por Aerith
Nossa entrevistada do mês de outubro é a bailarina de Brasília-DF: Raisa Latorraca! Raisa nos conta sobre sua trajetória na dança, sua carreira internacional, sobre o estilo Gypsy Fusion e a importância da dança cigana no estudo do Tribal fusion, assim como ATS® e muito mais! Confira!!
BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na
dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você?
Acho que o meu interesse pela dança de modo geral
deve ter começado antes de nascer, minha mãe também era bailarina e dançou
enquanto ainda estava grávida de mim. Minhas aulas de ballet começaram aos 3
anos de idade e descobri a dança do ventre aos 14 anos, a partir daí me enveredei
pelas danças orientais e nunca mais parei. Me encantei por vários estilos
étnicos e sempre gostei de fusionar esses estilos com a dança do ventre. Meu
estilo de dança do ventre nunca foi totalmente “tradicional”, pelo menos nos
moldes que a gente encontra hoje no Brasil. Sempre gostei dos elementos do
flamenco, das danças ciganas e de outras fusões mais contemporâneas também,
então quando descobri o tribal me senti em casa.
BLOG:
Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Ingrid
Latorraca, minha mãe, porque além do laço emocional, ela é uma das bailarinas
com mais presença de palco e expressão que eu já vi, sempre totalmente entregue
em cena, sempre foi um grande exemplo.
Larissa Vitória, quem me introduziu no
mundo das danças orientais, minha primeira professora de dança do ventre, por
quem guardo muito respeito e admiração.
Paula Braz, minha primeira professora
de tribal, quem me fez buscar minhas bases no estilo, tem um trabalho impecável
e é uma das minhas grandes referências.
Paola Blanton, que sacudiu a minha
forma de encarar várias coisas na dança de um modo geral por ter um trabalho
libertador.
Rachel Brice e Carolena Nericcio, pela energia, didática, trabalho
irretocável e tudo o que elas representam na história da dança.
Muitas outras
professoras de diversos lugares do mundo foram extremamente importantes na
minha trajetória, mas essas pessoas foram indiscutivelmente grandes marcos.
BLOG:
Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto
tempo?
Além do
tribal estudei ballet clássico, jazz, flamenco, dança do ventre, ATS® e, atualmente, contemporâneo e alguns fundamentos de danças urbanas.
BLOG:
Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Eu tive e
tenho milhões de inspirações, na dança e fora dela. Tudo o que me emociona
tenho vontade de transformar em dança. Minha inspiração pode vir de qualquer
lugar.
Na dança
são várias, referências nacionais, internacionais, bailarinos e companhias de
dança, não só de tribal, essa lista é enorme.
BLOG:
O que a dança acrescentou em sua vida?
A dança
sempre foi minha forma de expressão mais forte e algo que até ajudou a me
educar, de certa forma. É muito comum eu assistir a alguns trabalhos, me
emocionar, captar a mensagem e refletir sobre ela. A dança tem o poder de
refinar e ensinar a importância dos pequenos detalhes. Tem um potencial
filosófico poderoso por trás, útil e engrandecedor.
BLOG:
O quê você mais aprecia nesta arte?
A
possibilidade de materializar e representar estados de espírito, personagens,
situações, expressar ciclos da natureza, experiências de vida, experiências da
história da humanidade, das coisas mais cotidianas até as mais míticas, um
imaginário qualquer, coisas que elevem a consciência das pessoas. Perceber essa
linguagem sutil e universal, estar em um lugar onde tudo é possível. Criar uma
“paisagem mental” que transporta bailarino e público para qualquer realidade.
Além de tudo isso, é uma arte que me faz aplicar a experiência na minha própria
vida. A dança é um reflexo da minha vida e a vida é um reflexo da minha dança.
Se durante a dança eu tomo alguma atitude certa para dominar algum problema ou
emoção, é provável que eu tenha o mesmo resultado na vida também, se agir da
mesma forma. Se você se sente desequilibrada ou ansiosa na sua dança, pode
buscar onde isso está acontecendo na sua vida pessoal, porque certamente está
em algum lugar, a dança reflete muito sobre nós e podemos aprender muito com
isso.
BLOG:
O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que
o tribal está livre disso?
Acho que
o que prejudica a dança do ventre é a banalização que ela sofre pelas próprias
“profissionais”. Bailarinas e professoras que atuam sem preparo. Não acho que o
tribal esteja livre disso, pelo menos por aqui não tenho visto de forma tão
exagerada como existe na dança do ventre, mas qualquer estilo de dança é um
meio suscetível a isso dependendo do nível de comprometimento das
profissionais.
BLOG:
Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Sim, por
parte de pessoas que encaram a dança só como um entretenimento. Infelizmente a
maior parte das pessoas não tem maturidade para encarar a arte de forma séria.
BLOG:
Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Tive
várias frustrações e indignações durante o percurso sim. Sinceramente o caminho
não é dos mais fáceis, além dos problemas internos próprios de qualquer meio
artístico, os problemas externos também fazem a gente desanimar muitas vezes
como a falta de incentivo e o fato de cultura e arte no nosso país serem
tratadas como algo tão secundário e descartável, isso tudo deixa a situação
ainda mais complicada. Viver a arte num período de decadência, onde tudo é
banalizado, não é fácil e exige ainda mais compromisso e responsabilidade da
nossa parte.
BLOG:
E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
No geral, minhas conquistas são todas as pequenas coisas que me fazem sentir que cumpro
meu papel como bailarina e como professora, é um grande objetivo sendo
realizado um pouco a cada dia. Além das coisas que eu conquisto diariamente, algumas
realizações que me marcaram são: a criação do Imani Tribe; o certificado de
Sister Studio do FCBD®; ter
tido a oportunidade de levar o Tribal Fusion para alguns lugares fora do Brasil
e ter feedbacks positivos fora de casa, especialmente apresentar o Tribal na
Turquia e ter uma resposta tão receptiva do público me emocionou muito porque
as turcas foram sempre grandes inspirações para mim em vários processos de
estudo e criação; o Curso de Formação em Tribal Fusion, um projeto muito
especial, que exigiu bastante tempo para ser gerado; e uma das grandes
conquistas pessoais foi ter coreografado para um dos meus grandes ídolos
musicais, Hossam Ramzy, uma das minhas músicas favoritas, Immortal Egypt
(Hossam Ramzy e Phil Thornton), e receber pessoalmente dele um feedback
incrível, essa foi uma experiência muito significativa pra mim, daquelas que
deixa a gente uma noite inteira sem dormir rsrsrs.
BLOG: Como é o cenário da
dança tribal em Brasília? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado,
repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
A cena do
tribal em Brasília está se fortalecendo cada vez mais, o interesse por parte
das alunas vem crescendo e existem muitas pessoas aqui dispostas a estudar e a
desenvolver trabalhos de qualidade. Ainda é uma estética desconhecida para
grande parte do público, mas tem conquistado as pessoas com uma força
impressionante. O mais interessante é ver que até o público relativamente
“leigo” começa a entender diferenças entre uma estética e outra. Por exemplo,
hoje em dia sou contratada para fazer shows de “tribal” por aqui, até pouco
tempo atrás os contratantes chamavam tudo de “dança do ventre” e achavam que
era tudo a mesma coisa, é interessante essa conquista do espaço no mercado.
Infelizmente, apesar da conquista de espaço, os incentivos por parte da cidade
e estado são poucos, então, na maioria das vezes, contamos só com o apoio do
próprio meio para realização dos projetos.
BLOG: Anteriormente, você era membro da Cia Exotique Tribal, dirigida
pelo bailarino Guigo Alves. Como foi sua participação no grupo
nesse período?
Minha
participação na Cia Exotique foi uma experiência muito importante na minha
trajetória.
Mais
ou menos 5 anos atrás recebi um convite do Guigo para criarmos um dueto, que
foi uma experiência super interessante e que teve uma resposta imediata e bem
positiva do público. Na época fizemos vários shows em uma taberna medieval
(Mittelalter), que era um dos pontos culturais da cidade, com algumas
bailarinas convidadas e demos o nome de “Exotique” para esse projeto na
taberna. Esses shows começaram a crescer e começamos a criar um público grande
em Brasília. A partir daí o Guigo inaugurou a Cia Exotique, que integrou
algumas bailarinas que já trabalhavam com a gente nesses shows como convidadas.
