[Índia em Dia] A noite escura da alma

por Raphael Lopes




Olá leitores,

Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela ausência nos últimos meses. Ser artista é ser visceral e experimentar uma forma mais intensa e - por que não - mais artística, de contemplar a própria história. Quem de nós nunca passou por uma Noite Escura da Alma?

Segundo o Wikipedia:

São João da Cruz (A Noite Escura da Alma)
"O poema de São João da Cruz narra a jornada da alma desde a sua morada carnal até a união com Deus. A jornada é referida como “Noite Escura”, pois a escuridão representa as dificuldades da alma em desapegar-se do mundo e atingir a luz da união com o Criador. Há vários níveis nesta escuridão atados em sucessivos estágios. A ideia principal do poema pode ser vista como sendo a dolorosa experiência que as pessoas têm de suportar ao buscar crescimento espiritual e a união com Deus.

A obra é dividida em dois livros que referem-se a dois estágios da escuridão da noite. O primeiro é a purificação dos sentidos. O Segundo e o mais intenso de ambos é o da purificação do espírito, que é também o mais difícil de ser atingido. A “Noite Escura da Alma” ainda descreve os dez níveis na progressão em direção ao amor místico, tal como fora descrito por São Tomás de Aquino e, em parte, por Aristóteles. O poema foi escrito no período em que João da Cruz esteve preso devido a seus irmãos carmelitas não aceitarem suas reformas na Ordem do Carmo. O tratado foi escrito posteriormente e consiste em um comentário teológico sobre o poema, explicando cada um dos níveis mencionados em seus versos.

Ao invés de resultar em permanente devastação, a noite escura é considerada uma bênção disfarçada, pela qual o indivíduo é despojado (na noite escura dos sentidos) do êxtase espiritual associado com atos de virtude. Embora os indivíduos possam, por um momento parecer declinar em suas práticas de virtude, na realidade, eles se tornam mais virtuosos, uma vez que passam a ser virtuosos menos devido às recompensas espirituais (êxtases nos casos da primeira noite) e mais devido a um verdadeiro amor a Deus. Este é o purgatório, a purgação da alma, que traz pureza e união com Deus."
A vida imita a arte.

Assim, toda dançarina irá invariavelmente se encontrar em conflitos diversos, que nada mais são do que manifestações diversas de dúvida ou crise, que podem servir como uma escuridão ou o prenúncio de muitas mudanças: 

- conflitos técnicos e/ou ideológicos sobre a própria dança;
- conflitos estéticos com a própria imagem;
- crises de criatividade e eventuais baixas de energia;
- conflitos sociais com outras dançarinas ou escolas/eventos de arte;
- dificuldade de gerenciar horários de estudo e administrar a própria carreira.

Mesmo que sua escolha seja ser uma eterna aluna, ou pelo menos não ter pressa em relação a apresentações mais consistentes, você irá encontrar algum desses conflitos nas esquinas da sua vida. O mais importante é reconhecer nesses momentos o próprio movimento natural da vida: sístole e diástole, pulsando alternadamente a intensidade com as necessidades de ruptura.

Para um artista, esse inferno pessoal pode se transformar numa grande caldeira borbulhante de novas idéias e rumos.

Raphael Lopes (performance NavaDurga - CEU Butanta 2014)
Um artista sem profundidade terá uma arte rasa. E para conhecer a profundidade é preciso mergulhar nos nossos abismos pessoais de tempos em tempos.
Ao mesmo tempo, parece que as dançarinas geralmente não conseguem desenvolver um conceito com profundidade, já que quase sempre as apresentações esparsas não contemplem um diálogo entre o artista e o seu público. E esse é um dos motivos que me levaram à um recolhimento maior... Uma necessidade de me comunicar com a minha arte e encontrar um sentido em tudo o que faço.

Estou ainda no meu turbilhão. Estou aproveitando essa movimentação para desconstruir minhas certezas e, ao mesmo tempo, definir o que quero. Artisticamente quero me aprofundar ainda mais em Bharata Natyam e criar uma técnica limpa e arrojada de ATS® partindo do meu próprio corpo, sem replicas. 

Acho que o mais importante é a sinceridade com a qual lidamos e tratamos com a nossa arte, nosso corpo e nosso público. Daqui de minha incubadora mando minhas lembranças aos leitores, e faço um convite: 

Você está feliz com sua arte? 

Saia da zona de conforto, e deixe a vida nova pulsar no ritmo certo.

Um abraço, 

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