Entrevista #42: Raisa Latorraca

por Aerith


Nossa entrevistada do mês de outubro é a bailarina de Brasília-DF: Raisa Latorraca! Raisa nos conta sobre sua trajetória na dança, sua carreira internacional, sobre o estilo Gypsy Fusion e a importância da dança cigana no estudo do Tribal fusion, assim como ATS® e muito mais! Confira!!

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você? 
Acho que o meu interesse pela dança de modo geral deve ter começado antes de nascer, minha mãe também era bailarina e dançou enquanto ainda estava grávida de mim. Minhas aulas de ballet começaram aos 3 anos de idade e descobri a dança do ventre aos 14 anos, a partir daí me enveredei pelas danças orientais e nunca mais parei. Me encantei por vários estilos étnicos e sempre gostei de fusionar esses estilos com a dança do ventre. Meu estilo de dança do ventre nunca foi totalmente “tradicional”, pelo menos nos moldes que a gente encontra hoje no Brasil. Sempre gostei dos elementos do flamenco, das danças ciganas e de outras fusões mais contemporâneas também, então quando descobri o tribal me senti em casa.
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Ingrid Latorraca, minha mãe, porque além do laço emocional, ela é uma das bailarinas com mais presença de palco e expressão que eu já vi, sempre totalmente entregue em cena, sempre foi um grande exemplo.

Larissa Vitória, quem me introduziu no mundo das danças orientais, minha primeira professora de dança do ventre, por quem guardo muito respeito e admiração. 

Paula Braz, minha primeira professora de tribal, quem me fez buscar minhas bases no estilo, tem um trabalho impecável e é uma das minhas grandes referências. 

Paola Blanton, que sacudiu a minha forma de encarar várias coisas na dança de um modo geral por ter um trabalho libertador. 

Rachel Brice e Carolena Nericcio, pela energia, didática, trabalho irretocável e tudo o que elas representam na história da dança. 

Muitas outras professoras de diversos lugares do mundo foram extremamente importantes na minha trajetória, mas essas pessoas foram indiscutivelmente grandes marcos.

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Além do tribal estudei ballet clássico, jazz, flamenco, dança do ventre, ATS® e, atualmente, contemporâneo e alguns fundamentos de danças urbanas.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Eu tive e tenho milhões de inspirações, na dança e fora dela. Tudo o que me emociona tenho vontade de transformar em dança. Minha inspiração pode vir de qualquer lugar.

Na dança são várias, referências nacionais, internacionais, bailarinos e companhias de dança, não só de tribal, essa lista é enorme.

BLOG: O que a dança acrescentou em sua vida?
A dança sempre foi minha forma de expressão mais forte e algo que até ajudou a me educar, de certa forma. É muito comum eu assistir a alguns trabalhos, me emocionar, captar a mensagem e refletir sobre ela. A dança tem o poder de refinar e ensinar a importância dos pequenos detalhes. Tem um potencial filosófico poderoso por trás, útil e engrandecedor.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
A possibilidade de materializar e representar estados de espírito, personagens, situações, expressar ciclos da natureza, experiências de vida, experiências da história da humanidade, das coisas mais cotidianas até as mais míticas, um imaginário qualquer, coisas que elevem a consciência das pessoas. Perceber essa linguagem sutil e universal, estar em um lugar onde tudo é possível. Criar uma “paisagem mental” que transporta bailarino e público para qualquer realidade. Além de tudo isso, é uma arte que me faz aplicar a experiência na minha própria vida. A dança é um reflexo da minha vida e a vida é um reflexo da minha dança. Se durante a dança eu tomo alguma atitude certa para dominar algum problema ou emoção, é provável que eu tenha o mesmo resultado na vida também, se agir da mesma forma. Se você se sente desequilibrada ou ansiosa na sua dança, pode buscar onde isso está acontecendo na sua vida pessoal, porque certamente está em algum lugar, a dança reflete muito sobre nós e podemos aprender muito com isso.
  
BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?
Acho que o que prejudica a dança do ventre é a banalização que ela sofre pelas próprias “profissionais”. Bailarinas e professoras que atuam sem preparo. Não acho que o tribal esteja livre disso, pelo menos por aqui não tenho visto de forma tão exagerada como existe na dança do ventre, mas qualquer estilo de dança é um meio suscetível a isso dependendo do nível de comprometimento das profissionais.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Sim, por parte de pessoas que encaram a dança só como um entretenimento. Infelizmente a maior parte das pessoas não tem maturidade para encarar a arte de forma séria.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Tive várias frustrações e indignações durante o percurso sim. Sinceramente o caminho não é dos mais fáceis, além dos problemas internos próprios de qualquer meio artístico, os problemas externos também fazem a gente desanimar muitas vezes como a falta de incentivo e o fato de cultura e arte no nosso país serem tratadas como algo tão secundário e descartável, isso tudo deixa a situação ainda mais complicada. Viver a arte num período de decadência, onde tudo é banalizado, não é fácil e exige ainda mais compromisso e responsabilidade da nossa parte.

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
No geral, minhas conquistas são todas as pequenas coisas que me fazem sentir que cumpro meu papel como bailarina e como professora, é um grande objetivo sendo realizado um pouco a cada dia. Além das coisas que eu conquisto diariamente, algumas realizações que me marcaram são: a criação do Imani Tribe; o certificado de Sister Studio do FCBD®; ter tido a oportunidade de levar o Tribal Fusion para alguns lugares fora do Brasil e ter feedbacks positivos fora de casa, especialmente apresentar o Tribal na Turquia e ter uma resposta tão receptiva do público me emocionou muito porque as turcas foram sempre grandes inspirações para mim em vários processos de estudo e criação; o Curso de Formação em Tribal Fusion, um projeto muito especial, que exigiu bastante tempo para ser gerado; e uma das grandes conquistas pessoais foi ter coreografado para um dos meus grandes ídolos musicais, Hossam Ramzy, uma das minhas músicas favoritas, Immortal Egypt (Hossam Ramzy e Phil Thornton), e receber pessoalmente dele um feedback incrível, essa foi uma experiência muito significativa pra mim, daquelas que deixa a gente uma noite inteira sem dormir rsrsrs.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal em Brasília? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
A cena do tribal em Brasília está se fortalecendo cada vez mais, o interesse por parte das alunas vem crescendo e existem muitas pessoas aqui dispostas a estudar e a desenvolver trabalhos de qualidade. Ainda é uma estética desconhecida para grande parte do público, mas tem conquistado as pessoas com uma força impressionante. O mais interessante é ver que até o público relativamente “leigo” começa a entender diferenças entre uma estética e outra. Por exemplo, hoje em dia sou contratada para fazer shows de “tribal” por aqui, até pouco tempo atrás os contratantes chamavam tudo de “dança do ventre” e achavam que era tudo a mesma coisa, é interessante essa conquista do espaço no mercado. Infelizmente, apesar da conquista de espaço, os incentivos por parte da cidade e estado são poucos, então, na maioria das vezes, contamos só com o apoio do próprio meio para realização dos projetos.

BLOG: Anteriormente, você era membro da Cia Exotique Tribal, dirigida pelo bailarino Guigo Alves. Como foi sua participação no grupo nesse período?



Minha participação na Cia Exotique foi uma experiência muito importante na minha trajetória.

Mais ou menos 5 anos atrás recebi um convite do Guigo para criarmos um dueto, que foi uma experiência super interessante e que teve uma resposta imediata e bem positiva do público. Na época fizemos vários shows em uma taberna medieval (Mittelalter), que era um dos pontos culturais da cidade, com algumas bailarinas convidadas e demos o nome de “Exotique” para esse projeto na taberna. Esses shows começaram a crescer e começamos a criar um público grande em Brasília. A partir daí o Guigo inaugurou a Cia Exotique, que integrou algumas bailarinas que já trabalhavam com a gente nesses shows como convidadas. A experiência de participar da Cia Exotique foi muito válida e engrandecedora, o Guigo tem um comprometimento profissional intenso com os trabalhos que ele desenvolve e uma visão criativa e coreográfica ampla por conta das experiências com outras danças como ballet, jazz, etc., uma proposta que eu sempre gostei muito, também por ter tido contato desde pequena com outros estilos de dança. Acho sempre muito interessante o trabalho em grupo, bailarinos trabalhando juntos se complementam em vários aspectos e é uma troca incrível ver como é o processo criativo das outras pessoas.

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 
Durante meu percurso como coreógrafa, tive várias inspirações diferentes, mas sempre buscando estabelecer um imaginário muito específico por trás das criações. Partindo da ideia central, tento dar forma a esse imaginário por meio da identidade visual de cada coreografia. Acho que a composição de figurino e maquiagem tem que falar por si só. Quando o visual está conexo com a proposta coreográfica, todo mundo entende, logo no começo da cena, qual é o clima que vai ditar o andamento daquela performance e isso ajuda a ambientar o público no contexto coreográfico. Eu percebi que as coreografias que tiveram uma maior repercussão foram justamente, as que desenvolvi com um maior cuidado com a parte visual em si, não que a dança precise estar presa a figurinos e assessórios super elaborados, mas tudo precisa estar muito conexo e isso exige um bom tempo de estudo para cada cena e muitos testes. A técnica precisa ser absolutamente coerente com a proposta coreográfica para possibilitar que as bailarinas criem o ambiente mental necessário para expressar com maior qualidade a ideia central; para mim, uma performance tem que despertar sentimento e fazer com que o público vivencie o que está sendo dançado naquele momento, nesses trabalhos que tiveram maior repercussão também percebi que eu não existiam dúvidas do que aquela performance representava por parte das bailarinas, todo o contexto havia sido criado com riqueza de detalhes, com isso , claro acho muito mais fácil a entrega em cena e a expressão da ideia central, é incrível a diferença que isso faz.

BLOG: Você é uma das criadoras do Imani Ateliê destinado a figurinos para o Tribal. Como surgiu a ideia ou oportunidade de formá-lo? Como é o processo criativo para as linhas e suas inspirações para a composição das mesmas? Há alguma curiosidade a respeito do nome do ateliê?



O Imani Ateliê nasceu da vontade e necessidade de criar uma identidade visual. Como eu quase nunca encontrava figurinos e acessórios que me agradassem na época, comecei a desenhá-los para fazer por conta própria. Sou privilegiada por ter pais muito talentosos na arte e artesanato, minha mãe (Ingrid) dava vida aos figurinos que eu desenhava de uma forma impressionante e, desde 2015, meu pai (Pedro) também integrou o ateliê produzindo nossas peças de couro.  

As produções iniciais eram inspiradas nos movimentos do orientalismo, belle époque e elementos étnicos, principalmente de culturas orientais. Por conta da grande demanda, o ateliê criou vida de uma maneira muito rápida e nossa equipe continua se expandindo, sob a nossa direção. Ao longo da trajetória, Ingrid Latorraca, que hoje é a grande responsável pelo design de figurinos, trouxe outras influências e inspirações baseadas em estéticas culturais que deram origem a outras linhas como a Maia e Celta, por exemplo. Após o lançamento da última linha, Gypsy, o artesanato em couro também ganhou um grande peso no ateliê, conduzido por Pedro Xavier.

BLOG: Conte-nos como surgiu a Imani Tribe, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora. Como é o processo de introdução de novos integrantes?



Respondendo também à pergunta anterior, “Imani” é uma palavra africana que, ao pé da letra significa a devoção a algo, mas o que mais me chamou atenção nessa palavra é que em alguns países da África, quando alguém deseja algo positivo, como “boa sorte”, é comum as pessoas responderem “Imani”. Ela é utilizada como uma palavra de poder para concretizar alguma coisa.



