por Hölle Carogne
Fotografia: Kaori Lene |
Desta
vez quem se desvela de forma magnífica é o Grupo Hexen de Fortaleza!
A
coreografia de Dark Fusion “Angel” é o primeiro trabalho do Grupo e eu já estou
afoita esperando um segundo, um terceiro, um quarto... :D Aline
Bulkan, Jessy BC e Larissa Monteiro revelam um pouco do mundo oculto de Angel e
contam tudo sobre esta concepção artística!
Confira!!!
Eu
estou aqui, apaixonada! <3
Venenum Saltationes: Como e quando surgiu a
idéia de criar tal coreografia?
A coreografia Angel se
desenvolveu de forma natural, instintiva. Surgiu do nosso desejo mútuo de criar
algo envolto na temática do Dark Fusion, que se encaixasse com o ritmo da
música escolhida por nós (Angel do Massive Attack) e com as emoções, sensações
e impressões imagéticas que ela nos provocou.
Ansiando por criar e estrear
como grupo, decidimos, de última hora, nos apresentar no próximo evento de
tribal que ocorreria na cidade, o Psycho Circus. Nosso desejo de dançar foi
muito forte, nossas idéias estavam em sincronia. Buscávamos criar algo com
personalidade, que chocasse e saísse do tradicional, do comum.
Fotografia: Kaori Lene |
Venenum Saltationes: Do que se trata este
trabalho? Qual o assunto abordado?
Angel foi “assumindo vida
própria”, sendo o que ela é, dando norte ao caos da criação com a razão
momentânea. Inspiramo-nos na letra da música e seu som, transcrevendo-os com o
corpo. Usamos simbologia ocultista como uma forma de invocação de poder e para
acentuar a atmosfera mística da dança. Transformamo-nos em arquétipos pessoais
de Deusas Negras, “Mulheres-Demônio”.
Sabemos que a mulher, nos
primórdios da civilização, era vista e cultuada como Deusa, seu corpo e seus
dotes criadores sacralizados. Ao longo da história, principalmente após a
ascensão do Cristianismo, passou a ser demonizada, desvalorizada e reprimida.
Baseando-nos também nisso, quisemos trazer à tona esse arquétipo da Deusa enfurecida,
da mulher forte e sensual que se liberta das amarras da sociedade e, revertendo
os papéis, a subjuga, enfeitiça, exercendo seu verdadeiro poder, reivindicando
seu posto.
Venenum Saltationes: Existe alguma
linguagem oculta por trás de tal coreografia?
Várias. Se revelarmos, perderá
todo o mistério.
Venenum Saltationes: Com quem vocês tentam
se comunicar? E o que vocês querem dizer?
Nossa coreografia não se
direciona a nenhum público específico e, como toda forma de arte, pode ser
interpretada de modos diferentes por cada expectador, mas pretendíamos tocar de
forma visceral e intuitiva quem quer que a visse, através de um discurso
sinestésico que despertasse emoções subconscientes primitivas.
Venenum Saltationes: Comentem sobre os
processos de criação deste trabalho; além destas perguntas, um resumo de como
se conheceram e resolveram criar o grupo e cada uma falando um pouquinho sobre
seu trabalho pessoal.
O desenvolvimento de Angel
durou em torno de dois meses. Tínhamos pouco tempo para montar a coreografia, o
que por consequência nos fez optar por um processo criativo mais espontâneo,
sem muito escrutínio. Foi um trabalho construído com a participação livre das
três integrantes, cada uma contribuindo com fragmentos de passos, sequências
que aos poucos se encaixavam. Estávamos conectadas, falávamos a mesma
linguagem. É uma dança que aborda a temática do estilo Dark Fusion, com
elementos do Tribal Fusion, com dança moderna, movimentos instintivos que cada
uma criou e foi sendo modificado até sua conclusão.
Percebemos, ao assistir às
filmagens que fazíamos dos ensaios, que havia movimentos executados de forma
particular, diferente, por cada bailarina. Decidimos então respeitar essa
linguagem corporal pessoal, preservando a individualidade em vez de exigir gestos
idênticos. Acrescentamos também alguns improvisos.
O grupo Hexen foi
criado, no fim de 2014 com o intuito de reunir estudantes de dança Tribal de
Fortaleza que partilhavam da paixão pelo Dark Fusion e outras formas de
expressão artística obscura. Foi idealizado como um grupo de dança e de
estudos, no qual se poderia dividir conhecimento e aprimorar o que já se sabia
através de pesquisas. Além disso, seria um modo de estabelecer uma conexão
entre pessoas com gostos parecidos. Larissa e Aline tiveram a ideia inicial,
aos poucos, foram chamando outras meninas, que já vinham demonstrando, em suas
performances, uma inclinação ao estilo, como foi o caso da Jessy. Sendo
composto de outras bailarinas além de nós três.
