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Entrevista #38: Mari Garavelo


A nossa entrevistada do mês de outubro é a bailarina de Osasco -SP, Mari Garavelo! Mari nos conta sobre sua trajetória na dança tribal, suas conquistas, sobre sua identificação com a Umbanda e muito mais!

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou para você? 
Desde criança a arte foi uma forma de me expressar e interagir com as pessoas, estudei até a 3ª série do ensino fundamental numa escola que permitia e incentivava em todas as aulas as formas de expressão corporal. Eu estava sempre envolvida com atividades escolares deste tipo. Queria muito fazer aulas de canto e dança mas só pude quando mais velha. Meu primeiro contato com a dança oriental foi em 2002 na escola, fiquei encantada e iniciei meus estudos com amigas da escola que já dançavam espaçadamente em estúdios de dança.
Em 2005, pude entrar num coral onde estudei canto por aproximadamente um ano no Projeto Guri em Osasco. O coral me deixava plena, feliz; aprendi muito sobre respiração, ritmo, musicalidade, mas optei depois por focar na dança. Em 2006 descobri o Tribal Fusion através de vídeos da Rachel Brice no Youtube. Na época, eu fazia aulas com a Daniela Pitteri (que usava o nome Daniela Fairusa) de dança do ventre e ela estava começando seus estudos no Tribal. A Dani foi uma grande referência pra mim e sempre quis seguir seus passos. Ela tinha uma dança ousada e fascinante. Conhecer o Tribal foi pra mim uma espécie de portal para uma linguagem de dança onde eu pudesse reunir tudo aquilo que me encantava: o oriental, o exótico, o étnico e o ancestral.


Mari e Dani Pitteri


Em 2007, comecei a estudar o Tribal conforme eu podia em casa, eu estava grávida neste ano e adiei um pouco as práticas. Mais tarde tive aulas com a Dani que estava cada vez mais autêntica, deixando o Tribal fluir por seu corpo. Formei um pequeno grupo com mais duas amigas e nos apresentávamos como Tribal Awalin e depois integrei a Bela Tribo dirigido pela Daniela.
Comecei a dar aulas em 2010 de Dança do Ventre e Tribal Fusion no Espaço Alpha, antigo espaço holístico em Osasco e, em 2011, entrei no Estúdio de Danças Ana Claudia Borges, que foi absolutamente decisivo e importante para minha carreira. Ensinar passou a ser uma força motriz para meu próprio estudo. Fiz oficinas com diversos profissionais entre eles Nur, Nanda Najla, Mira Betz,  Joline Andrade, Paola Blanton e Ana Claudia Borges.

Virada Cultural
Trabalhei durante 2011 e 2013 com Ane Sarinara que também foi aluna de Daniela. Éramos parceiras dançando em festas estilo Gypsy na noite de São Paulo (‘GasGas’ por Lita Almeida, ‘Caravana Soundsystem’ e ‘Supernatural OpenAir’ por Rica Amaral). Na produção para as apresentações do Caravana ou do Supernatural comecei um processo pessoal sobre trazer referências de espiritualidade para a dança e utilizá-la como forma de expansão da consciência. Iniciei um estudo das danças de Orixá em observação dentro da Umbanda/Candomblé. A dança dos Orixás quando seus filhos estão em transe, a dança que não foi lapidada pela técnica e pela estética, mas que traz muita informação em termos de gestual e extática. A prática do Yoga veio complementar este estudo somando muito além dos benefícios no corpo, a meditação e o autoconhecimento.

Este ano, Ane e eu retomamos esse mini projeto que nunca teve um nome dançando na festa Caravana Cigana no set do Venga! Venga!. Levar o Tribal para um público fora do meio da dança sempre foi um prazer enorme pra mim.
Mari é apelido de Mariana, é menos sério e eu gosto, me sinto mais a vontade e mais próxima das pessoas. Garavelo é meu sobrenome mesmo, origem italiana. Bem no comecinho, cheguei a pensar em procurar um nome artístico, mas eu gosto da essência que traz meu nome real, minha dança sou eu e somos inseparáveis. :)
Sarau no Studio Daniela Fairusa
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Tenho extrema gratidão por todos os meus professores porque cada um deles tem uma participação naquilo que sou. Alguns são muito marcantes como Daniela, que foi professora e amiga, além de ter me ensinado sua dança, também me ensinou sobre shows, lecionar, valorizar todas as técnicas para aprimorar a dança, ela foi essencial, me ensinou sobre ser artista.

João Júnior, que deu uma oficina na Shaman’s Fest em Rio Claro. Foi uma aula intensa demais, explorava arquétipos selvagens e trazia um pouco da cultural afro-brasileira, uma aula linda. João indiretamente me proporcionou um insight de que eu deveria confiar mais naquilo que eu trazia dentro de mim, que era possível sim trabalhar a fusão com referências devocionais, desconstruindo meus conceitos pequenos naquela época.

