por Aerith Asgard
Nossa entrevistada do mês de maio é a bailarina Janis Goldbard, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Janis foi pioneira ao introduzir a Dança Tribal no estado do Acre. Ela nos conta sobre sua trajetória, suas influências com as Artes Marciais e Dança Indiana. Confira!
BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na
dança do ventre/tribal. Como e quando você descobriu o tribal fusion e porquê se
identificou com esse estilo?
Tudo começou com a
minha irmã que praticava a dança do ventre e levava seus estudos para casa na
forma de treinos e ensaios. Depois de algum tempo, sem nenhuma prática corporal, resolvi
experimentar a dança do ventre e, após 1 ano fazendo aulas esporádicas, decidi procurar uma escola especializada. A princípio
não havia vagas para a turma de dança do ventre, então, fui para a turma do
Tribal até abrir nova turma.
Fiz a aula experimental,
me identifiquei muito com o estilo e a forma como me foi apresentada a
movimentação densa e limpa, a expressão necessária, o trabalho muscular, as
músicas; tudo era novo pra mim... Fui pega pelo estilo nesse mesmo dia.
BLOG: Quais foram os professoes que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Meu primeiro professor foi meu pai (mestre) no Kung-Fu e ele me ensina até hoje sobre respeito, humildade e persistência. Marília Pires Foi a primeira professora mulher de dança do ventre que eu tive e me mostrou o lado lúdico e o valor sagrado que esta dança possui. A grande Nanda Najla, por sua postura e aulas carregadas de técnica e paixão me mostrou o valor do estudo técnico, a importância dos treinos e do respeito ao coletivo. Guru Murthi que me ensinou o valor da disciplina, e também por ter sido o primeiro professor de dança indiana clássica o qual tive contato. Svetlana Gubaidullina que com paciência e amor me ensinou sobre dedicação e devoção. Foram muitos professores inspiradores! Nós temos muitos bons professores no Brasil, poderia citar uma lista enorme aqui, mas, por hora, estes representam bem.
BLOG:
Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto
tempo?
Eu venho das Artes Marciais (estilo Wing chun) e sempre treinei, mas era meio que de brincadeira. A partir de 2001, voltei para o Kung-Fu, o qual treinei até 2006, quando comecei a estudar dança do ventre e, em 2009, conheci o Tribal Fusion. Depois,a partir de 2012, tive contato e experimentos com diversas linguagens de dança, que iam do ballet ao frevo. De 2013 a 2015 fiz parte do grupo Expressões Contemporâneas “Criação e Visibilidade” no Sesc Rio Branco Acre, o qual tive a oportunidade de estudar com professores de dança de universidades federais de todo o Brasil. Hoje, de volta a Belo Horizonte-MG, continuo no Kung-Fu e no Tai Chi Chuan, Ballet e Dança Indiana (estilo kuchippudi e bollywood).
BLOG:
Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Na dança do ventre/tribal, Tahia Carioca, Suhaila Salimpour, Carolena Nericcio,
Masha Archer, Jill Parker, Nanda Najla, Rachel Brice, Sharon Kihara, Ashara. As
minhas fontes de pesquisas de início se basearam nelas. Comprei DVDs e até hoje acompanho o trabalho delas pesquisando no youtube e lendo artigos sobre as mesmas, o que elas tem feito, onde
estão, como estão, porque cada uma em seu estilo tem sua importância e seu
valor, mesmo que não estejam nos palcos as considero grandes fontes de inspiração pra mim.
Atualmente, gosto de
estudar as que fazem as fusões indianas como Chantelle Gomez, Judite dilshad, April Rose, Aleksandra Kilczewska, Meher
Malik.
No ATS®, sigo com
conversas inspiradoras com Thalita Menezes que tem me ajudado nessas
explanações.
Alguns grupos de
dança contemporânea que eu amo são: Grupo Samadhi Dance Company, Chandra Kala, Banjara Dance Group. Eles me inspiram em seus trabalhos de grupo.
Os bailarinos de dança
indiana clássica e bollywood que sempre me inspiram: Carlos Clark, Nitisha Nanda e Jallu Jindal .
