ATS® vs.Tribal Fusion?

Masha Archer
 ***Esse texto foi desenvolvido a partir da minha resposta à discussão do tema sugerido no facebook da bailarina Rebeca Piñeiro. A indagação dela também pode ser encontrada em seu blog.Diversas respostas foram levantadas. Contudo, aqui me atenho apenas ao desenvolvimento da minha parte.***

Eu acho que o motivo do ATS® não ser “aceito” pelo Brasil é o fato dele ter sido "importado" com algumas falhas. Não estou dizendo que o trabalho realizado no início não tenha seus méritos, pelo contrário, foi super importante para o início, pois fomentou os primeiros trabalhos no país, disseminou informação e deu origem as principais trupes do Brasil. Contudo, não se ouvia falar de ATS® quando o estilo tribal veio para cá e, quando alguém sabia sobre o assunto, eram informações muito escassas que logo caiam no esquecimento.  Não se ouvia falar de Carolena Nericcio (muuuito menos de Masha Archer). O que ouvíamos falar? Falava-se muito de Jamila Salimpour e todo o início que se deu com ela. Muitos blogs/sites do Brasil de dança do ventre citam Jamila e só. E na minha opinião, Masha tem uma importância determinante no desenvolvimento do ATS ®,pois a partir dela é que vemos o tribal como conhecemos se delinear de forma bem característica. Não estou dizendo que as Salimpour's não tenham seus méritos. Mas Masha é tão pouco valorizada e conhecida, principalmente no Brasil, e tão importante! Através das fotos de sua filha Larissa Archer(divulgadas em seu facebook) vemos tudo isso claramente fazer sentido! Sabe quando começamos a ouvir falar dela no país?Só em 2008, através das pesquisas da Aline Muhana.

O que falava-se que era dança tribal até 2008? Uma fusão de dança do ventre, dança indiana e flamenca. E o que realmente assistia-se de tribal no Brasil antes desta época? Fusão dessas três danças de forma aleatória, de acordo com a visão de cada bailarina que acabava de conhecer o tribal. Muitas faziam isso(não estou dizendo que todas faziam isso, mas existia isso) e muitas eram bailarinas de dança do ventre que entendiam isso por ter uma visão distorcida do que era a dança, e por não se ter tanta informação do assunto naquela época. Estas bailarinas entravam em uma "moda temporária" e não se aprofundavam em conhecer o estilo que estavam "estudando". Para elas, tribal era meramente a fusão destas três danças, tendo um enfoque maior na do ventre. Talvez isso se associe a falta/menor fonte de informação(tanto textos quanto vídeos), somados ao que foi "importado" primeiramente no país e disseminado com tais idéias de fusões distorcidas. Infelizmente essa imagem do tribal se perpetua até hoje. Contudo, apesar da dificuldade de muitas bailarinas do ventre entenderem, a fusão tribal e a fusão de dança do ventre são estilos diferentes. O vocabulário de passos são diferentes; a postura de tronco,peito e braços são diferentes, conferindo imponência à dança. A expressão é diferente. Os movimentos são mais trabalhados, às vezes são muito grandes, outras bem contidos; os movimentos possuem mais dinamismos e impacto. A resposta do público é diferente diante de uma fusão dança do ventre e uma fusão tribal. Não é tão simples assim como se parece. Hoje a Revista Shimmie disponibiliza uma seção sobre tribal em suas revistas, ou seja, a informação está ali de “graça” para toda bailarina de dança do ventre saber o básico possível em fonte de confiança e qualidade, cujas colunistas são Rebeca Piñeiro(SP) e Kilma Farias (PB), duas bailarinas renomada por seus trabalhos no país(aliás,leiam a entrevista realizada com Carolena Nericcio à Shimmie, disponível no blog da Rebeca e professores do Campo das Tribos, talvez ajude quem tem um pouco de dificuldade em entender todo esse processo). Mas hoje tem informação, certo? Sim, mas muitos têm preguiça de saber o básico, talvez por descaso; talvez por não acharem importante ou que vá acrescentar algo; talvez  por acharem que já sabem por apenas “ver”/ assistir;ou até mesmo por não gostarem e bloquearem qualquer informação do tipo.