O Imani Tribe é meu laboratório coreográfico, é uma assinatura de todos os trabalhos que eu desenvolvo, ele tem uma estrutura um pouco diferente das outras companhias de dança de que fiz parte. Para cada coreografia escolho as bailarinas que serão convidadas, dentre minhas alunas e parceiras. Atualmente escolho as integrantes com base no tipo de trabalho coreográfico porque apesar de o estilo predominante ser o tribal fusion, às vezes exploramos outros elementos, então é necessário que as integrantes tenham uma experiência com outros estilos de dança também. Em 2017 será aberto um processo de seleção para nova coreografia.

BLOG: Você é produtora do evento Imani Tribe Fest desde 2014, os quais se destacam como um dos principais eventos de dança tribal. Conte-nos como surgiram as idéias de cada evento, suas propostas, objetivos, organização, realização e diferenças entre si, bem como suas repercussões do mesmo para a comunidade tribal quanto para seu público.
A ideia primordial do Imani Tribe Fest é ser um intercâmbio de conhecimento e experiências. O evento engloba cursos, imersões e o show com a participação de bailarinos e músicos convidados. A cada edição contamos com atrações diferentes e nos inspiramos em diversos temas. A primeira edição realizada, foi a “Balkanic Explosion!”, com a vinda de Paola Blanton. Fizemos uma imersão no tema Gypsy Balkan e o show contou com a presença, além de grandes bailarinos da cidade, também de Paola Blanton (Macedônia), Maria Badulaques (São Paulo), Marcelo Justino (São Paulo) e da banda de música oriental e fusões: Kervansarai.

Na segunda edição, realizamos o “Laboratório de Música e Dança”, com temas variados que englobaram tribal fusion, ATS®, dança indiana, dança contemporânea, teatro na dança, e música oriental, com os professores: Amanda Rosa, Iago Gabriel, Mirabai, Nara Faria, Raisa Latorraca, Amanda Zayek, Bernardo Bittencourt e Bety Vinyl. O show da segunda edição foi realizado ao ar livre, com feirinha e food trucks. Praticamente toda a cena do tribal fusion de Brasília estava presente e contamos também com a participação do Kervansarai e dos músicos convidados: Mahmoud el Masri (Egito) e Paulo Nagô (São Paulo). Foi um evento muito divertido e agradável, com uma energia incrível, tivemos muitos feedbacks positivos do público e dos artistas convidados.

Fiquei muito feliz com o resultado que esses eventos vêm trazendo a nossa cidade e pretendo seguir com propostas e formatos diferentes. Eu, como público, adoro participar de experiências novas, em ambientes agradáveis e confortáveis então busco sempre estar atenta a todos os detalhes importantes para criar um clima especial para os artistas e deixar nosso público à vontade.
  
BLOG: Atualmente, você participa dançando nos shows da banda Kervansarai. Como surgiu a oportunidade de parceria? Como é a experiência de dançar juntamente com a banda ao vivo?



O Kervansarai tem um trabalho solidificado há bastante tempo com músicas orientais e fusões, e sempre fui uma grande admiradora da banda. Eles contavam com a participação de bailarinas de dança do ventre em alguns shows e em 2013 fui convidada para fazer minha primeira participação em um show deles. Nesse show fiz uma performance de fusão com tribal e a partir daí começamos a trabalhar intensamente juntos. Eu já havia participado de experiências anteriores dançando com música ao vivo, mas sempre em performances de dança do ventre e com outra instrumentação. O Kervansarai tem um trabalho diferenciado que vai muito além das músicas árabes, eles trazem várias outras influências étnicas também, o que criou uma grande sintonia com meu trabalho, por ser uma busca de elementos muito parecidos, são músicas perfeitas para trabalhar o lado do tribal mais étnico e oriental que eu também adoro.



A sensação de dançar com música ao vivo realmente é muito diferente. Quando participamos de uma performance com música ao vivo, é muito forte sentir toda a cena artística sendo construída naquele momento, música e dança, tudo acontecendo na hora, é incrível essa sensação. Independente da minha performance ser totalmente coreografada ou improvisada, a magia que envolve essa cena com música e dança é sempre muito forte. 

