Nossa entrevistada do mês de abril é a bailarina de Recife, Pernambuco: Alê Carvalho! Alê nos conta sobre sua trajetória, seus projetos passados e futuros,além de conhecermos mais a repeito do Aquarius Tribal Fusion e os grupos paralelos a este. Bora conferir? =D
Há cinco anos! Em agosto de 2008 perdi meu pai, fato devastador na minha vida, não via graça ou reagia a nada... Até que em dezembro passando tempo na internet, quem diria o Youtube traria aquilo que mudaria tudo ao meu redor irreversivelmente. É estranho escrever e perceber isso hoje! Vendo vídeos de Dança do Ventre no cantinho da página apareceu um ícone escuro e cliquei, era da Zoe Jakes, a mesma movimentação, mas diversa na sua natureza! Fiquei estatelada, vidrada, vi o vídeo repetidas vezes, totalmente hipnotizada... Não teve jeito, aquilo me arrebatou de modo indescritível!
Morro de rir lembrando dessa aula, nunca tinha feito nada parecido. Me senti a estranha no ninho... Estava familiarizada visualmente com tudo e não tinha experiência de nada, desengonçada não... Affe... Kilma foi um anjo, de uma paciência extrema, exemplo de entendimento e aplicabilidade didática! E ali eu me apaixonei definitivamente pelo Tribal! Aquele dia tornou-se especial; conheci pessoas que seriam não só companheiras de trabalho, mas amigas extremamente importantes no processo curativo do meu luto, ganhando moradia definitiva no meu coração!
Fui em busca de aulas e só achava de Ventre Clássico em Recife fiquei frustradíssima, pois queria Tribal Fusion, encontrei a Daniela Fairusa, ela tinha a força e técnica que buscava, até hoje o primeiro vídeo que vi dela me impressiona igualmente; procurei-a no falecido Orkut, só que ela estava ali... em Sampa e eu em Hellcife, ela aceitou o convite, foi muito gentil (não sei se recorda), deu-me dicas de postura, braços, mencionou que poderia procurar a Dança do Ventre e ir adaptando, indicou a Paula Braz e Kilma Farias, regionalmente mais perto! Paula foi igualmente gentil! Mas não achei de imediato Kilma.
Então em março de 2009 conheci pela internet Valéria. Val me disse que iria à Paraíba fazer um curso com Kilma e perguntou se queria ir junto, daí a uma semana me contava que haviam organizado a aula aqui e nós não precisaríamos nos deslocar tanto; pra minha surpresa o local onde do work era à distância de seis quarteirões da minha casa, fui andando para lá!Morro de rir lembrando dessa aula, nunca tinha feito nada parecido. Me senti a estranha no ninho... Estava familiarizada visualmente com tudo e não tinha experiência de nada, desengonçada não... Affe... Kilma foi um anjo, de uma paciência extrema, exemplo de entendimento e aplicabilidade didática! E ali eu me apaixonei definitivamente pelo Tribal! Aquele dia tornou-se especial; conheci pessoas que seriam não só companheiras de trabalho, mas amigas extremamente importantes no processo curativo do meu luto, ganhando moradia definitiva no meu coração!
Alê Carvalho - Carol Monteiro – Lais Ide – Valéria Veruska e Andressa Máximo |
Ficou decidido que Kilma viria mensalmente e nós fundaríamos um grupo de estudos, fiz o projeto e levei para o diretor do NUCFIRE-FAFIRE (Núcleo de Cultura da Faculdade Frassinetti do Recife) Aderval Farias e passamos a nos encontrar semanalmente, meses depois resolvemos fazer a primeira coreografia (Gênesi’s), vimos nosso potencial criativo e daí surgiu nossa família o Aquarius Tribal Fusion Cia de Dança.
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Com Carol Monteiro – FAFIRE 2012 |
Xu, o cabedal técnico, ético para dança, um grande encontro de ideário artístico, parceria forte de amizade e confiança aquém dos palcos. Xu é uma das minhas melhores amigas, exemplo de pessoa, a amo muito! As meninas foram peças chaves para minha formação como bailarina.
Com Kilma Farias na Carvana Tribal Nordeste 1º Edição em 2010 – JP |
Acredito que o aprendizado necessita que o caráter humano se sobreponha a
técnica, boa e necessária, mas que não é superior ao sentir, ao ser tribo, para
que se possa dizer tribal! As pessoas citadas dividem essa ideia comigo, talvez
por isso estejamos juntas e unidas desde então.