Oberom, um dos meus professores do curso de formação para instrutores de Yoga, me iniciou direta e indiretamente (através de seus livros, fotos) em diversos conhecimentos que expandiram minha consciência, quebrando padrões negativos de comportamento, acelerando um pouco mais minha reforma interna e trazendo novos hábitos que tem se mostrado significativos na minha forma de dançar e ensinar dança.

Marília Lins, professora de Yoga, Tribal Fusion, conduz vivências da sagrada sabedoria feminina e cerimônia dançante Kundalini Shakti, é minha amiga e geralmente com quem eu faço consultas sobre a dança. Marília tem uma fala minuciosa, profunda. Ela me ensina muito sobre como nós somos seres repleto de detalhes e complexidades, e como todas estas partes de nós estão integralmente na nossa dança. Marília tem como uma de suas mestras, Rachel Brice com quem pôde estudar durante um tempo na Costa Rica. Considero muito sua sabedoria.

Procuro ter com as minhas alunas uma relação onde eu possa transmitir todos estes conhecimentos de uma forma agradável para que um dia elas possam também sentir esta gratidão que é imensa!     

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
A dança esteve sempre presente no ambiente escolar como expressão corporal, sem um nome definido. Comecei com a Dança do Ventre e nunca a abandonei. A dança do ventre é pra mim um dos estudos mais importantes para quem faz Tribal Fusion, ela traz uma intimidade com o “ventre” e eu gosto muito do folclore árabe. O Baladi é a dança com a qual me identifico mais dentro dessa linguagem, Fifi Abdou é a bailarina que mais me trouxe inspiração sobre show e público.

Fiz uns dois ou três laboratórios de “Performance Arte” e entendi que não era meu caminho como artista, pois não cabia no que eu queria desenvolver com Tribal Fusion, mas é um laboratório intenso e ótimo para criar consciência corporal. E este ano fiz aulas de jazz e ballet nas férias e quero muito continuar com o ballet assim que for possível. É um desafio para o meu corpo, nada cômodo e mesmo assim achei uma aula bastante relaxante.

Também quero fazer aulas de dança afro. Todo meu estudo de gestuais etc., fiz dentro do culto aos orixás observando a dança dos filhos de santo em transe. É um estudo válido e profundo e eu gostaria de lapidar um pouco com aulas sobre as danças das nações africanas.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Mari Garavelo, Mira Betz e Marília Lins (Shaman's Fest 2011)
Eu tenho inspirações diversas através de cores, texturas, mitologias, uma música que desperta algo em mim, um mantra, uma vibração diferente. Agora artistas que me inspiram... Bom, no começo eu tinha Mira Betz como maior inspiração, a combinação entre a dança do ventre, o cabaret e a dança despojada. Hoje estou entrando numa fase diferente, estudando bastante Yoga e a Índia e isso me trouxe Nagasita e Colleena como as maiores inspirações desse meu momento. Colleena especialmente é alguém com quem sonho estudar, ela tem uma fluidez mágica e consegue fusionar danças muito delicadas com outras bem rústicas como Khalbelia. Essa ponte que ela faz é uma inspiração incrível pra mim!

BLOG: O que a dança acrescentou em sua vida?
A dança me coloca em constante observação de mim. No treino, no estudo, nas relações que ela coloca no meu caminho. Trouxe bastante crescimento e entendimento sobre meus processos internos, ela é um caminho de cura emocional e autodescoberta, pode ser um serviço de devoção e uma prática saudável. Na minha vida, a dança foi uma entrega do meu corpo para minha própria essência, uma reconexão. Trouxe amigos queridos e muita vontade de não parar jamais.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
A transformação que acontece no decorrer das aulas, vejo minhas alunas mudando e se descobrindo, curando traumas e superando a si mesmas. Gosto de levar ao público o belo, a exaltação daquilo que eu considero mais lindo , transformando também quem assiste e elevando sua vibração. Aprecio mais ainda esta meditação que ocorre enquanto dançamos. É uma expressão sutil em movimentos daquilo de mais poderoso que somos por dentro.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?
O ego sem rédeas. Todos nós temos ego e é ele quem permite a socialização, permite que nos reconheçamos como indivíduo e com isso possamos evoluir através do aprendizado diário. Também é o ego responsável pela constante busca de prazer e muito deste prazer vem em sentir-se bom em algo e para isso é preciso tornar tudo dual, é preciso comparação. Quando você tem a percepção de que algo é bom ou é ruim isso te permite fazer uma escolha e o ego sempre quer ser escolhido como bom.

Na dança do ventre eu penso que existem duas situações que existe descontrole egóico. A primeira é a estética relacionada à sedução. Bastante gente tem uma necessidade exacerbada de atenção e usa a dança como meio de atrair o olhar e ser desejado. Daí nascem os cada vez mais exigentes padrões estéticos que tornam a dança menos acessível. Assim como mantém arraigado à dança este estereótipo de que é uma dança para seduzir e muita gente ainda procura a dança do ventre para dançar ‘’para o marido’’.

A outra situação é o dinheiro. É possível sim a abundância para todos na arte, mas, além dela ainda não ser vista como prioridade para a sociedade, muita gente na dança é insegura quanto à autenticidade do seu próprio trabalho e, ao invés de exaltar sua forma única de trabalhar, insiste na comparação como meio de se expor e se divulgar. A pessoa “melhor” na dança também será “melhor” paga. Isso gera uma série de rixas.

