por Aerith*, Anamaria & Surrendra
Quem nunca se perguntou o que
é o enfeite que as mulheres indianas usam na testa?
Sua curiosidade aumentou mais ainda quando viu bailarinas dançando com ele?
Neste post vamos falar do bindi e desvendar o misterioso brilho deste
adereço.
A relação entre o
bindi e a pineal
A glândula pineal ou epífise
tem forma ovóide, semelhante a uma pinha (daí deriva-se o seu nome), do tamanho
de um caroço de azeitona e situa-se próxima ao centro do cérebro, posteriormente
aos dois tálamos. Sua função está ligada ao ciclo do sono/vigília, ciclos
circadianos, secreção de melatonina, relacionando-se com o fotoperíodo e,
consequentemente, importante para reprodução animal.
Seus primeiros estudos datam
de 300 anos a.C. No âmbito filosófico, podemos mencionar o trabalho do francês
René Descartes (1596-1650), o qual atribuía a essa glândula o ponto entre a
união do corpo e da alma. Segundo Descartes, a matéria e a consciência/
pensamentos são independentes, isto é, a “nossa
consciência individual é separada do corpo e continua a existir mesmo sem o
corpo”. Então, o nosso corpo e alma se comunicam de forma estreita,
através da pineal, ou seja, é um local único onde toda a informação se
converge, sendo considerada a “sede da alma”.
Atribuía-se a este órgão endócrino funções transcendentais, sendo conhecido também como “terceiro olho”, devido a semelhança desta estrutura com o órgão da visão. Embriologicamente, ela deriva de células neuroectodérmicas do diencéfalo, desenvolvendo a partir de evaginações medianas que deixam o encéfalo anterior, originando a glândula pineal e a neuro-hipófise, possuindo um vestígio óptico. Todavia, sua função, em mamíferos, não possui ligação direta com a visão. Li e achei interessante esta expressão: “olhos da mente”, pois esta glândula não deixa de ser um tipo de “receptor” da variação luminosa do meio externo. Em muitas espécies de peixes e répteis, contém células fotorreceptoras, por isso, sua constituição é semelhante a dos olhos laterais (córnea, lente e retina), sendo considerados neurologicamente funcionais nestes animais.
Terceiro olho em réptil
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Em outras
religiões, filosofias ou mitologias, a pineal tem vários significados. Na
mitologia egípcia, esta glândula é análoga ao olho do deus Horus ( udyat), considerado o deus do
sol nascente, que simboliza poder e
proteção. Existe uma lenda que conta que o deus Seth arrancou o olho esquerdo de Hórus, que acabou sendo
substituído por um amuleto. O olho direito representa o sol e a masculinidade;
já o esquerdo, representa a lua, simbolizando o feminino, “com pensamentos e
sentimentos, intuição, e a capacidade de enxergar um lado espiritual”.
Os
praticantes de yoga e hiduísmo consideram este como o “ajna chakra”, que leva
ao autoconhecimento. Na Índia é considerado o “olho de Shiva”, o “olho que tudo
vê”. Este ponto é responsável pelo desenvolvimento da espiritualidade. Há dois
chakras ou centros de energia, um é o frontal
localizado um pouco acima das sobrancelhas, ligado à capacidade intuitiva,
percepção sutil, “sexto sentido”, clarividência; o outro é o chakra coronário, localizado no topo da
cabeça; ambos são identificados com a pineal.
O ponto sobre a testa é considerado um
ponto principal neural em um corpo humano desde os tempos antigos. O destaque
deste ponto é comumente usado em vários países do sul da Ásia ( Índia,
Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e República de Maurício) . Em tradições exotéricas
também representa o chakra ajna (sexto sentido, terceiro olho ou olho da
sabedoria). A área entre as sobrancelhas é um centro de sabedoria e bindi é uma
maneira como enfatizar a área do terceiro olho - é um ponto onde você
concentrar sua atenção durante a meditação.
No
hinduísmo, usa-se o bindi, sinal usado entre os olhos ou no centro da testa.
