Nossa primeira entrevistada de 2014 é a bailarina Mariana Quadros, de Santos-SP. Mariana foi a primeira Sister Studio do Brasil e também a frequentar e se profissionalizar no exterior no evento Tribal Fest. Ela nos conta sobre sua trajetória, projetos futuros e algumas opiniões a respeito do Tribal Fusion.
*** Entrevista atualizada com novas perguntas! (05/05/2015)***
*** Entrevista atualizada com novas perguntas! (05/05/2015)***
BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou para você?
Entrei na dança do ventre meio à toa; não tinha nenhum
interesse especial por ela até começar. Comecei a fazer aulas com a Jannah El Havanery. Acabei
gostando das aulas e comecei a procurar mais informações e vídeos de dança na
internet. Nessas pesquisas, encontrei um vídeo de tribal e foi amor à primeira
vista. Fiquei absolutamente fascinada pelo
estilo, a postura, a roupa, os movimentos, as tatuagens (eu também já
tinha tattoos na época), e descobri depois de algum tempo de pesquisa que
aquilo era Tribal Bellydance. Não existia Youtube na época e não era fácil
encontrar vídeos de tribal. Continuei fazendo aulas regulares de Dança do
Ventre e comecei a estudar tribal sozinha em casa. Não havia aulas na minha
cidade, então tudo que eu aprendia na dança do ventre eu tentava dar uma cara
tribal. Ainda não tinha noção das diferenças técnicas entre os estilos, então
ia no feeling mesmo.
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
A Jannah,
minha primeira professora, com quem estudei regularmente por 4 anos, foi e
sempre será uma referência para mim. Aprendi a ser professora de dança com ela,
e tenho certeza de que se não tivesse começado com uma boa professora teria
desistido rapidamente. Ainda na Dança do Ventre, a Jade El Jabel foi uma inspiração muito grande para
mim. Ela tem muita personalidade, e abriu meus olhos para muitas coisas.
Aprendi muito sobre dança e arte com ela.
No Tribal, a Sharon
Kihara foi uma das minhas
maiores influências, estudei com ela diversas vezes aqui no Brasil e também
tive algumas conversas em particular que me ajudaram imensamente. E finalmente
a Lady Fred, com quem fiz aulas particulares e em
grupo pela primeira vez em 2008 e que me inspirou muito com sua visão ampla da
dança, seu improviso e seu estilo único no tribal. Mas aprendi com todo mundo
com quem já fiz aulas, em maior ou menor escala, a gente leva um pouquinho de
todo professor que já teve.
BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Desde criança gosto de dançar e fiz um pouco de ballet e
jazz. Depois só copiava coreografia de videoclipe da Madonna. Aos 20 anos comecei a Dança do Ventre
e, em seguida, o tribal que me levou a aulas/workshops de flamenco, tango,
kathak, odissi, contemporâneo e mais dança do ventre.
Minhas primeiras inspirações para o Tribal foram a Rachel Brice e a Frèdèrique.
Atualmente, minha inspiração vem da música, da vida, da arte, de qualquer lugar
basicamente. E do movimento em si.
BLOG: O quê a dança
acrescentou em sua vida?
Nossa, tanto! Nem me lembro direito como eu era antes da
dança, parece que faz uma eternidade. Acredito que comecei a dançar numa idade
muito crucial do amadurecimento, então a dança de certa forma moldou minha
personalidade adulta. Além disso, fez eu me conectar com o corpo, entender o
que é ser artista, o que é dedicação, isso são só algumas das coisas que me
lembro assim de cabeça!
Aprecio imensamente o fato da mulher "fazer uso" do próprio corpo e se enfeitar da maneira que gosta, rompendo com os padrões do que é tradicionalmente considerado feminino para expressar uma força ancestral que não cabe em palavras.
BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre disso?
Em termos de mercado, o que prejudica a dança do ventre é que qualquer um pode abrir uma escola e "dançar profissionalmente". E o público aceita porque não é educado, porque a dança não ganha espaço fora dos estereótipos da "odalisca". E perdura porque o próprio meio compra isso. Em geral, não exigimos um maior nível de show, melhores lugares para dançar, bons sons, bons palcos, boa iluminação e cachê. Precisa haver mais consideração de bailarina para bailarina, muito ainda acontece na base da troca. Se ainda falta muito essa consideração dentro da classe, como podemos exigir do público?