Nas artes Marciais, meu pai Rob Nin porque me mostra sempre o valor do treino; Bruce Lee, porque é
um ícone de força e persistência; e Jackie Chan ele é muito versátil e luta muito.
Quando quero me
inspirar para espetáculos assisto a filmes indianos e de Kung-Fu porque eles
são carregados de beleza e harmonia.
BLOG:
O que a dança acrescentou em sua vida?
A dança é uma atividade que me faz olhar para
dentro de mim de uma maneira diferente e também pude nas minhas experiências
como mediadora olhar para o outro de uma maneira mais humana, mais paciente. A
dança também me acrescenta disciplina, dedicação, humildade e sempre novas
parcerias. É com certeza o coletivo, no qual posso ser eu mesma, rir junto, chorar,
criar, discutir, abordar temas sem medo algum de me expor. A dança me dá
liberdade.
BLOG:
O quê você mais aprecia nesta arte?
O compartilhar, o
viver num coletivo onde todos(a) tem de um único desejo: a liberdade de criar,
a comunicação não verbal, a satisfação de um trabalho corporal dizer o que você
quiser e precisar.
BLOG:
O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que
o tribal está livre disso?
Talvez a indisciplina com que
tratamos nosso próprio ego, quando paramos para criticar ou se sentir ofendido (a) com crítica do
outro(a).Na verdade perdemos tempo, e tempo é treino. Melhor treinar que perder
tempo. O tribal não está livre disso, infelizmente, mas vejo pessoas mais
maduras envolvidas então a recorrência é menor.
BLOG:
Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Não especificamente comigo, e sim
com a comunidade de bailarinas de dança do ventre
que, entre si, não tinham um bom
relacionamento e o meio artístico as tratavam como "mulheres bobas que ficavam
brigando entre si".
BLOG:
Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Como eu coloquei acima, a desunião, ingratidão, inveja e falta de
profissionalismo de algumas pessoas podem atrasar o processo de evolução para
que sejamos mais respeitadas no cenário artístico no Brasil. Isso me chateia.
BLOG:
E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Amizades, parcerias, discussões
saudáveis conversas infindáveis sobre essa arte, divulgação do estilo no Acre
em forma de participação em seminários, cursos ministrados, viagens, projeto
contemplado (pelo edital de pequenos apoios da
fundação Elias Mansour), que foi um passo bem importante para esse projeto
de divulgação do estilo para a região.
E algumas considerações palpáveis
como:
E as grandes amizades que fiz e
que só tenho a agradecer pois estava entre os grandes fazedores de cultura do
Acre.
BLOG: Você foi pioneira no estado
do Acre, na cidade de Rio Branco, introduzindo o estilo tribal fusion.
Conte-nos como foi esse processo, as dificuldades encontradas, cenário da dança tribal da região Norte. Pontos
positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público
bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
A verdade é que eu estava
procurando algum tipo de dança para continuar meus estudos. Procurei dança
flamenca (não havia); procurei dança do ventre (turmas básicas); procurei dança
indiana (então nem pensar). Foi aí que pensei: "então vou voltar para o balé".
Depois de algumas aulas falei da
minha trajetória de dança para minha professora de balé e nós então resolvemos
fazer um teste colocando “dança do ventre tribal e fusion”. De início as pessoas
procuravam dança do ventre. Só a partir do primeiro espetáculo é que começaram
a espalhar que havia algo diferente e então eu já estava inserida no MODA,“Movimento
de dança do Acre”, que me deu parcerias incríveis e com a qual eu sempre estava
em comunicação para que o meu trabalho e o Tribal Fusion fossem reconhecidos e
conseguíssemos uma formação de público para o estilo.
A cidade/Estado sempre me
acolheram, convidando para pautas de ensaio;se eu tivesse alguma dúvida sobre algum projeto, lá estava alguém para me auxiliar; convocatória para reuniões,etc. Nisso tudo
sempre estiveram a disposição. Também tive apoio da mídia da cidade, através de entrevistas,
participações em programas, rádio,etc. Não
houve barreiras. Cheguei inclusive a ir para Rondônia duas vezes a convite de Kaká
Ferreira e de Cristina Pontes que fazem uma divulgação sobre o tribal na cidade
de Porto Velho e a recepção o carinho
dos estudantes sempre fui muito bem recebida. Até hoje recebo mensagens de
apoio e sempre me coloco a disposição sobre dicas e conselhos sobre o estilo.