A experiência de participar da Cia Exotique foi muito válida e engrandecedora,
o Guigo tem um comprometimento profissional intenso com os trabalhos que ele
desenvolve e uma visão criativa e coreográfica ampla por conta das experiências
com outras danças como ballet, jazz, etc., uma proposta que eu sempre gostei
muito, também por ter tido contato desde pequena com outros estilos de dança.
Acho sempre muito interessante o trabalho em grupo, bailarinos trabalhando
juntos se complementam em vários aspectos e é uma troca incrível ver como é o
processo criativo das outras pessoas.
BLOG: Conte-nos um pouco
sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação da parte
conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos
figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena
tribal?
Durante meu percurso como
coreógrafa, tive várias inspirações diferentes, mas sempre buscando estabelecer
um imaginário muito específico por trás das criações. Partindo da ideia
central, tento dar forma a esse imaginário por meio da identidade visual de
cada coreografia. Acho que a composição de figurino e maquiagem tem que falar
por si só. Quando o visual está conexo com a proposta coreográfica, todo mundo
entende, logo no começo da cena, qual é o clima que vai ditar o andamento
daquela performance e isso ajuda a ambientar o público no contexto
coreográfico. Eu percebi que as coreografias que tiveram uma maior repercussão
foram justamente, as que desenvolvi com um maior cuidado com a parte visual em
si, não que a dança precise estar presa a figurinos e assessórios super
elaborados, mas tudo precisa estar muito conexo e isso exige um bom tempo de
estudo para cada cena e muitos testes. A técnica precisa ser absolutamente coerente
com a proposta coreográfica para possibilitar que as bailarinas criem o
ambiente mental necessário para expressar com maior qualidade a ideia central; para mim, uma performance tem que despertar sentimento e fazer com que o
público vivencie o que está sendo dançado naquele momento, nesses trabalhos que
tiveram maior repercussão também percebi que eu não existiam dúvidas do que
aquela performance representava por parte das bailarinas, todo o contexto havia
sido criado com riqueza de detalhes, com isso , claro acho muito mais fácil a
entrega em cena e a expressão da ideia central, é incrível a diferença que isso
faz.
BLOG: Você é uma das criadoras do Imani Ateliê destinado a
figurinos para o Tribal. Como surgiu a ideia ou oportunidade de formá-lo? Como
é o processo criativo para as linhas e suas inspirações para a composição das
mesmas? Há alguma curiosidade a respeito do nome do ateliê?
O Imani
Ateliê nasceu da vontade e necessidade de criar uma identidade visual. Como eu
quase nunca encontrava figurinos e acessórios que me agradassem na época,
comecei a desenhá-los para fazer por conta própria. Sou privilegiada por ter
pais muito talentosos na arte e artesanato, minha mãe (Ingrid) dava vida aos
figurinos que eu desenhava de uma forma impressionante e, desde 2015, meu pai
(Pedro) também integrou o ateliê produzindo nossas peças de couro.
As
produções iniciais eram inspiradas nos movimentos do orientalismo, belle époque
e elementos étnicos, principalmente de culturas orientais. Por conta da grande
demanda, o ateliê criou vida de uma maneira muito rápida e nossa equipe
continua se expandindo, sob a nossa direção. Ao longo da trajetória, Ingrid
Latorraca, que hoje é a grande responsável pelo design de figurinos, trouxe
outras influências e inspirações baseadas em estéticas culturais que deram
origem a outras linhas como a Maia e Celta, por exemplo. Após o lançamento da
última linha, Gypsy, o artesanato em couro também ganhou um grande peso no
ateliê, conduzido por Pedro Xavier.
BLOG: Conte-nos como surgiu a Imani Tribe, a etimologia da palavra,
seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma
mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora. Como é
o processo de introdução de novos integrantes?
