BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal;como tudo começou para você?
Meu
primeiro contato com a Dança Tribal foi em 2006 através do DVD da companhia Bellydance Superstars
apresentando um show no Folies Bergère em Paris (2005). Neste show dançaram
Rachel Brice e a formação do The Indigo da época. Eu já fazia dança do ventre
há alguns anos e nada havia me chamado tanto a atenção quanto os movimentos,
músicas e figurinos exóticos da companhia.
Tive duas professoras que foram fundamentais para o
meu crescimento na dança. A primeira foi Marilene Sobrinho, conhecida como
Leninha, que me ensinou os primeiros movimentos de dança do ventre em 1999, me
permitiu fazer as primeiras apresentações e me estimulou a começar a ensinar
dança do ventre na Dançart, escola dirigida por Adriana Galvão em Vitória da
Conquista-BA. Adriana foi também uma mestra bastante importante na minha
história pois através dela conheci o ballet, a dança moderna, contemporânea, jazz
e muitas outras modalidades oferecidas em sua escola. Sou extremamente grata
pelas portas que estas duas professoras/amigas abriram pra mim com muita
generosidade.
Sim,
durante toda a minha trajetória com a dança, que começou em 1992, pude
experimentar diversas linguagens corporais. Pratiquei o ballet clássico, a
dança moderna, a dança contemporânea e a dança do ventre por bastante tempo,
mas também já experimentei o jazz, capoeira, danças afro-brasileiras e
sapateado. Hoje tenho me dedicado ao yoga e ao tribal de maneira intensiva.
BLOG: Quais foram suas
primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
No
ballet clássico sou encantada pelo trabalho do russo Mikhail Baryshnikov e da
ucraniana Svetlana Zakharova. Na dança moderna me inspiro no húngaro Rudolf von
Laban e na americana Martha Graham. Na dança contemporânea a alemã Pina Bausch,
o americano William Forsythe e a belga Anne Teresa de Keersmaeker são meus
favoritos. Na dança do ventre admiro bastante o trabalho da egípcia Tahia
Carioca, da argentina Saida e da brasileira Esmeralda Colabone. No Tribal,
minha primeira inspiração foi a americana Rachel Brice, mas ao longo do tempo
passei a admirar dançarinos(as) que se dispuseram a experimentar novos
caminhos, explorar novos territórios em fusões diversificadas que estimulam a
comunidade a expandir seus horizontes e a pensar fora da caixinha. Hoje tenho
enorme apreço pelo trabalho da canadense Zoe Jakes, do francês Illan Rivière e
da portuguesa Piny Orchidaceae. Conheço pessoalmente o trabalho da Zoe e da Piny
e elas são realmente gênias da dança! Illan está na minha lista de desejos de
consumo.
BLOG: O que a dança
acrescentou em sua vida?
Devo
tudo a dança! As amizades, as alunas, as professoras, os mestres acadêmicos, os
colegas de trabalho... Enfim... Todas as conquistas que me possibilitaram
viajar por ai conhecendo outros artistas.
A capacidade que a dança tem de melhorar a nossa neuroplasticidade,
nos deixar mais inteligentes, melhorar a nossa memória muscular, nos colocar frente
às nossas fragilidades e potências para superar obstáculos, nos fazer conhecer
mais sobre nós mesmos (humanos) e nossa produção de conhecimento (cultura),
além de todo o prazer e conexão espiritual que ela nos oferece individual e
coletivamente.
BLOG: O quê prejudica a
dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre
disso?
Creio
que uma das piores questões da dança do ventre e do tribal é ter que lidar com
as frustrações individuais trazidas à dança. Frustrações que são convertidas em
ofensas, fofocas, discursos de ódio e julgamentos, principalmente nas redes
sociais (cyberbullying). Muitas mulheres e homens se aproximam destas danças
buscando uma forma de terapia, de cura das próprias doenças e debilidades. A
dança pode fornecer todo o suporte para a recuperação da autoestima e para
tratamento de conduta por nos fazer mover no coletivo, compartilhando com os
outros o que temos de melhor e pior afim de despertar a nossa consciência e de nos
tornarmos pessoas melhores. Porém, quando o ambiente é precário em ética e inteligência
emocional onde o guia não possui nem ensina valores ao seu grupo, ou pior,
protagoniza posturas de desrespeito, infelizmente o que era pra ser cura se
torna doença, o que era pra ser tribo de luz se torna tribo canibal. Triste de
quem não possui equilíbrio emocional para conviver com o sucesso do outro, com
a opinião do outro, com amor ao outro. Triste de quem é convencido por si só ou
por outros de que não se pode fazer diferente, não se pode lutar por convicções
outras, pois cedo ou tarde tropeça nas próprias limitações. Infelizmente estas
pessoas insistem em empurrar para o próximo o que pior tem em si (o caos das
frustrações pessoais), exaltando a necessidade de controle de ego no momento em
que o próprio transborda rios diante da própria pequenez. Com o tempo padecem!
Estas pessoas precisam de acompanhamento psicológico sério para o bem e a saúde
da comunidade de dança. Ou, na pior das hipóteses, devem ser julgadas em
processos jurídicos que condenam os que agem com calúnia e difamação, pagando
por danos morais e físicos (quando houver). De todo o modo somente a comunidade
de dança é responsável pelo diagnóstico destes desvios de conduta para que, se
possível, essas pessoas sejam punidas, reeducadas e reabilitadas para estar no
meio artístico. Triste de ver, mas também útil para fazer parâmetros do quê e
com quem devemos nos envolver e como devemos agir diante destas circunstâncias.
Percebendo tudo isso sigo leve e distante de toda e qualquer nublada energia.
Felizmente
não sofri preconceitos, pois sempre tive total apoio da minha família e amigos,
o que me tornou uma pessoa segura e paciente ao falar de dança com os outros.
Talvez algumas dificuldades no ambiente acadêmico, pois no princípio tive um grande
esforço para apresentar a dança tribal aos colegas e professores da
pós-graduação em Dança da UFBA, que interessavam-se apenas por dança
contemporânea. Preconceito no sentido real de falta de conhecimento. Após muita
dedicação para conseguir abordar a dança tribal com uma perspectiva contemporânea,
apresentei o meu objeto de estudo para a orientadora Ludmila Pimentel que foi
bastante generosa e entusiasta (e é até hoje para que eu faça o mestrado) e
então pude concluir a especialização com a primeira monografia de Dança Tribal
do Brasil.