Acredito que o ponto positivo
seja que ainda há muito espaço para se criar e a cultura do Norte é muito rica,
tem muitos caminhos de pesquisa e estudo para poder se transformar num tribal
maravilhoso. Porém, o negativo cai nessa mesma situação e, sem estudo sério,
pesquisa corporal, entendimento de outras linguagens, aprofundamento teórico,
os trabalhos podem ficar confusos, sem consistência e podem se perder no meio de
tantas informações, pois eu acredito que a criatividade se baseia na técnica.
BLOG: Atualmente você reside em Belo Horizonte - MG. Como é o cenário da
dança tribal de Minas Gerais? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado,
repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
Em Belo
Horizonte o cenário de dança Tribal está cada vez mais sólido, todos(as)
professores(as) correm atrás de estudo e formação e isto é refletido nos
alunos(as) que, quando há festivais e mostras de dança, aparecem com trabalhos
autênticos e interessantes. O público já reconhece o Tribal como uma linguagem
diferente isto é muito bom. Quanto ao incentivo cidade/estado acredito que
desde sempre a Arte é colocada em segundo plano e agora não é diferente, portanto, é muito como nós nos colocamos também. Tem de correr atrás de
incentivo, escrever projetos, às vezes fazer uma parceria com a prefeitura para
dar aulas em eventos grandes, essas coisas. Quem não aparece nunca será visto.
BLOG: Conte-nos um pouco
sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação da parte
conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos
figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena
tribal?
Vou falar de duas
coreografias.
A primeira é "A rival" feita a partir
do conceito do filme Burlesque da academia e Estúdio Arabesque. Divertida e tudo a ver
com o que acontece às vezes no cenário de dança de qualquer lugar: rivalidade e
competição, desentendimentos mas também muita diversão. O figurino e processo
criativo foram baseadas nas pesquisas de danças da época, no neo burlesque,
charleston, em figuras que representam a época como Dita Von tese, Shaide Halim (atual Lady Burly) e tive como referência a coreografia de Zoe Jakes como inspiração.
A segunda coreografia, "Índia em 4
tempos", foi um resumo do meu trabalho todo no Acre o ano em que sabia que
iria voltar para o sudeste, o ano em que voltei da Índia confiante da minha
paixão pela dança indiana, o ano do agradecimento pelo carinho e amor dos meus
colegas de dança, teria de ser um agradecimento
pelos 3 anos em que vivi no Acre.
Juntei em 10 minutos o que
seria um fragmento do meu trabalho, No processo criativo optei por levar minhas
referências em dança indiana que sempre foram muito fortes, mesmo antes de eu
ter ido à Índia. No figurino, uma inspiração direta da índia, optei pelocholi, adornos
indianos, pulseiras cores, bindi, jóias e adornos; tudo muito exagerado porque é assim que elas gostam: uma mulher tem
de estar como uma Deusa. Também foi uma homenagem a Sharon Kihara , é uma
inspiração pra mim até hoje.
Se quiser conhecer mais
um pouco do que vem sendo criado no Acre, de como a comunidade da Dança está se organizando e de como eu vinha representando o Tribal
Fusion, aí está um link: http://cartografiadadancadoacre.com.br/?p=151
BLOG: Dentro do Tribal, você também
trabalha com a fusões com danças indianas. Qual sua relação com esta dança?
Como fusionar esta dança com o tribal fusion sem transgredir o lado sagrado da
dança indiana? Qual a principal semelhança entre o
tribal e a dança indiana que os tornam tão compatíveis?
A aprtir da prática da meditação (sahaja Yoga) é
que esse desejo foi se estabilizando. Eu até criava coreografias e
inseria movimentação indiana, mas só depois que fui para Índia é que comecei a enxergar sob nova ótica o que
eu estava disposta e o que eu desejava produzir. Minha relação com a dança indiana parte de um principio devocional de alegria,
de bem estar, de comunhão com o Divino.
