por Hölle Carogne
Neste Desvendando, a bailarina
Gilmara Cruz nos conta o que há de oculto por trás de sua coreografia “Lilith,
a Lua Negra”.
Conheça um pouco sobre este trabalho
denso e cheio de energia!
Obrigada por compartilhá-lo conosco,
Gilmara!
Venenum Saltationes: Quando
e como surgiu a vontade de criar “Lilith, a Lua Negra?”
Gilmara Cruz: A coreografia “Lilith, a Lua Negra”
foi idealizada como trabalho final para fechar o ano de 2016. Ano em que chamei
muito por ela e até a tatuei em meu braço. Sinto-me relacionada a seu arquétipo
em termos de feminino rebelde, liberto, não submisso e não cristão. O evento
que eu organizo no final de ano, chamado “Solstício das Deusas” neste ano de
2016, teve como tema “mitologia” então foi quando percebi uma oportunidade
imensa de fazer um ritual através da Dança para essa entidade feminina.
Venenum Saltationes: Do
que se trata este trabalho? Qual o assunto abordado?
Gilmara Cruz: A performance trata-se de um ritual
obscuro, onde através dele invoco a entidade e entrego meu corpo para uma,
digamos, “possessão”. Dando assim abertura maior para essa energia, em meu
corpo e minha mente, que pudesse ser manifestada através da Dança. O Assunto
abordado é a entidade Lilith.
Venenum Saltationes: Existe
alguma linguagem oculta por trás de “Lilith, a lua negra”?
Gilmara Cruz: Sim! Houve uma tentativa de
desocultamento da energia em mim. Porque sinto que ela já está enraizada em meu
interior, porém nem sempre manifestada. Lilith, traz consigo uma face sombria e
misteriosa e revela os desejos mais ocultos dos seres femininos. Para quem não
conhece a sua história, ela foi a primeira mulher a ser criada e se revelou
contra seu parceiro Adão por falta de respeito a suas vontades. Lilith não
inibiu seus desejos, ela foi em busca de realizá-los. Não permitiu a supremacia
masculina sobre ela e se rebelou contra. Nessa coreografia Lilith se manifesta
serpenteando os males e instintos ocultos do feminino, além de sua libertação,
claro.
Venenum Saltationes: Com
quem “Lilith, a lua negra” tenta se comunicar? E o que ela quer dizer?
Gilmara Cruz: Ela busca uma aproximação com a entidade
feminina, liberta, sexualizada e rebelde de Lilith. E ela manifesta a liberdade
que toda mulher deveria ter. Se a coreografia pudesse falar em nossa língua,
ela diria para as mulheres se revelarem, para aceitarem sua essência natural, para
se libertarem das amarras que a sociedade patriarcal tenta nos impor, sem se
importar com julgamentos alheios.
Venenum Saltationes: Comente
sobre os processos de criação de “Lilith, a lua negra”.
Gilmara Cruz: Além da re-leitura do livro “Lilith
a lua negra” do autor Roberto Sicuteri, o desafio foi encontrar uma música que
manifestasse a força, o poder e o mistério da entidade Lilith. Após encontrar a
música “Lilith” da banda Varien foi desafiador trabalhar as partes de Dubstep
que tem nela. Embora eu venha estudando o Hip Hop e algumas vertentes do mesmo,
eu nunca os levei para o palco. Foi bastante desafiador colocar isso na prática
em uma coreografia que dizia muito sobre mim. A música citada traz
características de poder e com batidas fortes que me levaram a encaixar, além
do ATS e clássicos do Tribal Fusion, movimentos de força, explosão do Popping,
Breaks, sinuosidades do Wave, deslizamentos de pés do footwork e outros
elementos que dialogam com o Hip Hop, tudo isso numa coreografia de Dark Fusion
Ritualístico.
“Eu danço a minha vida para mim
mesma; Sou Inteira; Sou Completa;
Digo o que penso
E penso o que digo;
Eu danço a escuridão e a luz;
O consciente e o inconsciente;
O sadio e o insano;
E falo por mim mesma;
Autenticamente;
Com total convicção;
Sem me importar com as aparências;
Todas as partes de mim;
Fluem para o todo;
Todos os aspectos divergentes
tornam-se um;
Eu ouço;
O que preciso ouvir;
Sinto os meus sentimentos;
Eu nunca me escondo”
Vídeo: