[Índia em Dia] Tribhanga - Dança Indiana, Dialética e Netflix

por Raphael Lopes



Olá pessoal, Namaskar! ^^

Primeiramente espero encontrar cada um de vocês em saúde e alegria neste novo ano que se inicia justamente após um período que vem sendo tão angustiante para a sociedade, e para nós, bailarinos e professores isolados do palco e salas de aula presenciais. Sabemos e aprendemos no fazer arte, uma forma de ao se adaptar às novas realidades, encontrar formas de resistirmos e nos reinventarmos.
 
Nesse cenário surgiram oficinas, lives, workshops, cursos e aulas em formato online, o que sem sombra de dúvida trouxe um mar de novos conhecimentos para aqueles que decidiram se ocupar nesse intervalo em consumir e aproveitar as novas trocas surgidas. Foi nesse interim, por exemplo, que surgiu o FADINB (Fórum a Dança Indiana No Brasil) que abriu espaço para a dialética na dança - a oportunidade de discutir e conhecer novos argumentos, tirando a dança das nossas caixinhas de certezas e abrindo por meio da discussão, uma nova forma de contextualizar a dança produzida e ofertada.


E justamente contemplando toda essa discussão, a Netflix nos presenteou com um filme muito peculiar da diretora Renuka Shahane: Tribhanga - Tedhi Medhi Crazy. O filme, muito embora com o nome direcionando claramente a famosa postura da dança Odissi, está longe de ser um filme de dança, mas sim um enredo que aborda a vida de uma bailarina e seus dramas familiares.

O filme narra a história de três gerações de uma mesma família: Nayantara (Tanvi Azmi), uma aclamada escritora e mãe da bailarina Anuradha (Kajol). Logo nos primeiros minutos do filme, vemos a bailarina fumando um cigarro minutos antes de entrar em cena, trazendo a baila a discussão sobre as eternas superstições que cercam com uma aura de eterno misticismo e pureza das bailarinas. Infelizmente a diretora não se arriscou ir por esse lado, uma vez que a crítica ao conservadorismo ainda seja algo muito tímido entre os bailarinos e gurus mais conservadores. Por fim, temos Mithali Palkar que interpreta Masha, a filha de Anuradha, que decide seguir um caminho diferente da mãe e da avó...


O filme narra a história de três mulheres, mães solteiras, em suas lutas diárias, os traumas do abuso por parte de uma sociedade machista, até encontrarem na doença de sua matriarca o ápice das resoluções dos sonhos e papéis de cada uma. Dessa forma, o filme (que poderia sim ter sido enriquecido com cenas de dança) traça um paralelo entre as personalidades das personagens e as poses esculturais da dança Odissi. Anuradha, a bailarina, é o próprio Tribhanga - a postura com tripla flexão (cabeça, torso e pernas). Sua mãe Nayantara é a postura Abhanga, onde o corpo é levemente inclinado à esquerda, sinalizando sua própria inclinaçao sutil às artes. Masha assim se torna Samabhanga, a postura "simples", de pé e de frente a vida comum... Tribhanga claramente se refere as três mulheres, numa dança familiar explorado nesse filme que estreeou na Netflix no dia 15 de Janeiro (2021).

Mais do que um filme de dança, Tribhanga nos traz reflexões valorosas sobre a vida, tomando a poesia em ver lado lado as vicissitudes o bailar da vida. Vale a pena assistir esse filme, e lembrar que devemos, antes de mais nada, trazer a dança para as nossas vidas para além dos palcos.



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Índia Em - Dia


Raphael Lopes (São Paulo-SP) é bailarino de dança clássica indiana Odissi e tem levado à dança aos cenários dos Festivais e Encontros nacionais defendendo seu caráter sagrado, conscientizando as novas gerações a buscar um aprofundamento tradicional evitando a macula à essa refinada e sofisticada forma de arte. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 
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