Quando não existe autoconhecimento, não existe a percepção de que há um lugar para todos, o ego perde o controle e usa dos mais diversos artifícios sem ética para provar dentro das comparações porque ele é o melhor.  No livro “Viajando na Luz” do meu professor Oberom, ele diz: “Mantenha rédea curta com o ego, ele te conhece bem. Jamais deixe-o se apoderar das rédeas.”

O Tribal não está livre disto. Acredito que nenhum meio está...

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
O que me vem à mente foi um preconceito religioso que sofri no meio da dança por deixar sempre explícito minha religião, a Umbanda. Este caso me surpreendeu bastante por estarmos no Brasil onde já existe este histórico da influência africana tão difundido e ainda mais no Tribal Fusion onde temos tantos nomes de artistas que exploraram este tema tornando sua simpatia por esta cultura aberta a todos. Kilma Farias, Marcelo Justino, Renata Camargo, Lukas Oliver, todos já fizeram fusões com referência desta cultura.

Depois de um tempo foi tudo compreendido e está perdoado, mas coloco aqui como uma reflexão ainda muito atual. Ter o cuidado de verificar a verdade daquilo que se escuta sobre alguém antes de formar uma opinião... E defender aquilo que é maior que qualquer ego, que é a liberdade de ter sua espiritualidade exposta sem que isso seja motivo de vergonha ou vítima de estereotipação.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Sim, algumas vezes por sentir que não agradava minha família ao seguir este caminho, mas rapidinho aprendi que pra ser feliz a gente tem que se abster de querer orgulhar à todos, quando queremos orgulhar as pessoas estamos apenas sendo vaidosos e isso não vem do coração. Também me indignei muitas vezes ao ver a dança ser a intermediária de desentendimentos e disputas de ego. Hoje consigo perceber que minhas melhores intenções foram distorcidas pela minha própria vaidade e isso acontece o tempo todo com todo mundo, nosso ego é bem ardiloso, rs. Querer dominar a verdade e a razão dentro da arte, onde trabalhamos para a desconstrução das mesmas, é um tanto insensato. Estas frustrações nem seriam mais chamadas assim por mim porque as vejo como elementos essenciais para a construção daquilo que eu sou hoje, foram na verdade conquistas e presentes na caminhada...

Jurada no Festival Érika Geanne
BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Grandes amigos, grandes aprendizados... Sou muito grata a tudo o que me permitiu dançar e estar alinhada com esses momentos de felicidade. Muitas coisas não planejei tecnicamente, mas acabaram chegando a mim com caráter de conquista. Dançar junto da minha professora Daniela, trabalhar com Ana Claudia Borges, estar no mesmo elenco de bailarinos que admirava muito em alguns shows... Também dancei na Virada Cultural de São Paulo, o maior público que já tive, milhares de pessoas assistindo o Palco Cabaret sob produção do Heitor Werneck, em 2012.

Também colocaria o primeiro lugar no concurso Tribal Solo do Mercado Persa 2013 que me trouxe bastante felicidade; e ter sido convidada pela Érika Geanne mais de uma vez para ser jurada das competições em seus eventos; ter minha dança elogiada por profissionais que admiro muito como Fairuza, Nur, Leila Ayres, Kilma Farias... Todas situações em que senti que estava ressonando com a minha verdade e que estava conseguindo passar de uma forma bela a dança que acredito.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal em São Paulo? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
A cena Tribal em São Paulo tem, como tudo aqui, bastante diversidade e público para todos os tipos. Os profissionais conseguem ter sua identidade porque há procura por todas as vertentes. Há um movimento do Tribal dentro dos festivais de dança deste estilo, mas existem muitos profissionais que desenvolvem seu trabalho fora deste eixo e mantém-se às raízes da dança da mesma forma, como Renata Camargo, Marília Lins, Carla Brasil, Kelly Orianah, Nomadic Tribal ATS®, etc.

O público paulistano recebe muito bem a dança estilo Tribal. São Paulo tem uma atividade noturna intensa na qual eu adoro trabalhar porque geralmente são pessoas bastante receptivas à arte. O Ballet Clássico, Ballet Moderno, Hip Hop tem ainda um alcance muito maior de apoio financeiro do estado por terem uma maior demanda. Acredito muito que, quanto mais levarmos o estilo para fora do eixo dos festivais onde o público é quase que formado por pessoas que já dançam, mais divulgaremos o quanto esta arte é encantadora e poderosa como estudo e fomentamos o apoio da cidade/estado.

Eu tenho trabalhado nos últimos anos em Osasco e na cidade de São Paulo, e tem sido uma experiência ótima. A procura é bacana na Zona Oeste e a cidade de Osasco oferece um apoio maior à arte, com inúmeros editais de ocupação dos espaços públicos e isso tornou a dança uma forma de arte mais próxima da população.
           