BLOG: Como surgiu a paixão pelas danças balcânicas e, em sua opinião, qual relação ou importância dessas danças com a dança tribal? 
A cultura cigana sempre foi uma fonte muito forte de estudo e inspiração para mim, mas as danças e músicas balcânicas, por alguma razão, são as que mais mexem comigo. Não sei especificar exatamente como surgiu a paixão pelo Gypsy Balkan, mas foi há muito tempo. Na época, eu ouvi “acidentalmente” algumas músicas balcânicas e amei, mas não sabia exatamente o que elas eram, de onde eram e não tinha muitas referências. Por me agradar tanto musicalmente fui pesquisar a respeito, buscar o que era dançado nelas e me encantei com o todo. Foi uma questão de afinidade natural.

Depois que entrei no universo do tribal, senti uma liberdade maior para fusionar elementos diferentes. Sem dúvida os ciganos nos influenciaram muito em postura física e mental, movimentação, figurinos, dentre outras coisas.

Da paixão por essa cultura, trouxa a Paola Blanton (cigana da Macedônia) para Brasília no Imani Tribe Fest em 2015, na tentativa de difundir esse universo que. para mim, é encantador. Em 2017 pretendo participar de uma imersão cultural na Macedônia organizada por ela e talvez estender viagem para outros países onde possa ter acesso à cultura balcânica.

Como as danças ciganas nos influenciaram muito, de um modo geral, independente da região, acredito que estudá-las é uma ótima oportunidade de resgatar um pouco das nossas origens.

BLOG: Qual a importância que você vê no ATS®?  Como é fazer parte de um grupo de ATS®? 
O ATS® tem uma importância muito significativa no meio da dança: um resgate do espírito do trabalho em grupo. Talvez até mais que um resgate, acho que a estrutura de improviso coletivo trouxe o contexto de “Tribo” para a dança oriental de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Em Brasília, decorrente da minha parceria com Amanda Zayek e Gabi Ribeiro, surgiu o “Clann”, grupo de ATS®, cujo próprio nome carrega a ideia, de um grupo que se reúne em função de algo maior da forma mais colaborativa possível. A palavra “Clann” vem do gaélico e significa “crianças de uma mesma família”.

Fazer parte de um grupo de ATS® é realmente como fazer parte de um clã, onde todas têm um papel essencial, onde se pode compartilhar experiências e onde podemos contar com as pessoas que estão ali. É fazer parte de uma família, confiar, saber ceder e construir em conjunto.

BLOG: Em abril de 2015, você esteve em uma imersão em São Paulo, realizado pelo Festival Campo das Tribos, a estudos pela dança tribal e por sua certificação em ATS® com a criadora do estilo, Carolena Nericcio, e Megha Gavin. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de certificação (General Skills/ Teacher Training1 e 2) e como se alcança o tão estimado selo de Sister Studio. E qual importância de conseguir tal certificação, em sua opinião.



O Sister Studio representa algo muito significativo e com ele eu sinto que recebi uma grande responsabilidade. A professora graduada representa o estilo no formato desenvolvido pela criadora do ATS® e tem a missão difundir o espírito do estilo, é um voto de confiança. Uma Sister Studio deve difundir o ATS® da forma como ele é ensinado pela Carolena Nericcio, e isso tudo é uma experiência muito válida, poucas pessoas têm a oportunidade de ter contato direto com a fonte de algo que se ama e, além de tudo isso, ela tem uma didática incrível. 



