[Entrando na Roda] Senhas fantásticas e onde habitam

por Natália Espinosa
Foto por Carrie Meyer – The Dancers Eye – Grupo das Brasileiras no ATS® Homecoming 2017. Na foto: Kelsey Suedmeyer, Rebeca Piñeiro, Mariana Esther e Ana Asch.

É muito comum uma aluna nova com alguma ideia do que é o ATS® chegar em minha aula cheia de questionamentos sobre as senhas/chaves/sinais (ou “cues”, em inglês) do ATS®, me perguntando quais são, se tem que decorar, dizendo que quer aprender todas.

Sempre acho curiosa essa ansiedade em relação a algo que deveria vir para ajudar, facilitar e tranquilizar. Cheguei à conclusão de que muita gente não entende bem para que servem as senhas e a que ponto devemos nos preocupar em conhece-las. Por isso dedico este artigo a destrinchar seu uso e não-uso e também informar quais são as principais, para ajudar!

O ATS® é uma dança de IMPROVISAÇÃO COORDENADA EM GRUPO. Isso significa: mais de uma pessoa dançando de improviso de uma forma harmônica, executando movimentos quase sempre iguais. Ainda não existe um mecanismo com eficácia comprovada para leitura de mentes, então só existem duas formas de saber o que a/o líder vai fazer: prestando atenção na angulação do seu corpo e observando suas costas, braços e cabeças para ver se ela/e dá algum sinal de que executará determinado movimento (esse sinal é a senha, a cue). Giros complexos e movimentos rápidos que não são contínuos precisam desse indicativo, em geral. Mas não são todos os movimentos que possuem uma senha específica, e isso dá nó na cabeça do aluno. Que professora/professor nunca recebeu um olhar confuso ao responder que a senha do movimento é entrar nele? 

Chegamos a um dos principais pontos a serem abordados aqui:
MOVIMENTOS CONTÍNUOS NÃO PRECISAM DE SENHA.


Movimentos como um giro ou caminhada com o taxeem, com o bodywave, arm undulations ou chest circle não precisam ser sinalizados. É possível perceber, através da observação da/o líder com a visão periférica, que o corpo está mudando de angulação. Essa seria a sinalização. Outro exemplo é o Torso Twist: apenas de adotar a postura característica do movimento é possível entender que ele será executado. Sua postura inicial é uma senha em si. Movimentos rápidos com essa característica são: egyptian, pivot bump, shimmy, arabic hip twist, sunanda, box step, single e double bump, arabic shimmy with arms (o giro tem uma senha, mas antes do giro é só entrar na postura), double back, reach and sit, resham-ka.  Você pode pensar que existe a senha e que a senha é assumir a postura do movimento entre o contratempo entre um compasso e outro e a contagem de 1 do compasso. Mas não há uma mão, um movimento de braço ou uma cabeça que vá indicar uma mudança – se você pensar, MUITOS movimentos no ATS® não têm senha! 

Alguns movimentos possuem senha de cabeça, que consiste em olhar para um lado ou para o outro na contagem de 1. Essa senha precisa ser bem evidente pra quem segue. Movimentos que possuem senha de cabeça: triple egyptian (direita), egyptian sevillana (esquerda), arabic hip twist flourish, alabama twister, double back ½ turn. Você pode pensar que o turkish ½ turn e o arabic hip twist ½ turn possuem cabeça porque olhamos para o lado pretendido 1 tempo antes de virarmos o corpo, mas isso se mantém durante todo o tempo que executamos o movimento então eu, particularmente, não considero uma senha.
Senhas de braço são muito comuns. Pode ser levando os dois braços do plano alto pro médio (mantendo, como no arabic 1-2-3, ou descendo e subindo, como no arabic with double turn, corkscrew turn e Strong arm variação 3), levando o braço direito do plano alto para o médio com uma flexão leve de punho e descida (propellor turn, zipper petal, medusa ATS®) ou do plano alto para médio com retorno (water pot), levando o braço esquerdo do plano alto para o plano médio e voltando (Strong Arm variação 2). Existem também as senhas de erguer os braços, como no TSWAT, turkish shimmy ¼ turn, roundhouse.

Algumas senhas eu defino como mudança de ângulo de corpo. Penso nisso para quase todos os outros passos, os que a senha é “entrar no movimento”, mas algumas são bem importantes: no egyptian temos a famosa senha do ½ turn, na qual você lateraliza levemente sua angulação nas contagens de 1 e de 3, e o full turn no qual você repete a senha já estando no ½ turn; o pré-giro do ASWAT, a antiga senha do Egyptian sevillana antes de existir a senha da cabeça... essas são senhas dentro do movimento para uma abordagem progressiva de execução. Justamente por isso o segundo e último ponto que quero destacar é:

ATENÇÃO TOTAL À/AO LÍDER UTILIZANDO SUA VISÃO PERIFÉRICA, SEMPRE!!

Entrar no movimento é a senha mais comum, então é importante que estejamos cientes de como o corpo de nossa/o líder está se movendo e que, se formos líderes, precisamos ser claros mais nessas entradas de movimento do que em senhas fáceis, como as de braço e mão. Precisamos fazer aquela diagonalização do box step, não entrar num chico depois de um pivot bump pra não confundir, saborear a etapa de preparação de cada passo complexo com giro no lento pra dar tempo de todo mundo pescar o que será feito a seguir.

O ATS® é principalmente sobre conexão e atenção. As senhas estão aí para facilitar, mas é necessário praticar esse olhar compartilhado entre o público e o corpo de quem lidera. Essa é a forma mais fácil de executar uma dança limpa, natural e fluida!



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