BLOG: Você foi uma das integrantes da Bela Tribo, dirigido por Daniela Fairusa.
Conte-nos como era a formação do mesmo, estilo de dança, preferências do grupo, sua temporada e experiências com o grupo,etc.
Dani sempre foi bastante criativa. Ela dança desde muito pequena, é atriz, artista plástica, bailarina clássica e fez hip hop. Ela conseguia fazer com que as coreografias tivessem reunidas todas as técnicas que adquiriu na vida. A ousadia dela se manifestou no grupo e meio que abriu caminho para que o Tribal Fusion fosse conhecido longe do centro de São Paulo. Nós sempre estávamos em bando (rs): a Dani, seu irmão ator e músico Daniel WerganElson Cesar (um dos primeiros homens no Tribal no Brasil!), Zan Rotini e eu. Nós tínhamos influências diversas e o que saía era um grande contraste, figurinos que tinham algo ‘wild’ e ao mesmo tempo ‘punk’.

O que eu mais gostava na Bela Tribo era que tudo era bastante irreverente. Uma vez fomos chamados para nos apresentar numa comemoração de algo num supermercado e foi uma situação bem inusitada. As pessoas passando suas compras no caixa e nós dançando num palquinho uma música meio dark com maquiagens pesadas e franjas coloridas... Ao mesmo tempo tudo parecia fazer sentido, as pessoas adoravam! Rs

Foi um período curto em grupo, mas cada experiência, ensaio, encontro, foi muito especial.

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 
Quando vi Rachel Brice falando em improviso estruturado achei que coube perfeitamente naquilo que eu desenvolvia para as minhas apresentações porque nunca curti muito coreografar meus solos. Eu reconheço o poder de uma coreografia bem feita, mas sinto que nos meus solos acabo dando o melhor de mim em momentos de improviso com algumas estruturação. Deixo pra mim este desafio de coreografar um solo inteiro! Rs

Oxum

Criei uma facilidade para coreografar solos e grupos para minhas alunas. Este ano duas alunas minhas competiram no Mercado Persa no Solo Tribal e ficaram em segundo e primeiro lugar! Felicidade!

Sobre meus solos mais importantes... “Oxum”, onde a intenção era representar a divindade com este nome, fiz escolhas um pouco óbvias com música, dancei uma cantiga iorubá, quis trazer um pouco do arquétipo de ‘Oxum Menina’, adolescente, sedutora, e que engana Exu na mitologia roubando seu poder de consultar o Ifá (adivinhação). Usei um figurino que ganhei de presente que tinham flores, detalhes dourados delicados e mantive acessórios dourados que representassem o ouro, elemento de Oxum. Recebi um feedback positivo quanto a ter tocado no coração de pessoas que estavam assistindo. Acredito muito que isso foi Oxum e não eu... rs


Projeto Yalodê: Renata Camargo, Mari Garavelo e Marília Lins

No projeto “Yalodê”, com Marília e Renata, tínhamos cogitado a ideia de trabalhar o tema “Ewá” e acabou não rolando... Quando fiz, eu estava com uma lesão chata no ombro esquerdo, passando por um monte de tratamentos e a dor me atrapalhou, não me satisfiz no resultado da técnica. Ewá é o orixá que rege tudo o que está em transição, em toda mudança está a magia transformadora dela. Os símbolos de Ewá são o céu rosa (que representa a transição para o entardecer) e o arco íris (que representa a transição para um bom tempo). Quis usar estes elementos (a luz rosa e as cores do arco íris) para representar esta energia atuando na minha vida aquele momento, escolhi uma introdução agradável, que era sentir a felicidade de estar mudando e uma muito agitada e difícil de acompanhar que eram as ‘dificuldades’.



BLOG: Em 2013, você participou do concurso solo de tribal fusion no Mercado Persa, o maior evento de dança oriental da América Latina. Conte-nos sobre sua preparação da sua coreografia antes do evento. Como sua dança foi recebida nesse evento e pelo público? E como foi a conquista da premiação com o primeiro lugar nesta categoria?

Meu maior intuito, desde o começo participando do evento, era a divulgação do meu trabalho para um público além dos festivais de Tribal e acompanhar o estúdio de Ana Claudia Borges com quem trabalho desde 2011. Dediquei-me, então, a fazer uma coreografia próxima ao que as pessoas esperavam que fosse Tribal sem fugir do que eu acredito. Tive que alterar um pouco meu estilo para poder acompanhar o público, usei calça, cabelo preso, escolhi um dubstep e apenas me preocupei em coreografar a música de um modo que eu pudesse dançar fluidamente, como eu gosto e não de forma robotizada. Ensaiei apenas por 3 dias, mas por muitas horas. Fiquei em primeiro lugar na competição e as mensagens foram positivas; fiquei muito feliz por isso!
Mari Garavelo - 1°lugar no Mercado Persa em 2013


