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Entrevista #32: Caíque Melo


Nossa entrevista de abril é com Caíque Melo, bailarino de Salvador -BA. Caíque foi "Destaque Tribal Masculino" aqui no blog em 2012 e 2014. Neste último ano, nossa Entrevista  Especial de Aniversário do Blog seria destinada à categoria em questão =D Vamos conferir a trajetória do nosso tribalesco?

  
BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou para você? 

Comecei a estudar dança com 14 anos de idade, quase 15. Nasci em Vitória da Conquista,
Dabke
sudoeste da Bahia, onde uma das escolas de dança, a Arabesk, me abraçou. “Caí meio que de paraquedas”... Em 2009 fiz uma pergunta à uma amiga sobre as aulas de dança e ela me convidou. No dia combinado eu fui à Escola fazer aula de Balé Clássico. Me lembro do primeiro dia, onde conheci a professora e diretora da Escola, a Suzanni Rabelo, ou carinhosamente chamada de tia Suzi. Digo que ela abriu as portas da dança pra mim, pois, foi ela me concedeu aulas como bolsista e sempre que eu sugeria algo novo como trabalho, como a dança tribal, por exemplo, estava de braços abertos. E em meio às dores de alongar, as faltas de coordenação e direção, como todos que começam a mover o seu corpo que não somente do cotidiano, fui percebendo o quanto gostei de fazer “aquilo”. Me sentia vivo e estar vivo me levava à um outro ambiente, que me fazia bem e mais contente. Após esse primeiro contato, me apaixonei. E foi rápido demais. Mas sei que é um amor pra toda vida, porque partiu de dentro de mim. Só estava escondido. Dancei no meu primeiro espetáculo, em 2009, pela Arabesk, ainda envergonhado, mas com uma sensação INENARRÁVEL, que quem pisa nos palcos (e digo qualquer palco: italiano, a rua, na casa de um amigo, num restaurante, etc.) sabe como é.

Caíque e Stefanny Garcia
No mesmo ano, a minha amadíssima professora de danças folclóricas árabes, e professora da Escola na época, a Stefanny Garcia, me convidou para participar de uma coreografia de Dábke, no espetáculo de danças orientais que ela promove anualmente na cidade. NOOOOOSSAAAAA! Que energia é essa da dança oriental, meu povo?! Nos ensaios eu ficava alucinado pelas músicas e movimentações. Assistia vídeos e ficava admirando a dança e os dançarinos. Adoro muito os brasileiros dançando orientais. Temos uma autenticidade e respeito pela dança. O espetáculo lindo, com coreografias lindíssimas, de uma cultura que poucos conhecem e/ou já viram e quando viram pensam logo na dança do ventre, na sensualidade feminina e nos preconceitos que rodeiam sobre a dança. Ia além disso. São danças culturais, como as nossas, brasileiras, que conta a história de um povo. Que coisa linda de se ver! J

Encantadíssimo, continuei a estudar as danças orientais, o balé clássico e surge uma nova professora de dança oriental na minha vida, que admiro imensamente, onde me viu dançar no espetáculo da Stefanny (e ela também se apresentou), a Gal Novais. Num dia de aula de balé, ela me convida para participar de uma coreografia onde dançávamos balé clássico e dança do ventre misturado (até então, ainda pensava assim, rs). Achei bem interessante a proposta e fui fazer aulas de Dança do Ventre. Amei, amei. E não é que me dei até bem? (rsrs) Ali conheci minhas amigas Grazi Cardoso, May Cardoso, Samara Aguiar, Virgínia Rosa e Ane Carine, que SEMPRE me apoiaram à dançar, amigas de turma, juntamente com a Gal Novais sendo nossa professora. Era uma delícia ir às aulas, encontrá-las e dançarmos juntos. Formamos nosso primeiro grupo de danças orientais, o “Thuraya”, que significa “Estrelas ou Planetas”, em árabe. Nos divertíamos muito nas apresentações, viagens e ensaios. Saudades...

Caique e Gal Novais
No dia da apresentação com a professora Gal Novais, da “mistura” entre balé e ventre, conheci a Joline Andrade. Ela estava organizando a mostra de dança “EtnoTribes” em Vitória da Conquista, em 2010. E quando a vi dançar, fiquei encantado com as movimentações do corpo que ela realizava na coreografia, juntamente com a sonoridade da música, com aquela aura misteriosa por detrás. Fui logo pesquisar sobre a dança Tribal Fusion. Assisti logo de cara a Rachel Brice, o auge da dança tribal. Ia pesquisando em alguns blogs, vídeos, músicas, até conversei com alguns profissionais na época, como a Joline, a Bia Vasconcelos, a Bela Saffe, sobre a dança, pois realmente estava querendo entender melhor aquele universo. Também fiz algumas aulas com a Gal Novais. Ela me ensinou movimentações básicas do tribal, como postura, algumas movimentações, bem enfatizada no Belly Dance.

SOBRE O TRIBAL FUSION: Sempre fui autodidata quanto a dança tribal, mas tudo que me interessava eu lia, fazia, estudava os movimentos, assistia e sempre que possível, participava de workshops. Então, sempre estive pesquisando e estudando a dança. Lembro-me de uma frase que norteia a dança tribal e que eu ouvia bastante, mas não exatamente assim: “Procure a sua dança tribal”. Sempre busquei e busco essa autenticidade, essa minha dança, pois acredito que a dança é universal e cada um tem sua dança. A dança tribal foi e está sendo a minha escolha de buscar essa autenticidade que se muda constantemente e me apetece. Estudo a dança tribal fusion há 5 anos, e comecei estudar dança há 7 anos. Tenho 20 anos, completo 21 em julho. =)

