[Resenhando SP] “The monster from within”

 por Chris Duarte | Coordenação: Irene Patelli 
Imagem de divulgação.
            O que você espera da arte...?
O senso comum deseja somente o que é belo e contente, mas a arte não se limita aos gostos. A arte acompanha o universo, representa o impalpável e as contradições humanas. Tem sempre o ímpeto de revelar o que habita em cada um de nós, sejam sentimentos bons ou ruins, nossa luz e nossas trevas, sem se importar se serão aceitos ou não.
O Sono/Sonho da Razão Produz Monstros”, 1799 por Francisco de Goya.
Quando recebi o convite da professora de Tribal Fusion, Irene Patelli, relutei em participar, afinal nunca tive contato próximo com o Dark Fusion, no entanto era o que exatamente precisava viver naquele momento.

Com o objetivo de nos inspirar na criação de personagens para coreografias de Dark Fusion, Alondra Machuca em seu workshop nos convidou a refletir sobre uma perspectiva inusitada dos monstros mais famosos como vampiros, lobisomens, fantasmas e bruxas, e descobrir o quanto de cada um deles habita em nós.

Gravura alemã do século XVIII ilustrando um homem tomando a forma de lobo.
Os monstros nos fazem refletir sobre o medo que temos deles, mas existe um outro viés não pensado onde cada personagem é formado por uma sinergia de sentimentos tais como a ira, o medo, a tristeza, o erotismo e a felicidade. Ao exemplo do lobisomem, podemos recordar a aversão do homem em se tornar lobo e seu terrível medo de expor sua ira, alegoria do instinto animal presente em todos nós.

Com Alondra cada personagem foi minuciosamente representado através do estudo da mímica facial, respiração e expressão corporal. Em todos os momentos foram destacados o cuidado e a responsabilidade com nossas emoções para não evocar traumas ou lembranças pesarosas.

Com a compreensão das possibilidades de representações, cada participante escolheu um monstro de sua afinidade e foram formados grupos de bruxas, lobisomens e um solitário fantasma para desenvolver os aspectos fisionômicos e a sinergia dos sentimentos que compõe estes personagens.

Southern Gothic Witches
Após as interpretações em grupo, contemplamos algumas apresentações de Alondra conversando sobre suas influências e referências para elaboração de coreografias e figurinos.
O workshop foi de experiências intensas e acrescentou a cada participante os conhecimentos que precisavam ser assimilados e vividos naquele momento. Particularmente, tive a oportunidade de compreender o quanto de humano existe em cada monstro e reconhecer o quanto deles em mim habita.


      Além das possibilidades dentro da dança, senti ao término daquele domingo um convite para encarar meus medos com leveza, reconhecendo a dificuldade de lidar com determinadas emoções e usá-las como inspiração para produzir o que reconheço como arte. Aceitar as incoerências das atitudes versus pensamentos e asilar as tristezas que sinto é um acordo de paz entre ser humano e ser monstro, afinal já dizia  Mario Quintana, “a felicidade bestializa, só o sofrimento humaniza as pessoas”.

“Dia cinza com detalhe vermelho”, 2011 por Chris Duarte









Leonina com ascendente em peixes, Maria Christiane, mais conhecida como Chris Duarte, é natural de São Paulo. Arte-Educadora de formação, atualmente se aventura na Estética por influência das pessoas que conheceu na dança. Organizadora e idealizadora do Sarau em Casa, trabalhou em museus e casas históricas – onde teve seu primeiro contato com o Tribal Fusion e ATS.
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