Respondendo
também à pergunta anterior, “Imani” é uma palavra africana que, ao pé da letra
significa a devoção a algo, mas o que mais me chamou atenção nessa palavra é
que em alguns países da África, quando alguém deseja algo positivo, como “boa
sorte”, é comum as pessoas responderem “Imani”. Ela é utilizada como uma
palavra de poder para concretizar alguma coisa.
O Imani
Tribe é meu laboratório coreográfico, é uma assinatura de todos os trabalhos
que eu desenvolvo, ele tem uma estrutura um pouco diferente das outras
companhias de dança de que fiz parte. Para cada coreografia escolho as
bailarinas que serão convidadas, dentre minhas alunas e parceiras. Atualmente
escolho as integrantes com base no tipo de trabalho coreográfico porque apesar
de o estilo predominante ser o tribal fusion, às vezes exploramos outros
elementos, então é necessário que as integrantes tenham uma experiência com
outros estilos de dança também. Em 2017 será aberto um processo de seleção para
nova coreografia.
BLOG: Você é produtora do evento Imani Tribe Fest desde 2014, os quais se destacam
como um dos principais eventos de dança tribal. Conte-nos como surgiram as
idéias de cada evento, suas propostas, objetivos, organização, realização e
diferenças entre si, bem como suas repercussões do mesmo para a comunidade
tribal quanto para seu público.
A ideia
primordial do Imani Tribe Fest é ser um intercâmbio de conhecimento e experiências.
O evento engloba cursos, imersões e o show com a participação de bailarinos e
músicos convidados. A cada edição contamos com atrações diferentes e nos
inspiramos em diversos temas. A primeira edição realizada, foi a “Balkanic
Explosion!”, com a vinda de Paola Blanton. Fizemos uma imersão no tema Gypsy
Balkan e o show contou com a presença, além de grandes bailarinos da cidade,
também de Paola Blanton (Macedônia), Maria Badulaques (São Paulo), Marcelo
Justino (São Paulo) e da banda de música oriental e fusões: Kervansarai.
Na
segunda edição, realizamos o “Laboratório de Música e Dança”, com temas variados
que englobaram tribal fusion, ATS®, dança indiana, dança contemporânea, teatro na dança, e música oriental,
com os professores: Amanda Rosa, Iago Gabriel, Mirabai, Nara Faria, Raisa
Latorraca, Amanda Zayek, Bernardo Bittencourt e Bety Vinyl. O show da segunda
edição foi realizado ao ar livre, com feirinha e food trucks. Praticamente toda
a cena do tribal fusion de Brasília estava presente e contamos também com a
participação do Kervansarai e dos músicos convidados: Mahmoud el Masri (Egito)
e Paulo Nagô (São Paulo). Foi um evento muito divertido e agradável, com uma
energia incrível, tivemos muitos feedbacks positivos do público e dos artistas
convidados.
Fiquei
muito feliz com o resultado que esses eventos vêm trazendo a nossa cidade e
pretendo seguir com propostas e formatos diferentes. Eu, como público, adoro
participar de experiências novas, em ambientes agradáveis e confortáveis então
busco sempre estar atenta a todos os detalhes importantes para criar um clima
especial para os artistas e deixar nosso público à vontade.
BLOG:
Atualmente, você participa dançando nos shows da banda Kervansarai. Como surgiu a oportunidade de parceria? Como é a
experiência de dançar juntamente com a banda ao vivo?
O Kervansarai tem um trabalho
solidificado há bastante tempo com músicas orientais e fusões, e sempre fui uma
grande admiradora da banda. Eles contavam com a participação de bailarinas de
dança do ventre em alguns shows e em 2013 fui convidada para fazer minha
primeira participação em um show deles. Nesse show fiz uma performance de fusão
com tribal e a partir daí começamos a trabalhar intensamente juntos. Eu já
havia participado de experiências anteriores dançando com música ao vivo, mas
sempre em performances de dança do ventre e com outra instrumentação. O
Kervansarai tem um trabalho diferenciado que vai muito além das músicas árabes,
eles trazem várias outras influências étnicas também, o que criou uma grande
sintonia com meu trabalho, por ser uma busca de elementos muito parecidos, são
músicas perfeitas para trabalhar o lado do tribal mais étnico e oriental que eu
também adoro.