Fotografia: Kaori Lene |
Um pouquinho das
integrantes:
Aline Bulkan:
"Meu primeiro contato com
a dança ocorreu cedo, por volta dos 5 anos de idade, em aulas de ballet e, mais
tarde, jazz na escola onde estudava. Descobrindo nesta atividade uma aptidão
natural e uma fonte de prazer, levei-a adiante até mais ou menos os 13 anos, me
apresentando com frequência em festivais da escola e em outros eventos.
Conforme aquela
modalidade e rotina específicas já não me satisfaziam mais e outras prioridades
da vida cotidiana exigiam atenção, fui deixando de lado a bailarina em mim e me
dedicando a outras formas de arte, até descobrir o Tribal Fusion, há cerca de
três anos. A identificação foi completa e imediata, e passei a fazer aulas
regulares (inicialmente de dança do ventre, até o Tribal ser trazido à cidade
pouco tempo depois) e workshops.
Meu fascínio pelo sombrio e
minha necessidade de incutir à performance uma maior dramaticidade me atraíram
para a vertente mais obscura desta dança, o Dark Fusion. Hoje vejo no
Tribal uma parte intrínseca de quem sou; nele me encontrei por inteiro. Tenho-o
como uma forma não só de expressão artística plural, mas de conexão direta e
íntima com meu eu interior em suas mais diversas facetas – embora, no que concerne
principalmente à dança, seja na sombra, no “lado negro” de minha
essência, que encontro minha força. É com ela que me sinto mais à vontade para
dialogar e criar, e é por meio dela que comunico com mais clareza minhas
emoções e minha visão particular de mundo."
Fotografia: Marcelo Cunha |
Jessy BC:
‘’Meu trabalho pessoal com a
dança está no inicio. É cedo para definir-me. Posso dizer que amo profundamente
essa Arte, o Ser expresso no corpo em movimento. Recordo-me sobre minha infância,
sempre gostei de dançar e criar minhas próprias coreografias. Na adolescência,
despertei o interesse para a dança do ventre, senti afinidade com os
movimentos, algo fazia sentido no meu íntimo.
Meu primeiro contato com o
Tribal Fusion foi ao assistir um vídeo de uma grande bailarina, me tocando
indescritivelmente. Em 2012, participei de um workshop do estilo.
Posteriormente fiz aulas regulares. Durante esses 3 anos fiz cursos de Tribal
Fusion, Bellydance, American Tribal Style, Flamenco, Kalbelya, Ghawazee, Dança
Africana, Dança contemporânea... Além de estudos sozinha. Tenho especial
interesse na vertente Dark Fusion, onde posso expressar-me autenticamente.
Desvendando faces de meu Eu mais profundo e misterioso, A Sombra.
A dança me transformou. Trouxe sentido
de Ser. Procuro o contínuo autoconhecimento. Nela posso praticar e unir vários
dons criativos. Desenho, crio meu figurino, maquiagem, coreografia. Uno corpo,
mente e espírito. Com ela entro em transe, medito. Trabalho meu Sagrado
Feminino. Minha ancestralidade.
Busco o intitulável, o
autêntico, o ousado, o chocante, o único. Tenho sede por aprender todas aquelas
danças que despertem meu âmago. Anseio por conhecê-las, entender suas origens,
resgatando assim minhas próprias. Cada uma tem sua típica estrutura, busco
compreendê-las para assim procurar a minha própria forma essencial de
expressão.’’
Larissa Monteiro:
"A minha história na dança
teve início no ano de 2010 quando, por curiosidade, passei a praticar aulas de
dança do ventre com a maravilhosa projessora Juliana Jaraj. Logo ‘de cara’
senti o impacto que o Bellydance causa. A beleza da dança, os benefícios
trazidos ao corpo, o florescer da feminilidade e o despertar da consciência da
existência de uma Deusa-mulher que habita em cada uma de nós.
Com o tempo, minha paixão pela
cultura árabe/oriental só aumentava e foi então que, ao ir num evento de Belly,
assisti pela primeira vez uma apresentação de Tribal Fusion. Encantei-me mais
ainda e decidi começar a praticar aulas. Ao conhecer o desenrolar da história
do ATS-ITS-Tribal Fusion fiquei maravilhada e decidi mergulhar totalmente nesse
universo de possibilidades.
Hoje pratico Tribal Fusion há
três anos e sinto cada vez mais vontade de me aperfeiçoar e conseguir explorar
meu lado mais ‘Dark’, assim como expor todos os meus sentimentos através dessa
arte que é a dança Tribal."
Fotografia: Samuel Bendix |