Joline Andrade e Caíque Melo
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Com certeza todos os professores deixaram alguma informação importante para mim. Vivemos informando e adquirindo informação a todo instante. Mas alguns tem marcos maiores pelos seus conhecimentos e simpatia, como: a Stefany Garcia (Vitória da Conquista-BA), que me convidou a conhecer a cultura e as danças árabes, sempre sendo carinhosa.Tem um espaço de Dança Oriental, onde dá aulas. Já foi premiada no Mercado Persa, junto com a Gal Novais e tem uma beleza ao dançar. Ela é verdadeira. Por isso sempre chamou minha atenção e admiração. Gal Novais (Vitória da Conquista-BA), que me ensinou que a dança do ventre tem homens sim, mas que não por isso deixamos de desrespeitar os costumes da cultura. Obrigado por todos os ensinamentos. Sheyla Nascimento (Vitória da Conquista-BA), a discopédia (rs) – incentivando-me sempre; a Joline Andrade, pelo carinho e apoio; a Hilde Canoodt (UK), que no workshop no Dramofone I, me deu um start para pensar em estética de movimento e alinhamento, e isso me ajudou MUITO (thank you, Hilde) ; e a Antonia Ribeiro, que sempre tem as ideias mais deliciosas de se trabalhar, que sempre elabora coreografias incríveis e me incentiva a fusionar sempre.


Não por isso, agradeço a todos professores que passaram, passam e passarão por mim. Com certeza, em qualquer circunstância, o aprendizado e o conhecimento são certos.

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Sempre procuro fazer aulas que não somente a dança tribal, pois são novos aprendizados e possibilidade de fusão. Mas, quase que diariamente eu paro um tempo e pesquiso ou danço a dança tribal.

1)     Balé Clássico (2009-2012 – Arabesk) (2015 – FUNCEB)
2)     Dança do Ventre (2010-2012 – Arabesk)
3)     Danças Folclóricas Árabes (2009-2012-Stefany Garcia)

Atualmente faço o curso técnico profissionalizante da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), onde tenho estudos de cinesiologia, balé clássico, dança moderna, dança contemporânea, dança afro-brasileira, danças populares brasileiras, etc., conjuntamente com a graduação superior de licenciatura em dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Estudos Independentes: Waack Fusion, Tribal Fusion, Dança Fusão, Tribal Ragga Jam, Improvisação, Experimentações, Intervenções Urbanas  e o que mais for atraente para mim.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Sem dúvida, na dança tribal, a Joline Andrade é uma das minhas referências. Foi um incentivo para fazer a faculdade e estudar a dança tribal a partir desse viés acadêmico também.

A Zoe Jakes e a banda Beats Antique. Acho que não tem esse que quando escuta e a vê dançar, não admire o trabalho deles. A Zoe pelas propostas de dança dela, as movimentações, o enredo, as novidades, tudo... Ela é uma artista que, para mim, será sempre um referencial para meus trabalhos.

A Rachel Brice, como não, né?! (rs) Aquela fluidez, aquele controlo corporal, aquele beleza de vê-la dançar. Não tem outra... É a Rachel Brice.

Muitas (os) por mim foram inspirações nas épocas, mas ainda assim, admiro os trabalhos de todos...

Me inspiro por andar na rua, por abaixar e arrumar o tênis, por olhar um objeto e pensar ser outro... Acho que artista não para de pensar e criar. Pode muitas vezes não ter tempo ou vontade para continuar com alguns, mas, o artista auto se inspira. E eu me inspiro e expiro diariamente com os aprendizados diários de minha vida. Pois viver é dançar, dançar é viver e eu sou os dois. Eu sou dança e vivo.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Além de alegria e felicidade...?

A dança é um dos regentes da minha vida. Muitas situações resolvi a partir da minha relação com essa arte. Tive coragem para seguir com meios desejos; conheci e continuo conhecendo pessoas amadas; além de adquirir respeito por muitos que vivenciaram meu pequeno trajeto até aqui. São muitas coisas boas que acontece quando estamos de coração aberto para sermos nós mesmos. E para continuar tendo todas essas boas vibrações, danço.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
Dançar não é só expressar um sentimento, um acontecimento, uma história. Dançar é política, é crítica, é pensamento, é observação. Tenho estudado muitas danças, muitos contextos, principalmente contemporâneos, que me mostram outras formas de se dançar, de se trabalhar com o seu corpo e de movimentos capazes para o (meu) corpo. Dança com fundamentos técnicos, dança improvisação, dança contemporânea, dança teatro, etc. Mover o meu corpo ao som da música me apetita. Ver como o outro se mexe me instiga. É muito bom ver as formas que as pessoas se movem e perceber diversas questões corporais. Entender e perceber o corpo, em meio a questões sociais, ambientais e transpô-las, através de nossas experimentações, essas percepções.

BLOG: O que prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?
Acredito que em todo e qualquer ambiente, também nos da dança, há situações que desagradem, bem como pessoas (sim, ainda existem pessoas más). O auto ego, a rivalidade, a traição, as trocas de alfinetadas, o prejudicar o outro para conquistar algo, são, por mim, abominadas. Há espaço para todo mundo e, com certeza, se formos mais companheiros com nossos colegas de trabalho, nossos alunos, nossa plateia, as conquistas serão muito maiores e gratificantes.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Somos preconceituosos sem ao mesmo perceber, devido a nossa cultura, situação social e muitos fatores que influenciam para isso. Com certeza, alguém já deve ter me olhado torto, ou sussurrado para outra pessoa sobre minha sexualidade, por exemplo, somente por dançar. Quando isso chegava até a mim, e foram poucas as vezes, eu simplesmente escutava, balançava os ombros em sinal de interrogação, como que querendo dizer “Posso fazer o quê?” e continuava. Se houvesse alguma forma de eu poder mudar essa concepção, fazia, mas, nem sempre isso acontece.

Preconceitos agressivos verbais e/ou físicos nunca sofri, pelo menos não tão agressivamente. No colégio ou em qualquer outro ambiente em que eu falava sobre meu trabalho, me respeitaram, muitas vezes me chamando para parcerias. Além disso, sempre fui respeitoso com os outros para eles poderem respeitar minhas escolhas e quem eu sou.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Houveram algumas poucas desavenças com pessoas por conta de falsidade, lealdade e outras situações constrangedoras que ocorre na dança (infelizmente), como a inveja e os falsos julgamentos e levantamentos. Quando isso ocorre, procuro ter tranquilidade e paciência para poder passar. Depois se esquece e se for de boa valia, porque não retomar o contato?!