Outra forte referência na minha trajetória é Luciana Zambak houve um pós-Lu pra mim inegavelmente! Em 2010 fiz
workshop de leitura musical e o curso de verão, mudou minha orientação
coreográfica, aprendi a importância do Dança do Ventre Clássica e Folclórica, conheci
as diferenças entre ritmos tradicionais e modernos, movimentações
características à cada, entre vários detalhes os quais adaptei ao Fusion. Sem
contar que me deu a perceber como usar a delicadeza, na força.
Com Luciana Zambak – Curso de Férias Ventre e Tribal no Studio Zambak – 2014 |
Marina Chagas professora de Ballet Popular teve papel
decisivo na interpretação do Tribal Brasil legado por Kilma, tenho a grata
oportunidade de aprender na fonte, Mima busca integridade do indivíduo no
grupo, espetacular ministrando aula, o processo de internalização do conteúdo conduzido
é fluido e incessante, são aulas viciantes! Outra grande amiga!
Nadja El Balady me trouxe a noção do valor da inventividade e
originalidade, de acreditar nas ideias e apostar na paixão.
Com Marina Chagas – Caravana Tribal Nordeste 2010 – 2° Edicão 2010 |
Sharon Kihara mostrou-me a importância da perseverança na
disciplina, o valor do preparo físico para execução do movimento; passei três
dias sentindo dores oriundas do aquecimento feito à época. Hoje prática
habitual e me dá a fama de psico (culpa e Pamela Fernando) entre as minhas alunas,
já me adaptei, agora até assumo! Espero ser algo bom kkkk...
Sharon Kihara e Alê Carvalho |
Fora do meio, o professor Aderval
Farias, Del me deu a chance de iniciar o projeto do Aquarius, fez-me tornar
professora de Tribal na tora, provocou de forma brutal a busca pelo significado
e atiçou meu desejo técnico; com ele entendi que só consegue ir-se ao fundo do
sentimento da Arte quando a técnica dominada é meio e não o fim.Maurício Azevedo do teatro que abriu horizontes nem sonhados
dentro da criação e na busca da expressão. E a Rachel Brice, meu Deus! O
que foi poder olhar para matriz dos sonhos de tantas pessoas, vê-la humana,
experimentar como aluna foi incrível! Quando a aula terminou chega deu dó!
Fiz cursos com profissionais maravilhosos ao longo desse tempo: Mira Betz, Emine Di Cosmo, Jaqueline Lima (Cia
Lunay), Dielson Pessoa, Ju Marconato,
Shirley Shalilah, Daniela Nurr, Tufik Nabak, Carla Silveira, Hannah Costa,
Karina Leiro, Cibelle Souza, José Sales, Joline Andrade, Bela Saffe, Marcio
Filho, Fátima Machado, Manoel Francisco, Danilo Dannti, Caio Pinheiro, Babi
Johari, Marcelo Lopes e Suely
Machado. A sensação é de não ser suficientemente justa não especificando o
que aprendi com todos nesse caminho de aprendiz, contudo; quero deixar marcada minha
gratidão.
BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Sempre que posso vou atrás de novas esferas de
linguagem. Fiz dois anos de Ballet Clássico com Fátima Machado e um ano irregular com Marcio Filho (Ballet Gonzales). Das transformações físicas trazidas
pela dança, as mais intensas foram provocadas pelo Ballet, a postura e eixo de
giro são outros do começo. Em 2011 fiz curso de Ballet com Manuel Francisco (São Paulo Cia de Dança) e de Dança Contemporânea com
Suely Machado (Primeiro Ato). Em 2013
e 2014 tive aula de Contemporâneo com Dielson
Pessoa e Marcelo Lopes (ambos ex bailarinos
da Cia Deborah Colker).
Tenho aulas de Dança Brasílica com Marina Chagas no NUCFIRE e comecei orientação regular de Dança do Ventre
com Babi Johari, essa volta à matriz
tem sido demasiado importante, tem enriquecido meu vocabulário e remontando meu
ideário acerca do feminino na modernidade. Babis é uma professora incrível e
amiga querida em quem confio muito. Pretendo nesse ano de 2014 fazer aulas de ATS com Carol Monteiro e Nadja El
Balady.
