[Ubuntu Tribal] A metáfora da Flor de Lótus

por Gabriela Miranda

Foto por Valeria Sbrissa


Na coluna passada falei sobre o Puja e mencionei a metáfora da Flor de Lótus, essa flor maravilhosa, que nasce do lodo imundo do fundo das águas, emergindo perfeita e perfumada. A Flor de Lótus é o resultado da perseverança, do esforço, da luta do botão que ela um dia foi enquanto estava na lama, quando ainda não estava pronta para desabrochar. Como isso se transforma numa metáfora para as bailarinas de Tribal? Pois bem, assim como a própria vida, a dança nos frustra. Sejamos honestas. Todas temos momento de pensar - ou até de chegar a - desistir de dançar. 

Algumas vezes somos pegas na técnica, o estilo que escolhemos se mostra mais complexo de nosso corpo entender do que gostaríamos, e frente às nossas dificuldades, nos frustramos e pensamos em desistir. Outras vezes nos decepcionamos com situações do mundo da dança, com as nossas experiências, com as pessoas por trás dos artistas. Os motivos variam muito, mas seja o que for, o que a metáfora da Flor de Lótus nos diz é: seja forte e continue seu caminho. Persevere! Você também tem a capacidade de usar as piores situações para descobrir o seu melhor. 


Eis uma dica pessoal: quando pensar em desistir, lembre-se de porque você começou a dançar. Lembre-se do motivo, da primeira intenção e das sensações de quando você conseguiu fazer o primeiro passo de dança como gostaria. Lembre-se de como se sentiu. Lembre-se das vezes em que dançar te fez focar somente naquele momento e esquecer do resto do mundo, dos problemas, da vida, de tudo. Eu sei que como bailarina você já teve esse momento SIM. Lembre-se do quanto a dança nos ensina como um todo a ter mais paciência, mais humildade e ao mesmo tempo mais confiança, e, acima de tudo, mais perseverança. Cada vez que algo te frustrar, respire fundo e mergulhe dentro de você mesma. Pense como teria sido a sua vida sem a dança até agora? Quem você seria sem essas experiências? E mais, como seria a sua vida sem a dança alguma? Como seria para você de repente não poder mais dançar? 



Esse sentimento de não poder largar a dança é o que te faz continuar. Nós lutamos pelo que amamos, e somos bailarinas porque amamos a dança. Esse sentimento de pertencimento, de identificação, de alegria quando seu corpo se movimenta de acordo com o que você sente e imagina. A dança é uma arte feita pelo corpo do artista, ela é a tradução do que sentimos em gestos... Então por que não dançar o que nos incomoda nessa arte também? O que nos frustra e nos irrita? Por que não dançar todos os aspectos, luz e sombra, do que essa arte representa para nós? Transformemos nossas experiências em repertório de dança. Nossos sentimentos em movimentos. Nosso interior em inspiração para o exterior. 


Eis uma informação muito pessoal: eu danço a minha raiva da dança! Sim, isso é extremamente catártico pra mim. Eu me sinto em um relacionamento com o que eu faço relacionado à arte e a à dança. É um amor enorme, mas também é complexo de diferentes formas. É um relacionamento de muito amor e algum ódio sim. E eu descobri que dançar o que me faz mal, me ajuda a perdoar e esquecer. Bem, talvez não esquecer tão logo porque costumo dançar essas peças muitas vezes... Mas ao longo do tempo que convivo com a minha dança, diariamente ela me desafia e me transforma. Eu já quis ir embora sim, mas ela não me deixa. Não sei viver sem ela, e isso várias bailarinas dirão o mesmo, se não todas! Mas às vezes precisamos de férias. Essas férias, para mim, são os mergulhos que dou no meu interior, e adivinha, cade vez que volto, eu trago mais material para servir de inspiração... E assim poder transformar e transcender a minha própria dança. Não aos olhos dos outros, porque às vezes essas mudanças são tão sutis que se tornam imperceptíveis a olho nu... Mas quem sente a dança com o coração, entende né? ;)

Mais uma vez agradeço a aventura e experiência de vida que tem sido para mim ser uma bailarina. Que a dança nos ajude sempre a sermos a melhor versão de nós mesmas! É o que desejo de coração a todxs!



Namastê. 💗


Ps: Esse vídeo é um resumo dançado de como me sinto com a dança às vezes. A performance não é minha e com certeza para ela não é disso que se trata, mas essa é minha identificação pessoal com esse solo sensacional da Tara Adkins.





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