Em termos de mercado, o que prejudica a dança do ventre é que qualquer um pode abrir uma escola e "dançar profissionalmente". E o público aceita porque não é educado, porque a dança não ganha espaço fora dos estereótipos da "odalisca". E perdura porque o próprio meio compra isso. Em geral, não exigimos um maior nível de show, melhores lugares para dançar, bons sons, bons palcos, boa iluminação e cachê. Precisa haver mais consideração de bailarina para bailarina, muito ainda acontece na base da troca. Se ainda falta muito essa consideração dentro da classe, como podemos exigir do público?
BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal ? Como foi isso?
Apenas aquele básico das pessoas acharem que não é trabalho
de verdade, que é fácil dançar e se você faz dança do ventre "dança aí
então pra gente ver". Mas tudo isso está muito relacionado com a pergunta
que respondi acima.
BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Acho que todas as frustrações que tive foram
relacionados à percepção de que ser um profissional de respeito na dança não
implica em conseguir viver dela e em as coisas funcionarem do jeito que
deveriam.
Tive muitas satisfações na minha carreira. Para mim, todo
workshop fora de São Paulo é uma satisfação muito grande. Saber que tem gente
interessada dessa maneira no seu trabalho, chegar lá e ver pessoas com vontade
de aprender, com aquela empolgação e pique de quem está começando. Além disso,
tive parcerias com bailarinas que admiro e respeito; já dancei no mesmo show
com a maioria dos ícones do estilo tribal; acredito ter sido a primeira
brasileira a participar e dançar no Tribal
Fest; conheci pessoalmente (entre conversas e aulas) muitas das pioneiras
do estilo e das pessoas que fizeram do tribal o que ele é hoje; obtive o status
de FCBD® Sister Studio e levei o tribal para muitos lugares
exclusivos de Dança do Ventre. Também já dei aulas ou recebi convites para dar
aulas em alguns dos melhores espaços de dança. Tudo isso é muito gratificante.
BLOG: Você foi uma das primeiras bailarinas do Brasil a se envolver com o estilo tribal. Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a pesquisar? Como era visto a dança tribal naquela época e como hoje ela vem se apresentando na cena brasileira?
As
informações em português eram praticamente inexistentes. Quando comecei a
pesquisar, encontrei um grupo atuando em São Paulo e existia um texto
informativo no site desse grupo. Fora isso, não me lembro de ter encontrado
mais nada... Praticamente ninguém conhecia o tribal. O tribal começou a ficar
mais conhecido aqui com o BellyDance Superstars. Aí com os dvds do BDSS e
o Youtube é que foi se espalhando. Mesmo assim, ainda era uma visão bem
limitada porque não se sabia nada a respeito do histórico do estilo, de onde
havia saído tudo aquilo, como eram as técnicas. Daí, sem saber a respeito do
ATS®, achava-se que era apenas uma estilização da Dança do Ventre e que a
inventora do estilo era a Rachel Brice rsrsrs. Com o tempo,
mais e mais bailarinas e grupos se tornaram acessíveis.
A Sharon veio para o Brasil pela primeira vez e as coisas começaram a tomar mais corpo. Mas ainda demorou muito tempo até que ficasse claro que a origem do Tribal Fusion como conhecíamos era o ATS®. Hoje em dia temos muita informação aqui no Brasil, muita gente que estudou fora, que tem embasamento técnico e teórico sobre o estilo. Sem contar o Tribal Brasil que já é nossa própria contribuição para o mundo do tribal!
BLOG: Você participou do evento internacional Tribal Fest (EUA),primeiramente, em 2006 apenas para estudo e, posteriormente, em 2008 retornando não apenas para este fim, mas também para dançar no evento. Quais aprendizados e/ou vivências você adquiriu dançando e estudando nos EUA? Qual retorno e repercussão você teve pelo público norte-americano? Estudar nos EUA ajudou-a a entender melhor todo o processo por trás da criação dessa dança?
