um momento de interação entre dançarinas
de alguns estados, então ir pra São Paulo e ficar um tempo juntas seria uma
oportunidade de dar continuidade a essas trocas. E de fato foi. Aprendi muito com a
experiência. Infelizmente dançamos apenas uma noite o que não permitiu que o
trabalho amadurecesse. Sei que isso não é exclusividade desse projeto, tem sido
assim em todo lugar. Apenas uma noite de espetáculo e pronto, ou dá certo ou
não, rs. Só que artes cênicas não funcionam assim, né mesmo? A estréia
geralmente não é o melhor dia de espetáculo, ele vai ficando bom com o tempo. Adriana
Bele Fusco tinha o desejo de continuidade, mas ele não foi possível de ser
realizado da maneira como foi imaginado inicialmente por falta de recursos. Sei
que de alguma forma a Cia segue e isso é muito bom!
BLOG: O evento Caravana Tribal Nordeste(CTNE),
sob direção e produção sua , de Kilma
Farias, e Aquarius
Tribal Fusion (ATF), é um dos eventos que se destaca no país, unindo três
cidades nordestinas durante o ano. Conte-nos como surgiu a idéia do evento, sua
proposta e objetivos, organização e elaboração deste,bem como a repercussão do
mesmo para a comunidade tribal quanto para seu público no Nordeste Brasileiro.
O evento na Bahia, desde 2010, vem trazendo bailarinos internacionais. Esses
artistas comentam sobre as fusões brasileiras que assistem nos eventos? Qual a
reação deles com relação ao Tribal Brasil ?
Tive a ideia da Caravana pois percebia afinidades nos
trabalhos que eram desenvolvidos por alguns grupos aqui no Nordeste. A primeira
pessoa com quem falei foi Kilma e ela
topou imediatamente, acrescentando ideias fundamentais à elaboração do projeto.
Em seguida, falamos com Alê do Aquarius Cia de Dança (PE) e Cibelle Souza da Cia Shaman (RN). Esses quatro grupos circularam pelas quatro
cidades durantes os dois primeiros anos da Caravana.
A proposta é a troca de
conhecimento, fazer circular a dança tribal e principalmente desenvolver o
nosso estilo brasileiro. Todas as edições foram maravilhosas! Cada grupo
organizador em sua cidade se empenha ao máximo para fazer um evento de alta
qualidade. Os espetáculos são muito ricos e existe muita troca durante as aulas
e oficinas. Recebi excelente retorno do público daqui da Bahia, tanto de quem
assistiu aos espetáculos quanto de dançarinos participantes. Tenho certeza que
também foi assim nos demais estados.
As dançarinas internacionais que eu
trouxe ( Mira Betz e Anasma) deram ótimos feedbacks, principalmente quando
perceberam a originalidade do nosso trabalho. Ou seja, no geral elas admiram muito
quando não há uma simples imitação das dançarinas americanas já conhecidas.
A Caravana Tribal Nordeste vem passando por modificações, como tudo o
que é vivo precisa passar. Mas é um evento que sem dúvida fez história no
Tribal brasileiro e que poderá enriquecer ainda mais o cenário da dança.
BLOG: Em 2010 ,você participou do evento
internacional Spirit of theTribes,
na Flórida, nos Estados Unidos. Em 2013,
você participou de mais dois eventos importantes: The MassiveSpectacular(Las Vegas)
e Tribal Fest (Califórnia).Conte-nos
como surgiu a oportunidade para dançar nestes eventos e qual foi a experiência
em levar sua dança para os principais eventos do mundo. Qual retorno e
repercussão você teve pelo público norte-americano? Quais aprendizados e/ou
vivências você adquiriu dançando e estudando nos EUA? Conte-nos um pouquinho
sobre cada evento e suas principais características e o quê você mais gostou
deles. Você acha que um dia a dança tribal brasileira chegará em tais
proporções de eventos?
Todos os eventos que participei nos
EUA foram enriquecedores. No Spirit of
The Tribes, tive a oportunidade de dançar um solo e um duo com a querida Kilma Farias. Além disso, fui jurada da
mostra competitiva junto com Kilma e Nanda Najla. Foi maravilhoso também
acompanhar o trabalho dessas duas dançarinas brasileiras durante o festival e
ver o quanto nossos profissionais desenvolvem um trabalho de alto nível.
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Spirit of
The Tribes - Kilma Faria e Bela Saffe |
Participei do The Tribal Massive (Las Vegas) em 2011 e 2013. Considero esse o
melhor evento para se aperfeiçoar na dança tribal. São muitas horas de aula
numa sala para apenas quarenta alunas. Mas, confesso que achei as aulas de 2011
muito melhores do que as de 2013, principalmente porque Rachel Brice e Mardi Love
não estavam presentes este ano. Considero as aulas delas especiais, são
excelentes professoras e dançarinas. No entanto, o programa ainda mantém Zoe Jakes e Mira Betz, duas outras ótimas professoras e por isso ainda pode ser
um bom investimento pra quem quer aprofundar seus estudos.