Na minha opinião, o ATS® começou a ser conhecido mesmo no Brasil em 2008, através da Tribo Mozuna(RJ) (principalmente através de suas diretoras,Nadja El Balady e Aline Muhana), não só pelo seu trabalho, mas pelas informações que elas trouxeram à comunidade tribal sobre ATS/ITS; além das pesquisas de Mariana Quadros (SP). Uma trupe no Brasil que sempre teve uma grande semelhança com o ATS/ITS foi o Damballah (PR), que permanece até hoje em sua importância. Talvez seja o que mais perto se tinha do ATS® no país, e o Damballah  só veio a surgir em 2005. Nadja começou seus primeiros passos em direção ao ATS®(antes da criação do Mozuna, em  2009) também nessa mesma época. Ou seja, antes de 2005 nem deviam sonhar com ATS®. A partir daí houve uma reconstrução do tribal brasileiro, quebrando muitos paradigmas e muita coisa do que se conhecia como Tribal . Talvez seja até um marco importante na História do Brasil:o tribal antes e o tribal depois do ATS® ( tema que sugeri a Nadja em seu blog =) ). Soa engraçado, pois isso deveria ser conhecido, teoricamente, antes que o fusion. Mas une-se o fato das falhas quando a dança se adentrou em nosso país, a visão distorcida que as bailarinas de dança do ventre  tem do tribal, e o fato do tribal fusion ser muito mais atrativo que o ATS®, "ofuscando" (inicialmente) o ATS® de aparecer em cena no país. Acredito que , neste quesito, o ATS® esteja na mesma proporção que  a dança folclórica árabe no geral, apesar que vejo isso mudar muito hoje em dia. O Brasil ainda carrega uma visão antiquada errônea do Tribal de outrora. O país ainda não se atualizou diante das informações sobre a dança tribal .


 Pode-se ensinar tribal fusion sem ATS®, mas acredito que uma hora ou outra falte-se embasamento naquilo que se orienta. Surgem questionamentos de sua origem. Surgem lacunas. Porém, eu estaria mentindo se eu dissesse que não dá para ensinar tribal fusion sem saber ATS®. E no que eu me baseio isso? Ora, simplesmente no fato de como a dança entrou no país e da forma que foi disseminada sem (quase) ninguém saber o que era ATS®. Além do fato dessas primeiras gerações de Dança Tribal no Brasil serem de dança do ventre, o que forneceu base necessária para que elas conseguissem aprender a dança. E com as poucas ferramentas(informações) que se tinham a mão aqui dentro, e tentando buscar por mais, cada trupe que foi se formando criou sua independência em pesquisar por conta própria sobre o assunto e, a partir de então, conseguiram encontrar as peças que estavam faltando neste quebra-cabeça. Muitos grupos, desde os primeiros anos da dança no país até os dias de hoje, se perpetuaram, consolidando uma carreira profissional de respeito; estes  foram os que não se mantiveram estagnados e conformados com o material que tinham mas, foram aqueles que realizaram suas próprias linhas de pesquisas e conseguiram reorganizar, aos poucos, toda o conflito e confusão que a própria Dança Tribal gerava ao redor de si mesmo, pois, como eu disse anteriormente, chega um momento que fica um espaço em branco sem resposta, e esse espaço não faz sentido de estar ali naquele lugar.

Rachel Brice vestida com figurino de ATS® e Carolena Nericcio com o figurino de tribal fusion.
Negar o ATS é negar sua origem; é negar seu código genético, como bem disse a Rebeca; é negar seus antepassados e toda a importância que estes fizeram em sua História. Se a pessoa quer dar aula sem ATS, tudo bem, pode-se fazê-lo . Mas NEGAR a existência e importância do ATS no tribal fusion ,há algo errado nisso. Nem Rachel Brice, nem Zoe Jakes, nem Ariellah(exemplo na entrevista realizada com a bailarina no blog), nem Kami Liddle, nem Mira Betz e tantas outras bailarinas importantes negam isso. Pelo contrário, existem muitas evidências que elas vêem a importância do estudo do ATS para as fusões com dança do ventre e não só tribal fusion. Em uma entrevista(existe traduzida no blog Tribal Mind da Ana Harff), Jill Parker diz que Rachel Brice, Mardi Love, Zafira Dance Company, Heather Stants e ela deveriam se unir e limitar parâmetros de até onde vai o que chamamos de Tribal Fusion. Por enquanto este segue em direção ao infinito, mas até este possui “regras” para serem categorizados como dança tribal. Desculpe aos que acham que não há limites,mas essa é uma realidade comentada não por mim ou qualquer bailarina do Brasil, mas isso é uma discussão que já existe nos EUA há algum tempo(procurem, por exemplo, no blog da Asharah, bailarina que hoje faz parte do The Bhoomi Project). E isso não é motivo de achar que se houverem regras, a casa caiu, é ditadura do tribal (rsrsrs),etc. Pelo contrário, são só orientações de como seguiremos com nosso trabalho. Não confundam isso com entraves. O ATS® existe há algumas décadas e nunca impediu o tribal fusion de se expressar, pelo contrário, Rachel Brice pediu permissão e orientação a Carolena quando entrou no BDSS e se tornou a maior disseminadora da dança. E Carolena, como qualquer outra mãe, abraçou-a, orientou e apoiou sua dança.