A
primeira vez que fui para o Tribal Fest eu tinha
aproximadamente 2 anos de estudo, era tudo muito novo para mim. O festival era
bem menor do que é hoje em dia e eu fui como entusiasta do estilo, não era
profissional ainda. Não era tão glamoroso quanto eu achava, as bailarinas mais
famosas circulando pelo festival como pessoas normais rsrs.
Tribal Fest 2006 - Rachel Brice e Mariana Quadros |
Em 2008, o festival já estava bem maior e a resposta à minha
apresentação foi bem bacana, não esperava nada e as pessoas vinham me falar que
gostaram, elogiar. Foi uma surpresa boa em um lugar com tantos grandes nomes
ter esse tipo de recepção. Com certeza ter estudado nos EUA nesses três
momentos bem distintos da evolução do tribal (2006, 2008 e 2010) me ajudaram a entender
muitas coisas sobre ele. E também o fato de ter acompanhado seu crescimento
pela internet desde o começo. Estudar
fora ajuda a gente a entender muita coisa, te dá uma visão ampla.
BLOG: Conte-nos um pouco sobre o processo
coreográfico da performance que apresentou em 2008 no palco do Tribal Fest 8!
Como foi o processo de escolha das músicas, figurinos e passos? Teve alguma
mensagem que você quis transmitir? Você pretende retornar ao evento tanto para
estudar quanto para dançar novamente?
Planejei a minha performance com a
intenção de levar algo com uma "cara mais brasileira" para o palco. Meu foco
nunca foi o Tribal Brasil, mas nessa ocasião fiz questão de usar músicas brasileiras
para o meu set, colocar elementos que remetessem ao Brasil no figurino e uma
coisinha ou outra na coreografia. Foi a única vez na vida que coreografei um
forró! Escolhi músicas brasileiras mas com um toque eletrônico, que era uma
coisa com a qual eu me sentia mais á vontade na época. Acho que no final o
público reconheceu a influência e ficou com uma carinha diferente das outras
performances que estavam sendo apresentadas. Não tenho pretensão de voltar em
breve, tem muitas outras coisas que prefiro fazer em termos de tribal e estudo
do que voltar ao Tribal Fest. Mas que é muito legal, é!!!
BLOG: Em 2009, você se apresentou, juntamente com Adriana Bele Fusco e com a bailarina superstar Sharon Kihara, no evento Tribal
y Fusion. Gostaria que comentasse como foi essa experiência de dançar ao lado
de Sharon.
Foi muito gratificante receber esse convite. Ela
havia estado conosco dando workshops no ano anterior e sugeriu que dançássemos
a coreografia que ela havia passado no ano seguinte no festival. Originalmente
éramos eu, a Dri, a Nanda Najla e a Sharon. A Nanda acabou não dançando e
fomos nós três. Como a Sharon sempre foi uma das
minhas maiores referências, foi uma sensação incrível subir no palco para
dançar ao lado dela.
BLOG Você
foi uma das primeiras bailarinas do Brasil a se envolver com o ATS®, por que
você começou a querer ou ver necessidade em se aprofundar no ATS®? Como eram as
informações sobre o estilo na época em que você começou a pesquisar sobre o
American Tribal Style®? Como era visto o ATS® naquela época e como hoje ele vem
se apresentando na cena brasileira?
Senti
necessidade por entender que no ponto em que eu estava, para dar o próximo
passo no meu desenvolvimento como bailarina e professora de tribal, precisaria
me aprofundar no ATS®. Tanta coisa começou a fazer sentido apenas depois de
conhecer bem o ATS®. Por aqui já tinham algumas pessoas bastante envolvidas com
o ATS®, bem antes de mim. Eu estudava pelos dvds mas não tinha ninguém com quem
dançar. Meu primeiro contato mais aprofundado com o ATS® foi num workshop
no Tribal Fest, em 2008, com a Carolena Nericcio. Fiquei
fascinada pela profundidade técnica, estrutural e teórica do estilo. É tudo
muito bem pensado, tudo tem um motivo e uma explicação. Depois de passar tanto
tempo estudando apenas o Tribal Fusion, em que cada um tem sua técnica e nem
sempre tem um porquê, essa mudança foi muito bem-vinda. Esse foi o momento em
que sabia que tinha que estudar ATS®.