BLOG: Houve alguma
indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Decepções com
a conduta de alguns, mas que serviram de aprendizado para que eu saiba como bloquear
algumas relações profissionais... A linha que separa a admiração da inveja e o
espírito colaborativo do oportunista é muito tênue. Aconselho aproximar pessoas
do seu trabalho, da sua casa e amigos após conhecê-las por mais tempo.
Ingratidão e deslumbre acontecem numa velocidade muito grande quando a sua relação
com o outro não é madura o suficiente para saber o quanto ela é confiável. Há
muita carência e necessidade de ser visto hoje em dia e muitas vezes esse
sentimento atropela tudo o que poderia florir, sem respeito ao professor, aos
colegas, a comunidade. Mas tenho aprendido a descartar rapidamente relações que
não somam e a me aproximar profissionalmente daqueles que merecem por terem
muito a doar, construir e evoluir em conjunto com humildade e honestidade.
BLOG: E conquistas? Fale
um pouco sobre elas.
BLOG Você
foi uma das primeiras bailarinas do Brasil a se envolver com o estilo tribal.
Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a
pesquisar? Como era visto a dança tribal naquela época e como hoje ela vem se
apresentando na cena brasileira? Na sua opinião, o quê precisa ser melhorado,
aperfeiçoado e, até mesmo, mudado no comportamento da(o) tribalista(o)
brasileira (o)?
No princípio, poucas referências foram acessadas
presencialmente. Muito do conhecimento de dança era obtido através da internet
e outras mídias, como os DVDs. Fui auto-ditada por um longo período até poder
participar de workshops pontuais com algumas protagonistas do estilo tribal.
Precisei viajar dentro e fora do Brasil para colher informações mais precisas. A
dança do ventre tribal era apenas associada ao que Rachel Brice apresentava sendo,
talvez até hoje, a dançarina mais conhecida pela maioria da comunidade
brasileira. Hoje é possível ter acesso a muitas outras produções de dançarinas
e grupos de todo o mundo, principalmente aqueles que deram partida as inovações
nos métodos e estilos. Acredito que a comunidade brasileira precisa estar mais
disposta a pesquisar o que está acontecendo de novo na cena mundial, nos
desdobramentos que essa dança tem gerado e nos artistas de outras linguagens de
dança que a comunidade mundial tem abraçado. Europa, Ásia, América Central e
Latina tem apresentado diferentes estéticas, o que torna a cena muito mais rica
e vai muito além do estilo Tribal Fusion que foi iniciado nos Estado Unidos.
BLOG: Como
é o cenário da dança tribal na Bahia? Pontos positivos, negativos, apoio da
cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de
dança do ventre/tribal?
Na Bahia há uma
comunidade super bacana. Ministrei muitos workshops em cidades do interior e
hoje tenho me dedicado a comunidade de Salvador. Aqui, muitos dançarinos que se
formaram ou estão se formando na graduação em Dança da UFBA (nível superior) ou
no curso técnico da FUNCEB (nível médio) estão trazendo suas experiências
acadêmicas/técnicas para a dança do ventre tribal. Estudos teóricos e experiências
com dança contemporânea, moderna, clássica, afro-brasileira e muitas outras
estão somando bastante no que é apresentado cenicamente e na sala de aula. Há
uma produção diversificada que não se restringe a categorias nem se permite
reproduzir padrões. É o caso da Trupe Mandhala e das alunas que participam do
meu Curso de Formação em Salvador. Mas como em qualquer lugar há muito a
evoluir, principalmente no quesito maturidade profissional. Ainda há
professores que controlam seus alunos, não os permitem acessar outros
professores e eventos, impõem aos discípulos o não compartilhamento de informações
com outros colegas numa tentativa falida de conter o que é ensinado. Uma
postura ultrapassada e danosa a comunidade baiana que, mesmo sendo por mim
rebatida há bastante tempo, ainda acontece severamente e prejudica muitos
estudantes e profissionais que são condenados a serem propriedade de quem acha
que tem o poder/controle sobre as pessoas. Naturalmente os dançarinos locais
têm despertado a sua consciência e têm aprendido a ser indiferentes com estas
posturas, buscando o melhor para si.
BLOG: Conte-nos
um pouco sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação
da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de
elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na
cena tribal?
Acho
que minhas criações se organizam de maneira complexa e diversificada e me
esforço para que assim permaneçam. Procuro sempre sair do meu lugar comum, do
meu hábito, dos meus vícios de criação, utilizando como estratégia estímulos
que me desestabilizam e me colocam numa situação desconhecida para coreografar.
É uma tarefa instigante trabalhar em solos objetivando sistemas estéticos
imprevisíveis. Admiro artistas que conseguem expressar isso, que conquistaram
este nível refinado do fazer artístico. Não gosto de intitular categorias, pois
tenho uma opinião crítica sobre as restrições e enquadramentos que eles
(re)produzem. Todos os meus figurinos foram idealizados e produzidos por mim e
por minha querida mãe Jacqueline Araújo. Conceito, coreografia, música e
figurino são concebidos por mim, ao mesmo tempo, sem uma ordem linear. Vou
buscando referências, construindo algumas estruturas coreográficas, apresentando-as
para pessoas que tem boas interferências críticas, reconfigurando alguns
elementos, até que a coreografia seja finalizada. Posso levar 1 mês ou 2 dias
para criar uma coreografia. Sempre depende do meu estado criativo. Da verve
artística que me ilumina em algum momento, se assim posso dizer. Minhas
melhores coreografias foram criadas no menor intervalo de tempo. Das
coreografias criadas as que mais tenho apreço são: Colapse (2012), Promenade
(2013), The Dark Balance (2014), Trans.Fusion (2015) e a última Prana (2016).
Todas foram dançadas em palcos nacionais e internacionais e tiveram um bom
feedback do público (colegas, alunas e admiradores).
BLOG: Em 2011, você participou do programa de
TV “Se ela dança, eu danço” do SBT. Conte-nos como surgiu a oportunidade e como
foi a experiência. Quais suas impressões sobre o programa? Alguma curiosidade a
respeito?