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Em premiações, já fui selecionado como “DESTAQUE TRIBAL MASCULINO” nos anos de 2012 e 2014 aqui pelo blog. (Yeeep)
Em 2012 fui selecionado por votação online para participar da abertura do show de Gala do GOTHLA BR, no Rio de Janeiro. No mesmo ano fui premiado em Vitória da Conquista como a 2ª melhor apresentação no IV Mini Fest, organizado pela Cia Dançart.

Com o decorrer da carreira, alguns trabalhos surgiram, como, por exemplo, assistência no show SIMBIOSE da Joline e até mesmo intercâmbios com alunas regulares dela.
Outras conquistas, essas mais acadêmicas, como os cursos técnico e superior, me surgiram pelo meu desejo de profissionalização na área.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal na Bahia? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
Nos meios acadêmicos, poucos ainda conhecem a dança na sua história, bem como em estudos de movimentações. Na Escola de Dança da UFBa, por exemplo, o tribal fusion é conhecido através de apresentações que realizo, bem como de colegas que também estudam e praticam a dança. A mesma situação se repete na Escola de Dança da FUNCEB. Os que se interessam a conhecer mais profundamente costumam participar de aulas e workshops ministrados pela cidade.

Nos eventos específicos de dança tribal, costuma-se ter uma quantidade consideravelmente boa de público nos teatros. Muitos familiares, outros curiosos, outros convidados por alguém. Em eventos de dança num contexto mais amplo, ou pequenas apresentações, o público também é participativo, admira e passa a acompanhar os trabalhos. Muitos já me adicionaram nas redes sociais após eventos, a fim de conhecer meus trabalhos e trocar informações. Em suma, conhecem como uma derivação da dança do ventre, como é comum para quem não conhece. Depois de explicar, eles mudam os pensamentos sobre a dança.


São produzidos poucos eventos destinados à dança tribal, devido à dificuldade que é para conseguir apoios e patrocínios. E para a produção cultural é preciso de renda.

A Bahia é muito grande comparado com outros estados e tem muitas pessoas que não tenho informações que pratica, estuda e/ou conhece a dança tribal. Tenho uma vasta noção da cena tribal baiana através do blog com os “Destaques” e outras informações que pesquiso. Tão pouco não somos, rs.

Outros campos que estamos sendo bem recebidos são nos eventos e haflas orientais. Tanto as bellydancers quanto o público são bem receptivos.

BLOG: Em 2012, você participou do show de abertura do Gothla Brasil. Gostaria que comentasse como surgiu esta oportunidade e sobre a experiência de dançar no palco mais obscuro das fusões tribais.
Após minha participação na votação online para poder participar do show no Gothla Brasil, na qual fui premiado, dancei no palco mais obscuro das fusões tribais...Foi minha primeira viagem para fora da Bahia e minha primeira participação juntamente com artistas da cena tribal que são referenciais no Brasil e adjacentes. No primeiro dia de workshops já fui me encantando ao ver artistas que você admira ao seu lado, tendo aulas com eles, podendo ter uma conversa cabeça ou mais descontraída e até uma dança improvisação em meio a boate, como foi com a Ariellah (me lembro até hoje dessa noite.


Alan, Marcelo e Caíque


Além do meu solo, fui convidado pela Jhade Sharif a dançar com mais dois bailarinos queridíssimos: o Alan Keippert (RJ) e o Marcelo Justino (SP). Foi lindo poder dançar com eles.


Quando fui dançar o meu solo, o nervosismo era grande. Mantive a calma e ao realizar o primeiro movimento, só me deixei ser conduzido por mim mesmo, ao som de Beats Antique (fã não tem jeito, rs). Saí do palco contente e espero logo voltar. Quem sabe até dançando no show de gala e ministrando workshop? #FicaDica




BLOG: Em 2014, você participou do EtnoTribes Festival (Salvador – BA), como assistente de produção. Gostaria que comentasse sobre essa faceta e também seu envolvimento com o evento.
Fazer parte de uma equipe de produção de um evento de dança nos traz um olhar diferenciado para nossa vivência. É estar do outro lado do palco, orientando, ajudando, procurando e informando a respeito de tudo sobre o evento.

Minha participação no Etnotribes foi como assistente da produção do show SIMBIOSE, estando junto da produção por um dia. Porém, foi crazy, porque são muitos detalhes para realizar, cumprindo horários, para que dê tudo certo. Estive nessa tarefa ao lado da Samile Dias. Fomos buscar a banda “Pedra Branca” no aeroporto, transportar os convidados, buscar elementos cênicos, da produção, do próprio evento... UFA!! Além de nós, a Priscila Sodré e a Trupe Mandhala também estavam na produção e esse conjunto ajudou o evento na sua melhoria e totalidade.


Bastidores: Caíque Melo e Samile Dias

Apesar de cansativo (e fazer produção de evento é bem desgastante), foi uma experiência muito enriquecedora, onde,pude perceber com maior clareza os processos para fazer com que um evento seja realizado.  


BLOG: Neste mesmo ano você participou do festival Bailares, em Feira de Santana – BA, ministrando workshop de “Waack Fusion” e também dançando como solista e com a Trupe Mandhala. Conte-nos um pouco sobre o tema do seu workshop. Como surgiu esta oportunidade e como foi a experiência de dançar em grupo com a Trupe?
Trupe Mandhala e Caíque Melo
O Bailares é uma produção da Trupe Mandhala que consiste basicamente em workshops e shows gratuitos. Participei das duas edições realizadas (2012 e 2014) e no último fui convidado para ministrar um workshop e participar do show de gala. Quando eu recebi o convite estava estudando sobre as danças Waacking, Vogue, Stilletto, Pop, Street Jazz e me interessei logo de cara, pois, a partir do convite, desenvolvi uma pesquisa de fusão entre as danças mencionadas ao tribal fusion belly dance. O Waack Fusion é um estilo que ainda estou pesquisando, mas que tem um caráter diferenciado do que tem-se visto da dança tribal. O caráter de hibridação de estilos de dança é difícil de se trabalhar, pois exige de estudos dos estilos para poder ser coerente com o caráter que é de fusionar. E misturar elementos de ambos e dar uma nova roupagem é trabalhoso. Pesquiso movimentações quase que diariamente, em meios de improvisação para possuir maior repertório e conhecimento do que eu tenho produzido.