Acredito
que antes era visto como um dos estilos dentro do tribal, e era um pouco
menosprezado até. Agora já existe a consciência da sua importância.
BLOG: Em 2010, você obteve sua certificação em ATS®
com a criadora do estilo, Carolena
Nericcio. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de
certificação (General Skills/ Teacher Training1 e 2) e como se alcança o tão
estimado selo de Sister Studio.
E qual importância de conseguir tal certificação, em sua opinião?
1ª Sister Studio do Brasil |
Quando
fiz houve uma pré-seleção por currículo e havia alguns pré-requisitos para se
inscrever nos cursos. Para ser Sister Studio você precisa ter
feito o GS e o TT. Após fazer os cursos, se você estiver comprometida a
ensinar/praticar o ATS® como você aprendeu no curso e tiver interesse em ser
uma representante oficial do estilo, faz um pedido à Carolena, que
pode ou não te conceder o status de Sister Studio. E se você fizer
besteira pode perdê-lo também. Acho que todo tipo de embasamento possível é
importante para o profissional, e levo a sério o que eu faço. Não acho que seja
necessário ter certificações para ser um bom profissional, e nem que todo
profissional certificado é bom. Mas eles são sempre um ponto de referência,
como o DRT para nós aqui no Brasil. No caso do tribal, são os dois cursos
formais com formato fechado que temos atualmente: o GS e TT e
o 8 Elements da Rachel Brice.
BLOG: Como você enxerga a
cena tribal hoje, quando todos já tem conhecimento sobre o que é o ATS® e sua
importância para o tribal fusion? Na sua opinião, o quê precisa ser melhorado,
aperfeiçoado e até mesmo mudado no comportamento da tribalista(o) brasileira
(o).
Acho
incrível que todos tenham conhecimento sobre o que é ATS® e da sua importância
para o Tribal Fusion, e claro que temos alguns excelentes profissionais em
ambas modalidades. Mas no geral, acho que ainda falta mais embasamento. Essa
dança não é uma dança livre, é uma dança que tem história, que tem raízes e
origem. Se tratarmos como qualquer coisa, qual será o futuro do tribal? Não
vejo como muito promissor. Se queremos que seja um estilo que é respeitado no
meio da dança em geral, precisa desses fundamentos, desse respeito. Se cada um
fizer qualquer coisa que der na telha e chamar de tribal, não tem como obter um
status de arte mais elevado (que por sinal foi a primeira intenção do tribal –
elevar o status da Dança do Ventre). Para isso, falta mais estudo de história, mais estudo
de técnica, mais entender dos “porquês" e "comos”, menos opinião e mais estudo.
BLOG: Hoje contamos com diversos recursos de estudos. O próprio FCBD®
vem lançando materiais muito bons nos últimos anos. Em relação ao estudo de
ATS®, que dicas você daria para aqueles que ainda não podem estudar com uma
professora do estilo, mas que gostariam de aprender mais sobre o mesmo, tanto
na teoria quanto na prática?
Sinceramente, acho que nesse caso a primeira coisa é
aprender a se virar com o inglês. Fica muito difícil estudar sozinha por vídeos
e pela internet se você não lê textos em inglês e não entende as instruções dos
DVDs. Vale o investimento pra dança e pra vida.
No site do FCBD® existem diversos
recursos atualmente;além dos DVDs, você pode comprar o pacote de aulas online
e fazer as aulas com a Carolena, como se estivesse no estúdio em São Francisco.
Mas junto com esse estudo autodidata, recomendo ao menos uma professora de
dança do ventre para consultar; ou aprender por si só, estudando outra
modalidade, como a yoga, por exemplo, alguns princípios de postura e anatomia. É primordial
que você pratique de forma que seja segura para seu corpo.
BLOG: Em 2011 você criou o Pandora Tribal e, posteriormente, em 2013, criou o TiNTi. Como é fazer parte de um grupo de
ATS® e qual a importância que você encara no
estudo do estilo? Conte-nos como
surgiu a TiNTi, a
etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele
sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado
até agora.