No General Skills é repassado o conteúdo e no Teacher Traning você aprende a ser a melhor professora que você pode, considerando todos os detalhes que são extremamente importantes para suas alunas. No Teacher Traninig você passa por uma prova, a de ensinar no formato do FCBD® e é avaliada por Carolena Nericcio e Megha Gavin. A experiência do Teacher Training me ajudou bastante como professora de um modo geral, realmente é um aprendizado pedagógico que você pode estender para diversos ramos da sua vida. No ATS®, acho extremamente importante que se entenda como ela ensina, mesmo que não se faça a certificação. Acho importante seguir o fluxo de acordo com o que ela estabeleceu porque além de criadora, ela estruturou tudo pensando nos melhores resultados que essa didática pode gerar. Acho que uma coisa que se deve ter em mente na busca desse título é seu propósito, a razão principal de fazer a certificação: é algo feito com o intuito de dar continuidade e manter o ATS® como ele é ensinado hoje por elas; é importante que uma Sister Studio esteja preparada para assumir esse compromisso.

BLOG: Hoje contamos com diversos recursos de estudos. O próprio FCBD® vem lançando materiais muito bons nos últimos anos. Em relação ao estudo de ATS®, que dicas você daria para aqueles que ainda não podem estudar com uma professora do estilo, mas que gostariam de aprender mais sobre o mesmo, tanto na teoria quanto na prática? 
Eu acho importante ter uma professora que possa orientar e acompanhar o estudo, principalmente no começo, muitas vezes é difícil corrigir sua própria postura, entender detalhes de posicionamento corporal e de passos assistindo por meio de vídeos; acho importante ter alguém para orientar presencialmente, facilitar o aprendizado e evitar que alguma coisa mal feita resulte em uma lesão. Tanto para quem realmente não tem a opção de ter a aula presencial, quanto para quem tem uma professora à sua disposição, o FCBD® tem um universo de material de estudo que vale a pena conferir. Assistir aos DVDs é um passo obrigatório para começar, além dos DVDs existem outros materiais de qualidade e uma ótima opção é pegar as aulas online com a Carolena, especialmente para tirar dúvidas.

BLOG: Além de ser bailarina e professora de tribal fusion, você também é de dança do ventre. Na sua opinião, há dificuldades em coexistir as duas modalidades? Quais são os benefícios da dança do ventre para o tribal fusion e vice-versa?  
Hoje em dia estou muito mais atuante no tribal fusion do que na dança do ventre, mas ainda gosto muito dos elementos orientais também, além da influência mais contemporânea do tribal. No começo senti uma grande dificuldade em manter as duas modalidades simultaneamente, acho que a dança do ventre ajuda na questão de técnica de quadril, consciência muscular para o tribal, etc., são técnicas diferentes, mas com certeza uma coisa agrega muito valor e qualidade de movimento à outra. Realmente é um pouco complicado mudar a formatação de uma coisa para outra na hora de dançar, mas é totalmente possível. Atualmente minha atuação no tribal e fusões é muito mais intensa.

BLOG: Conte-nos como surgiu a ideia de criação do Curso de Formação em Tribal Fusion em Brasília. Como é o formato do curso e sua proposta; qual seu diferencial e o que as alunas inscritas podem esperar?



A ideia do Curso de Formação é a de promover um aprendizado mais profundo e focado, direcionado para quem já possui experiência no tribal, mas deseja intensificar seus estudos e se profissionalizar. Além das aulas, o curso conta com um programa de estudos que deve ser seguido semanalmente pelas alunas, algumas avaliações e o encerramento com a formatura da turma. Esse processo envolve um intenso acompanhamento e tem a duração de um ano.

Seguindo o cronograma de treinos que será passado semanalmente, as alunas podem corrigir eventuais falhas na postura, alinhamento, prevenir lesões e criar em poucas aulas uma base sólida, que será útil durante todo o trajeto na dança. A metodologia foi desenvolvida pensando não só na técnica em si, mas também no preparo e evolução corporal. Depois da construção dessa base, as alunas têm um percurso que vai do aperfeiçoamento técnico ao aperfeiçoamento profissional.

Essa ideia é bem antiga, sempre senti falta de um ensino mais direcionado e eficiente, mas não sabia exatamente em que formato seria. Durante muitos anos amadureci essa proposta até chegar à conclusão de que um curso com início, meio e fim, seria melhor para o aprendizado do que uma turma regular, onde muitas vezes fica mais complicado nivelar as alunas.

