Tribal, uma arte para refletir.

por Kilma Farias

Laiz Latenek | foto de Fernanda Maia

Estive duas vezes na Bahia nesse mês de agosto. Para ministrar aula e me apresentar juntamente com a Cia Lunay no Etno Tribes Festival, produzido por Joline Andrade e no Encontro Nacional de Dança Contemporânea para apresentar RepercuSONS, também com a Lunay. E o que isso tem a ver com o título no nosso texto? É que andando pelas ladeiras de Salvador pude viver a diversidade híbrida que é ser brasileiro. As cores, os búzios, os cabelos e turbantes, o jeito de andar, de falar, a dança – tudo é muito atravessado de informações do mundo todo, influências da África, dos Estados Unidos, da França, do Japão. Tudo ali em movimentos cotidianos. Não que exista alguma sociedade “pura”, e que esse hibridismo não esteja presente também em outras cidades, mas lá o contraste de cores e identidades fervilha nosso imaginário, chamando nossa atenção para um corpo que se percebe como meio de recepção e transmissão de influências múltiplas.

Essa relação corpo-mundo me faz olhar para o Tribal de um modo globalizado. E me pergunto: o que não seria Tribal hoje? Se pensarmos o Tribal como uma expressão de arte-filosofia que integra etnia, identidade e mestiçagem esse leque se abre amplamente. Mas se pensarmos esse possível conceito impregnado de contracultura, aí já teremos um foco mais específico para essa arte contemporânea.

E o que seria ser contemporâneo? Levanto alguns questionamentos que nem querem ser respondidos, mas simplesmente refletidos. Refletidos em dois sentidos: o da reflexão e o do reflexo, da imagem.

A reflexão seria o de imergirmos no pensamento da arte Tribal, seja qualquer uma de suas expressões, o Fusion, o ATS, o Dark, o Urban, o Brasil. O que elas têm em comum, no que diferem? Como os corpos que dançam esses estilos dialogam com o mundo? O que pensa o universo Tribal? O que penso eu? Como eu, brasileira, vivendo aqui no Brasil, dentro da nossa estrutura socio-economica-cultural posso estar me relacionando com o Tribal, que em sua gênese se desenvolveu na Califórnia? Como essa “Califórnia” chegou em cada continente e em cada corpo que hoje dança Tribal? O que isso muda na minha dança? O que minha dança muda em mim? Tantas reflexões...

Kilma Farias | foto de Andréa Magnoni

E como isso reflete na minha forma de ver o mundo e de fazer arte? Em mim, o Brasil aflora em suas expressões culturais, populares e de matriz africana como forças motrizes para me colocar em relação com o Tribal que veio de San Francisco, que por sua vez se estabeleceu como um desenvolvimento da Dança Moderna Americana. Que imagens estão sendo geradas a partir do Tribal? Que discussões? A que caminhos nos levam essa liberdade?

Venho pensando o Tribal como muitos corpos em um só. Seja em um só movimento, em um só reflexo, mesmo que de múltiplas faces e nuances.

Cia Lunay  | foto de Andréa Magnoni

Meu texto desse mês vem em forma de perguntas e divagações, que podem ser superficiais ou em profundidade. Dependendo de como reverbere em quem o lê. Quero ouvir e ler sobre o que pensam muito mais do que escrever e me colocar.


Vamos refletir!


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