[Dançando Narrativas] Memento Mori: a potência artística da mortalidade.

 por Keila Fernandes

Novembro é o mês no qual guardamos o feriado de finados. Apesar de ser um feriado de tradição cristã no nosso país, datas como essa existem desde a antiguidade estão presentes em calendários de diversas culturas do mundo inteiro.


A morte sempre intrigou os seres humanos, e as dúvidas sobre o que acontecia depois do corpo morrer é uma das explicações para a origem dos primeiros enterramentos.

Diferente dos outros hominídeos, Sapiens e Neandertais compartilhavam o costume de enterrar seus mortos. Essa preocupação com os corpos, segundo os estudiosos, indica a compreensão do processo de morte, bem como as primeiras reflexões sobre o que poderia vir depois.

Encontramos nas narrativas mitológicas de diversas culturas histórias sobre a morte, o além, os submundos e as divindades que guiam e julgam as almas. Além de datas comemorativas e relatos de festivais para celebrar e recordar aqueles que já haviam partido.

Imagem de Joe Velasques, em Pixabay

A morte sempre foi parte da vida. Muitas culturas ainda a enxergam como algo natural, só mais uma etapa do movimento cíclico da natureza de constante morte e renascimento.

Em um cenário tão caótico e sombrio como o que temos vivido desde o início da pandemia, a ideia da morte se faz presente com maior intensidade no nosso dia a dia. Não que antes da pandemia não fizesse parte do cotidiano de milhões de pessoas pelo mundo. Mas esse cenário furou muitas bolhas e nos colocou cara a cara com a nossa mortalidade, com a nossa finitude e fragilidade da vida.

A morte é um tema espinhoso e tabu na nossa cultura. Vemos como algo ruim, a ser temido, e por isso é um assunto  pouco discutido em espaços públicos, e até mesmo dentro dos lares (salvo em ocasiões nas quais famílias perdem ou estão prestes a perder entes queridos). Assim, não estamos preparados para aceitar a fatalidade da vida: as pessoas a quem amamos e nós, todos vamos morrer um dia.

Lembrando que, durante esse período, muitas pessoas foram tiradas de nós muito cedo. Milhares de pessoas tiveram sua jornada encurtada por irresponsabilidade, falta de empatia e incompetência para lidar com um cenário pandêmico. E quando falo nesse texto sobre compreendermos e falarmos sobre a morte, não estou dizendo que essas mortes evitáveis devem ser banalizadas e normalizadas. Por isso, mais do que nunca, devemos lembrar dessas vidas ceifadas de maneira tão repentina.

O Dark Fusion é um espaço no qual sentimentos incômodos são expressados por meio da nossa visão artística. A dança pode ser um espaço seguro no qual é possível encarar as dores e dúvidas geradas pela perda ou pelo medo da perda.

Morte: O Sentido da Vida, de Neil Gaiman

Em 2017, o Underworld Fusion Fest teve a Morte como tema, trazendo para os palcos a visão de diferentes artistas sobre o assunto.

A Morte foi abordada a partir da perspectiva mitológica, psicológica, filosófica, religiosa, cultural e ocultista. No palco ela foi celebrada como esse momento obscuro, cheio de incertezas e tristezas, mas inevitável e com o qual devemos sempre conversar.

Expressar nossas tristeza, raiva, desespero e aceitação por meio da dança é legítimo, e pode nos ajudar a lidar com momentos difíceis.

Convido então vocês a assistirem as apresentações, todas disponíveis no youtube.

Link: 3ª Edição do Underworld Fusion Fest | 21 & 22 de Outubro de 2017


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Dançando Narrativas


Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e  historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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