Foi
um experiência diferente. Recebi um e-mail da produção com o convite para
participar do programa. No início fiquei receosa, pois não sou muito fã do
formato, mas fui estimulada por familiares e amigos e resolvi aceitar o
convite. Passagens aéreas foram enviadas pela produção e já no dia seguinte fui
para São Paulo para gravar. O programa foi filmado no teatro Frei Caneca e
muitos grupos, escolas e artistas independentes estavam lá a convite ou por
terem efetuado inscrição. O programa exaltava performances com tom acrobático e
zombava de alguns que estavam ali inocentemente. Reprovo todas as posturas dos
jurados e produtores que foram totalmente desrespeitosos com participantes
iniciantes e/ou aventureiros. Enquanto dançarina de tribal notei pouco
interesse e conhecimento pela linguagem. Festivais de dança tradicionais e
programas de TV costumam enquadrar numa mesma categoria o tango, samba,
bolero, forró, danças folclóricas, étnicas, ou seja, de fronteira/margem, e
isso reduz a complexidade de cada referência de dança a um mesmo título: DANÇA
POPULAR. Além disso, há a incapacidade de um mesmo jurado ter tato para comparar
o desempenho de grupos/trios/duos/solos de diferentes modalidades, o que
representa um grande equívoco que tem se repetido em propostas com este formato.
Nesse tipo de programa eu não teria qualquer chance em avançar na competição,
mas costumo tentar tirar algum aprendizado das minhas experiências, sejam elas
produtivas ou não.
BLOG: O Curso de Formação em Tribal Fusion
teve inicio em 2013 em São Paulo. Conte-nos como surgiu a idéia de criação do
Curso e quais cidades o mesmo já alcançou. Como é o formato do curso, qual seu
diferencial e o que as alunas inscritas podem esperar? E o quanto ele
amadureceu ao longo desses anos, sofrendo modificações desde sua primeira até
sua atual edição?
O Curso de
Formação é um projeto que tem me estimulado muito desde sua criação em 2013. Foi
o primeiro no Brasil que apresentou acompanhamento de longa duração aos
participantes, ou seja, formação continuada que caminha em direção contrária ao
“fast food” dos workshops. Hoje realiza edições em 3 capitais: São Paulo-SP,
Salvador-BA e Fortaleza-CE. Com 100% das vagas ocupadas nas 5 edições já
ocorridas em São Paulo-SP e Salvador-BA, a edição 2016 do curso terá conteúdo
programático totalmente atualizado. É voltado para dançarinas que querem levar
a sua dança para um próximo nível através do estudo teórico e prático da dança do
ventre tribal sob auxílio de pesquisas desenvolvidas por grandes nomes da dança
como o Laban, Martha Graham e Pina Bausch. O único pré-requisito é possuir no
mínimo 2 anos de experiência em dança do ventre e/ou tribal. No quesito
técnica, nós não estudamos movimentos introdutórios (pois estima-se que um(a)
dançarino(a) de nível intermediário já os execute com excelência), mas sim a
desconstrução deles, dos seus princípios de execução. Estudamos a história da
dança do ventre (o Egito Colonial; the World’s Fair; o Vaudeville e o Burlesque;
o início da Dança Moderna; Hollywood e os filmes Egípcios; e os Cabarés
Orientais nos EUA) até refletir sobre o contexto histórico que gerou as
primeiras manifestações da dança do ventre tribal e como os processos de
transformação e transgressão social continuam/continuarão existindo e
originando novas estéticas de dança do ventre. A ideia principal é dar autonomia
de estudos aos inscritos, o que para pra mim significa formar. Compartilho
textos/fotos/vídeos, encaminho listas de sugestões de leitura, como também
utilizamos um grupo do Facebook para reforçar o partilhamento de conteúdo entre
todos os participantes. São ao todo 8 módulos de 3 horas de duração cada (24
horas de aula presencial) com temas específicos que tratam desde o estudo técnico
dos movimentos até os processos criativos, filosóficos, os estudos musicais e propostas
de laboratório de dança-teatro. Em São Paulo, o músico Luciano Sallun, diretor
do grupo Pedra Branca, é o professor convidado para ministrar a aula de música.
Além das aulas presenciais, diversos exercícios e textos são sugeridos para
estudo nos intervalos entre um encontro e outro.
Como movimento cultural e instrumento artístico-educacional este projeto de formação, arquitetado a partir de uma metodologia própria, se engaja na ampliação das possibilidades de experimentação de diversos repertórios de movimento e propõe o contato com pesquisas recentes desenvolvidas pelas tribal bellydancers mais conceituadas da atualidade. Fui contemplada no Edital de Mobilidade Artística e Cultural da Secretaria da Cultura do Estado da Bahia e estive, pela 3ª vez, no The Tribal Massive™ (Las Vegas-EUA).No curso são compartilhados todos os temas adquiridos neste evento desde a minha primeira participação em 2013, como também são esclarecidas as especificidades e diferentes abordagens de assuntos relacionados ao universo da dança do ventre tribal. A mistura das culturas árabe, espanhola, indiana, norte-americana, brasileira, etc., é vista neste curso como meio de fomentar os interesses para cada cultura distinta (sendo estas as reais raízes a serem esmiuçadas), como também provocar questionamentos sobre o modo como cada artista manipula este sistema híbrido de informações em suas experimentações combinatórias. Ao final do curso uma mostra de danças é proposta ao público onde as coreografias apresentadas são criadas integralmente pelas inscritas, se apropriando dos conteúdos estudados e de repertórios individuais anteriores que juntos geram interessantes fusões com a dança do ventre tribal. Minha participação em eventos internacionais contribuem significativamente na reciclagem do conteúdo programático do curso, sendo ele anualmente atualizado, isto é, inscritas anteriormente podem participar de novas edições pois terão contato com propostas totalmente novas.
Como movimento cultural e instrumento artístico-educacional este projeto de formação, arquitetado a partir de uma metodologia própria, se engaja na ampliação das possibilidades de experimentação de diversos repertórios de movimento e propõe o contato com pesquisas recentes desenvolvidas pelas tribal bellydancers mais conceituadas da atualidade. Fui contemplada no Edital de Mobilidade Artística e Cultural da Secretaria da Cultura do Estado da Bahia e estive, pela 3ª vez, no The Tribal Massive™ (Las Vegas-EUA).No curso são compartilhados todos os temas adquiridos neste evento desde a minha primeira participação em 2013, como também são esclarecidas as especificidades e diferentes abordagens de assuntos relacionados ao universo da dança do ventre tribal. A mistura das culturas árabe, espanhola, indiana, norte-americana, brasileira, etc., é vista neste curso como meio de fomentar os interesses para cada cultura distinta (sendo estas as reais raízes a serem esmiuçadas), como também provocar questionamentos sobre o modo como cada artista manipula este sistema híbrido de informações em suas experimentações combinatórias. Ao final do curso uma mostra de danças é proposta ao público onde as coreografias apresentadas são criadas integralmente pelas inscritas, se apropriando dos conteúdos estudados e de repertórios individuais anteriores que juntos geram interessantes fusões com a dança do ventre tribal. Minha participação em eventos internacionais contribuem significativamente na reciclagem do conteúdo programático do curso, sendo ele anualmente atualizado, isto é, inscritas anteriormente podem participar de novas edições pois terão contato com propostas totalmente novas.