O resultado foi bacana, mas confirmava que o Tribal Fusion ainda tinha um estereótipo e isso deve ser mudado com a divulgação do estilo em eventos de Dança do Ventre. Recebo ainda hoje alunas novas que perguntam “mas no Tribal pode sorrir?”, “pode usar saia?”.
Participei do Mercado Persa em 2012 também. Eu nunca tinha ido. O evento tem organização impecável, boa proposta, é bacana esta interação. Eles não abrem vagas para mostras solo, então decidi participar da competição. Tive um cuidado com o tema escolhido: Iemanjá, divindade africana; fiz meu figurino pensando em detalhes,como pérolas, conchas, cobri o rosto com um chorão (geralmente preso ao adê, adereço dos orixás) para lembrar um pouco o Candomblé. A Dani na época me ajudou na coreografia, muitas ondulações e movimentos que lembravam água, em 2011/2012 trabalhamos bastante o elemento água nas aulas e encontros com ela. Dancei um mix de uma música do Afro Sambas e um solo de djembê.

Em 2012 eu não peguei nenhuma colocação e nem tinha esta pretensão, pois aconteceu um pequeno acidente com meu figurino e isso significava uma pontuação baixa. Muitas pessoas assistiram e algumas me procuraram para elogiar, conversar. Isso foi o mais legal! Porém, com exceção de Luy Romero, os outros jurados do dia não eram especialistas em Tribal. O que resultou foi que na minha ficha de avaliação vieram coisas como “treine mais tribal, faltou movimentos de tribal”, “o figurino não era adequado para tribal”, “não teve tema”. Qual seriam os figurinos e movimentos que o júri esperava ver? Entendi que o Tribal Fusion ainda sofria um grande preconceito causado pela má informação e divulgação reduzida. Ou seja, na mente do júri, faltou movimentos bruscos, popping, uma roupa mais escura, cabelo preso, música eletrônica, expressão fechada... Enfim, aquele estereótipo sobre o que vinha a ser Tribal Fusion.



Fiquei feliz porque, a partir de 2013, houve uma preocupação maior com o público Tribal neste evento tão importante para a comunidade da dança oriental na América Latina. Este ano duas alunas minhas competiram na mesma categoria e ficaram em segundo e primeiro lugar, Ana Luiza Alves e Nyna Araújo respectivamente. Neste ano também tiveram workshops e muitas mostras de Tribal espaçadas nos intervalos entre as competições.

Levar cada vez mais o Tribal Fusion a estes eventos de Dança do Ventre é uma ótima forma de disseminar o estilo com mais informação! 

BLOG: Qual a importância, na sua opinião, sobre os concursos? Quais dicas você daria àqueles que pretendem participar?
Os concursos são mais uma ferramenta disponível, além das aulas, para ajudar no nosso crescimento como bailarina.

Eu tinha bastante preconceito quanto a concursos. Julgava que eles eram um mero meio de comparação e não era bem nisso que eu acreditava, pra mim a arte não se pode mensurar. O Tribal Fusion então, onde uma apresentação pode ser tão diferente da outra, como medir? Em 2011 fui convidada para compor o júri da competição de um evento organizado pela Érika Geanne em São Paulo e a avaliação era por pontuação em cada critério. A apresentação que eu mais gostei não foi a que ficou em primeiro lugar e sim aquela que atendeu com maior pontuação aos critérios de avaliação. E isso é totalmente válido, uma oportunidade de receber um feedback bacana, de se preparar para apresentar um trabalho, desafiar-se, extrair seu melhor. A arte é linda e imensurável, mas não fazemos de graça, é também nosso trabalho como professores, artistas que levam cultura e entretenimento. Os concursos são uma forma interessante de juntar esses benefícios com a divulgação que vem depois do resultado. Só penso que no Tribal o júri precisa ser especializado neste estilo.

Não acredito que isso desvalorize o sentido do Tribal como bastante gente pensa. Aconteceu algo interessante este ano, minha aluna que ficou em segundo lugar no Mercado Persa recebeu críticas muito grosseiras no seu canal no Youtube por uma outra bailarina. Ela disse que minha aluna estava muito “fraca” para um “segundo lugar” e que nem deveria estar competindo por ser Tribal Fusion. E essa pessoa do comentário? Estava agindo como tribo? Não é o momento de refletirmos sobre nossos conceitos e julgamentos?

A dica que dou é essencialmente que a pessoa procure dentro de si o motivo de querer competir e se ele for egoísta demais, fuja, pois terá sérias chances de se frustrar. Mas se não, divirta-se! Aproveite o momento bacana de escolher um tema, desenvolver figurino, escolher música, maquiagem, contar uma história e atentar-se em dar seu melhor em cada critério a ser avaliado.

Eu também procuro pensar um pouco em quem está assistindo e o que eu quero que minha arte desperte neste público, o processo de criação pra mim é o mais gostoso.

BLOG: Em 2013, você realizou o Curso de Formação em Tribal Fusion com Joline Andrade. Conte-nos sobre sua experiência com o curso.
           
Joline tem abordagens diferentes sobre a dança e uma aula gostosa de fazer. O curso definitivamente expandiu e me deixou mais segura sobre minha própria forma de pensar esta arte ainda em construção. No curso, além das horas práticas tínhamos um grupo virtual onde nós falávamos e recebíamos materiais ricos em informação, como Laban/Bartenieff, Pina Baush, etc.