BLOG: Quais foram suas primeiras
inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Sabe quando na Bíblia o Gênesis diz: E no princípio foi o verbo! Hehe, bem isso! E no princípio foi Zoe! Ela me choca constantemente, se arrisca, vai no limite, a bailarina mais qualitativamente mutável que já vi. Aliada à ela, Kilma Farias que jogou ralo abaixo os preconceitos de fusionar danças regionais à estrutura do Tribal Fusion e me instiga na verdade com a qual constrói Arte, pedaços amostra dela. Não há medo... Desde o começo do Tribal Brasil carrega essa bravura de se expor!
E desde sempre meus companheiros, todos do Aquarius, de diversas maneiras, chega a
dar gastura (forma de angústia na fala nordestina); vamos precisar de três vidas
pra fazer tudo que já imaginamos juntos!
Sabe quando na Bíblia o Gênesis diz: E no princípio foi o verbo! Hehe, bem isso! E no princípio foi Zoe! Ela me choca constantemente, se arrisca, vai no limite, a bailarina mais qualitativamente mutável que já vi. Aliada à ela, Kilma Farias que jogou ralo abaixo os preconceitos de fusionar danças regionais à estrutura do Tribal Fusion e me instiga na verdade com a qual constrói Arte, pedaços amostra dela. Não há medo... Desde o começo do Tribal Brasil carrega essa bravura de se expor!
Kilma Farias, Guilherme Schulze e Ademilton Barros CTNE – JP – 2013 |
Atualmente no cenário internacional tenho me
impressionado a Violet Scrap, a
expressividade e a leitura dela me cativam. Edenia,
adoro o jeito com que ela modifica o Hip Hop no Fusion! Fugindo à fusão o Marquese Scott do Hip Hop, ele não pode
ser humano bicho... Faz no corpo coisas gravitacionalmente improváveis. A Deborah Colker, o Grupo Corpo e Crystal
Pite do Contemporâneo que tem sido o principal foco de meus estudos atualmente,
pois, estabelece uma narrativa sem texto, uma fala que brota da compreensão
superando o entendimento.
BLOG: O quê a dança acrescentou em sua
vida?
Posso afirmar sem drama que a dança salvou minha vida! Me tirou do buraco
psicológico onde havia me enterrado com a perda de meu pai e me deu
experiências que nunca imaginei viver! Fico pensando como ela trouxe tantas problemáticas
e uma complexidade que eu trabalhando com Filosofia lia... Mas, não havia
enfrentado na Arte... Tem sido a práxis daquilo que dantes só teorizava.
BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
Sou artista desde que me lembro. Trabalhei com
diversas formas de expressão: desenho, pintura, escultura, fotografia, vídeo.
Mas a obra madura quando exposta, conduz ao isolamento, você a lança no mundo
para atingir as pessoas em uma dimensão que lhe escapa no sentido da partilha;de
saber como é com o outro. Diferente do relacionar, na dança isso existe continuamente,
seja o bailarino do seu lado dividindo a energia ou o olhar do público, isso
nunca cessa, é inominável essa sensação de dividir, tudo na dança é relação! E
o caráter mutacional sempre pode ser outra; o processo é a maturação e isso é ótimo,
pelo desafio
BLOG: O
quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o
tribal está livre disso?
Primeiro é a capacitação profissional. Sabemos
e acontece muito de pessoas que ainda não estão preparadas artística e
tecnicamente irem à palco pelo desejo se realizar um sonho de infância de ser bailarino,
acho lindo e dou apoio! Mas, o professor responsável tem que saber quando e
como por esse aluno no palco, orientá-lo para não aceitar qualquer convite ou
se dizer profissional não o sendo ainda, assim evitando que se exponha a situações
difíceis desnecessariamente. Isso enfraquece a classe, prejudica quem passa
anos estudando e investindo pesado na sua profissionalização. Ter a roupa
bacana não é pré-requisito de uma boa performance! Se começasse hoje, minha
primeira apresentação demoraria horrores para acontecer, faço questão de assistir
o vídeo para não esquecer, hehe... Affe...