BLOG: Você é produtora do eventos Dramofone desde 2013 e do EtnoTribes Festival desde 2014, os quais se destacam como um dos principais eventos de dança tribal do Brasil. Conte-nos como surgiram as idéias de cada evento, suas propostas, objetivos, organização, realização e diferenças entre si, bem como suas repercussões do mesmo para a comunidade tribal quanto para seu público.
O DRAMOFONE e
o ETNOTRIBES são eventos no qual me orgulho muito. O primeiro parte de uma
iniciativa independente, sem apoios e/ou patrocinadores, onde os dançarinos
colaboram com a venda/doação de ingressos e utilizam o palco como laboratório
de suas criações de maneira totalmente livre.
O DRAMOFONE já apresentou 6 edições em Salvador com participações nacionais e internacionais e caminha para a sua 7ª edição sempre cheio de novidades para apresentar. Dançam alunos, professores, atores, poetas, músicos e palhaços. Foi instrumento de ascensão para muitos dançarinos que participaram do Curso de Formação de Salvador (baianos, mineiros, sergipanos e alagoanos) e que hoje se tornaram professores e continuam trabalhando profissionalmente com a dança. É também um espaço de livre demanda para meus alunos regulares que apresentam solos e coreografias dirigidas por mim e construídas coletivamente. Unidos, os participantes do DRAMOFONE contribuíram significativamente para o fomento da dança do ventre tribal e suas fusões no estado da Bahia pela frequência de suas produções (2 à 3 edições por ano) e variedade de artistas em cena. Sundari (Croácia) e Hilde (Bélgica) já foram convidadas a participar do festival e além de apresentarem solos no show propuseram workshops para os dançarinos locais.
O ETNOTRIBES FESTIVAL ocorreu em 2014 e, diferente do DRAMOFONE, é um evento maior que conta com o apoio e subsídio do Fundo de Cultura, através do Governo do Estado da Bahia (a sua primeira edição foi resultado de um projeto contemplado no Edital Setorial de Dança 2013). Com orçamento de R$30.000,00 propus, em 2014, oficinas gratuitas com artistas baianos, paulistas, mineira e paraibana. Nosso grande convidado foi o grupo de música étnica contemporânea Pedra Branca (SP) dirigido por Luciano Sallun. Além da banda as artistas Kilma Farias (PB) e Priscila Patta (MG) estiveram conosco no show e ministrando workshops. Companhias de diversos lugares do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Bahia) participaram do Show de Gala Simbiose também como convidados. Os artistas locais ministraram oficinas de dança do ventre (Fernanda Guerreiro), flamenco (Aline Góes), dança-afro (Vera Passos) e indiana (Govinda Vallabha). Além das oficinas, um ponto alto do festival foi a mesa redonda que permitiu que os artistas convidados falassem sobre seus processos e suas compreensões sobre o conceito de dança/música étnica de fusão contemporânea. Foi muito rico e catalizador de pensamentos. Envolvemos em torno de 700 pessoas no festival entre inscritos e espectadores. O ETNOTRIBES é um festival que visa dar acessibilidade (através da gratuidade) ao conteúdo de dança e música de qualidade à comunidade de dança brasileira. Neste evento todos os artistas são devidamente remunerados pelos seus trabalhos e contam com a melhor estrutura possível para o seu desenvolvimento. Os shows são realizados em teatros de médio (Pocket Show - Espaço Xisto) e grande porte (Show de Gala - Teatro ISBA) com a melhor estrutura de iluminação, sonorização e registro audiovisual, e as oficinas em espaços culturais e escolas de dança com total infraestrutura para dança (espelhos, área e piso apropriado).
Ambos os festivais são desenvolvidos com muito carinho e profissionalismo e prometem acontecer por muitos e muitos anos.
O DRAMOFONE já apresentou 6 edições em Salvador com participações nacionais e internacionais e caminha para a sua 7ª edição sempre cheio de novidades para apresentar. Dançam alunos, professores, atores, poetas, músicos e palhaços. Foi instrumento de ascensão para muitos dançarinos que participaram do Curso de Formação de Salvador (baianos, mineiros, sergipanos e alagoanos) e que hoje se tornaram professores e continuam trabalhando profissionalmente com a dança. É também um espaço de livre demanda para meus alunos regulares que apresentam solos e coreografias dirigidas por mim e construídas coletivamente. Unidos, os participantes do DRAMOFONE contribuíram significativamente para o fomento da dança do ventre tribal e suas fusões no estado da Bahia pela frequência de suas produções (2 à 3 edições por ano) e variedade de artistas em cena. Sundari (Croácia) e Hilde (Bélgica) já foram convidadas a participar do festival e além de apresentarem solos no show propuseram workshops para os dançarinos locais.
O ETNOTRIBES FESTIVAL ocorreu em 2014 e, diferente do DRAMOFONE, é um evento maior que conta com o apoio e subsídio do Fundo de Cultura, através do Governo do Estado da Bahia (a sua primeira edição foi resultado de um projeto contemplado no Edital Setorial de Dança 2013). Com orçamento de R$30.000,00 propus, em 2014, oficinas gratuitas com artistas baianos, paulistas, mineira e paraibana. Nosso grande convidado foi o grupo de música étnica contemporânea Pedra Branca (SP) dirigido por Luciano Sallun. Além da banda as artistas Kilma Farias (PB) e Priscila Patta (MG) estiveram conosco no show e ministrando workshops. Companhias de diversos lugares do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Bahia) participaram do Show de Gala Simbiose também como convidados. Os artistas locais ministraram oficinas de dança do ventre (Fernanda Guerreiro), flamenco (Aline Góes), dança-afro (Vera Passos) e indiana (Govinda Vallabha). Além das oficinas, um ponto alto do festival foi a mesa redonda que permitiu que os artistas convidados falassem sobre seus processos e suas compreensões sobre o conceito de dança/música étnica de fusão contemporânea. Foi muito rico e catalizador de pensamentos. Envolvemos em torno de 700 pessoas no festival entre inscritos e espectadores. O ETNOTRIBES é um festival que visa dar acessibilidade (através da gratuidade) ao conteúdo de dança e música de qualidade à comunidade de dança brasileira. Neste evento todos os artistas são devidamente remunerados pelos seus trabalhos e contam com a melhor estrutura possível para o seu desenvolvimento. Os shows são realizados em teatros de médio (Pocket Show - Espaço Xisto) e grande porte (Show de Gala - Teatro ISBA) com a melhor estrutura de iluminação, sonorização e registro audiovisual, e as oficinas em espaços culturais e escolas de dança com total infraestrutura para dança (espelhos, área e piso apropriado).