Curso de Formação com Joline Andrade  (2013)


Também neste curso, consolidei uma amizade bela e também um pequeno projeto de dança com Marília Lins e Renata Camargo chamado Yalodê.

Este curso causou um certo reboliço quando foi lançado por conta do nome. “Formação” não consiste apenas em um curso específico para quem quer virar instrutor de algo, formação estava lá no sentido de “aprendizagem”, alternar períodos de teoria e prática com a companhia de um professor. Eu nunca conversei sobre isso com Joline, mas ela estudou por muitos anos e acredito que não formataria um curso de 24h de aula que fosse o começo e o fim de uma jornada na dança. Participei da primeira turma e estávamos sempre cientes de que aquilo era o início de um novo modo de pensar o Tribal Fusion.
           
BLOG: Em sua opinião, por que a dança tribal pode ser considerada uma dança ritualística? 
O Tribal Fusion pode se tornar uma dança ritualística conforme a intenção que se emprega nela. A linguagem Tribal permite que você, além de entrar em contato com arquétipos femininos poderosos, tenha a liberdade de fusionar com danças litúrgicas e de forma intencional transformar isto em uma prática devocional, uma prece em movimento. A dança que nós não levamos para os palcos.

Existe um movimento, uma série de profissionais que direcionam a dança para este fim, para a cura, para a prática devocional, mas sem esta intenção, o Tribal Fusion não é, na minha opinião, uma dança essencialmente ritualística. Uma dança tribal pode ser ritualística como, por exemplo a dança de Orixá, afinal o fenômeno mediúnico e extático se consolida na dança, mas o Tribal Fusion não é uma dança tribal.

Tenho trabalhado nos últimos anos em uma extensa pesquisa para criar um material conciso para compor minhas aulas que não deixasse lacunas de informação que pudessem confundir minhas alunas. Li alguns textos de Morocco (Carolina Varga Dinicu) no ano passado sobre Danças Tribais e parei de me referir ao Tribal Fusion como Dança Tribal. Ainda não encontrei uma explicação melhor do que a dela para isso e por isso adotei. Tive uma pequena conversa com Morocco e ela foi bem clara ao dizer que o Tribal Fusion é uma linguagem linda, encantadora, mas é uma mera invenção americana. Nos Estados Unidos há uma espécie de apropriação (por falta de uma palavra melhor) de outras culturas que ocorre constantemente com tudo e a intenção quase sempre é atender uma demanda de público para vender ou não. Temos exemplos com a dança (Zumba®), com a moda (Boho Chic), com o Yoga (Ashtanga Vinyasa, Hot Yoga).

Na mesma época em que a dança do ventre passava pelas modificações e criações propostas por Jamila Salimpour para atender ao público da Feira da Renascença, sedentos pela contracultura e pelo resgate ao étnico e ancestral (muito próximo do que estamos vivendo hoje, facilmente observado na moda Boho), Morocco viajava para o Oriente e fazia filmagens e estudo profundo das danças étnicas. Jamila tinha, sim, muito conhecimento sobre a dança do ventre, tanto que usamos sua sistematização e nomenclatura até hoje, mas muito do que foi adicionado ao Bal Anat eram inspirações que vinham de pinturas de Jean Leon Gerome ou do imaginário de Jamila através das histórias do pai. Acredito que li isso em artigos sobre ela no Gilded Serpent.

Perguntei a Paola Blanton, que estudou com Jamila e Suhaila e que é amiga de Morocco e ela me disse que, naquele momento, a palavra Tribal referia-se apenas a sensação de dançar em tribo e não do estudo de danças tribais (como Guedra dos Tuaregs, que inclusive é ritualística). Tudo o que veio depois neste estilo veio a partir desta invenção americana de Jamila. Por este motivo e porque não está sempre dentro de algum ritual, eu não considero o Tribal Fusion uma dança ritualística em sua essência.

BLOG: Em sua opinião, o quê é tribal fusion?
A gente tenta observar a história do Tribal de forma linear e ela não é linear, isso causa um pouco de problema em definir Tribal Fusion de uma forma simples. Muitas pessoas contribuíram direta e indiretamente para a formação do que nomeamos hoje como Tribal Fusion e a história é quase um rizoma. Eu diria que o Tribal Fusion é uma linguagem americana de dança que se expressa por meio de fusão da dança do ventre com outras danças étnicas ou referências visuais das mesmas. Esta dança está recebendo constantemente informações novas em experimentações, mas mantém-se sempre ligada às raízes (Jamila Salimpour, Hahbi’Ru, Aywah! e Masha Archer) das suas expressões (ATS® e suas derivações).

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
Gosto da liberdade para ler a música conforme o meu sentimento na hora de coreografar ou improvisar. Eu estou em constante contato com a dança do ventre tradicional e existe uma forma muito específica de ler a música, de interpretar cada instrumento árabe etc. No Tribal Fusion isso não existe, é possível ler a dançar a música conforme sua própria interpretação.