Olhar para fora de nosso mundo (Dança do
Ventre/Tribal Fusion), se aventurar a participar mais de eventos diversos, trazer
as pessoas que praticam estilos diferentes para junto de nós! Trocar
experiências, obter novos conhecimentos, ampliar campos de atuação. Fazer festivais
que só nos contemplem é desenvolver um sistema autofágico, privilegiando nossas
famílias e amigos. Precisamos formar novas plateias! É bom ter público cativo,
mas é também é bacana conquistar espaços.
Dentro dessa mesma questão, o engajamento social,
claro; artista vive, tem contas, precisa e deve ser bem pago! Mas à Arte também
cabe o espírito de doação, tirar um pouquinho do nosso tempo e dar a quem não pode
ter esse tipo de educação (por que Dança é elemento educacional, beneficia os
dois lados!). Um exemplo muito legal aqui em recife é a Karina Leiro que dá aula para crianças no bairro do Pina. Ela me
disse: - Eu faço tão pouco! Rebati: - Faz não! Você está mudando o mundo delas,
e quem salva um mundo, salva um mundo inteiro – parafraseando provérbio judeu.
Também tenho planos para construir trabalho semelhante com o Fusion, voltado
para adolescentes, junto ao Artemis
Tribal Fusion – CBA, não havia posto em prática por falta de
disponibilidade, mas agora vai! Se a Arte cresce legitimamente, nós artistas
crescemos com ela; sinto esse mundo ainda muito fechado!
Apesar de
acontecer a má interpretação do nosso trabalho devido à características que
remetem a sensualidade, coisa contra qual trabalho intensamente, isso deixou de
me incomodar; essa atribuição pertence à ignorância a respeito do conteúdo histórico
das danças étnicas e nosso dever pedagógico é educar as pessoas! No meio da dança
interessantemente, não! Pelo menos não ainda... Ao contrário! A Dança Ventre
nos recebeu aqui tranquilamente, soube que em algumas regiões foi bem
diferente... E com outros estilos também ocorreu naturalmente. O que mais me
marcou nesse sentido, foi a aprovação para Mostra
Brasileira de Dança, fiquei receosa, sendo a primeira no estilo que defendo
a entrar no festival e a única com Folclore de Imigração nesse ano, mas fui bem
recebida pela comissão e colegas presentes que ficaram curiosos sobre o Tribal,
perguntaram e vibraram. Na Mostra conheci pessoas com as quais continuo
compartilhando experiências, respeito mútuo e admiração; o ponta pé inicial
para adentrar nos festivais oficiais tais como: Festival Estudantil de Teatro e
Dança, Festival Internacional de Dança e o Pernambuco em Dança, percorrendo
regiões metropolitanas e interiores. O público também tem nos recebido
calorosamente!
BLOG: Como é ter um estilo alternativo dentro da dança? Conte-nos
um pouco sobre isso.
É uma tarefa
pedagógica constante, pois, sempre temos que explicar o que é, o que engloba,
que é também Dança do Ventre sem sê-la no seu caráter original... Responder
perguntas do tipo: “Tribal?! O que é hein?! Uma espécie de dança africana?”; e
dizer: “Também pode ser, mas não só!” Falar do ATS, resumindo, uma rotina de
discurso. Ademais, igual a qualquer bailarino, que se dedica, estuda, ama e
defende aquilo que faz, com unhas, dentes e muita ação.
Sim, claro! O
tempo todo! Um projeto que não deu certo ali, uma ideia que falhou. Uma
expectativa que não passou de expectativa, a má execução de uma coreografia
ali. Indignação com situações que todas nós já passamos! Mas estou me educando
para não perder tempo me desgastando com essas coisas, agora toda vez que
acontece algo desse tipo tenho procurado observar severamente o que eu deixei
aberto para que o fato ocorresse, para daí resolver comigo e seguir adiante. Se
frustrar faz parte do amadurecimento, e a Arte segue essa rota.
BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Essa parte é
muito bacana de falar, quem não gosta?! Foram significativas, principalmente
considerando o antigo panorama do Tribal na nossa cidade. O “fomos” é o mais
importante disso, o trabalho árduo e conjunto do Aquarius Tribal Fusion Cia de Dança, desde o Bacante, em 2009, que
costumo dizer: “Onde nos lançamos a nós mesmas, a si próprias, sozinhas!” Do convite para escrever o projeto da Caravana, feito por Kilma.