A
sensação de dançar com música ao vivo realmente é muito diferente. Quando
participamos de uma performance com música ao vivo, é muito forte sentir toda a
cena artística sendo construída naquele momento, música e dança, tudo
acontecendo na hora, é incrível essa sensação. Independente da minha
performance ser totalmente coreografada ou improvisada, a magia que envolve
essa cena com música e dança é sempre muito forte.
BLOG: Como surgiu a
paixão pelas danças balcânicas e, em sua opinião, qual relação ou importância
dessas danças com a dança tribal?
A cultura cigana sempre foi uma fonte muito forte de estudo e inspiração
para mim, mas as danças e músicas balcânicas, por alguma razão, são as que mais
mexem comigo. Não sei especificar exatamente como surgiu a paixão pelo Gypsy
Balkan, mas foi há muito tempo. Na época, eu ouvi “acidentalmente” algumas
músicas balcânicas e amei, mas não sabia exatamente o que elas eram, de onde
eram e não tinha muitas referências. Por me agradar tanto musicalmente fui
pesquisar a respeito, buscar o que era dançado nelas e me encantei com o todo.
Foi uma questão de afinidade natural.
Depois que entrei no universo do
tribal, senti uma liberdade maior para fusionar elementos diferentes. Sem
dúvida os ciganos nos influenciaram muito em postura física e mental,
movimentação, figurinos, dentre outras coisas.
Da paixão por essa cultura,
trouxa a Paola Blanton (cigana da Macedônia) para Brasília no Imani Tribe Fest
em 2015, na tentativa de difundir esse universo que. para mim, é encantador. Em
2017 pretendo participar de uma imersão cultural na Macedônia organizada por
ela e talvez estender viagem para outros países onde possa ter acesso à cultura
balcânica.
Como as danças ciganas nos
influenciaram muito, de um modo geral, independente da região, acredito que
estudá-las é uma ótima oportunidade de resgatar um pouco das nossas origens.
O ATS® tem uma importância muito significativa no meio da dança: um
resgate do espírito do trabalho em grupo. Talvez até mais que um resgate, acho
que a estrutura de improviso coletivo trouxe o contexto de “Tribo” para a dança
oriental de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Em Brasília, decorrente
da minha parceria com Amanda Zayek e Gabi Ribeiro, surgiu o “Clann”, grupo de
ATS®, cujo próprio nome carrega a
ideia, de um grupo que se reúne em função de algo maior da forma mais
colaborativa possível. A palavra “Clann” vem do gaélico e significa “crianças
de uma mesma família”.
Fazer
parte de um grupo de ATS® é realmente como fazer parte de um
clã, onde todas têm um papel essencial, onde se pode compartilhar experiências
e onde podemos contar com as pessoas que estão ali. É fazer parte de uma
família, confiar, saber ceder e construir em conjunto.
BLOG: Em abril de 2015, você esteve em uma imersão em São Paulo,
realizado pelo Festival Campo das Tribos, a estudos pela dança tribal e por sua
certificação em ATS® com a criadora do estilo, Carolena Nericcio, e Megha
Gavin. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de certificação
( e como se alcança o tão estimado selo
de Sister Studio. E qual importância de conseguir tal
certificação, em sua opinião.
O Sister Studio representa algo muito significativo e com ele
eu sinto que recebi uma grande responsabilidade. A professora graduada
representa o estilo no formato desenvolvido pela criadora do ATS® e tem a
missão difundir o espírito do estilo, é um voto de confiança. Uma Sister Studio
deve difundir o ATS® da forma como ele é ensinado pela Carolena Nericcio, e
isso tudo é uma experiência muito válida, poucas pessoas têm a oportunidade de
ter contato direto com a fonte de algo que se ama e, além de tudo isso, ela tem
uma didática incrível.