O workshop foi bem recebido, com participação alta e ativamente. Todas minhas aulas e workshops eu disponibilizo uma apostila/programação da aula, com todos os movimentos estudados. São materiais importantes para se estudar e até relembrar depois de algum tempo sem contato com o mesmo.

BLOG: Em 2015, você está ministrando, juntamente com Antonia Ribeiro da Trupe Mandhala, o “Cozy Work”. Como surgiu a idéia? Qual a proposta do curso? Como chegaram ao número ideal e limitado de três alunos.
O Cozy Work foi uma idealização minha e convidei a Antonia para participar, parceria essa que consiste há um tempo e também somos colegas de casa. A primeira edição foi realizada em março e foi muito interessante como o acontecer da aula foi se dando. O projeto, que pensamos em realizá-lo mensalmente, consiste em estudar sobre o corpo e a dança de forma teórico-prática, com um número de alunos bem reduzido, para que assim tenhamos um olhar mais apurado para os ensinamentos e as observações. Fizemos algumas experimentações de disposição no espaço para podermos chegar ao número de 3 participantes.

Além disso, por ser realizado em uma casa, traz uma ideia de conforto, de bem-estar, de aconchego. Não somente isso, almoçamos juntos... uma refeição saborosa, leve e energética para continuar com os estudos. O nome, de tradução, “Trabalho Aconchegante”, foi pensado para informar diretamente essa ideia.

Muitas ideias estão sendo estudadas por nós dois para poder ir avante com o projeto que pode ser bem interessante para difundir.

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais coreografias. O quê o inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das suas coreografias, assim como o processo de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 
Alguns vídeos que tenho disponível na internet são improvisos. Mas, por ser improviso, não quer dizer ser feito de qualquer maneira. Sempre há uma pesquisa por trás, com processos de improvisação para investigação de movimentos, cênica, de figurino e etc. Tenho trabalhado muito com improvisação-investigação, sendo muitas vezes estudados em casa para depois ser apresentado. Esse processo que dá norte ao que será a coreografia, a ideia, ao figurino. Algumas vezes me vejo um pouco frágil em relação ao compor figurinos e maquiagens. Apesar de todos os adereços que se usa, há uma concepção por detrás da coreografia, há um gênero que está dançando, há renda, há o ambiente, etc. Tenho amigos que me ajudam sempre com esses dois quesitos. São uns anjos  – e pesquiso sobre.

BLOG: Apesar de estar cada vez mais se consolidando e ganhando força, a dança tribal ainda é recente no universo da Dança no país. Como a dança tribal está ganhando espaço na cena acadêmica? E o quê você considera importante ainda ser trabalhado no âmbito acadêmico para a dança ser mais valoriza e reconhecida?
Mesmo nas academias de dança, bem como de profissionalização, é preciso explicar os caráteres da dança. Pelo desconhecimento, muitos não procuram aprender a dança tribal e poucos já viram ao menos uma apresentação. Acredito que quanto mais produção e divulgação dos trabalhos, da história e das pesquisas houver, mais atraentes para a dança vamos ter. Os trabalhos devem ser contidos de identidade, de autenticidade. A contemporaneidade nos embarca em pesquisar a nossa dança, novas maneiras de mover. A beleza que tem a dança tribal com sua técnica, com suas movimentações e seus figurinos belíssimos também chama muita atenção, pois é uma dança diferente, parecida com... –como alguns já me descreveram-, mas diferente. E essas diferenças que cada tribalista leva, e acredito eu, que se deve procurar sempre, nos dá mais espaço para apreciadores, participantes e público.

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
A estética, o místico, as roupas, os movimentos...

Tudo me atrai na dança tribal. Fico vendo vídeos e percebendo as diferenças e semelhanças de cada um, o como está lidando as novas coreografia e pensamentos dos artistas. A dança tribal deve ser pesquisada nas academias, deve ser aprofundada. Quando vou fazer isso, em uma movimentação que faço, já me vem “n” questionamentos para entender a execução e como é no meu corpo, por exemplo. Faço muito isso quando produzo os workshops e as aulas. Me ajuda bastante. 


BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Pensar na dança como teoria-prática, com pesquisas de cinesiologia, psicologia, sociologia, etc. Acredito que a dança tribal é muito enriquecedora nos meios de pesquisa de movimento, consciência corporal, bem-estar e demais campos de estudo. Isso vai muito do interesse de cada um, claro, mas, quando pensamos a dança não somente e puramente numa estética, numa execução/repetição de movimentos (e vejo isso necessário, pois, é uma dança que possui técnica), percebemos nosso corpo e nossas possibilidades de trabalho muito mais amplamente.

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Digo que estudo dança tribal fusion e dança fusão. Apesar de procurar não rotular tudo, sendo às vezes necessário, vejo que meus trabalhos e pesquisas estão de abrangendo e tomando outros caminhos que não somente a dança tribal. Procuro mantê-la sempre, pois gosto do estilo, mas não me fecho somente ao estudo do mesmo. Vou procurando fusionar o que me interessa e que eu ache interessante. 

BLOG: Como você se expressa na dança?
Me vejo diferente nos palcos, como se fosse um outro Caíque. Ao dançar eu me sinto aberto, me expressando através das movimentações que realizo. Mas, se faz necessário também, invocar uma outra persona, um personagem, para que se possa passar as impressões desejadas. A depender da apresentação, a forma de se mover, o olhar, o figurino, etc., se diferencia.

BLOG: Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Estou com um projeto de espetáculo solo que está em construção. O espetáculo tem sido pensado há alguns anos, sendo retomado a ideia no final do ano passado, com os trabalhos de Waack Fusion e tenho trabalho nele agora. Se trata de hibridações (sexual, movimentação corporal, religiosa, tecnológica). Ainda está engatinhando, mas pretendo apresentá-lo na sua totalidade até o final desse ano.