A superação das dificuldades passadas para realizar a 1ª edição, as lições advindas da 2°, o sucesso
absoluto de público e alunos na 3ª e na 4ª mesmo diante dos protestos e uma
greve de ônibus. O convite para integrar o DSA
(Dancers South America) em 2010 da Adriana
Bele Fusco, do qual não pudemos participar por causa dos empregos fixos. Ter
me tornado professora e respeitada na minha terra por isso. Ver o crescimento
artístico do Aquarius.
A aceitação e
respeito da Dança do Ventre, ser partícipe do hall dos artistas do nosso
Estado, entrar para Mostra Brasileira de
Dança e as premiações; que recentemente Caio
Pinheiro e eu recebemos com a coreografia “Confundidos” (melhor coreografia, direção, performance,
fui indicada a melhor bailarina e ele ganhou de melhor bailarino do Festival de
Teatro e Dança Estudantil de 2013), par a par com bailarinos do Ballet
Clássico, nosso segundo ano de premiação no festival (em 2012 por “Transfiguração”); o Troféu Construtores de uma
Cultura de Paz, em 2013. Participar do documentário sobre Tribal Brasil de Thamara Roque; o convite para o
espetáculo “Divas” da Cia Árabe Hannah
Costa.
Premiação Festival estudantil: Confundidos 2013 – Teatro Santa Isabel |
Tornamo-nos referência no Tribal em Pernambuco e vimos o número de praticantes e grupos crescerem, a tendência é de uma expansão ainda maior. Ter sido convidada para lecionar no Tribala Fest Ecuador, onde fui tão bem recebida por Cati, Vivi e todas as pessoas que participaram, foi maravilhoso, não tenho como agradecer. Mas, os laços amarrados no Aquarius, a amizade que temos uns pelos outros, essa sim é a maior conquista! Dá felicidade olhar para trás e ver o que construímos juntos. Cada dia é dia de buscar por algo novo!
Tribala Fest Ecuador 2014 – Produção de Viviana
Jara e Kathy Muñoz – diretora do Tribala Bellydance Company Ecuador |
BLOG: Como
é o cenário da dança tribal em Pernambuco? Pontos positivos, negativos, apoio da
cidade, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
O ponto mais positivo, no meu ponto
de vista, é o amor que as pessoas dedicam ao estilo; rotatividade é imensa, mas os que ficam são
leais ao Tribal, se esforçam e se doam a ele. O negativ, o acredito ser igual a
de qualquer estado do brasileiro: a maioria dos praticantes não pode viver de
dança, tendo carreiras de sustento paralelas, os impedindo de investir tempo
como gostariam na sua qualificação; e se tem tempo, não tem os recursos, por
serem apenas estudantes, algo comum de qualquer logradouro do
país. Não vejo um problema digamos localizado ou característico nosso.
BLOG: Conte-nos
como surgiu o grupo Aquarius Tribal
Fusion (ATF), etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo
marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde
quando foi criado até agora. Como é o processo de introdução de novos
integrantes?
Coreografia Tempestade – 2011 | Festival Estudantil 2011 |
BLOG: Além do ATF,
você é diretora e/ou coordenadora de outros grupos de tribal fusion em
Pernambuco. Gostaria que apresentasse e comentasse um pouco sobre eles e a
relação com o grupo principal.
Aquarius Tribal Fusion Cia de Dança – CTNE 2013 em Recife |
Falar sobre os grupos é um pouco como falar do
tribal pernambucano. Começa com a vinda de Kilma, a formação do Aquarius e naturalmente surgiram
praticantes interessados em se engajar. O marco dessa expansão foi o convite
que fiz a Danilo Dannti para dirigir
comigo o grupo de tribal masculino que queria formar. Dessa ideia nasceu o Hades, que desenvolveu uma brasilidade
bem característica. E como fui assumindo a direção de novos grupos, Danilo ficou
à frente sozinho. Nesse momento o Hades está inoperante,mas acredito que logo
retome suas atividades.
