por Rapjael Lopes
A
Índia é famosa por seus monges ascéticos multifacetados em diversos
níveis, sejam os vegetarianos Brahmacharis Vaishnavas ou os Aghoris
tântrikos. Esses homens santos restringem suas vidas dentro de um
definido e complexo sistema espiritual que, na verdade, serve para
libertar seus espíritos na realização do Divino, ou para receberem uma
graça dos Deuses. De longe pode soar como um consumismo espiritual, onde
cada voto é um preço pago pela benesse desejada. Mas é muito mais amplo
e profundo. O mérito acumulado numa Tapasya é mais do que um preço,
pois ela transforma a consciência de quem a pratica.
Tapasya em sânscrito significa "calor", tendo assim a idéia de forja interna que transforma e lapida o ser, ao mesmo tempo que denota o caminho árduo do praticante. Ter uma mente determinada é requisito indispensável para praticar a Tapasya, mas é a disciplina constante que nos conduz ao sucesso. De nada adiante o entusiasmo e a iniciativa iniciais se não tivermos força para nos conduzir nos momentos de maior dificuldade dentro da Sadhana.
Tapasya é um do Nyamas citados no Yoga-Sutra de Patanjali, como o auto-controle e a disciplina para manter-se firme dentro das dificuldades da prática; e, como sou dançarino de Odissi, gosto sempre de salientar que a dança é a mais bela Yoga - a Natya Yoga, e que todo o paradigma da Yoga serve perfeitamente para a dança.
Todo
dançarino sabe das dificuldades e dores que sofre para trazer a
perfeição técnica para sua arte, e que esse caminho não se constrói com o
tempo de dança, mas sim com o tempo dedicado à ela. Uma aula vigorosa
pode assustar os dançarinos menos engajados, mas qualquer um precisa ter
garra e determinação para alcançar o seu objetivo.
Sem querer generalizar, vivemos num mundo de pessoas fracas e indisciplinadas, que buscam comprar o status físico ou espiritual sem o devido esforço necessário. O ensinamento milenar nos aponta um outro caminho, onde precisamos acumular esse calor interior por meio da disciplina. Esse calor queima toda a negatividade, os nódulos energéticos e o nosso karma, e nos incendeia de tal modo que nos tornamos luz diante dos Deuses.
Sem querer generalizar, vivemos num mundo de pessoas fracas e indisciplinadas, que buscam comprar o status físico ou espiritual sem o devido esforço necessário. O ensinamento milenar nos aponta um outro caminho, onde precisamos acumular esse calor interior por meio da disciplina. Esse calor queima toda a negatividade, os nódulos energéticos e o nosso karma, e nos incendeia de tal modo que nos tornamos luz diante dos Deuses.
Como bailarino, pude experimentar uma evolução na minha dança unicamente quando me dediquei à uma carga horária maior e diária de prática. Como professor, constato que as alunas acabam tendo a hora/aula muitas vezes como o único contato real com a dança. A hora de aula deveria ser sempre uma oportunidade para aprender mais, para somar, e não para treinar e repetir um velho movimento exaustivamente até a plena fixação. O professor até deve em sua didática trabalhar com a repetição em sala, mas de nada adianta isso se a aluna não criar uma disciplina mínima para praticar o que aprendeu em sala.
Existe um outro detalhe que gosto de debater com minhas alunas:
Qual sua
meta dentro da dança? Você pretende ser uma performer tecnicamente
impecável ou deseja apenas realizar a dança de forma lúdica?
Existem
alunas que demoram muito tempo para decidir se apresentar (e isso por
si só deveria gerar um tema a parte - a cobrança das escolas de dança
para que as alunas apresentam algum trabalho rapidamente), e nem sempre
isso significa que elas não estejam prontas. Pode ser uma questão
unicamente psicológica. O problema maior são as alunas que ansiosamente
desejam subir ao palco, sem maior respaldo técnico, unicamente com o
desejo de dançar. É preciso disciplina, e um professor sincero para
tecer as devidas críticas à aluna, construindo uma percepção clara do
quanto é preciso para se atingir uma fluência natural em sua dança.
E
por falar em Deuses, os Vedas narram diversas passagens onde os Deuses
atendiam as Tapasyas dos ascetas. O Senhor Brahma e o Senhor Shiva
costumam ser os Deuses mais frequentes nessas narrativas.
"Bhagiratha foi um poderoso príncipe de Kosala que realizou um sacrifício de Cavalo para os Deuses. Parte da liturgia consistia em soltar o cavalo e avaliar o destino para qual ele corria como um augúrio. Porém Indra roubou o cavalo, e a comitiva do Rei não o encontrou em lugar algum! Na direção em que supostamente o cavalo correu, se encontrava o sábio Kapila que foi dado como o ladrão do cavalo. Ele amaldiçoou toda a comitiva real, e multiplicou por mil todos os efeitos negativos causados pelos pecados do príncipe.
Essa passagem mostra o quão poderosa podem ser os frutos de nossa Tapasya, desde que realizadas de forma disciplinada e com nobreza para sermos dignos da atenção dos Deuses.
Até a próxima,
Namaskar.
Índia - Em Dia
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São Paulo, SP