[Tribal Brasil] Processo de criação em Tribal Brasil

por Kilma Farias



É com muita alegria que venho percebendo, cada vez mais, o crescimento do estilo Tribal Brasil em nosso país. Mais e mais grupos e solistas têm se dedicado a estudar o estilo e a desenvolver fusões bem brasileiras em dança Tribal.

Por isso, escolhi o tema “Processo de criação” para falar como ele acontece na minha forma de pensar o estilo. Longe de ser colagem de passos das danças populares e afro-brasileiras com os movimentos identificados como Tribal Fusion, o Tribal Brasil que desenvolvo se ocupa na “transformação”, na “metamorfose” de passos e corporeidades. Antes de ser uma colcha de retalhos de estilos diversos de dança, o Tribal Brasil que desenvolvemos na Lunay pensa em gerar novos corpos e novas formas de pensar o mundo, consequentemente, geramos novos mundos. E o que fazemos com esse novo repertório de movimentos gerados? Analisamos, estudamos, filtramos o que atende à nossa busca e selecionamos o que nos agrada. Lançamos um olhar sobre o que não gostamos do que foi produzido e tentamos modificar um braço, outras vezes o quadril, ou a velocidade do movimento e daí já temos uma outra proposta que talvez agrade mais. E vamos experimentando cada movimento criado como quem começa a montar um guarda-roupa e quer nele colocar suas preciosidades.

- Esse movimento “cabe” em mim? Ficou apertado, ou frouxo? Vamos fazer uns ajustes. Agora sim, vou usar!

E o tempo desse ajuste às vezes dura um ano, ou dois, ou 10 anos, ou 13, como é o caso da Cia Lunay, grupo que coordeno e que sempre me alegro em perceber que, nesse corpo de bailarinas, os movimentos estão em ajustes o tempo todo, gerando novidades. Podemos também emprestar movimentos uns aos outros e experimentá-los em nossos corpos e neles fazermos novos ajustes numa costura sem fim.

E como “transformar”, como “metamorfosear”?

Busco estudar os movimentos da Cultura Popular, da forma como acontece nas ruas ou nos espaços ao qual são destinados. Procuro me informar sobre a manifestação cultural em questão, suas especificidades, ler algo sobre, ouvir histórias contadas por seus mestres, ouvir as músicas e viver os movimentos no corpo.

Passando um tempo nessa prática, que vai variar de acordo com maior ou menor identificação com os corpos que estão sendo observados e estudados, parto para a experimentação.


Nessa etapa, entro na execução do passo, tal qual ele se apresenta na corporeidade popular e vou deixando o corpo ir sendo levado para outros lugares. De forma natural, deixo que o movimento vá sugerindo novos braços, novos quadris, novos torsos, novos olhares. Até encontrar uma outra forma de mover. Ou ser encontrada por ela; acredito mais que é isso que acontece.

Nesse vídeo, em workshop ministrado no Espaço Vanna Bellydance em São Paulo, dia 16 de agosto, dá para perceber um pouco melhor como isso acontece. Para tal, utilizei como exemplo a sambada do Cavalo Marinho e passo base do mergulhão, chamado de trupé.
            

Montado o novo repertório de passos, abrimos o guarda-roupa para articularmos com outras peças que lá já estavam. E assim, nessa composição pela transformação, vamos desenhando um novo corpo Tribal, o corpo do Tribal Brasil.

Espero que esse texto tenha auxiliado a clarificar um pouco do processo de criação que utilizo há 13 anos com a Cia Lunay. Adoraria ouvir e entender sobre outros processos criativos em Tribal Brasil e como eles se dão em outros grupos, em outros corpos. Quem quiser compartilhar, escreve pra mim, vou amar receber e trocar figurinhas: studiolunaydance@gmail.com

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