O Artemis
Tribal Fusion – Corpo de Baile Aprendiz do Aquarius Tribal Fusion Cia de
Dança - já foi um projeto mais maduro. Formado
a partir da minha segunda turma do NUCFIRE, em seguida abri mais vagas para
meninas e meninos que estavam a fim de dançar, mas que custeavam faculdades e
não podiam investir em dança. Esse grupo permanece atuante, o mais antigo de
alunos, onde tenho amigos fieis e de onde saíram quatro integrantes do
Aquarius. Antes o Artemis era um grupo de formação e passagem, agora quero torná-lo
profissional e formar novos professores.
O Tribal da Casa Everaldo Lins aparece com os alunos
da escola; acho que devido a abordagem pedagógica nesses grupos, eles terminam
não querendo apenas treinar e querem trabalhar em composições; deste saiu mais
um integrante do Aquarius, Caio Pinheiro,
o qual é dono de uma técnica e arte forte; um talentoso coreógrafo e excelente
professor! Massacrei hehe... Acho que ele concorda em dizer que valeu a pena!
Tribal Day I – Parque da Jaqueira 2012 – Recife – Producao e coordenação e Andressa Maximo e Carol Monteiro |
O Tribal do
Studio Carol Monteiro tem aspectos de grupo de iniciação, devido a
rotatividade. As meninas que o compõem por vezes são estrangeiras passando
tempo por aqui, e souberam do meu trabalho. Então, como permanentemente muda de
integrantes, fazem as coreografias com desejo mais de aprender do que se
prender ao universo do palco, coisa que também é muito prazerosa, pela
liberdade que confere, me fazendo aprender como passar os fundamentos do tribal
de inúmeras maneiras.
Faço questão que meus alunos interajam entre si;
quase todos se conhecem e fizeram algo juntos. Por vezes chamo o integrante de
determinado grupo pra fazer algo no outro e assim vamos nos unindo. Os
estudantes que não se adaptaram realmente não tinham nada a ver com essa
dinâmica, onde o grupo é nossa prioridade por excelência. O Tribal Day, criado
por Andressa Máximo e Carol Monteiro, é um dos momentos de
congregação desse pensamento de união e tribo. Todos são de alguma forma
Aquarius. Nordestinados é outro exemplo dessa interligação.
Cartaz – CTNE Recife - 2010 |
Eita pau... Putz perguntou tudo mesmo! A Caravana aconteceu como tudo que envolve
Kilma e a Lunay, aquela coisa de família. Em setembro de 2009 eu tinha ido
estudar com Kilma e Bela. À noite tínhamos um evento pra ir, mas deu aquela
preguiça;ficamos cozinhando e proseando Kilma e eu(ela faz uma salada de soja
com hortelã divina!). Ela me contou que tinha tido a ideia da Caravana e
chamado Bela Saffe para se unir a
ela, mas ainda não tinham escrito o projeto. Eu disse que sabia escrever
projetos e ela me perguntou se queria redigir. Fique radiante né!? Nem tinha um
ano de tribal e ia trabalhar com ela. Caramba!!! Ficamos tecendo a malha da
CTNE na cozinha, fluiu de um jeito que terminamos tudo em cerca de três horas.
Quando Bela chegou do evento, lemos e ela falou: “- Pensei que ia ouvir um
esboço e a CTNE já está pronta!”.
Cartaz – CTNE Recife - 2011 |
BLOG: Na Caravana
Tribal Nordeste de 2012,
sediada em Recife, o ATS® teve uma repercussão
positiva no evento.Como foi essa receptividade nordestina para com o
estilo? Em 2013, vocês continuaram os estudos do mesmo com Nadja El Balady. Vocês têm pretensão de formar algum grupo de ATS®
em Pernambuco?Caso o tenha, futuramente, você tem pretensão em conseguir o selo
de Sister Studio de Carolena Nericcio
(FCBD®)?
Nadja ter levado o estilo para o Estado foi muito
importante. A receptividade deu-se pela sede de estudar e saber a origem do
Fusion, que tornou-se uma paixão. Os estudos continuaram, mas quem pode falar
sobre essa relação é Carol Monteiro,
que é diretora do Valquírias junto à Nadja
El Balady. Imagino que ela deva pensar sobre o selo bem mais adiante,pois,
recentemente, deu luz a Breno e vai passar um bom tempo dedicando-se ao rebento.
E eu nem nunca cogitei nada sobre isso, quem sabe no futuro...
Valquírias – CTNE Recife 2013 |
BLOG: Por que você começou a querer ou ver necessidade em se aprofundar no
ATS®? Qual importância que você vê no ATS®?