A dança Tribal já tem esse conceito em si,
quando fazemos o puja para Deusa, quando dançamos com nossas (os) irmãs(os) e
temos de respeitar a outra em sua singularidade e isso é inerente à dança Tribal
e também à dança indiana clássica, seja sob qualquer tema que você irá criar, o
que as tornam compatíveis em fusões é justamente isso.
O respeito
com a qual eu crio a dança tribal é o
mesmo respeito no qual eu crio minhas coreografias semi-clássicas de dança
indiana. Na verdade, eu não fico pensando se vou ou não transgredir, prefiro
assim, por isso coloco que danço o Semi-Clássico, sei e respeito a linha rígida
dos estudos da dança indiana clássica, quem sou eu pra transgredi-las.
BLOG: Você considera a dança tribal uma dança étnica contemporânea? Por
quê? Totalmente. Se você mostra o Tribal Fusion
para um amigo ou mesmo um crítico de dança ele irá enxergar o breaking, as
fusões, o figurino a música diferente e tudo o que é exótico e que fazem ligação
entre si de uma forma harmônica e ele irá dizer: " Isso é legal! É novo! É de
agora!". Apesar de usar elementos étnicos muito fortes, ele irá perceber que é
fusão e parte de uma idéia nova, de uma nova linguagem, uma nova comunicação em
dança.
BLOG: Em sua opinião, o quê é tribal fusion?
Vou colocar da maneira
que me foi melhor apresentada em formas de pesquisas e conversas com algumas
colegas da área.
Quando eu cheguei no Acre
não havia conhecimento algum sobre o estilo e
precisei estudar muito, me certificando de não passar informações
errôneas e de uma maneira que eu me organizasse e colocasse clara e objetivamente para as pessoas do
Norte do Brasil que tinham pouco ou mesmo nenhum conhecimento do estilo o que é
o Tribal Fusion.
,
Decidi que precisava
falar/ expor sobre o ATS® e também era uma maneira de eu mostrar que existe o
ATS®, pois as pessoas não tinham nunca nem ouvido falar do ATS®, o que para mim era imprescindível saber ao menos um pouco para o conhecimento do estilo.
Bom, a partir do momento que
enxergo movimentações que possuem base no ATS® o considero tribal, a partir de
outros elementos colocados como fusão de alguma outra dança com base na Dança
do Ventre, entendo que é bellyfusion. É fácil enxergar o tribal nas coreografias,
posturas e elementos tradicionais que partem da base do ATS®.
BLOG:
O quê você mais gosta no tribal fusion?
A possibilidade de criar em cima
de um conceito, isso é tão gostoso!
BLOG:
Como você descreveria seu estilo?
Tribal Fusion/ Dança étnica
contemporânea. Depende muito do conceito da
coreografia na verdade.Eu tenho coreografias de Tribal
Fusion, bellyfusion, bellywood, Semi- Clássica indiana, eu não tenho nada
contra nomenclaturas, eu as acho importante.
BLOG:
Como você se expressa na dança?
De maneira devocional. Hoje em
dia venho observando isso em mim e é onde eu realmente me conecto com o Divino e
não tem intermediário, a conexão é direta.
BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu momento
tribal favorito ou inesquecível?
O meu momento Tribal Fusion no Acre
foi incrível! O cenário artístico e o MODA (Movimento de dança do Acre) me ensinaram
muito. Acredito que para o Tribal Fusion a divulgação do meu pioneirismo foi um momento muito importante não
só pra mim, mas para toda região.
BLOG:
Quais seus projetos para 2017? E mais futuramente?
Continuar dando aula de dança Indiana
semi-clássica, voltar a fazer aulas de ATS®, continuar treinando Kung-Fu e Tai
chi chuan.
Mais futuramente voltar à índia,
escrever um projeto para dança e novamente ser contemplada em algum edital de
cultura e abrir o meu espaço de danças.
BLOG: Improvisar
ou coreografar? E por quê?
Os dois fazem parte de um
processo de aprendizado, mas coreografar para mim no momento é mais interessante.
BLOG:
Você trabalha somente com dança?
Também sou designer gráfico e
empreendedora na área de atacado e varejo.
BLOG:
Deixe um recado para os leitores do blog.
Estudem, respeitem o caminho
e a opinião do outro, é de diversidade que somos feitos.
Contato:
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