Em 2011 dancei no hafla do Tribal Massive e a organizadora elogiou
muito o meu trabalho e me convidou para dançar no espetáculo de gala, The Massive Spectacular, no ano
seguinte. Não pude participar em 2012, mas o convite foi mantido para este ano.
Foi uma honra e um desafio. A produção é impecável e dançar num evento de alto
nível como esse, esperado por toda comunidade tribal, dá frio na barriga, rsrs.
Mas gostei do resultado e recebi muitos feedbacks
positivos de dançarinas que admiro muito: Mira
Betz, Zoe Jakes, SeraSolstice e Jill
Parker por exemplo, vieram falar comigo após a apresentação e dizer o
quanto gostaram do trabalho. Não preciso nem dizer o quanto isso foi importante
pra mim.
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The Massive Spectacular 2013 |
Este ano ainda tive o prazer de ir
ao Tribal Fest (Califórnia) e levar
uma coreografia em trio para o palco desse evento que é uma grande festa. Dançamos
uma fusão com ritmo brasileiro e a repercussão foi excelente! Diferentemente do
The Tribal Massive, no Tribal Fest a aluna escolhe as aulas que
quer fazer e, no geral, são aulas de duas e quatro horas de duração. Poucas são
as professoras que fazem imersão (umas nove horas de aula) e essas aulas se
esgotam rapidamente assim que o site para venda é colocado no ar, um stress! Me
inscrevi em algumas aulas de duas horas ( com Zoe e Rachel) e uma de
quatro horas com Tjarda. As aulas de Zoe e Rachel foram num grande salão e, como é de se esperar nessas
condições, não dá pra ter um bom aprendizado. Numa sala bem menor e com poucas
pessoas, a aula com Tjarda foi bem mais
produtiva e interessante. Mas, resumindo, o Tribal
Fest é um ótimo evento para se divertir, assistir muitas apresentações (são
muitas horas de show durante três dias!), fazer compras e conhecer muitas
pessoas interessantes. Mas a meu ver não é o melhor evento para fazer aula, a
não ser que você consiga se inscrever numa das imersões disponíveis para ter um
aprendizado mais focado e intenso.
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Tribal Fest 2013 |
Não sei se vai ser possível ter no
Brasil algum evento desse porte, seja em questão de tamanho ou de intensidade
de aulas. Mas, já temos sim bons eventos em algumas cidades do país e acho que
eles estão dando conta do recado: Campo
das Tribos (SP), Caravana Tribal Nordeste,
Shaman’s Fest (RN), Gohtla BR (RJ), por exemplo.
BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
Gosto da liberdade de criação. Usar a música e o
figurino que quero, e estar em sintonia com minha própria linguagem e
expressão. E principalmente ter espaço pros risco, pra aventura de encontrar
novos caminhos.
BLOG: O quê você acha que falta à comunidade
tribal?
A “comunidade” tribal no Brasil é a soma de muitos
trabalhos individuais e de pequenos grupos por todo o país. Acho que fazemos um
excelente trabalho, visto que desenvolvemos uma linguagem e técnica que em nada
deixa a desejar em relação às dançarinas de outros países. Então, para mim, o
que falta é o que falta em relação a arte de uma maneira geral:
recursos, de tal forma que fosse mais tranquilo realizar festivais,
espetáculos, viajar, etc. Atualmente sei que temos que nos dividir em muitas:
produtora, dançarina, coreógrafa, administradora, serviços gerais (rsrs), etc,
e isso muitas vezes é cansativo e desestimulante.
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Livre. Existe? Rsrs.
BLOG: Quais seus projetos para 2013? E mais
futuramente?
Parte desses projetos já se concretizaram.Este ano dancei
no The Massive Spectacular (Las
Vegas) e levei uma coreografia de grupo pro Tribal
Fest (Sebastopol, CA). Estive no Campo
das Tribos em São Paulo e continuo dando aulas e fazendo workshops.
Ainda não fiz nenhum planejamento pro próximo ano.
BLOG: Improvisar ou coreografar?E por
quê?
Improvisar e coreografar. Porque ambos me desafiam.
BLOG: Você trabalha somente com dança?
Não, trabalho com dança e com psicologia clínica.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Trago um diálogo que vi num filme “Contos em Nova
York”, presente no primeiro conto, “Lições de vida”, dirigido por Martin Scorsese.
Vou narrá-lo com minhas palavras porque não tenho o filme em mãos.
Lionel
Dobie é um famoso artista plástico que mantém uma relação
conturbada com sua namorada e assistente, Paulette,
também artista plástica e bem mais jovem que ele, mas ainda sem projeção na
carreira e insegura em relação ao próprio trabalho. Em um momento de crise,
gritando, ela pega um dos próprios quadros e pergunta a ele se ela realmente
tem talento. Lionel fica calado por um tempo e em seguida fala que isso não é o
mais importante. O mais importante que ela teria que se perguntar é se ela
sente necessidade daquilo, se ela
sente necessidade de pintar.
E você, sente necessidade de dançar?
Contato
Tel/cel: (71) 9987-9453
E-mail: belasaffe@terra.com.br