O ATS é mãe, a raiz de tudo que
fazemos! Sem ATS não existe tribal. Isso Kilma me ensinou em 2009 e eu nunca
esqueci! A base característica que nos define, a priorização da Tribo em
detrimento do ego; tanto o é que só pode ser dançado em grupo, acredito que o
improviso coordenado criado por Carolena
tem como função pedagógica mostrar como dependemos uns do outros para nos
chamarmos humanos, para poder-nos dizer quem dera artistas. Tribal, árvore,
ligação, família, a palavra já diz, não é para ser sozinho, o ATS está ai para
nos lembrar disso todo o tempo!
BLOG:
Nas edição de 2010 e 2011, vemos ilustrações muito bonitas nos flyers da CTNE,
que remetem tanto o lado Nordestino quanto a dança Tribal. No palco de 2010, na
edição Pernambucana,no fundo do palco tem duas bailarinas tribais com uma
forma de desenho bem característico do Nordeste. Gostaria que comentasse um
pouco sobre a idéia das ilustrações com relação ao tribal fusion.
Os cenários
seguem bem nosso ideário cultural, que tem os pés fincados no nosso gosto pela
Arte Armorial. Em 2010 eu pensei naquelas bonecas ao ver uma ilustração da Rachel Brice. O grupo tem a sorte e ter
duas artistas plásticas, Andressa e eu, então falei pra ela da ideia e
perguntei se ela faria. Andressa
elaborou e concretizou todo o projeto cenográfico da CTNE; ela desenvolveu os
desenhos se orientando pelo formato cordelista (histórias de contos nordestinos
e anedotas por meio de ilustrações), escolheu
os materiais e a forma e, em 2011, ela criou uma árvore tribal seguindo a
estética da serigrafia (arte de criar imagens por meio da reprodução em entalhe
de madeira, muito típica de nossa região). Em 2013 foi um projeto conjunto: Esther e eu demos a ideia, e todos
juntos participamos da concretização.
Cenografia CTNE Recife – 2010 por Andressa Máximo |
Cenografia CTNE Recife – 2011 por Andressa Máximo |
BLOG: O Nordeste é uma das regiões mais ricas e criativas na
dança tribal, mesmo estando distantes do Sudeste que, geralmente, é o porto das
principais informações e workshops. As bailarinas são muito técnicas e as
coreografias muito bem desenvolvidas. Na sua opinião, o quê se deve esse
destaque na dança tribal nordestina? Vocês realmente estão mudando a rota de
eventos da dança tribal, tirando o enfoque do Sudeste e traçando uma rota para
o Nordeste. Gostaria que comentasse um
pouco esse processo na dança tribal no Nordeste Brasileiro.
O Sudeste é um
dos pontos de início e disseminação do estilo no país, graças à essa recém
criada tradição sulista acredito que tudo tenha contribuído para que
eles se tornassem os principais realizadores de festivais que trazem workshops
com as bailarinas que nos inspiram até hoje! Não encaro o fato como problema, é
construção da história do Tribal brasileiro. Isso tem mudado um pouco: as
Shamans já levaram para Natal wokshops importantes equilibrando esse raio de
realizações. E mesmo que não seja fácil ter acesso às informações que chegam ao
Sul, nós compensamos estudando; é como diz a tal história: a dificuldade é a
mãe da criatividade! Se de repente não posso fazer um workshop que gostaria
muito, acho outra corrente de pesquisa, estudo Ballet, baixo um DVD, o que eu
não posso( e não me permito) é parar diante da dificuldade!
Acredito que o
sucesso do tribal nordestino tenha essa raiz. Não acho que estejamos mudando
rotas, mas criando um novo nicho de produção, fortalecendo o nome do nosso
estilo, dando a nossa parcela de contribuição. Ouvi uma coisa muito bacana de Nadja El Balady (RJ) que esteve
recentemente em Recife para dar um Workshop de ATS. Ela esteve em nossos ensaios
observando os novos projetos e me disse o seguinte: “Fiquei muito impressionada
com a qualidade do trabalho técnico e artístico que vocês estão produzindo
agora! Vocês cresceram, não são só bailarinos de Tribal Fusion; vocês são
bailarinos, vocês dançam!” Eu vejo isso na região. É só ver o trabalho dos
grupos e solistas, e identificar essa preocupação em ser plural.