Ambos os festivais são desenvolvidos com muito carinho e profissionalismo e prometem acontecer por muitos e muitos anos.
BLOG: A sua carreira internacional iniciou-se em 2010. Você já esteve em diversos países, como Argentina, Uruguai, Venezuela, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Itália e Coréia do Sul. Quais aprendizados e/ou vivências você adquiriu dançando e estudando nesses países? Conte-nos um pouquinho sobre cada evento, suas principais características e o quê você mais gostou deles. Qual retorno e repercussão você teve por parte do público desses países?
Comecei a
viajar para o exterior 4 anos depois de ter conhecido a dança do ventre tribal.
Nos primeiros participei como estudante e nos demais como professora. Aprendizados
a perder de vista... Ter reconhecimento internacional está sendo um dos
melhores frutos da minha carreira e tem me estimulado muito a continuar
trazendo para o Brasil o conhecimento obtido lá fora. Participei de alguns dos
maiores festivais de dança do ventre do mundo, pude conhecer muitas pessoas
bacanas e dançarinos famosos e também compreender muito do funcionamento de
grandes produções. Cada evento com sua particularidade, a exemplo do
refinamento seleto dos artistas participantes no The Tribal Massive (EUA); da
variedade e quantidade de dançarinos e músicos famosos de todo o mundo no World
Bellydance Convention (KOR); da riqueza e ao mesmo tempo simplicidade dos
envolvidos no TribaLX (POR) e Gothla ES (ESP); da eficácia e capacidade de
produção das escolas San’Lo (ITA) e Sol y Luna (ESP); e das similaridades entre
nós latinos no jeito de promover a dança como no Opa!Fest (ARG), UyUyUy
Festival (URU), II Encuentro Internacional de DanzadelVientre e Fusión (VEN) e
Aywah! (ARG). Nestes eventos vi professores fazendo aulas uns dos outros, vi
artistas transgredindo concepções restritas de dança através de debates abertos
dentro da programação dos eventos, vi de maneira íntima a forma de grandes
dançarinos trabalharem, fui recebida com elegância e profissionalismo, como
também pude entender a indústria e me inspirar em como criar um mercado de dança
seguro e produtivo. Na verdade, o maior aprendizado foi ver o quão cuidadosos
foram os produtores destes eventos e o quão respeitosos são com seus convidados
e participantes. Foi fundamental perceber o quão devemos ser, enquanto
professores/produtores, responsáveis pelo conhecimento gerado, pelas ideias
expostas e valores (morais e éticos) colocados nos eventos. Ética e
comprometimento falam alto e não há espaço para quem não se porta com a conduta
adequada para permanecer alí.
BLOG: Você participou do evento internacional The MassiveSpectacular (EUA) nos anos de 2013, 2015 e 2016. Como surgiu a
oportunidade de dançar em um dos principais eventos da cena tribal mundial? O
que você pode nos contar desses três anos de experiência (desafios,
aprendizados, vivências,etc)? Qual retorno e repercussão você teve pelo público
norte-americano? Se você pudesse importar alguma característica dos eventos
estrangeiros, qual seria?
Participar com frequência do
Tribal Massive (cursos) e do Massive Spectacular (espetáculo) é uma das minhas
principais realizações. Acompanhava e admirava este evento há algum tempo por
criarem um ambiente profissional de dança com uma programação intensa de
imersão (cerca de 50 horas de aula por semana de nível avançado/profissional) e
uma estrutura para o espetáculo de ficar “boquiaberta”. Recebi um e-mail de
Tori Halfon, diretora do evento, em 2012 me convidando para fazer parte das
aulas e do show principal. Disse que me contatou pois viu meu desempenho nos
vídeos postados na internet e que gostaria de ter o meu trabalho entre os
outros do lineup. Fiquei surpresa e muito lisonjeada com o convite e passei a
me organizar para a viagem. Escrevi um projeto para o Edital de Mobilidade
Artística e Cultural promovido pelo Governo do Estado da Bahia que contemplou a
proposta e financiou a minha viagem para participar de 98 horas de aulas na
primeira e segunda semanas de imersão em 2013 com Zoe, Kami, Mira, Jill,
Sharon, Sera, Fred e Heather. Dancei a coreografia Promenade pela primeira vez
no palco do Railhead, dentro do Boulder Station Hotel & Casino, e foi muito
emocionante estar entre todas aquelas dançarinas no qual tenho profunda
admiração. Ao retornar, propus 5 horas de workshops gratuitos na Escola de Dança
da UFBA em Salvador como contrapartida do projeto, possibilitando através da
acessibilidade um grande fomento de interesses para a linguagem da dança do
ventre tribal na cidade. Em 2015, por não ter tido projeto contemplado nos
editais do Governo da Bahia e do Ministério da Cultura decidi participar do
Tribal Massive e do Massive Spectacular através de recursos próprios. Neste ano estive
na primeira semana de aulas com Zoe, Kami, Mira, Jill, Sera e Fred e apresentei
o solo Trans.Fusion. Recebi um excelente feedback por parte dos professores,
colegas e da própria diretora, Tori Halfon que compartilhou o desejo de ter meus
trabalhos apresentados sempre que possível. Em 2016, felizmente tive projeto
contemplado no edital do Governo da Bahia, que patrocinou novamente a minha
viagem e, diferentemente dos outros anos que estive no evento, não só
participei das aulas e show, mas também contribuí como colaboradora da produção
junto com outras colegas. Além disso, em 2016 recebi o convite da brilhante
Mira Betz para dançar com ela e outras incríveis dançarinas a sua nova obra, o
MiraPieceTheater. Experiência inenarrável ser parte deste projeto com a Mira.
Tudo isso ocorreu após 3 meses do nascimento da minha primeira filha Valentina,
o que tornou o evento ainda mais especial pela energia da maternidade que levei
comigo. Este ano dancei, além do MiraPieceTheater, o solo Prana no
Massive Spectacular, que foi o ápice da minha experiência como mãe/dançarina. De
volta a Salvador propus novamente 5 horas de workshops gratuitos como
contrapartida para o edital.
