por Gabriela Miranda
Tenho me enchido de alegria ao perceber que nos últimos
anos cada vez mais brasileiras entendem a importância do estudo da técnica
específica de Tribal, para dançar esse estilo. Mais do que estudar isolamentos
afiados, fazer carão e executar perfeitamente movimentos de Dança do Ventre,
estudar o Tribal exige conhecer sua história, seu significado, seus conceitos,
seu repertório e técnica própria... E junto com esse estudo vem a constatação
de que a maioria daqueles movimentos que vemos nossas bailarinas preferidas
executarem tem um nome e um “pulo do gato” que somente estudado com uma
professora preparada irá ser entendido.
Infelizmente quando descobrimos o Estilo Tribal por aqui no
Brasil, importamos apenas a estética de início, e poucas bailarinas
compreenderam as técnicas e conceitos específicos do Tribal. Uma das coisas que
me alegra é que o número de estudantes regulares, tanto de Tribal Fusion quanto
de ATS®, aumentou muito nos últimos anos, e o de Sisters Studio também, além
das professoras de Tribal Fusion e Dark Fusion, facilitando o acesso à técnica
própria dos movimentos do Repertório específico do Estilo Tribal. Estudando o
Repertório Clássico e Moderno do ATS®, por exemplo, lançamos um olhar
aprofundado sobre aqueles passos que sempre sonhamos aprender e que amamos ver
nossas bailarinas referência – tanto do ATS® como do Fusion – executarem no
palco com tanta elegância. Me surpreende também ver pessoas que antes não se
interessavam pelo ATS®, agora descobrindo nesse estilo mais do que uma fonte de
estudo, mas uma forma de diversão e exercício de sororidade com amigas, colegas
e alunas. De verdade fico feliz de ver que as pessoas estão entendendo como o
estilo funciona e a amando suas particularidades.
Mas o mais importante de tudo isso, para mim, é saber que os CONCEITOS do Tribal
estão sendo melhor fundamentados. O que muitas de nós pregamos é justamente o aprofundamento
nesses conceitos que fundamentam nossa dança e que nos constituem como
bailarinas de Tribal, não apenas estudar os passos e repertório da dança que
for, da origem que tiver. O Tribal é um estilo conceitual em essência, então
por que reproduzir somente sua estética geral?
Seguindo esse sentimento, queria compartilhar um desses
conceitos fundamentais do Tribal, pelo menos para mim: a GRATIDÃO.
Um dos conceitos do American Tribal Style® que mais amo é o
Puja, uma homenagem à Dança Clássica Indiana, também conhecido como Moving
Meditation, Gratitude Meditation ou Pranam, que é uma meditação de gratidão em
movimento, mas não é uma oração ou prece, nem é religioso ou espiritual em
nenhum sentido, e serve para simplesmente agradecer e reconhecer os elementos
necessários para realizarmos nossa dança. Nós o fazemos antes de dançar, seja
em aula ou no palco, como forma de aterramento e concentração. Carolena explica
no livro “American Tribal Style® - Classic”, escrito por ela e Kristine
L.Adams: “Com nossos corações nós estamos agradecendo o espaço no qual
dançamos, a superfície onde dançamos, a música a qual dançamos, as professoras
que nos ensinaram, e nossos ancestrais que vieram antes de nós.” Resumidamente,
esse é o Puja. Eu digo resumidamente porque no próprio livro e nos ensinamentos
de nossas professoras, o significado do Puja é muito mais profundo... Desde o
sentido da flor de lótus desabrochando que desenhamos com as mãos para lembrar
que nossos erros fazem parte do processo de aprendizado, passando pelo
movimento de braços que inclui e agradece nossas colegas de aula ou
companheiras de grupo, o Puja nos leva à reflexão de que não estamos sozinhas,
de que precisamos umas das outras e do todo para sermos nós mesmas, para sermos
quem realmente somos. Estamos unidas pela dança e por muito mais que apenas
isso.
O Puja é muito inspirador para mim, já refleti muitas vezes
sobre seu significado e sobre a extensão do que estamos agradecendo... Deixo
aqui o link do Puja completo para quem quiser ver a parte prática:
Também pode ser visto em ação no inicio desses dois vídeos:
Eu acredito que a gratidão eleva nossos sentimentos como um
todo, nos direciona e amplia nossa capacidade de fazer e reconhecer o bem. Além
de ser um sentimento muito gostoso quando sentido verdadeira e profundamente!
Eu gostaria muito que o Tribal nos ensinasse a sermos mais gratas, realmente
gratas por tudo que temos, somos e compartilhamos... E que também nos tornasse
mais unidas, mesmo que discordemos e mesmo que sejamos muito, muito diferentes
das nossas colegas, professoras, alunas, amigas... Vamos ser gratas por tudo,
principalmente pelos ensinamentos recebidos dessa dança? Porque tudo sempre nos
ensina alguma coisa, se estivermos abertas para receber esse conhecimento.