Tenho outras ideias, alguns planos ainda no papel (ou Word, rs), mas que com certeza serão realizados. Projetos como eventos de dança, workshops, aulas, exposições e escritas (quem sabe não passo a escrever para o blog, rsrs) estão dentre projetos futuros.

BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?
Os dois!

Meus trabalhos são partidos muito de improvisação e até sendo apresentados em improvisação. Mas se faz necessário, para o entendimento e também criação de movimentações, o estudo coreográfico. Além do que, coreografar também nos permite fazer as ditas “limpezas coreográficas”, que são modificações realizadas na coreografia para uma melhor estética, por exemplo.

A improvisação tem seu papel também. Improvisar em uma música não é fácil e exige de um conhecimento sobre espaço, repertório de movimentos, musicalidade, etc., que faz com que a dança improvisada seja bela, sem muitos erros técnicos.

BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Sim. Sou bolsista do Pibid/Dança (Programa da CAPES), onde dou aulas de dança para crianças, além dos meus trabalhos autônomos.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Agradeço por ter lido tudo isso até o final (rsrs). São muitas coisas que gostaria de falar, mas tentei resumir ao que achei mais importante de se dizer aqui e agora. Espero, logo mais, poder escrever, conversar e papear mais sobre a dança, anseios, receios e vontades, a fim de compartilhar conhecimento com quem se interessar.
E para conhecer os meus trabalhos, acompanhar os futuros e se quiser, conversar, é só me seguir nas redes sociais. :D

Para finalizar, deixarei uma frase que descreve um pouco sobre o que procuro e o que devemos procurar para nossa vida ser bem melhor.

“Não me interessa o que você faz da vida. Quero saber os seus desejos – e se você ousa sonhar em sucumbir aos anseios do seu coração. Não me interessa a sua idade. Quero saber se você irá arriscar parecer um tolo – por amor – pelos seus sonhos – pela aventura de estar vivo.”
Oriah Mountain Dreamer
  
E que aventura é a vida... =)

BEIJOS bem tribalescos pra todos!
Gratidão. :D


Contato

Tel/cel: 
(71) 9383-6054 / (77) 9813-6401 [WhatsApp]

E-mail:
 caique-melo@live.com

Entrevista #24: Andréa Monteiro


Nossa Entrevista Especial de Aniversário é com a bailarina de João Pessoa-PB, Andréa Monteiro, "Destaque Revelação 2013", da enquete "Destaques Tribais". Andréa nos conta sobre sua trajetória profissional entre atriz e bailarina de tribal fusion, além de algumas curiosidades sobre danças circulares e sua opinião à respeito da videodança na cena tribal brasileira.

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você?
Minha trajetória artística, na verdade, começou no teatro. Comecei  aos 16 anos no teatro amador. Em 2005 comecei no  teatro profissional. Fiz participações em dois filmes na minha cidade: um média metragem, Varadouro, do cineasta Elinaldo Rodriques; e o curta Caminhante, de Jacinto Moreno; além de fazer várias peças teatrais. A dança do ventre veio casualmente, eu nem imaginava fazer dança do ventre, absolutamente não sabia dançar nada.

No ano de 2006 eu entrava no elenco da peça “Viúvas”,uma tragicomédia. Entrei nesse elenco para substituir a atriz que estava grávida, pois eu vinha de um curso de teatro com o diretor Flávio Melo. A peça estava com projeto de viajar em cartaz, mas eu ainda não tinha o DRT de atriz. Nesse período fui estudar com o diretor João Costa. Na época, ele era responsável em preparar os alunos para o exame de capacitação profissional , tirando o DRT junto ao Sated da Paraíba. Lembro que ele trouxe vários textos para eu escolher, fazer minha prova prática, apresentando uma performance. E entre tantos textos estava Salomé, uma peça de Oscar Wilder.  Não tive dúvidas e escolhi esse texto, pois eu já admirava a personagem por ser uma mulher forte e emblemática. Mas fazer Salomé sem dançar, realmente não seria interessante, então eu acho que tive esse lampejo para a dança a partir desse fato.

Foi quando conheci Jaqueline Lima, da Cia Lunay/PB, através do meu diretor de teatro. Jaqueline já havia trabalhado com ele em Paixões de Cristo, no preparo de bailarinas. Passei a ter aulas particulares com ela, apenas com essa finalidade de fazer a prova de capacitação. Esse foi meu primeiro contato com a dança do ventre, em 2006. Depois de algum tempo nasceu naturalmente a vontade de fazer um monólogo com o texto de Salomé. Nesse período estávamos procurando uma professora de dança do ventre para fazer parte do processo de montagem de Salomé. Colocamos diversos cartazes procurando uma professora para me preparar. Foi quando eu conheci Neliane Lima. Ela tinha sido da Cia Lunay e passamos quase um ano de trabalho duro. Houve muitas mudanças ao longo do processo criativo. Resolvermos, eu e o diretor, colocar bailarinas no elenco e um ator para interpretar João Batista. A professora Neliane ministrava aulas de dança no Teatro Lima Penante e, naturalmente, as alunas fizeram parte da montagem. A peça, infelizmente, não chegou a estrear, devido a vários contratempos.

Foi bem frustrante essa parte, porque trabalhamos duro, fiz quase um ano de dança do ventre com a professora Neliane. Mas, em compensação, absorvi uma vontade enorme de aprender com mais profundidade a dança e conhecer toda a sua cultura.  Formamos a Companhia de Dança Mistérios do Oriente, dirigida pela professora Neliane Lima; e fizemos a primeira apresentação no Fazendo Arte Teatro e Dança. Em 2007, me matriculei nas aulas de dança do ventre, com a professora Kilma Farias. O tribal eu conheci depois, assistindo o espetáculo “De Corpo de Alma”, direção de Kilma e Cia Lunay. Nesta época, Kilma já trabalhava as fusões de danças regionais com a dança do ventre e o tribal. Lembro de ter ficado fascinada com a beleza, tudo era muito belo e diferente. Comecei a estudar o tribal com ela, em 2009, na Escola de Dança do Theatro Santa Roza, onde estudei durante três anos. Nesse ano, eu produzi o espetáculo “ Do Ventre da Terra”, com dança do ventre e Estilo Tribal e direção de Kilma. Nesse espetáculo fiz meu primeiro solo de tribal fusion, tinha poucas semanas de aulas de tribal e estudava os vídeos didáticos de ATS®. Esse espetáculo para mim foi marcante.   Tivemos participações de músicos e participação especial do debarkista Renê Dalton, de Brasília.
 