Estar no Massive é sempre uma glória! Lá pude perceber o nível da nova geração de dançarinas, trocar algumas ideias e ver o quão estão desprendidas para fusionar. O Massive é um espaço aberto e ao mesmo tempo acolhedor, que potencializa a história de cada participante deixando-nos livres para dialogar e apresentar as mais diferentes propostas. Um evento que tem ganhado muita força ano após ano pelo requinte, cuidado, inovação e fonte de inspiração para quem acompanha a distância. Se eu pudesse importar uma qualidade ela seria a luta das professoras e alunas em barrar qualquer comentário que conduza a comunidade para uma postura de policiamento, a Bellydance Police como costumam chamar, que reduz qualquer criação artística a dicotomia do “isso pode / isso não pode”, “isso é certo / isso é errado”, “isso é tribal/isso não é tribal”, ou seja, uma necessidade essencialista/fundamentalista geralmente limitada “ao que é e ao que não é”, abandonando uma gama de possibilidades do ser. Lá já não há mais espaço pra esse tipo de discurso que reforça as divisões ao invés da unidade, pois é óbvio que há espaço para todos os métodos e estilos e que, enquanto comunidade que necessita sobreviver e progredir, precisamos valorizar e aprender, uns com os outros, em nossas diferenças.
Estar no Massive é sempre uma glória! Lá pude perceber o nível da nova geração de dançarinas, trocar algumas ideias e ver o quão estão desprendidas para fusionar. O Massive é um espaço aberto e ao mesmo tempo acolhedor, que potencializa a história de cada participante deixando-nos livres para dialogar e apresentar as mais diferentes propostas. Um evento que tem ganhado muita força ano após ano pelo requinte, cuidado, inovação e fonte de inspiração para quem acompanha a distância. Se eu pudesse importar uma qualidade ela seria a luta das professoras e alunas em barrar qualquer comentário que conduza a comunidade para uma postura de policiamento, a Bellydance Police como costumam chamar, que reduz qualquer criação artística a dicotomia do “isso pode / isso não pode”, “isso é certo / isso é errado”, “isso é tribal/isso não é tribal”, ou seja, uma necessidade essencialista/fundamentalista geralmente limitada “ao que é e ao que não é”, abandonando uma gama de possibilidades do ser. Lá já não há mais espaço pra esse tipo de discurso que reforça as divisões ao invés da unidade, pois é óbvio que há espaço para todos os métodos e estilos e que, enquanto comunidade que necessita sobreviver e progredir, precisamos valorizar e aprender, uns com os outros, em nossas diferenças.
BLOG: Em 2016, você se apresentou, juntamente
com Mira Betz e sua trupe no
evento The Massive Spectacular (EUA). Gostaria que comentasse como surgiu
a oportunidade, como foi sua preparação, desafios e como foi a experiência de
dançar junto com Mira e companhia.
Após confirmar
com Tori Halfon a minha participação na edição 2016 do evento recebi um e-mail da
brilhante Mira Betz apresentando a sua nova proposta, o MiraPieceTheater. Sem
sombras de dúvida foi um dos melhores convites que já recebi em minha carreira
e não hesitei em aceitar o desafio. Textos, vídeos e registros das sequências a
serem previamente estudadas foram encaminhados logo em seguida. Foi um processo
tranquilo (mais simples do que eu podia imaginar) e divertido, pois os
registros dos ensaios junto com Kendra e Yvonne, suas fiéis assistentes, eram
cheios de motivo para curtir e dar risadas. Cerca de 20% da coreografia foi
baseada nos vídeos enviados para estudo, os outros 80% foram elaborados em
conjunto, lá mesmo em Las Vegas. Mira alugou uma casa que foi berço dos
ensaios, criação de figurinos e papos que corriam a madrugada. Exaustivo pois fazíamos
8 horas de aula diárias na programação do Tribal Massive e corríamos para nos
encontrar em seguida passando até 4 horas juntas na casa. Comíamos,
ensaiávamos, customizávamos figurinos e cuidávamos do pequeno Courage (filho
mais novo de Mira). No dia do show passamos a tarde fazendo a passagem de
palco para afinação de luz, etc. A noite nos reunimos numa suíte do Casino com
todas as professoras e participantes das coreografias em grupo. Foi uma delícia
viver aquelas 2 horas de backstage intimamente com Zoe, Kami, Mira, April, Jill,
Sharon e todas as beldades do evento. Uma clima de suave nos deixavam unidas e
seguras para dançar. Um prazer enorme conhecer melhor as colegas Heather
Labonté, Jules Downum, Yvonne Michelle, Kendra Katz, Elyza Perry, Kelli Li, Danielle
Hutton, Rin Ajna e Brandi Lynn. Mira é genial e muito generosa! Mente complexa
e criativa que atrai qualquer dançarina para mergulhar em suas ideias. Espero
ter a chance de estar com ela novamente em novos trabalhos. Que seja em 2017,
pois certamente estarei lá desejando viver intensamente tudo aquilo mais uma
vez.
BLOG: Você acha que estar no berço da dança
tribal ajudou-a a entender melhor todo o processo por trás da criação dessa dança?
Compartilhe suas impressões sobre essa maravilhosa jornada! =)
BLOG: Já vi algumas indagações em sites estrangeiros da importância que alguns bailarinos sentem das precursoras do Tribal Fusion direcionarem melhor o estilo para não provocar tais confusões com relação a dança. O quê você pensa sobre o assunto? Na sua opinião, por quê você acha que isso ainda não foi feito?
Jill Parker e Joline |
BLOG: Observamos
com mais força nos EUA, e agora se disseminando pela Europa, a fusão da dança
do ventre com arquétipos do tribal, contudo, com uma óptica e conceitos mais
experimentalistas. Aliás, observamos o distanciamento do rótulo “tribal” na
dança das principais bailarinas icônicas do estilo, que estão em constante
experimentação de suas danças. Associado a isto, podemos identificar
semelhanças entre fusionistas e tribal dancers na movimentação, execução,
presença de palco entre outras características. Notamos também que a forma de
dança do ventre norte-americana é um viés entre esses grupos. Como você encara
este fenômeno?
A
fusão intencional da dança do ventre com outras linguagens se estabelece desde
a Golden Era, onde o ballet, flamenco e a dança do ventre foram
propositadamente imbrincados para a dança ser exibida nos filmes temáticos
”ArabianNights” de Hollywood. Esta fusão intencional (chamo intencional, pois
muitas fusões ocorreram antes, mesmo que não premeditadamente) foi
protagonizada pela dançarina síria Badia Masabini e suas discípulas no primeiro
cabaré do Nilo.
