[Tribal Brasil] Brasil, estereótipos e preconceitos

 por Kilma Farias



Não tem como se negar a carga cultural pesada do colonialismo europeu sobre o Brasil. Séculos de submissão, racismo e exploração sexual são traduzidas em coreografias e discursos em torno do Tribal Brasil e Fusões com danças populares e afro-brasileiras.

O silêncio que se estabelece diante de coreografias que reduzem o Brasil a samba, banana, floresta, índio e mulatas desnudas é preocupante por dois motivos. O primeiro é que haja uma conformidade mórbida e histórica de que gringo nos vê assim mesmo e tá tudo bem. O segundo é que não se perceba (ou até perceba) e ainda se aplauda, reforçando ainda mais essa cultura do oprimido e explorado. Isso é percebido quando observamos os incomparáveis valores dos workshops internacionais com os nossos e como o público lota as salas de aula quando recebemos esses profissionais aqui no Brasil.

Assim, um paradigma vai se perpetuando sem ser questionado, dizendo que “bom é o que vem e fora”, ao ponto de se fazer considerável público enxergar a falta de respeito com tão rica cultura como algo ingênuo, engraçado, leve. Dizer que arte e política não andam juntos é desconhecer toda importância da arte no mundo e desconhecer as construções sociais que nomeiam épocas como por exemplo, o Renascimento, Iluminismo, Expressionismo, Modernismo, etc.


Portanto, aos que se aventuram a uma boa fusão brasileira, deixo aqui uma contribuição em 3 passos.

Primeiro, busque informações de fontes seguras sobre a comunidade ou manifestação popular que deseja fusionar. Faça uma pesquisa de campo, visite o lugar. Se você não puder conviver com essas pessoas nem por um final de semana que seja, assista documentários, suas danças, do que vivem, qual religião predominante. Uma dança é feita de pessoas e pessoas têm vida, costumes, ocupações, crenças, lutas.

Segundo, anote todas as suas descobertas num diário de bordo – um caderno que você possa consultar quando for desenvolver uma fusão com essa tal manifestação cultural pesquisada.

Terceiro, estude as danças e movimentos dessa manifestação cultural. Como o corpo se coloca no espaço, como os pés se organizam no chão, como o quadril se comporta, se os movimentos simbolizam algum gesto do cotidiano, em que época acontece, etc. E reproduza esses movimentos. Dance! Imite o mais próximo que sua corporeidade possa chegar. Repita, repita, repita. E só depois, busque pontos de intercessão e diferenças com as estéticas e poéticas do nosso Tribal. Assim, você terá condições responsáveis de traduzir uma dança popular ou afro-brasileira para nosso Tribal, ou Fusion Bellydance, como muitos têm atualmente nomeado.

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Tribal Brasil - Identidade no Corpo


Kilma Farias (João Pessoa-PB) é bailarina, professora, coreógrafa, produtora e pesquisadora na área da dança. É formada em Licenciatura em Dança e Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Mestra em Ciências das Religiões pela UFPB, desenvolveu dissertação voltada para a relação entre presença cênica e espiritualidade na Dança Tribal.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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