Ele também é conhecido como bindi, na
língua Hindi, derivada da palavra bindu em Sânscrito, que significa
“ponto”; pottu em Tamil; conhecido também como kumkum,
mangalya, tilak, sindhoor, entre outros nomes.
Vaishnavites
(seguidores de Vishnu) usam uma marca em forma de “V” neste ponto,
chamada de urdhva-pundra
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Bindi tradicional tem cor vermelha ou Bordeaux. É um feito com Vermilion (“vermelhão” ou Vermelho chinês: sulfeto de mercúrio vermelho brilhante finamente pulverizado) ou uma pasta de sândalo colorido ou cúrcuma colocado cuidadosamente sobre a testa com os dedos até formar um ponto vermelho regular. “Considerado o símbolo sagrado de Uma ou Parvati, o bindi simboliza a força feminina (shakti) é acredita-se que proteja as mulheres e seus maridos.”
Existem
muitos tipos de marcas na testa, conhecidos como tilaka em Sânscrito, e cada uma delas representam uma ramificação
do hinduísmo. Alguns exemplos: hindus
vaishnavas usam um tilaka em forma de “V” feito de argila branca; tilakas
elaborados são usados por hindus em eventos religiosos. A maioria usa um
simples bindi, demonstrando que são hindus.
Os
seguidores de Shiva usam o shaivite
tripundra tilak, formado por três linhas horizontais
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''Os homens não usam o bindi, usam apenas o tilak em cerimônias ou
ocasiões próprias. Isso porque as mulheres, por sua natureza mais sensível,
conseguem com maior facilidade despertar a kundaline (energia em estado
potencial localizada na base da espinha dorsal). Essa energia sobe pelos
chakras e une o consciente ao subconsciente fundindo em uma só entidade
universal todos os elementos de dualidade. Esse despertar do sexto sentido ou
abertura do terceiro olho muito comum nas mulheres que não têm essa energia
abafada ou reprimida é conhecido na Índia e no ocidente como a famosa “intuição
feminina”, uma qualidade de extrema importância para os indianos.''
Com o tempo, o bindi tornou-se
essencialmente uma questão de decoração e hoje em dia este adorno é usado por
mulheres e meninas, não importando a idade, estado civil, crença ou
origem étnica. Muitas, inclusive, sequer tem conhecimento do porque da tradição
e usam livremente como adorno, ou nem mesmo o usam, provavelmente dada à uma
certa ocidentalização da cultura local. Além disso, o bindi não é mais
limitado pela cor nem forma e bindi ornamental auto-adesivos são comumente
disponíveis.
No ocidente, o uso do bindi é feito muitas
vezes como forma de auto expressão, conotando uma tendência da pessoa à
filosofias orientalistas, hippies ou boêmias. Este uso divide opiniões e
costuma ser tratado como apropriação cultural, não sendo bem visto por algumas
pessoas.
Bindi e o Estilo Tribal
Bindi provavelmente entrou
neste estilo de dança quando as raízes de um estilo tribal estavam se formando
(Jamilla Salimpour); quando a ideia era adotar elementos étnicos nos trajes,
adornos e jóias, principalmente da Ásia.
Neste momento, no entanto, o caráter de bindi usado para a dança mudou. Sem
mais pontos coloridos em pó foram aplicados entre as sobrancelhas, o bindi
tornou-se um pedaço sólido de joalheria colada a uma testa por um adesivo.
Bindis auto-adesivos são pouco utilizados no estilo tribal, ao invés disso,
bindis metal de tamanhos variados com cristais podem ser usados para
apresentações estilo.
O mais comum é o uso de
bindis maiores, de cores variadas e com aplicações de materiais diferentes como
resina, cristais, diferentes tipos de metais, madre-pérola e cerâmica fria.
Como variantes para outros sub-gêneros de fusão tribal, também compõem de penas e outros materiais como bindi.
O bindi é um acessório muito apreciado, mas não é um pré-requisito para um
figurino Tribal. É uma questão de gosto de cada dançarino.
Deixamos para vocês um tutorial de como criar seu próprio bindi:
*Neste texto há também a contribuição de Aerith