ATS® e Tribal Fusion são frutos dessas fusões com a dança do ventre, como muitas outras propostas que foram apresentadas desde Ruth St. Denis até a sistematização de Jamila Salimpour. O que quero dizer é que é natural vermos dançarinas continuarem em busca de novas fórmulas para a fusão de dança do ventre, seja com o Burlesco, Vaudeville e outras linguagens de dança (Clássica, Moderna, Contemporânea, Indiana, Flamenca, do Hiphop, Tango, Afro-brasileira, Latina, Jazz, House, Stiletto, Capoeira...), seja com o Teatro, Artes Circenses, Poesia, Música, etc. Zoe Jakes, Mira Betz, Kami Liddle, Illan Rivière, Piny Orchidaceae, Linda Faoro, Anasma, April Rose, Violet Scrap, Audra Simons, Heather Labonté e muitos outros dançarinos investem em estimulantes e criativas fusões e nos fazem refletir o quão ampla e descentralizada pode ser o desenvolvimento desta comunidade de dança. No decorrer da história da dança do ventre diversas manifestações foram englobadas numa mesma modalidade(Árabe, Síria, Turca, Argelina, Americana, etc.) e ocorreu lentamente uma distinção entre formas tradicionais e contemporâneas. Enquanto algumas dançarinas apenas estudam uma forma de dança, outros estudam muitas. Algumas vão livremente fundir seu repertório com outras formas de dança, outras aderem a conceitos rígidos de pureza e essência, como também haverão aquelas que encontram-se continuamente oscilando entre os dois extremos: tradição conservadora e fusão dinâmica.
Nos eventos internacionais que participo ouço as dançarinas se intitularem como “bellydancers” para evitar qualquer discordância por conta de rótulos. É gostoso de ver esta evolução! Me alimenta observar como os processos de transformação e transgressão social continuam/continuarão a produzir diferentes estéticas de dança do ventre e o quão bacana foi o surgimento do tribal a partir de sua plural genealogia.Unir danças de culturas de todo o mundo nos mostra as nossas diferentes corporeidades e maneiras de expressar ideias e sentimentos. Nos faz compreender melhor a riqueza da expressividade humana, as similaridades e divergências de como através do corpo em movimento nos comunicamos. Nas fusões, deixamos emergir interseções, elos, caminhos, trânsitos e ligações entre as distintas formas de mover. Culminam na busca para encontrar no corpo espaços compartilhados entre as múltiplas referências que o constituem. É uma dança que procura um espírito feminino mais unificado. Palavras como dança folclórica, da terra, raiz e tribal são utilizadas como significantes de exotismo e antiguidade para conceitualizar a dança como um pastiche moderno (técnica utilizada na literatura e em outras artes, constituída por abertamente imitar diferentes estilos e artistas), que combina dança, música, e estética das culturas ao longo da Rota da Seda, do Mediterrâneo, e do “cruzamento“ com os Estados Unidos. Com a fusão de dança do ventre não existem regras. A dança não é rígida ou dogmática. É sobre ser inovador e criativo, realizando uma miscelânea de todas as diferentes culturas que você ama. Está em sincronia com a consciência das mulheres urbanas jovens de hoje.
ATS® e Tribal Fusion são frutos dessas fusões com a dança do ventre, como muitas outras propostas que foram apresentadas desde Ruth St. Denis até a sistematização de Jamila Salimpour. O que quero dizer é que é natural vermos dançarinas continuarem em busca de novas fórmulas para a fusão de dança do ventre, seja com o Burlesco, Vaudeville e outras linguagens de dança (Clássica, Moderna, Contemporânea, Indiana, Flamenca, do Hiphop, Tango, Afro-brasileira, Latina, Jazz, House, Stiletto, Capoeira...), seja com o Teatro, Artes Circenses, Poesia, Música, etc. Zoe Jakes, Mira Betz, Kami Liddle, Illan Rivière, Piny Orchidaceae, Linda Faoro, Anasma, April Rose, Violet Scrap, Audra Simons, Heather Labonté e muitos outros dançarinos investem em estimulantes e criativas fusões e nos fazem refletir o quão ampla e descentralizada pode ser o desenvolvimento desta comunidade de dança. No decorrer da história da dança do ventre diversas manifestações foram englobadas numa mesma modalidade(Árabe, Síria, Turca, Argelina, Americana, etc.) e ocorreu lentamente uma distinção entre formas tradicionais e contemporâneas. Enquanto algumas dançarinas apenas estudam uma forma de dança, outros estudam muitas. Algumas vão livremente fundir seu repertório com outras formas de dança, outras aderem a conceitos rígidos de pureza e essência, como também haverão aquelas que encontram-se continuamente oscilando entre os dois extremos: tradição conservadora e fusão dinâmica.
Nos eventos internacionais que participo ouço as dançarinas se intitularem como “bellydancers” para evitar qualquer discordância por conta de rótulos. É gostoso de ver esta evolução! Me alimenta observar como os processos de transformação e transgressão social continuam/continuarão a produzir diferentes estéticas de dança do ventre e o quão bacana foi o surgimento do tribal a partir de sua plural genealogia.Unir danças de culturas de todo o mundo nos mostra as nossas diferentes corporeidades e maneiras de expressar ideias e sentimentos. Nos faz compreender melhor a riqueza da expressividade humana, as similaridades e divergências de como através do corpo em movimento nos comunicamos. Nas fusões, deixamos emergir interseções, elos, caminhos, trânsitos e ligações entre as distintas formas de mover. Culminam na busca para encontrar no corpo espaços compartilhados entre as múltiplas referências que o constituem. É uma dança que procura um espírito feminino mais unificado. Palavras como dança folclórica, da terra, raiz e tribal são utilizadas como significantes de exotismo e antiguidade para conceitualizar a dança como um pastiche moderno (técnica utilizada na literatura e em outras artes, constituída por abertamente imitar diferentes estilos e artistas), que combina dança, música, e estética das culturas ao longo da Rota da Seda, do Mediterrâneo, e do “cruzamento“ com os Estados Unidos. Com a fusão de dança do ventre não existem regras. A dança não é rígida ou dogmática. É sobre ser inovador e criativo, realizando uma miscelânea de todas as diferentes culturas que você ama. Está em sincronia com a consciência das mulheres urbanas jovens de hoje.
