Sobre os limites do corpo, respeito e diversão

por Valdi Lima | Nomadic Tribal




O ATS®, como conhecido, é uma dança em grupo. Um grupo compõe-se de pessoas únicas nas suas características, opiniões e comportamento singular. É sabido que o ATS® é um estilo de dança cheio de regras, porem em nenhuma dessas regras esta escrito que você DEVE conseguir executar determinado passo. Precisamos respeitar o limite do corpo do outro, assim como devemos respeitar sua essência e sua opinião.

Quando dançamos entre as integrantes do próprio grupo, sabemos o limite das nossas amigas, sabemos quem não gosta de "puxar chão" (como chamamos informalmente passos em que agachamos ou ajoelhamos), sabemos quem não se sente confortável fazendo tal passo, sabemos quem não consegue fazer um super Cambret por causa da sua coluna. Portanto, quando estamos dançando com tal amiga, não vamos puxar o passo que ela não consegue fazer, por coleguismo e respeito a ela. Por que você puxaria um passo que sua amiga não consegue executar com perfeição? Apenas para parecer que você sabe mais do que ela? Esse comportamento é desnecessário no ATS®, porque somos todas iguais, o bonito da dança é a sintonia do grupo e ninguém deve se destacar.

Sim, devemos dançar com um "filtro" na cabeça, assim como devemos pensar rápido em qual passo encaixa naquela parte da música, também devemos pensar nas nossas amigas e no conforto de todas. Coleguismo e coletivo. 

Na ocasião do meu General Skills em 2012 na California, Carolena Nericcio nos disse que, antes de uma apresentação, nos bastidores, podemos e devemos perguntar às amigas se todas estão bem naquele dia e se estão em condições de executar todos os passos. Isso é respeito, respeito ao próximo, respeito aos limites do corpo das suas companheiras, respeito ao publico que esta lá para te assistir e aplaudir. Também é recomendável dar uma espiadinha no local onde vamos dançar, no tipo de piso e conversar entre nós. O Nomadic já se apresentou em vários lugares onde foi possível conhecer o "palco" somente no momento da apresentação, já dançamos sobre tapete, já dançamos em picadeiro coberto por lona onde ficamos pisando "raso e fundo", já dançamos em pista de dança no meio da galera onde sempre tem alguém que derrubou alguma bebida e o piso fica escorregadio, já dançamos em cascalho, em grama e em terra batida. A gente se adequa! Mas em todos esses casos usamos maturidade para saber qual passo não devemos fazer pelo perigo de queda ou nos enroscarmos nas saias. 

Mas e quando dançamos pela primeira vez com alguém que não conhecemos e não tivemos a oportunidade de conversar previamente? Na dúvida, fique sempre no ATS® clássico, o básico bem executado é sempre receita de sucesso. 

Por mais que algo seja planejado ou ensaiado, precisamos sempre contar com o imprevisto. Mas sendo o ATS® uma dança de improviso, o que fazer? Dançar com o corpo e mente! Quem nunca se pegou dançando no "automático" e de repente percebeu que estava pensando em outra coisa, não estava com a cabeça ali, naquele momento? Isso nos tira a atenção, nos tira o foco e o reflexo. Devemos estar sempre alerta, ciente que algo pode acontecer fora do esperado e ter pensamento rápido para contornar e erro de modo que o publico não perceba. 

Nós que dançamos e conhecemos os passos e as regras, quando erramos é praticamente inevitável um sorriso mais largo por parte de quem errou e isso é muito engraçado de ver nos videos, praticamente todo mundo que erra tem a mesma reação! Mas o público não conhece as regras e os passos e o que pode parecer um super erro para nós, para eles talvez passe despercebido. É nosso dever, como coletivo, contornar todo e qualquer deslize. Como? Quem puxou um passo e percebeu que as colegas não conseguiram acompanhar, se atrapalharam, não repita mais esse passo naquela apresentação. E quem esta seguindo e por acaso errou, o mais importante é não se afobar, contorne, se encaixe novamente de onde conseguir e lembre-se sempre que a sua expressão facial fala mais do que suas palavras, precisamos prestar atenção sobre a mensagem que o nosso rosto esta passando. De nada adianta seu figurino estar rico, a execução dos seus passos estar perfeita, se o seu semblante esta fechado. Dança é diversão e alegria! Dança não é obrigação. 

Mas e sobre quem errou? Será que eu não estava dançando com a cabeça aqui no momento? Será que eu não estava prestando atenção suficiente? Será que ela não foi clara na senha? Não devemos julgar, apenas contornar e consertar. Claro que DEPOIS isso deve ser falado, se possível visto em vídeo, conversado com suas amigas do grupo, e melhorado, mas no momento da apresentação e após a mesma, não adianta ficar de cara feia para a colega porque não gostou da pisada de bola dela. Ninguém acorda e pensa "Humm, hoje decidi errar feio na apresentação", ninguém! Porém estamos passiveis de erros. Eu já dancei com uma pessoa que fazia um carão tão marrento quando alguém cometia um engano, que o clima ficava tão pesado a ponto de ninguém mais aproveitar e curtir o restante do evento. E isso é péssimo. 

Ninguém é perfeito na vida, e se ninguém é perfeito na vida, por que algumas pessoas acham que precisam ser perfeitas na dança? Estudo e técnica são imprescindíveis, isso é fato, mas não se culpe demasiado por errar um passo de ATS®, quando o que conta é a harmonia, a sintonia do grupo em si, a beleza do coletivo. Erros acontecem, isso é tão comum no ATS®, apenas aceite e divirta-se! 

Uma das lições mais importantes que guardei do meu General Skills, foi quando Carolena nos disse que a ideia do ATS® é se divertir, por isso o sorriso, e que se você não estiver se divertindo é porque algo está muito errado, e cabe a você refletir sobre isso. Estou me cobrando demais? O problema é com alguém do grupo? Conversa e reflexão sempre resolvem esses pontos, e como eu já disse lá no inicio, precisamos respeitar a opinião dos outros, assim como devemos respeitar os limites do seu corpo. 

Deixo com vocês um vídeo da nossa mestra e inspiração, aquela que sempre nos espelhamos para (tentar) um dia ser igual. Na primeira música desse vídeo Carolena se engana algumas poucas vezes e o que ela fez??? Riu e continuou, soberana rainha como ela é! Entendam que a minha ideia não é apontar defeitos ou erros, o que eu pretendo com isso é mostrar para você que se ela, quem criou o estilo e o pratica há mais de 20 anos, se ela se engana e contorna e se diverte com isso, porque nós, simples súditos, nos cobramos tanto a perfeição? Reflita... e divirta-se! Essa é a ideia do ATS®! 





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