Também gosto da “dança líquida” (liquid dancing) e de como essa técnica pode ser aplicada perfeitamente ao Tribal. Amo quando o movimento flui pelo corpo como na dança de Kami Liddle ou Colleena Shakti, e liquid, fluidez, são temas que abordo muito nas minhas aulas.

BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Penso que sair um pouco do eixo. Ampliar o público para mais do que pessoas que dançam que se assistem e seus familiares. Fazer crescer o nível de conhecimento entre as próprias profissionais não retendo informação; levar as relações com mais ética e mais respeito.

A comunidade é formada não só pelas bailarinas e professoras de Tribal Fusion, ATS® e tudo mais que compõe o estilo, mas também devemos incluir as alunas, com quem estamos sempre e talvez futuras profissionais. Tudo aquilo que gostaríamos que fosse nossa comunidade está diretamente ligado a elas e tudo o que somos reverbera nelas.

Será maravilhoso um dia podermos ver o Tribal Fusion ter procura que tem o ballet e dança contemporânea como forma de cultura.

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
 A cultura cigana sempre ressona muito em mim, ciganos do mundo todo. Também gosto de uma certa ‘’glamourização’’ que vem com o jazz e o cabaret e sou apaixonada por uma dança líquida, fluida. Com a intensificação do meu estudo de Yoga eu coloquei muito dela na dança e nas minhas aulas.            Tenho também uma grande influência da dança de Orixá, mas de uma forma bem pessoal e sutil através dos gestuais e da expressão corporal. Meu estilo é formado por todas estas minhas referências com o Tribal Fusion.

BLOG: Como você se expressa na dança?
Eu me expresso por todos os lados. No trato com as pessoas, naquilo que escrevo, que falo, no que visto e no que ensino... A dança é uma extensão disso, é o que eu sou e sinto transformado em movimento. Enquanto danço, minha maior expressão é meu olhar. É com ele que interajo com quem me assiste, acredito que o olhar tem um grande poder de transformar a dança.

Sempre procuro olhar como se estivesse vendo muito além daquilo que está na minha frente, isso torna o olhar mais expressivo na dança.

BLOG: Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Atualmente estou em uma formação para instrutores de Yoga e tenho focado muito neste estudo. Estou produzindo alguns eventos e tenho projetos para ampliar essas produções no próximo ano. E estou escrevendo um E-Book sobre Tribal Fusion que deve ser lançado também em 2016.

BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?
Os dois! Para coreografar acabamos improvisando muito antes, o improviso nos traz aquilo que temos meio inconsciente, faz transbordar nossos instintos e aquilo que está melhor memorizado no corpo. Preparo meu corpo com treinos para improvisar e ouço músicas incansavelmente, tentando ler de várias maneiras, percebendo a estrutura. A coreografia é a junção harmônica disso tudo. Nos meus solos, costumo definir alguns momentos que serão coreografados. Meus improvisos são momentos em que eu espero meu corpo responder a uma pergunta que ele já ouviu antes... No improviso eu também sinto uma maior liberdade para trabalhar a interação com o público que eu acho que é a coisa que eu mais gosto de fazer, fazer sentido em quem vê e poder sentir a resposta do que expressei.

BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Não, de certa forma direciono muito de tudo o que faço para a dança, mas tenho uma loja virtual de acessórios e roupas, faço figurinos, shows, atuo como professora e coreógrafa, produzo eventos e divulgações... E estou sempre estudando e investindo na formação de tudo o que sou, o que complementa meu trabalho.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Recentemente fiz uma aula com Paola Blanton, uma artista magnífica e eu acho que todo mundo deveria estudar alguma vez com ela. O workshop era sobre modernismo, técnicas de Isadora Duncan para aplicar em criações de qualquer estilo. Esta aula abriu minha mente e coração para um modo de pensar a dança, muito bonito, muito humano. E pensando nela e nesta aula, deixo com muito carinho palavras que reverberam muito na minha vida na dança e ajudaram a construir minha consciência atual sobre trabalhar com isso:

 “O mais corajoso dos atos ainda é pensar com a própria cabeça.”
(Coco Chanel)
 “A marca da excelência está em quem consegue fazer a ponte fundamental entre as raízes da tradição e os frutos de criação.”

p
(Paola Blanton)




Contato
Tel/cel: 
(11)952281544

Aulas:

Espaço Romany (São Paulo-SP)
Estúdio Ana Cláudia Borges

E-mail:
mariana.garavelo@gmail.com


Website:













Eu não gosto de ATS®?