E esse é o
nossa balanço no momento. Fizemos uma crítica e vimos que o grupo é jovem, e
está finalmente se profissionalizando; assumimos isso agora está acontecendo! Ser
profissional vai além de executar bem coreografias, precisa de postura que
defina isso, parar de pensar como bailarinos disso ou daquilo, para nos
dedicarmos a sermos bailarinos e, assim, representar melhor no nosso amado
Tribal. Não acredito que se queira mudar rotas, mas fazer o melhor possível
para aproximar os caminhos do Tribal brasileiro. O mais bacana é ver que isso
já está acontecendo, pois tem sulista com a alma na arte nordestina e
representando bem uma identidade na qual nos construímos , mas é pertença de
quem nasce no Brasil, independente da geografia.
(Marcelo Justino – SP)
|
BLOG:
Em 2012, você e Caio Pinheiro realizam um duo, misturando tribal fusion e dança
contemporânea. A coreografia Romance D'Areia é uma das mais emocionantes e
sensíveis que já vi na dança tribal brasileira. Conte-nos o quê os inspirou
para a formulação da parte conceitual e técnica desta coreografia. Como foi o
processo de inspiração e elaboração dos figurinos, além da escolha da música.
Como a coreografia repercutiu na cena tribal?
BLOG: O quê você mais gosta no tribal
fusion?
Da maior qualidade que ele possui “no meu” ponto de vista, a possibilidade
de sempre vir a ser. Ser outro dentro da sua própria natureza, da volaticidade,
da abertura a que se põe sujeito. A palavra fusão é por si a denominação do que
eu mais gosto no Tribal; que o faz único, por poder se libertar da
previsibilidade. Esse vir a ser é a força matriz, aquilo que me motiva.
BLOG: O quê você acha que falta à
comunidade tribal?
O que falta a comunidade tribal não é algo
específico dela, mas que falta a vida comunitária no sentido comum. O que nos
falta, falta a todo homem que vive em sociedade. Analisarmos nossos defeitos e,
à luz de nossas qualidades, buscar melhorar nossa natureza, nossa humanidade. E
isso não constitui, ao meu ver, um problema diferenciado, é verdade que como
artistas temos uma sensibilidade para olhar o mundo acima da média, digamos
assim; mas isso não nos faz menos falíveis como se pensa, estamos propensos aos
mesmos erros. Por que não admitir isso?! E talvez por sermos artistas, isso
seja até mais extremo. Assumir que levamos isso para o mundo da dança iria nos
poupar muito tempo, sorrisos amarelos e quem sabe melhorasse ou resolvesse
nossas relações.
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
BLOG: Como você se expressa na dança?
Como alguém que, mesmo um dia tenha tentado fugir
da essência e se adequar, intimamente sabia que não seria possível,pois, nunca
soube viver sem Arte. Eu sou e me sei só assim, sendo pela e para a Arte.
BLOG:
Quais seus projetos para 2014? E mais futuramente?
Estrear nosso primeiro espetáculo:
Nordestinados. Procurar novos logradouros de trabalho; criar e criar sem
parar! Só tenho uma existência (pelo menos que me recorde hehe...) e fazer uma
coisa só nela não é opção, quero experienciar tudo que for possível como
artista. Viajar com meu povo, levar meu trabalho para outros lugares, conhecer
gente nova, aprender com as pessoas. Buscar o que eu não conheço; sei que estou
só começando o caminho. Fé em Deus e pé na sapatilha!
BLOG: Improvisar ou coreografar? E
por quê?
Os dois,
coreografar é o desafio de materializar ideias, codificar, criar signos,
construir. Mas, improvisar é a liberdade de se entregar do momento. Sempre os
dois.
BLOG: Você trabalha somente com
dança?
Não, sou graduada
em Filosofia (com pesquisa) em: Filosofia da Arte, Fil. Da Literatura,
Estética, História da Arte e Sociologia. Atuo no campo do ensino formal paralelamente
à dança.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
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Não tenho. “Acredito”
que cada um tem que achar sua forma de tocar as coisas e senti-las; é muito
particular, próprio da escolha. De modo que não me acredito apta para deixar algum
eixo reflexivo para alguém.