por Kilma Farias
"Tribal" por Shiko |
A bellydancer que sente o sangue ferver quando escuta uma evolução de bateria de Maracatu ou o som ancestral de um berimbau, com certeza já dançou um Tribal Brasil.
Venho desenvolvendo esse estilo com a Cia Lunay, grupo que coordeno e que comemorou no último 19 de abril o marco histórico de 18 anos de produção em dança, militando culturalmente de modo ininterrupto.
Particularmente tenho o maior carinho pela nomenclatura “Tribal”. Sinto e compreendo esse termo como algo que agrega, que aproxima, que acolhe numa identidade – um só corpo, uma só tribo.
Aqui na Paraíba, estado que faço morada nessa desafiadora travessia que é viver, temos dois povos, ainda muito denominados de tribos: Os Potiguaras e os Tabajaras. E o encanto que é vivenciar os saberes desses povos, dessas tribos, emergir nas histórias, cantos, juremas, artes e visões de mundo. Entender a tradição como algo vivo que dialoga também com as tribos urbanas é de grande valia para não cair no romantismo da tradição estanque.
"Yanomami"por Shiko |
É justamente dessa problematização do termo “Tribo” como algo que ficou parado no tempo e no espaço e por isso não evoluiu sendo algo menor, à margem do mundo, que as discussões acerca da nomenclatura “Tribal Fusion” ganharam corpo e espaço em nosso meio.
Apoio a epistemologia decolonial por compreender que parte de nossa iniciativa romper com as colonialidades, produzindo formas múltiplas de pensar o mundo em todos os seus campos – econômico, político, artístico-cultural, relacional, educacional, entre tantas outras esferas. Que possamos também com nossa dança romper com verticalizações históricas que trazem heranças malditas.
Nessa compreensão, passamos a utilizar a partir de então o termo “Fusion Brasil”, desapegando do querido, porém problemático, termo “Tribal”.
“Fusion” significa “fusão” na maioria das línguas latinas que têm o espanhol como idioma, assim como significa o mesmo na língua inglesa. Desse modo, podemos construir uma ponte de mão dupla comum às Américas do Sul ao Norte. Trazendo um pensamento de equanimidade entre culturas e visões de mundo.
c.c.eletronicband por Shiko |
Somos Fusion – uma amálgama de traduções, resistências e (re)existências!
As culturas popular e afro-brasileira, fonte base de pesquisa para o agora “Fusion Brasil” buscam olhar para as histórias não oficiais da dança. A diversidade aqui importa e não há juízo hierárquico de valor. Há respeito, apreciação, equanimidade e acolhimento. Não só no âmbito da nossa dança, mas na nossa construção de sujeito como seres humanos mais plenos e integrais.
Abraçar o termo “Fusion” é acolher e não segregar. É compreender que cada corpo é ator da tradução do mundo. E que toda tradução é legítima, é liberdade poética, é estética de revolução.
Que venha o “Fusion Brasil”!
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Tribal Brasil - Identidade no Corpo