por Mariana Garavelo


Faz um tempo já que eu percebo que muitas pessoas no meio da dança falam comigo e soltam frases do tipo "Sei que você não gosta de ATS®..." ou "Tudo bem que o ATS® não é sua praia...", ou ainda "Você vai participar do evento, mas não vai falar nada contra o ATS® né?"...
Comecei a pensar se não acabei criando por meu próprio mérito este estereótipo de ser “anti-ATS”. Talvez escrevendo e expondo meus pontos sobre este assunto eu comece a criar uma nova imagem sobre mim para quem dança.
A história do Tribal Fusion no Brasil demorou a chegar com informações reais, todo material era bem escasso e a grande maioria de quem pratica o Tribal Fusion aqui no Brasil conheceu o ATS® depois de conhecer o Tribal Fusion. A linha do tempo da história do Tribal foi “invertida”. E cá para nós, eu acredito que isso não seja um problema. Primeiro, porque a história não é linear e muitas manifestações artísticas aconteceram simultaneamente auxiliando na construção do Tribal; segundo, porque trabalho num estúdio de Dança do Ventre e ninguém procura as aulas porque viu um vídeo da Samia Gamal ou porque adora Souhair Zaki. Conforme a aluna vai estudando ela aprende a história e as origens.
Mais tarde com a quantidade de informações na internet, livros, monografias, vídeos, entrevistas e professoras brasileiras formadas no exterior, a história do Tribal foi preenchendo nossos materiais de estudo aqui no Brasil e isso foi fundamental para que nós entendêssemos o papel de cada bailarina e de cada inserção de informação nesta dança até ela se tornar o que fazemos hoje.
O ATS® é um dos diversos pontos na história do Tribal Fusion. Se pudéssemos desenhar uma árvore genealógica desta dança, na raiz estaria a Dança do Ventre e as danças folclóricas dos povos do Norte da África. Jamila Salimpour foi a primeira idealizadora desta estética adicionando um pouco de teatralidade circense às performances do seu grupo Bal Anat, porém nunca chamou o que fazia de “Tribal” e não foi a responsável pela adesão do flamenco e das danças indianas que vieram depois.
As responsáveis por dar corpo a este estilo foram Masha Archer e depois Carolena Nericcio, que terminou a construção do que passou a ser chamado de American Tribal Style® ou simplesmente ATS®. Em simultâneo, grupos como Hahbi'ru e Aywah formados a partir de integrantes do grupo de Jamila que também trilhavam o caminho da construção do Tribal Fusion. Hoje o que nós dançamos é um punhado disso tudo somado as nossas próprias inserções. Logo, o ATS® é um dos troncos desta árvore genealógica e tudo o que veio depois, através de experimentações feitas a partir do já consolidado ATS® e de outros grupos que surgiram após Jamila Salimpour, passam a ser galhos destes troncos.
Todas as danças tem uma raiz, no caso do Tribal, especificamente, são raízes diversas. Se existe uma informação que circula sobre a origem do Tribal com a qual eu não concorde é a de que o ATS® é a única origem do Tribal Fusion. É fato que o termo “Tribal” vem de “American Tribal Style”, pois o nome surgiu a partir de bailarinas que praticavam o ATS® e modificaram seu repertório. Mas não estou considerando o nome, e sim a dança como linguagem. Muitas bailarinas também foram influenciadas por grupos fora do círculo do ATS®, como Rachel Brice (que já declarou sua admiração e influência de John Compton) e Zoe Jakes (que foi integrante do grupo de Katarina Burda).
Sendo assim, não tem muito fundamento esta dicotomia entre Tribal Fusion com e sem ATS®, pois as matrizes são as mesmas. Se você estuda Tribal Fusion, certamente aprenderá ao menos um pouquinho de ATS® (seja a estética, os desenhos, o repertório). Você pode nunca ter feito uma aula de ATS®, mas ele está ali, quase sempre intrínseco no que você aprende assim como a influencia de Jamila Salimpour, John Copton, Katarina Burda e outros. Da mesma forma como não há quem estude o ATS® sem aprender um pouco da dança do ventre, do flamenco e das danças clássicas indianas.
Aprendi isso estudando pontos da história que há anos atrás eu não entendia. Espero que fique esclarecido então que eu nada tenho contra o ATS®. Nunca tive e adoro! Acho o estudo dele e de suas matrizes ricos, tanto para quem apenas pratica o Tribal como para quem leciona. As vivências em todas estas danças são muito agregadoras ao nosso glossário de movimentação.
Que a arte do Tribal Fusion, contemporâneo ou ATS®, permaneça no seu intuito de unir as culturas numa só fusão e linguagem; e que todos tenham o prazer de praticá-la reunindo seus mais diversos arquétipos e expressando-os em forma de dança.. É isso o que importa, a dança está cada vez mais ativa e acessada por todos e sua história sendo contada cada vez mais sem protecionismos.
 

Destaque Tribal Novembro 2013 pt4: Mari Garavelo

Lindo improviso da bailarina Mari Garavelo (SP), variando entre o vintage, balkan e solo de percussão. Movimentos leves, precisos, com muita técnica, desenvoltura e graciosidade.

Divulgando nossas riquezas PARTE 1

Olá meninas!

Decidi divulgar algumas bailarinas brasileiras em meu blog. Elas não são famosas em nosso país, mas com certeza tem futuro no tribal! Aliás, existem bailarinas que não são famosas(ainda) e são muito boas bailarinas.

Vou postar três bailarinas por vez, mas não sei ainda a freqüência dessas postagens de divulgação.

Espero que gostem! =)


Lince (SP):


Mari Garavelo(SP):


Marilia Lins(SP):

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