Naquele período (2009), a Escola Bele Fusco estava fazendo audições pelo Brasil todo, em busca de novos talentos da dança do ventre e do tribal. Estiveram em  João Pessoa e participei da audição no tribal e fui classificada para a final que aconteceu  em São Paulo. Conquistei o primeiro lugar na categoria tribal iniciante. A Escola Bele Fusco havia trazido ao Brasil, pela primeira vez, as bailarinas internacionais Sharon Kihara (USA), Mardi Love (USA) e Ariellah (USA). Tive a portunidade de estudar  com elas e com os professores nacionais Nadja El Balady – ATS® (RJ), Nanda Najla - Tango Fusion (MG), Carol Schavarosk - Tribal Fusion (RJ), Carlos Clark - Dança Indiana (MG) e Mariana Quadros -  Tribal Fusion (SP).

Fiz muitos workshops com varias bailarinas de dança do ventre na minha cidade. Ministrei aulas de dança do ventre em 2010, numa academia de ginástica em João Pessoa, mas o tribal me conquistou por completo e passei a me dedicar mais ao estilo. A prova disso é que hoje não ensino mais dança do ventre.

Cia Bebelot (2010)
Em 2011,ao lado de outras três bailarinas, formamos a Cia Bebelot, um grupo de tribal voltado mais para uma pegada cabaret, estreando no Caravana Tribal Nordeste/PB. Mas em seguida o grupo se desfez, cada uma seguiu carreira diferente, e apenas eu insisti na dança. Também foi um momento frustrante, com muitos altos e baixos... Mas a vida é  assim mesmo, temos que aprender a lidar com essa situações.

Agora, no começo deste ano, eu e mais quatro bailarinas, de estilos diferentes, formamos a “5A Cia de Dança”, que surgiu naturalmente de um bate-papo. É um grupo que não se resume apenas a coreografias, nem  está sempre dançando juntas,mas vem com o objetivo de promover eventos em todos segmentos culturais, pois entendemos que essa é também uma forma de melhor disseminar a cultura dos nossos estilos em dança. Estamos produzindo os eventos de outros artistas e, ao mesmo tempo, oferecendo nosso conhecimento. Temos muitos projetos e está sendo muito enriquecedor. Recentemente, estivemos em parceria com o Atelier Multicultural Elioenai Gomes, onde fizemos várias intervenções em dança. O Atelier nos abriu as portas e estamos muito felizes com o resultado da parceria.


BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Jaqueline Lima (Cia Lunay), por ter me ensinado os primeiros passos na dança do ventre. Neliane Lima, que me mostrou a dança do ventre de uma maneira delicada e também me proporcionou um grande incentivo. E finalmente Kilma Farias, por ter compartilhado todo o seu conhecimento.

Com relação aos workshops da dança do ventre,posso destacar: Luciana Zammak, por sua suavidade nos movimentos. Gabriela Vidal, por sua didática bem elaborada. Adriana Bele Fusco, por sua enorme generosidade e por te me mostrado como seguir sequências coreográficas. E Suheil, por sua elegância e didática.



No tribal, sem sombra de dúvidas,Kilma Farias, por ter sido a primeira e por ter me mostrado como acreditar em mim mesma. Sharon Kihara, por mostrar a importância do preparo do corpo para a dança com aqueles exercícios de yoga, que foram determinantes para mim – eu hoje pratico yoga. Cito também Mardi Love – primeiramente, sou apaixonada pelo seu estilo vintage, ela me ensinou a importância dos movimentos lentos e limpos, quando vi que a repetição do movimento leva sempre à perfeição. Ariellah, por ter me mostrado a importância do personagem na dança, a linguagem corporal através da respiração leva à emoção. Emini Di Cosmo, no ATS® – a importância do tempo dentro da dança,a energia de dançar em grupo. Joline Andrade, por toda a técnica bem elaborada e dinamismo. A professora de dança cigana Alecsandra Matias, pela sua humildade e todo seu conhecimento, não apenas no ritmo cigano, mas na dança do ventre. Ela foi a pioneira, na Paraíba, a ministrar aulas de dança do ventre. E Andréa Patrícia em danças circulares, pela sua ternura e grande dedicação. Na dança Indiana eu destaco Silvana Duarte, com o estilo clássico de dança Odissi; a disciplina, ferramenta   constante  no aprimoramento da dança.

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Fiz um pouco de danças urbanas, jazz, contemporânea, danças populares, dança de salão e sapateado.Atualmente eu estudo balé clássico para adultos iniciantes, com a professora Denilce Rgina, na Escola de Dança do Theatro Santa Roza. Também experimento a dança cigana com a professora Alecsandra Matias, no Centro da Juventude; e também danças circulares com a terapeuta Andréa Patrícia, no centro de práticas integrativas e complementares na saúde, que é o Espaço Equilíbrio do Ser.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
As minhas primeiras inspirações estão na natureza, sim! Verdade, agente nem se dá conta de tanta beleza natural que deixamos de contemplar. A natureza pra mim é a maior das inspirações que um ser humano pode ter, é extremamente potente essa força criativa. 

Na dança, tive muitas inspirações de meus mestres. No teatro, numa pintura em fotografias, em filmes (adoro ver filmes), tudo isso é enriquecedor.

BLOG: O que a dança acrescentou em sua vida?
Superação à autoestima. A dança me mostrou que eu posso ir além dos meus limites com meu corpo. Isso é fantástico, é onde eu me sinto bem e feliz.

BLOG: O que você mais aprecia nesta arte?
A união. Em especial o tribal, por ser uma dança ancestral.