No General Skills é repassado o conteúdo e no Teacher
Traning você aprende a ser a melhor professora que você pode, considerando
todos os detalhes que são extremamente importantes para suas alunas. No Teacher Traninig você passa por uma prova, a de ensinar no
formato do FCBD® e é avaliada por Carolena Nericcio e Megha Gavin. A
experiência do Teacher Training me ajudou bastante como professora de um modo
geral, realmente é um aprendizado pedagógico que você pode estender para
diversos ramos da sua vida. No ATS®, acho extremamente importante que se entenda
como ela ensina, mesmo que não se faça a certificação. Acho importante seguir o
fluxo de acordo com o que ela estabeleceu porque além de criadora, ela
estruturou tudo pensando nos melhores resultados que essa didática pode gerar. Acho
que uma coisa que se deve ter em mente na busca desse título é seu propósito, a
razão principal de fazer a certificação: é algo feito com o intuito de dar
continuidade e manter o ATS® como ele é ensinado hoje por elas; é importante
que uma Sister Studio esteja preparada para assumir esse compromisso.
BLOG: Hoje contamos com diversos recursos de estudos. O próprio FCBD®
vem lançando materiais muito bons nos últimos anos. Em relação ao estudo de
ATS®, que dicas você daria para aqueles que ainda não podem estudar com uma
professora do estilo, mas que gostariam de aprender mais sobre o mesmo, tanto
na teoria quanto na prática?
Eu acho
importante ter uma professora que possa orientar e acompanhar o estudo,
principalmente no começo, muitas vezes é difícil corrigir sua própria postura, entender
detalhes de posicionamento corporal e de passos assistindo por meio de vídeos; acho importante ter alguém para orientar presencialmente, facilitar o
aprendizado e evitar que alguma coisa mal feita resulte em uma lesão. Tanto
para quem realmente não tem a opção de ter a aula presencial, quanto para quem
tem uma professora à sua disposição, o FCBD®
tem um universo de material de estudo que vale a pena conferir. Assistir aos
DVDs é um passo obrigatório para começar, além dos DVDs existem outros
materiais de qualidade e uma ótima opção é pegar as aulas online com a
Carolena, especialmente para tirar dúvidas.
BLOG: Além de ser bailarina e professora de tribal fusion, você também é
de dança do ventre. Na sua opinião, há dificuldades em coexistir as duas
modalidades? Quais são os benefícios da dança do ventre para o tribal fusion e
vice-versa?
Hoje em dia estou muito mais atuante no tribal fusion do que na dança do
ventre, mas ainda gosto muito dos elementos orientais também, além da influência
mais contemporânea do tribal. No começo senti uma grande dificuldade em manter
as duas modalidades simultaneamente, acho que a dança do ventre ajuda na
questão de técnica de quadril, consciência muscular para o tribal, etc., são
técnicas diferentes, mas com certeza uma coisa agrega muito valor e qualidade
de movimento à outra. Realmente é um pouco complicado mudar a formatação de uma
coisa para outra na hora de dançar, mas é totalmente possível. Atualmente minha
atuação no tribal e fusões é muito mais intensa.
BLOG: Conte-nos como surgiu a ideia de criação do Curso de Formação em Tribal Fusion em Brasília. Como é o formato do
curso e sua proposta; qual seu diferencial e o que as alunas inscritas podem
esperar?
A
ideia do Curso de Formação é a de promover um aprendizado mais profundo e
focado, direcionado para quem já possui experiência no tribal, mas deseja
intensificar seus estudos e se profissionalizar. Além das aulas, o curso conta
com um programa de estudos que deve ser seguido semanalmente pelas alunas,
algumas avaliações e o encerramento com a formatura da turma. Esse processo
envolve um intenso acompanhamento e tem a duração de um ano.
Seguindo
o cronograma de treinos que será passado semanalmente, as alunas podem corrigir
eventuais falhas na postura, alinhamento, prevenir lesões e criar em poucas
aulas uma base sólida, que será útil durante todo o trajeto na dança. A
metodologia foi desenvolvida pensando não só na técnica em si, mas também no
preparo e evolução corporal. Depois da construção dessa base, as alunas têm um
percurso que vai do aperfeiçoamento técnico ao aperfeiçoamento profissional.
Essa
ideia é bem antiga, sempre senti falta de um ensino mais direcionado e
eficiente, mas não sabia exatamente em que formato seria. Durante muitos anos
amadureci essa proposta até chegar à conclusão de que um curso com início, meio
e fim, seria melhor para o aprendizado do que uma turma regular, onde muitas
vezes fica mais complicado nivelar as alunas.