8 Elements
Eu acho engraçado falarem (sim, já li isso mais de uma vez) que o ATS® é antiquado , uma atitude tradicionalista,conservadora, fundamentalista e um entrave, uma limitação para dança tribal. Engraçado. Alguém impede de dançar Tribal Fusion mesmo existindo ATS®? Carolena quando decidiu formalizar o ATS® abriu as portas para que outros studios mostrassem seus trabalhos para que alguns de seus passos entrassem no New Style/Modern ATS . O problema é o fato de Carolena ter criado o selo de Sister Studio FCBD®? Engraçado, ninguém fala mal dos selos criados por Suhaila Salimpour e Rachel Brice, por exemplo. Aquela que quer se aproveitar, quer segregar e ser oportunista criando um mercado promissor na dança é apenas a Carolena e o ATS®. Engraçado. Não se pode criar uma dança, conceder um formato. E não é apenas um conjunto de passos peculiares, mas o  grande diferencial do estilo é a improvisação coordenada, com seus sinais, suas "deixas", sua formação em grupo e sua adequação no palco em coros.Ou seja, existe toda uma linguagem que se reflete na comunicação em forma de dança; um diálogo que se pode fazer entre bailarinos de diferentes países que não falam a mesma língua verbal de seu país,mas que se comunica através da linguagem universal do ATS®.Só o flamenco pode virar dança(sendo que este veio de danças ciganas), a dança contemporânea pode(sendo que esta veio do ballet); e a dança do ventre...como ela se tornou o que é hoje? Ela veio da FUSÃO de algo, não?
Carolena Nericcio e seu grupo Fat Chance Belly Dance(FCBD®)

Exemplos de algumas bailarinas internacionais famosas que já passaram pelo ATS®, direta ou indiretamente, e danças étnicas:


Jill Parker
Considerada a primeira bailarina de tribal fusion e ex-membro do FCBD
Jill Parker, um dos membros originais do FCBD - da esqueda para direita, ela é a 2ªbailarina
Jill Parker e seu extinto grupo Ultra Gypsy
Rachel Brice

Rachel Brice foi aluna de Jill Parker e membro do seu grupo Ultra Gypsy - da fileira de cima, RB é a 3ª bailarina.


Ela também estudou com John Compton, do Hahbi 'Ru
Rachel Brice também foi aluna de Carolena Nericcio
Sharon Kihara


Sharon Kihara no Ultra Gypsy - na fileira do meio, Sharon é a 3ª bailarina da direita para esquerda
Jill Parker(esquerda) e Sharon Kihara (direita) - Ultra Gypsy

Samantha Emanuel


Samantha estudou  ATS, ex-membro do Tribal Fire (UK). Ela também estudou com Carolena Nericcio e Rachel Brice.http://www.letsshimmy.co.uk/tribalfire.html
Kami Liddle

ATS com Kami Liddle
Moria Chappell


Moria, ex-membro do Awalim, grupo de tribal e fusões étnicas - Moria é a primeira bailarina da fileira de cima, da direita para esqueda

Zoe Jakes

 E para quem acha que a Zoe é somente performática, desculpe mas , além dela já ter tido aulas com Carolena, ela foi membro do Aywah, grupo de Katarina Burda, voltado para interpretações de danças étnicas. Grupo inclusive que Mira Betz e Elizabeth Strong faziam parte.

Um vídeo de Zoe  no Aywah!:



Um vídeo recente de Zoe com  elementos de ATS: 

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