por Sara Félix
Se existe uma coisa que posso dizer é que, “a persistência te leva à conquista”.
Essa viagem a Tokyo foi imprevisível!
Numa bela manhã de terça – feira no ano de 2013 recebo um e-mail com o convite de Tori Halfon para apresentar- me no gala show do The Tribal Massive Spectacular, um evento aclamado por bellydancers do mundo todo.
Eu por vez me organizei com tudo e perto da partida para Las Vegas (EUA) meu visto americano foi negado, uma surpresa decepcionante. Por mais três anos consecutivos inúmeras tentativas de vistos foram negados. Gastos incalculáveis nas idas e vindas para São Paulo, sem falar nos desgastes e traumas passados na cabine do consulado americano. Algumas pessoas tentaram inclusive me desencorajar, mas definitivamente eu não poderia aceitar que a proposta do Massive chegasse ao fim.
Sendo assim, Tori Halfon imediatamente transferiu minha participação do gala show e o curso pelo qual eu buscava para me instruir. Só que dessa vez em Tokyo, uma cidade tecnológica no outro lado do mundo.
Naquele instante uma mistura de sentimentos borbulhou dentro de mim e eu pude enxergar uma viagem absurdamente fantástica. The Mini Massive in Tokyo é um evento tão importante quanto o de Vegas, porém em uma forma reduzida na grade de professores sendo cinco dias de curso totalizando 40 horas de estudos.
TOKYO AÍ VOU EU...
Sorte a minha ter uma aluna e amiga tão aventureira quanto eu. Katia Iwanowski foi minha companhia durante toda a viagem. Em poucos dias, sem traçar roteiro algum, agilizamos o visto para o Japão, as passagens aéreas e hotel tudo por nossa conta.
Foram 14 horas de São Paulo até Abu Dhabi e mais 10 horas de Abu Dhabi até o Japão, contabilizando, com as esperas na salas de embarque, o total de 2 dias de viagem. Amanhecia, anoitecia e a gente não descia do céu! Depois desse “chá de cadeira”, finalmente chegamos. Tokyo é uma cidade acolhedora com costumes de dar inveja! Uma cidade organizada, limpa e principalmente educada. Uma cidade regrada e que realmente funciona. Muitas coisas nos chamaram a atenção: desde a linha do metrô pontual nos milésimos de segundos até a generosidade das pessoas em deixar as escadas rolantes com espaços livres no lado direito para os que tivessem pressa, passar; bem como a educação dos pedestres no trânsito ao atravessar somente quando abre o sinal mesmo que não esteja passando veículos. O mais curioso foram os hábitos alimentares... Cada dia que saíamos para comer achávamos coisas inusitadas, todas as refeições ficavam expostas em vitrines para fora do restaurante e até macarrão com pão eles colocavam na vitrine. Nós comemos muito peixe cru e algas de todas as espécies possíveis, procurei experimentar de tudo mesmo não gostando de alguns.
Escolhemos o hotel em um bairro próximo ao local do curso (Nishi Shinjuku). Neste bairro tinham excelentes restaurantes e pudemos saborear de muitos pratos exóticos. Chegamos alguns dias antes e aproveitamos para conhecer museus, parques, templos, zoológicos, feiras e shopping. O que realmente valeu a pena de comprar lá, foram roupas e cosméticos com preços bem acessíveis. O mais divertido de tudo foi que todos esses passeios nós fizemos nos deslocando de metrô. Acredito que dessa forma a gente vivenciou realmente o cotidiano da cultura japonesa. Com o mapa da cidade, o mapa da linha de metrô em mãos e um pouco de inglês a gente conseguiu se virar tranquilamente. Agora posso dizer que não tenho medo de viajar para lugar nenhum mais desse mundo; a experiência é sábia!