Em
setembro de 2016 iniciamos a primeira turma do curso, que se formará em 2017.
Em
breve o Brasil poderá acompanhar o trabalho dessas bailarinas.
BLOG: Em sua opinião, o quê é tribal fusion?
Possibilidade de fusionar dança étnica com dança
contemporânea, utilizando a base de postura que foi disseminada pelo ATS® ou até mesmo, a “desconstrução” de posturas
do ATS®, para
adaptá-las em outro trabalho corporal.
BLOG:
O quê você mais gosta no tribal fusion?
Esteticamente
me encanta, acho as molduras corporais lindas e a possibilidade de fusionar
outros elementos, a liberdade musical e de interpretações. A filosofia por trás
do estilo e como começou o movimento tribal.
BLOG:
Como você descreveria seu estilo?
Fusão
contemporânea com bases étnicas. Gosto tanto das fusões mais étnicas, com cara
de folclore, quanto das fusões totalmente contemporâneas com um visual mais
minimalista.
BLOG:
Como você se expressa na dança?
Vivendo o
que eu danço, o que me inspira eu tento traduzir para a dança de maneira que
minhas experiências possam ser compartilhadas e vivenciadas também por quem
assiste.
BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu momento tribal favorito ou
inesquecível?
São
muitos, não sei classificar quais são os favoritos, todos foram durante
performances, aqueles momentos que você não quer que terminem, que a sua
comunicação com o público e com tudo em volta está tão intensa que se sente totalmente
presente e envolta naquela magia.
Em Buenos Aires tive um show com música ao
vivo, dancei uma música lindíssima que conheci um dia antes da performance, o
que me deu pouco tempo para coreografar então resolvi estruturá-la me baseando
em algumas experimentações, montar apenas uma forma geral da dança e a proposta
que eu queria levar para a cena, mas deixei um grande espaço para improvisar. Os
músicos que estavam envolvidos neste projeto estavam totalmente presentes e
trouxeram uma harmonia incrível no momento do show. Quando dancei com eles, foi
incrível a conexão de tudo em volta, foi muito forte, senti meus movimentos
tomando conta do meu corpo inteiro e deixei isso fluir no momento do improviso,
a sensação de sentir a movimentação saindo do corpo com tanta verdade e
sinceridade me marcou muito, aprendi muito com essa experiência, foi um dos
momentos em que eu mais me senti presente em toda a minha trajetória.
BLOG:
Quais seus projetos para 2016? E mais futuramente?
Meu principal
projeto é fortalecer as ações que iniciei em 2016. Existe um grande preparo
para o Imani Tribe Fest 2017 e, além disso, pretendo me organizar para
aprofundar meus estudos em algumas imersões fora do Brasil.
BLOG: Improvisar
ou coreografar? E por quê?
Acho que saber trabalhar com os dois é muito importante. É importante ter criações coreográficas e explorar a performance de uma forma em que tudo foi cuidadosamente calculado, testado e ensaiado, assim tudo tem uma chance muito maior de ter um bom resultado; mas também acho o improviso algo super enriquecedor, quando feito da forma correta. O problema é que hoje o improviso é associado à falta de cuidado com a preparação de uma performance. Mesmo sendo improviso, a nossa dança precisa ter forma, precisa ter coerência. Quando uma bailarina domina técnicas de improviso, ela consegue estabelecer essa relação e essa coerência mesmo que não tenha estruturado o improviso antes, e isso é uma experiência super valiosa que torna aquela performance única, mas acho bem arriscado tentar criar todo esse contexto na hora. Eu gosto de estruturar o improviso, caso ele aconteça. Saber exatamente onde vou improvisar, manter uma forma geral e uma ideia clara do que é aquela performance. Quando improviso procuro manter pelo menos 50% da performance bem estruturada, em pontos diferentes, e deixar uma liberdade para improvisar em alguns momentos, acho super válida essa proposta
BLOG:
Você trabalha somente com dança?
Atualmente
não trabalho somente com dança.
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Contato:
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