BLOG: Apesar
de estar cada vez mais se consolidando e ganhando força, a dança tribal ainda é
recente no universo da Dança no país. Como a dança tribal está ganhando espaço
na cena acadêmica? E o quê você considera importante ainda ser trabalhado no âmbito
acadêmico para a dança ser mais valoriza e reconhecida?
A dança do ventre tribal ainda é algo desconhecido para a maioria dos
brasileiros. Existem estados que não possuem se quer um professor do estilo e
uma pequena parcela dos dançarinos consegue ter acesso as informações através da
internet. Creio que pensar em eventos de maneira acessível com inscrições
baratas ou gratuitas fortalecendo as capitais e desbravando o interior do pais
como também a valorização dos artistas nacionais e latinos sejam formas de
ampliar a comunidade brasileira. Eventos de longa duração ao invés de pontuais
podem também colaborar para o desenvolvimento de profissionais mais
capacitados. Penso também que a formação em universidades de dança de nível
técnico e/ou superior deveria ser uma prioridade. Hoje já podemos contar com
algumas pesquisas acadêmicas quem têm o tribal como objeto de estudo nas mais
diferentes abordagens, mas ainda precisamos de mais pesquisadores, mais
perspectivas, mais produção textual formal com aporte crítico sob orientação de
mestres e/ou doutores em dança.
BLOG: Você considera a dança tribal uma dança étnica
contemporânea? Por quê?
Sim.
Em ambientes onde a dança do ventre tribal não é largamente conhecida (como na
universidades) eu prefiro usar esta terminologia, pois ela é bastante objetiva.
O termo “tribal” dá margem a significados distintos e muitos não condizem com o
tipo de dança que pretendemos falar. Dança étnica de fusão contemporânea
promove a compreensão de processos que são produzidos na articulação de
diferenças culturais. "Transnacional" é um termo proposto pela dançarina e mestre
em Belas Artes Donna Mejia (EUA). Ambos aproximam-se do conceito de “entre-lugares”
de Homi K Bhabha (Índia), um dos críticos culturais mais conhecidos
mundialmente.
A dança tribal tem um sistema de
códigos específicos baseados em matrizes da dança do ventre, indiana, flamenca
e danças do hiphop (popping, locking, ticking, strobe, etc.). Por ser uma dança
híbrida, nós, artistas e agentes criadores, temos a possibilidade de
expressá-la com perspectivas tradicionalistas (ATS®, ITS) – que prezam pela
manutenção de uma forma/estética, um sistema de códigos – e com perspectivas
contemporâneas (Fusões, performances inspiradas na linguagem) – que se propõe a
uma desestabilização do sistema em função da adesão de novos códigos e
possibilidade de complexificação através novas pesquisas de movimento por
experimentação combinatória. O Tribal Fusion está no “intermezzo”dessas duas
perspectivas, se apropriando de ambas. Para identificar algo como tribal, é
preciso haver um entendimento de mistura entre basicamente as 4 matrizes que
citei logo no início. O modo de organizar estas 4 linguagens é bem particular,
porém deve ser afastada a ideia de sobreposição ou somatização de linguagens,
pois de fato se trata de uma imbricação de signos.Dentro do Tribal Fusion
dançarinas expressam o seu comportamento social e seus desejos individuais
combinando vários elementos para criar diversas interpretações do estilo. Em
outras palavras, as dançarinas equilibram a estrutura geral da dança com a sua
própria textura individual. Enquanto esta fusão pode causar tensão entre dançarinos
com diferentes noções sobre o papel da dança do ventre tribal, estudos
antropológicos sugerem que este desvio brincalhão da norma pode ser usado para
introduzir flexibilidade nas estruturas sociais de forma rígida. O que é aceitável
no moderno estilo Tribal Fusion é a fluidez, a capacidade relacional e a dinâmica
em contraste com a fixidez do repertório tradicional que tende a ser mais
estático em termos de movimentos,figurino aceitável, música e comportamento.
Enquanto a tradição estabelece estratégias para a construção de autoridade, a
contemporaneidade emerge por meio de reivindicações de criatividade individual,
inovação, resistência e distanciamento. Dançarinos de Fusão, por outro lado,
tendem a desafiar suas propostas intencionalmente através da introdução de novos
elementos, justapondo o novo com o velho, a fim de destacar as lacunas
intertextuais, numa espécie de cismogênese (crescimento por meio de conflitos e
divergências).O Tribal Fusion é muitas vezes descrito como uma arte cultural
digna de preservação (mais comum entre as praticantes do ATS®), enquanto outros
estão mais inclinados para descrever a dança como uma arte individual, aberta a
diferentes graus criativos de re-moldagem. Eu, particularmente, me identifico
mais com a segunda perspectiva.
Diversidade!
BLOG: Como você
descreveria seu estilo?
Dançarina étnica de fusão
contemporânea.
BLOG: Como você se
expressa na dança?
Expondo minhas ideias, minhas
criações e meus desejos para o futuro da comunidade tribal.
BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu
momento tribal favorito ou inesquecível?
Quando recebi um abraço da Zoe
após a minha primeira apresentação no Tribal Massive. Ela perguntou meu nome e
falou muito sobre o meu solo. Sem dúvidas um momento inesquecível que me deixou
muito emocionada após aquele abraço.
BLOG: Quais seus
projetos para 2016? E mais futuramente?
Pretendo abrir meu próprio espaço
de dança neste ou no próximo ano. Estou aguardando estes tempos de crise passar
para poder investir com segurança. Continuarei escrevendo projetos para os
editais de cultura para continuar viajando e promovendo eventos que visem a
acessibilidade do público. Vamos torcer para que haja mais respeito e
valorização com os agentes da cultura do país, principalmente neste momento de
crise política e econômica. Me entristece ver o quão desonestos nossos
governantes são com a cultura e todas as minorias (gênero, classe, raça, etc.).
BLOG: Improvisar
ou coreografar?E por quê?
Coreografar. Tenho utilizado a
improvisação como ferramenta para a criação coreográfica. Experimento diversos
movimentos/linguagens/estados de corpo até compor algumas células. Me sinto
mais confortável em apresentar algo que pensei cuidadosamente em cada segundo,
mas este é o meu modo de operar. Cada um sabe qual o melhor e mais seguro
caminho para si até levar um trabalho para o público.
BLOG: Você
trabalha somente com dança?
Com dança e alguns trabalhos pontuais
no cinema: longa metragem Pinta (2013) como atriz e TROPYKAOS (2015) como
produtora de elenco.
BLOG: Deixe um recado
para os leitores do blog.
Dancem a vida em sua plena
liberdade!