No primeiro dia de curso fomos muito bem recebidas, Aco Yamazaki, uma das organizadoras e anfitriã do evento, recebeu-me com um abraço carinhoso e apertado, que me transmitiu segurança e aconchego. Neste primeiro dia tive o prazer de conhecer também Kelli Li, Camew Megumi, Binita Haria, Tida Naomi, Emiko Asano e Maki Arai, todas alunas do grupo profissional de Aco, com o qual dividimos espaço em sala de aula com o mesmo objetivo. E finalmente tive o prazer de conhecer Amy Sigil e o seu fantástico trabalho. Amy tem a capacidade de energizar positivamente a todos que estão a sua volta, uma pessoa extremamente humilde e brincalhona. Ela gosta muito de trabalho em conjunto e isso foi um ponto forte para meus estudos, suas dinâmicas são sempre muito divertidas e interessantes. Uma das atividades exploradas em sala de aula foi a construção de movimentos acrobáticos em solo e em grupo. Pesquisamos formas de construir uma coreografia e nessa aula me dei conta que não sei nada sobre dança. A didática de Amy abriu minha mente e me fez enxergar que as formas mais simples são as mais complexas. Amy aplicou em no terceiro e quarto dia o ITS (Unmata), um sistema desenvolvido por ela desde o ano de 2002. Esse sistema é como um jogo que te faz interagir em equipe e ficar conectada com o grupo do início ao fim da música. Se não prestar atenção... Baila! Eu amei de mais fazer aula com ela, saia todos os dias esgotada e ansiosa para o próximo dia.
Já as aulas de Jill Parker foram basicamente repertórios de shimmies. Eu pude compreender melhor a leitura de cada movimento. Jill aplica suas aulas com tranquilidade e clareza nos deixando descontraídas durante a aula toda. Durante todos os dias de curso com ela, estudamos movimentos básicos e avançados, snake arms, improvisação e muitos deslocamentos.
Tive a honra de apresentar uma coreografia construída ainda em sala de aula juntamente com Jill Parker e algumas alunas do curso na noite de Gala, abrindo o show com esta apresentação. No backstage tive uma crise de nervos... (Risos...), pois o rapaz da iluminação me perguntava qual a melhor luz para minha apresentação, mas ele só falava em japonês. A gente não se entendia e o tempo de passagem de palco se esgotava. Foi um sufoco e eu tremia de nervos. Emiko Asano foi uma das bailarinas que me deu suporte no camarim, pois ela era a única no momento que falava mais ou menos o inglês.
Engraçado como a gente aprende se “ferrando”. No camarim todas as bailarinas japonesas tinham seu próprio espelho com suporte de mesa para a make, diferente daqui do Brasil que todas já contam com camarins iluminados e com espelhos. Pra falar a verdade, até pensei em levar um espelho maior, mas como a viagem é longa e entre despachos de bagagens no aeroporto, achei melhor não levar para não correr o risco de quebrar na mala. Maquiei-me apenas com o pequeno espelho do estojo do blush, inclusive coloquei os cílios postiços com a ajuda deste espelhinho. Enquanto todas estavam no glamour com seus espelhos com suporte, eu “me ferrava” com um micro espelho na mão e me maquiava com a outra. Mas no fim tudo deu certo, levei comigo na bagagem um jeitinho brasileiro (Risos...). Apesar de estar um pouco nervosa acho que para minha primeira apresentação internacional eu me “dei bem”, consegui estar pronta e executar minha coreografia como deveria. Desci do palco extasiado de emoção e com sensação de missão cumprida.
Hoje me sinto realizada por ter participado de um elenco de tão alto nível, principalmente em ter o reconhecimento por parte deles. Explorei muito do curso e muito da cultura japonesa e só posso dizer obrigada pela oportunidade Tori Halfon, obrigada pelo aprendizado Tokyo. Foi majestosamente incrível!
Bellydancer na empresa Sara Félix, artista e professora na empresa Tribal Art Company e diretora do espetáculo Fusion Art Festival. Formada em Educação Física pela PUC- PR, atuante na área da dança desde 2008.