BLOG: O que prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre disso?
O que eu vejo muito na dança do ventre é uma espécie de rivalidade entre bailarinas. Já no tribal eu vejo menos isso, provavelmente por ser um estilo relativamente novo no Brasil.Eu acho isso muito triste, cada uma tem seu próprio estilo, sua marca, essa história de querer ser melhor que fulana é algo degradante. Outra coisa que me deixa triste é a desinformação da própria mídia, que sempre distorce alguns aspectos e acaba levando à vulgarização da nossa arte.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre, ou no tribal? Como foi isso?
Sim, na dança do ventre eu me lembro de um episódio que me deixou muito chateada. Eu estava para entrar no palco quando uma mãe de uma bailarina de balé se referiu a mim de forma pejorativa.Uma vez recebi um convite para dançar em boates. Mas é sempre assim, infelizmente se trata de uma questão cultural e quando é cultural é muito difícil mudar. Mas eu sou otimista e percebo que muita coisa já mudou. No tribal, não me lembro de ter sofrido nenhum tipo de preconceito.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Sim, claro. Sempre. Tive várias frustrações ao longo do meu percurso. Por exemplo: o grupo de dança que se desfez; o fato de não ter dinheiro, às vezes, para fazer uma viagem e me apresentar fora. A maior das frustrações foi quando fraturei o punho, eu estava para fazer uma apresentação em Recife, na Caravana Tribal Nordeste, e aconteceu esse acidente em pleno ensaio. Passei quase um ano pra me recuperar totalmente. Ainda tenho que fazer fisioterapia, de vez em quando. Indignação? Eu acho que nós pagamos muito caro com eventos. Pagamos para mostrar nossa a arte.

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Bom, tenho tido várias conquistas. Aos poucos ter o meu trabalho reconhecido pelo público é uma satisfação enorme. Ter conquistado o primeiro lugar no tribal iniciante em 2009, no concurso internacional de Tribal Fusion, pela Escola Bele Fusco, em um momento em que muita gente ainda nem sabia o que era dança tribal,quando o cenário tribal no Brasil ainda estava engatinhando. Ter tido meus trabalhos indicados pelo público, em 2013, pelo Blog Aerith Tribal Fusion, conquistando o primeiro lugar em “Revelação Tribal” e o segundo em “Videodança Nacional”, para mim está sendo uma satisfação imensa! Outras conquistas? Claro. Os amigos que fiz dentro da dança, a alegria de estar fazendo parte de um grupo ao lado de bailarinas que eu já admirava pela sua história na dança, pra mim é uma honra.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal na Paraíba? Pontos positivos, negativos, apoio da sua cidade, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
Eu acredito que há muita desinformação sobre o tribal. Os eventos ainda são muito isolados. Apenas para o publico da dança mesmo. Acho que falta mais atenção da mídia.

BLOG: O seu vídeodança foi um dos pioneiros no Brasil, na cena Tribal. Conte-nos como foi a elaboração do primeiro vídeo, escolha da proposta e edição, além do resultado final. Por que você acha a videodança uma forma de comunicação válida e que venha a acrescentar à Dança Tribal?
Minha paixão por videodança é bem antiga. O primeiro videodança que vi de tribal foi
o da bailarina  Mariáh Voltaire, “Isolado”. Lembro de ter visto esse trabalho ainda no orkut, e que fiquei fascinada com aquelas imagens, os efeitos na tela, no corpo da bailarina, a música de fundo – tudo aquilo me proporcionou um grande fascínio, as imagens me ficaram na mente por semanas inteiras. Um tempo depois eu passei a pesquisar sobre videodança por conta própria. Assisti vários vídeos e li alguns textos. Tudo era ainda novo e, em face do desenvolvimento, sempre tive muita vontade de aprender. A princípio, meu videodança deveria ser gravado na natureza, era como eu planejava. Eu gosto de ouvir o som dos pássaros, de estar em contado com a natureza. Mas, toda vez que eu partia para gravar, havia sempre imprevisto – como chuvas e outros contratempos. Então resolvi fazer em um teatro. As músicas são de autoria do músico russo, Dan Blades, que compôs especialmente para esse meu novo projeto. 


Chamam-se “Despertar” e “Iss”. Basicamente,fala de amor adormecido, esse amor que está dentro da gente e que geralmente não deixamos aflorar. “Iss”, a primeira música do videodança, faz referência ao rio dos mortos, a passagem dos mortos para o plano astral. Na mitologia grega,I ss faz uma referência ao Estige, o rio da invulnerabilidade. Estige é uma ninfa e um rio infernal no Hades dedicado a ela. Um dos rios do Tártaro, segundo uma versão da lenda de Dionísio. Na primeira parte da videodança, se você observar o véu azul com o efeito da multiplicação da imagem, esse véu faz um referência ao rio – ou seja: nossa própria mente, nosso fluxo, porque nossa mente é como um rio. O movimento do véu simboliza isso, no começo do videodança você vê a figura de uma deusa com vários braços – pode ser qualquer deusa, mas é a sua própria deusa que às vezes se encontra adormecida.Um tanto místico, hein?

Tudo isso estava na minha mente, mas como fazer isso na edição? Foi um pouco complicado, eu não entendo de edição, mas sabia como gostaria que o vídeo ficasse. O resultado foi mais do que eu esperava. A edição foi do amigo fotógrafo Luiz Freitas, mas comigo ao lado, sempre dando minhas sugestões. É sempre complicado fazer um videodança. Se você não tiver uma equipe empenhada nesse projeto, que pesquise com profundidade,o trabalho vai sempre faltar alguma coisa, e será fácil perceber isso.



A videodança no cenário tribal, a meu ver, vem acrescentar muito à criatividade do artista/bailarino. Ele pode ser encarado com uma ferramenta poderosíssima de expressão artística, onde o corpo se junta às funções disponíveis no programa de edição com um grande potencial para criar uma estética diferenciada, expressando sensações maravilhosas a quem assiste. Uma relação fundamental entre o Tribal Fusion e a Videodança é o hibridismo presente nas duas expressões artísticas.