Em setembro de 2016 iniciamos a primeira turma do curso, que se formará em 2017.

Em breve o Brasil poderá acompanhar o trabalho dessas bailarinas.

BLOG: Em sua opinião, o quê é tribal fusion?
Possibilidade de fusionar dança étnica com dança contemporânea, utilizando a base de postura que foi disseminada pelo ATS® ou até mesmo, a “desconstrução” de posturas do ATS®, para adaptá-las em outro trabalho corporal.

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
Esteticamente me encanta, acho as molduras corporais lindas e a possibilidade de fusionar outros elementos, a liberdade musical e de interpretações. A filosofia por trás do estilo e como começou o movimento tribal.

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Fusão contemporânea com bases étnicas. Gosto tanto das fusões mais étnicas, com cara de folclore, quanto das fusões totalmente contemporâneas com um visual mais minimalista.

BLOG: Como você se expressa na dança?
Vivendo o que eu danço, o que me inspira eu tento traduzir para a dança de maneira que minhas experiências possam ser compartilhadas e vivenciadas também por quem assiste.

BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu momento tribal favorito ou inesquecível? 
São muitos, não sei classificar quais são os favoritos, todos foram durante performances, aqueles momentos que você não quer que terminem, que a sua comunicação com o público e com tudo em volta está tão intensa que se sente totalmente presente e envolta naquela magia. 

Em Buenos Aires tive um show com música ao vivo, dancei uma música lindíssima que conheci um dia antes da performance, o que me deu pouco tempo para coreografar então resolvi estruturá-la me baseando em algumas experimentações, montar apenas uma forma geral da dança e a proposta que eu queria levar para a cena, mas deixei um grande espaço para improvisar. Os músicos que estavam envolvidos neste projeto estavam totalmente presentes e trouxeram uma harmonia incrível no momento do show. Quando dancei com eles, foi incrível a conexão de tudo em volta, foi muito forte, senti meus movimentos tomando conta do meu corpo inteiro e deixei isso fluir no momento do improviso, a sensação de sentir a movimentação saindo do corpo com tanta verdade e sinceridade me marcou muito, aprendi muito com essa experiência, foi um dos momentos em que eu mais me senti presente em toda a minha trajetória.

BLOG: Quais seus projetos para 2016? E mais futuramente?
Meu principal projeto é fortalecer as ações que iniciei em 2016. Existe um grande preparo para o Imani Tribe Fest 2017 e, além disso, pretendo me organizar para aprofundar meus estudos em algumas imersões fora do Brasil.

BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?



Acho que saber trabalhar com os dois é muito importante. É importante ter criações coreográficas e explorar a performance de uma forma em que tudo foi cuidadosamente calculado, testado e ensaiado, assim tudo tem uma chance muito maior de ter um bom resultado; mas também acho o improviso algo super enriquecedor, quando feito da forma correta. O problema é que hoje o improviso é associado à falta de cuidado com a preparação de uma performance. Mesmo sendo improviso, a nossa dança precisa ter forma, precisa ter coerência. Quando uma bailarina domina técnicas de improviso, ela consegue estabelecer essa relação e essa coerência mesmo que não tenha estruturado o improviso antes, e isso é uma experiência super valiosa que torna aquela performance única, mas acho bem arriscado tentar criar todo esse contexto na hora. Eu gosto de estruturar o improviso, caso ele aconteça. Saber exatamente onde vou improvisar, manter uma forma geral e uma ideia clara do que é aquela performance. Quando improviso procuro manter pelo menos 50% da performance bem estruturada, em pontos diferentes, e deixar uma liberdade para improvisar em alguns momentos, acho super válida essa proposta

BLOG:  Você trabalha somente com dança? 
Atualmente não trabalho somente com dança.

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Contato:
Cel: 
(61) 98142-0412
E-mail:
raisalatorraca@gmail.com

















 
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