Le Serpent Qui Danse

por Hölle Carogne



“Uma fenda aberta... Uma chaga incandescente na alma e na coluna. Uma energia encarnada que flui do corpo todo e cria vibrações, ondas, sons desesperados. Labaredas de um fogo tão intenso, que se materializa; enraizando-se nas veias, na carne, nas vísceras... Fluidos e resinas licorosas que espalham odores sobre a pele branca, talhada em marfim. Poções e sentimentos etéreos que criam nervuras sobre as mãos e abrem espaços para fibras transparentes; que desenham, pouco a pouco, as teias da vida. Ramificações e folhagens que se espalham pelo corpo e amaciam a aspereza. Giros eloqüentes que libertam a mais pura essência e exalam o melhor dos aromas. Fluxos e movimentos de uma dança tão antiga, que a alma sabe de cor e o corpo apenas reaprende os passos... Deslocamentos e compassos que modelam as ancas e uma sede insana que penetra fundo e toma conta de todas as glândulas. Feitiços e rituais pagãos que escancaram portas e soltam a prisioneira: Uma serpente que dança! Um animal arisco, ardiloso, cruel... Um bicho que se arrasta e se encosta às frias vielas do meu ser, ameaçando... Uma criatura faminta, suada, molhada; que move pernas, braços, mãos... Revira os ombros, solta os freios, as amarras, quebra todas as correntes... Torna-se livre! E arrebata de mim o vil, o fraco, o vulgar, o insignificante... E dança sobre o meu corpo entorpecido, extasiado... E me consome todos os cantos de alma... Cria asas... E me liberta de mim mesma!”


(Hölle Carogne)



http://aerithtribalfusion.blogspot.com.br/2014/03/venenum-saltationes-por-holle-carogne.html

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