BLOG: Gostaria que comentasse um pouco sobre sua pesquisa em danças circulares. O que são danças circulares? Qual a conexão destas com o estilo tribal?
Eu comecei a fazer danças circulares na metade do ano passado. Ainda é recente. Procurei fazer alguma terapia, porque a principio eu estava procurando fazer meditação. Eu já ouvia falar do Centro Integrado de Saúde que é oferecido gratuitamente à população. Não tinha mais vaga para o curso que eu pretendia. Foi quando eu vi as danças circulares. Eu já conhecia o trabalho de Andréa Patrícia, sabia que ela trabalhava com danças circulares, mas nunca tinha me interessado. Já tinha feito uma vivência de dança indiana com ela há algum tempo, então resolvi fazer uma aula experimental e acabei gostando. A união com os outros dançando é muito satisfatório, e eu estava precisando de algo assim. Foi um momento de grandes questionamentos na vida, e muitas reflexões do tipo: “Será que eu danço bem?”, “Será que não é hora de parar?”, etc, etc...Minha vida pessoal e afetiva, meus chacras desequilibrados, tudo isso eu sentia.

As Danças Circulares sempre estiveram presentes na história e no comportamento da humanidade – nascimento, casamento, plantio, colheita, chegada das chuvas, primavera, morte... Elas refletem a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas. Foi Bernhard Wosien(1908-1986), bailarino clássico, coreógrafo, pedagogo e pintor, que nas décadas de 50/60 percorreu o mundo recolhendo e resgatando as danças de diferentes povos. Em 76, ele visitou a Comunidade de Findhorn, no norte da Escócia, e atendendo a pedido de um dos fundadores, Peter Caddy, ensinou pela primeira vez uma coletânea de danças folclóricas para os residentes.                       

Bernhard já estava com mais de 60 anos e buscava uma prática corporal mais orgânica para expressar seus sentimentos. Ele percebeu que havia encontrado o que procurava, pois dançando em roda vivenciou a alegria, a amizade e o amor para consigo mesmo e, também, para com os outros, e sentiu que as Danças Circulares possibilitavam uma comunhão sem palavras e mais harmoniosa entre as pessoas.De 1976 em diante, centenas de Danças foram incorporadas ao repertório inicial e o movimento passou a se chamar "Danças Circulares Sagradas". E desde então esse movimento se espalhou pelo mundo.

A Dança Circular se chama e se torna Sagrada pelo fato de permitir que os participantes entrem em contato com sua essência, com seu EU superior, com a centelha divina que existe dentro de cada um de nós. No momento desse contato, temos a união do corpo com o espírito.No Brasil, as Danças chegaram através de Carlos Solano, que foi hóspede na Fundação Findhorn por um longo tempo, nos anos 80. Ele fez o Treinamento em Danças Sagradas com Anna Barton e recebeu o certificado como sendo o primeiro instrutor de Danças Sagradas no Brasil.

Em 1983, Sarah Marriot, que viveu em Findhorn, foi convidada a vir ao Brasil para iniciar um trabalho de educação holística no Centro de Vivências Nazaré (hoje Nazaré Uniluz), comunidade fundada em 1981 por um grupo de pessoas lideradas por Trigueirinho em Nazaré Paulista, no Estado de São Paulo. Para auxiliar esse trabalho em Nazaré, ela trouxe uma ou duas fitas cassete com as danças de Findhorn. Algum tempo depois de haver retornado da Escócia, e de já estar trabalhando com as danças, Solano foi procurado por David e Jane de Nazaré que queriam vivenciar as danças na prática, pois só as conheciam através de apostilas.

Em 1990, Christina Dora (Sabira) vai a Suiça e conhece Maria Gabriele Wosien, e traz as danças para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, Patrícia Azarian conhece as Danças Circulares e se inicia um trabalho de expansão no Rio de Janeiro.A partir daí, pessoas de Findhorn vieram ao Brasil e brasileiros foram até lá e o movimento começou a expandir. (Fonte:http://www.dancascircularesrj.com.br/)

Portanto, a relação com o tribal é justamente toda essa ancestralidade. Nas danças circulares dançamos em grupo, as danças circulares trabalham com os arquétipos, e a dança tribal também é uma grande mola para o resgate da dança feminina sagrada.

BLOG: O que você mais gosta no tribal fusion?
A sua contemporaneidade, sempre, em qualquer instante. E, claro, a sua liberdade de expressão.

BLOG: O que você acha que falta à comunidade tribal?
Reconhecimento de um público que não seja só o da dança ventre/tribal. Falta abrir horizontes. Não temos que ficar dançando só para amigos, pais, namorados, maridos. É preciso de mais divulgação por parte de nós mesmas. Nós podemos, temos capacidade de mostrar nossa arte com respeito e profissionalismo,onde quer que seja.

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Eu não tenho um estilo, gosto muito de explorar minhas potencialidades e possibilidades numa busca infinita.

BLOG: Como você se expressa na dança?
Eu tento dizer o que eu quero com um gesto simples, seja num olhar ou num movimento brusco ou suave. Sou verdadeira naquilo que sinto e tento passar isso para a minha dança.

BLOG: Quais seus projetos para 2014? E mais futuramente?
Eu pretendo fazer apenas o que eu gosto na dança.Com a 5A Cia de dança, temos projetos de continuidade com nossas vivências, oficinas e workshops. Vem por aí um grande espetáculo, só que ainda não posso falar.

BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê?
Os dois. Mas eu gosto muito de improvisar, me sinto mais livre. Através do improviso – com técnica, é claro – descobrimos uma gama de possibilidades surpreendentes. Coreografar também é muito bom, porque proporciona segurança e permite um aprimoramento maior dos nossos estudos.

BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Não, atualmente trabalho em um setor cultural, lidando diretamente com artistas de todos os segmentos.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Trabalhe, estude, acredite em você. Mesmo que ninguém acredite, lute pelos seus ideais, não desista dos seus sonhos, busque se aprimorar e apaixone-se pela vida!Não se critique,procure ter mais contado com a natureza e eleve sua alma para os céus, pois as respostas que você procura estão lá, no universo.



Contato:
(83) 8738-6199






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