por Ju Najlah
Badia Masabni, a madrinha da dança oriental, nasceu no Líbano (que na época era parte da Síria) e mudou-se para o Egito no início do século XX, onde estabeleceu-se. Alguns anos mais tarde, em 1926, ela abriu o primeiro music hall egípcio, no Cairo – um centro cultural da época. Badia nomeava o seu cabaré "Opera Casino" (que era o nome oficial), mas ele também era conhecido como "Badia's Casino" ou "Madame Badia's Cabaret". A boate oferecia uma variedade de entretenimento como cantores, bailarinas e comediantes. Lá estiveram atuando grandes estrelas, entre elas Naima Akef , Taheya Carioca e Sâmia Gamal, que eram treinadas pela própria Badia, tendo as duas ultimas se tornado as dançarinas mais famosas, extraordinárias, influentes e inovadoras do meio do século XX. Trabalhava com uma equipe completa composta de músicos, tais como Farid El Atrashe e Mohamed Abdul Wahab. Este cassino foi frequentado por intelectuais egípcios e pela aristocracia nacional e estrangeira da época.
O casino de Badia foi modelado de acordo com os cabarés europeus, a fim de atrair tanto o público do Oriente Médio quanto o da Europa, que visitava o Egito cada vez mais. Seu Casino começou de fato a apelar para uma variedade de públicos provenientes de todo o mundo. Foi mais do que um simples cabaré, foi a sede social mais popular do Cairo. Comediantes como o Sírio Naguib al-Rihani tiveram sua passagem no Badia's. Rihani, cujo apelido era ‘Kesh-Kesh Bey’ tornou-se marido de Badia. Foi seu único casamento e durou por longo tempo.
Durante a década de 1940 o Badia's Casino fez história mundial, no período da Segunda Guerra Mundial, quando a máquina de propaganda de Hitler achou necessário atacar Madame Badia acusando-a de ser uma traidora, uma perigosa espiã britânica e uma agente secreta. Era do conhecimento geral que o filho de Churchill e do Duque de Gloucester tinham estado no seu cassino.
Uma das maiores contribuições que ela fez a dança oriental foi inovar a dança fora das tradições de chaabi ou dança popular. Antes, por exemplo, a dançarina tinha um repertório limitado de movimentos de braço, então Badia teve a ideia de explorá-los para os lados, de elevá-los acima da cabeça, usando gestos mais fluentemente, o que mais tarde ficou conhecido como braços de serpente. Ela influenciava não só a forma como os bailarinos mexiam seus braços, mas também a forma de utilização do espaço do palco. As ghawazee e almeeh dançavam quase exclusivamente em um determinado local. Agora, as bailarinas eram obrigadas a usar todo o palco, que era maior do que o que estavam acostumadas. Badia Masabni foi pioneira na utilização de coreografias. Como o público, ao ver a bailarina de costas não podia ver perfeitamente os belos movimentos, adereços como o véu foram incorporados ao baile show. Talvez ela tenha sido inspirada por uma mostra de Isadora Duncan (1877-1927) em Paris. O véu teve mais efeito na apresentação para um público distante. Badia Massabni foi a grande responsável pela primeira fusão do ballet com a dança do ventre, dando origem ao estilo hoje conhecido no Ocidente, além de tornar clássico o uso da roupa bustiê/cinturão que também é chamado de figurino hollywoodiano. De fato, a utilização de véus e dos trajes de duas peças foram inspirados pelas produções cinematográficas Hollywoodianas, como muitos cartazes de filmes podem comprovar. Foi lá também que surgiram os primeiros grandes nomes da dança, como Samia Gamal e Tahia Carioca.
Além disso, outra grande ideia de madame Masabni foi adicionar músicos clássicos formados para a linha tradicional de riqq, derboukka e ney ou zurna. O taqsim ou improvisação musical alterou o ritmo linear do maqsoum ou baladi. Takasim foram feitas no chamado tsifteteli ou Wahda al Tawila ou de outra forma sobre os Masmoudi, uma batida baladi lenta. O ritmo tsifteteli era de fato típico, mas não egípcio Oriental – o ritmo viajou ao longo do caminho da seda da Ásia Central para a Turquia e Grécia, na época do império Otomano. Em função da velocidade mais lenta do tsifteteli, outros instrumentos poderiam estar mais presentes durante as partes de improvisação. Além da linha de percussão da orquestra se incluíam alguns violinos extras, um violoncelo, oud e acordeão. As composições tornaram-se mais complexas e os movimentos tiveram que acompanhar. Arranjos musicais alterados pela improvisação inspiraram a dançarina a fazer um show que agradou tanto o público ocidental quanto oriental. Agora, todos estes elementos juntos começaram a dar forma ao que ficou então conhecido como Raks Sharki[1]. Badia de fato mudou o cenário da dança egípcia, com a criação desse novo estilo de dança, usando coreógrafos ocidentais. Ela também introduziu um coral de 30 bailarinas.
Adorava fazer relações públicas. Certa noite, Badía vendeu o cassino, obteve um passaporte falso foi para sua terra natal, Líbano. Devia impostos ao governo egípcio. Morreu em Beirute em 1975 e o Egito todo a recorda com carinho. Com Badia formou-se toda a geração de bailarinas egípcias.
[1] O nome dança do ventre veio a partir do século IX, por viajantes franceses que assistiram aqueles estranhos movimentos de quadril das ghawazee e o descreveram em suas histórias de viagens como "danse du ventre" ou dança do ventre. Naquele tempo – antes de 1900 – esse foi o nome dado a dança, mas como temos visto, a descrição se tornou logo a limitação.