por Natália Espinosa
É muito comum uma aluna nova com alguma ideia do que é o ATS®
chegar em minha aula cheia de questionamentos sobre as
senhas/chaves/sinais (ou “cues”, em inglês) do ATS®, me perguntando quais são,
se tem que decorar, dizendo que quer aprender todas.
Sempre acho curiosa essa ansiedade em relação a algo que
deveria vir para ajudar, facilitar e tranquilizar. Cheguei à conclusão de que
muita gente não entende bem para que servem as senhas e a que ponto devemos nos
preocupar em conhece-las. Por isso dedico este artigo a destrinchar seu uso e
não-uso e também informar quais são as principais, para ajudar!
O ATS® é uma dança de IMPROVISAÇÃO COORDENADA EM GRUPO. Isso
significa: mais de uma pessoa dançando de improviso de uma forma harmônica,
executando movimentos quase sempre iguais. Ainda não existe um mecanismo com
eficácia comprovada para leitura de mentes, então só existem duas formas de
saber o que a/o líder vai fazer: prestando atenção na angulação do seu corpo e
observando suas costas, braços e cabeças para ver se ela/e dá algum sinal de
que executará determinado movimento (esse sinal é a senha, a cue). Giros
complexos e movimentos rápidos que não são contínuos precisam desse indicativo,
em geral. Mas não são todos os movimentos que possuem uma senha específica, e
isso dá nó na cabeça do aluno. Que professora/professor nunca recebeu um olhar
confuso ao responder que a senha do movimento é entrar nele?
Chegamos a um dos
principais pontos a serem abordados aqui:
MOVIMENTOS CONTÍNUOS NÃO PRECISAM DE SENHA.
Movimentos como um giro ou caminhada com o taxeem, com o
bodywave, arm undulations ou chest circle não precisam ser sinalizados. É
possível perceber, através da observação da/o líder com a visão periférica, que
o corpo está mudando de angulação. Essa seria a sinalização. Outro exemplo é o
Torso Twist: apenas de adotar a postura característica do movimento é possível
entender que ele será executado. Sua postura inicial é uma senha em si.
Movimentos rápidos com essa característica são: egyptian, pivot bump, shimmy,
arabic hip twist, sunanda, box step, single e double bump, arabic shimmy with
arms (o giro tem uma senha, mas antes do giro é só entrar na postura), double
back, reach and sit, resham-ka. Você
pode pensar que existe a senha e que a senha é assumir a postura do movimento
entre o contratempo entre um compasso e outro e a contagem de 1 do compasso.
Mas não há uma mão, um movimento de braço ou uma cabeça que vá indicar uma
mudança – se você pensar, MUITOS movimentos no ATS® não têm senha!
Alguns movimentos possuem senha de cabeça, que consiste em
olhar para um lado ou para o outro na contagem de 1. Essa senha precisa ser bem
evidente pra quem segue. Movimentos que possuem senha de cabeça: triple
egyptian (direita), egyptian sevillana (esquerda), arabic hip twist flourish,
alabama twister, double back ½ turn. Você pode pensar que o turkish ½ turn e o
arabic hip twist ½ turn possuem cabeça porque olhamos para o lado pretendido 1
tempo antes de virarmos o corpo, mas isso se mantém durante todo o tempo que
executamos o movimento então eu, particularmente, não considero uma senha.
Senhas de braço são muito comuns. Pode ser levando os dois
braços do plano alto pro médio (mantendo, como no arabic 1-2-3, ou descendo e
subindo, como no arabic with double turn, corkscrew turn e Strong arm variação
3), levando o braço direito do plano alto para o médio com uma flexão leve de
punho e descida (propellor turn, zipper petal, medusa ATS®) ou do plano alto
para médio com retorno (water pot), levando o braço esquerdo do plano alto para
o plano médio e voltando (Strong Arm variação 2). Existem também as senhas de
erguer os braços, como no TSWAT, turkish shimmy ¼ turn, roundhouse.
Algumas senhas eu defino como mudança de ângulo de corpo.
Penso nisso para quase todos os outros passos, os que a senha é “entrar no
movimento”, mas algumas são bem importantes: no egyptian temos a famosa senha
do ½ turn, na qual você lateraliza levemente sua angulação nas contagens de 1 e
de 3, e o full turn no qual você repete a senha já estando no ½ turn; o
pré-giro do ASWAT, a antiga senha do Egyptian sevillana antes de existir a
senha da cabeça... essas são senhas dentro do movimento para uma abordagem
progressiva de execução. Justamente por isso o segundo e último ponto que quero
destacar é:
ATENÇÃO TOTAL À/AO LÍDER UTILIZANDO SUA VISÃO PERIFÉRICA,
SEMPRE!!
Entrar no movimento é a senha mais comum, então é importante
que estejamos cientes de como o corpo de nossa/o líder está se movendo e que,
se formos líderes, precisamos ser claros mais nessas entradas de movimento do
que em senhas fáceis, como as de braço e mão. Precisamos fazer aquela
diagonalização do box step, não entrar num chico depois de um pivot bump pra
não confundir, saborear a etapa de preparação de cada passo complexo com giro
no lento pra dar tempo de todo mundo pescar o que será feito a seguir.
O ATS® é principalmente sobre conexão e atenção. As senhas
estão aí para facilitar, mas é necessário praticar esse olhar compartilhado
entre o público e o corpo de quem lidera. Essa é a forma mais fácil de executar
uma dança limpa, natural e fluida!