Fazer
parte de um grupo de ATS® é por em prática o que você aprende na teoria. O ATS®
só faz sentido quando em conjunto. Aí é que você entende. Não existe ATS® sem
grupo/dupla.
TiNTi |
TiNTi é "tilintar" em
Esperanto. O nome faz menção ao som dos snujs e escolhi Esperanto por ser a
tentativa de uma língua universal, exatamente como o ATS®. Desde o começo somos
eu e a Anna Cláudia,
escolhemos o nome juntas e mudamos a grafia para algumas letras maiúsculas para
fazer uma brincadeira com "TNT" e explosão. Nos divertimos muito dançando e
estudando juntas; e somos amigas fora e antes da dança, então isso se reflete
no nome e no que criamos juntas quando dançamos. Essa é a nossa diferença de
estilo: uma coisa mais leve, não nos levamos tão a sério. Levamos a dança a
sério apenas!
BLOG: Em 2015, o Festival Campo das Tribos trouxe, pela primeira vez no Brasil, a criadora do ATS®, Carolena Nericcio, e Megha Gavin, ministrando os cursos TT e GS. Como foram os preparativos e expectativas para sua vinda? Podemos dizer que foi um marco na história da cena tribal brasileira? Qual mensagem você gostaria de deixar para as novas sister studios?
Estive com a Rebeca durante um bom período dos preparativos e posso dizer que não foram nada fáceis! Sem dúvida foi um marco na cena tribal brasileira e colocou o Brasil, que já estava na rota tribal há muito tempo, mais na rota ainda! Às novas Sisters gostaria de dar os parabéns e lembrar que agora fazem parte do pequeno grupo de pessoas responsáveis por espalhar o ATS® bem bonito pelo Brasil e pelo mundo. Usem esse "poder" de forma consciente e responsável, e lembremos que não podemos parar nunca de estudar! ;-)
BLOG: Você é uma das bailarinas do corpo inicial de tribaldancers e
coreógrafa da Cia Dancers
South America(DSA),formado em 2010, dirigida por Adriana Bele Fusco. Como surgiu
a oportunidade de fazer parte do DSA ? Comente como foi coreografar um
grupo tão amplo e diversificado como este. Qual é o processo de criação para as
coreografias de Tribal Brasil neste grupo ?
DSA 2010 - 1ª formação |
Eu
trabalhava com a Adriana há um bom tempo já quando ela teve a idéia para o DSA.
Participei de tudo desde o começo, escolhi com ela o elenco para o tribal,
escolhemos juntas as músicas e figurinos. Foi uma experiência muito
enriquecedora. Foi a primeira vez que coreografei para profissionais, então
realmente fiz o que queria, sem ter que me preocupar se elas iam conseguir
executar, simplesmente criei! Não sei a respeito do Tribal Brasil, pois quem
coreografou foi a Kilma Farias. Fiz as coreografias de Tribal Fusion e precisávamos
pensar não somente na coreografia em si, mas em como passar todas as mudanças
de formação, desenhos e trocas para o restante do elenco à distância. Isso foi
um desafio à parte!
BLOG: Gostaria que comentasse um pouco a respeito do Projeto Lua Nova de Jade El Jabel, que você participa desde 2010, sempre desenvolvendo lindas coreografias.
Projeto Lua Nova 2011de Jade El Jabel |
Como falei anteriormente, fui aluna da Jade por uns
dois anos. Aí em 2010 ela me convidou para criar para as alunas dela uma coreografia de tribal para o
projeto. Depois comecei a dar aula no Dumuaini (estúdio
da Jade) e integrar o projeto nos dois anos seguintes.
BLOG: Em seu blog sempre vi muitos questionamentos relacionados a dança tribal, principalmente desenvolvida em outros países que não sejam o berço da dança, os Estados Unidos. Na sua opinião, traçando tanto um panorama mundial quanto local, em relação ao Brasil, desde que você estuda a dança, o quê melhorou e o que precisa melhorar? Quais são as indagações e lacunas que o Tribal Fusion ainda perpetua por ser uma dança recente e em evolução?
Vejo uma fase meio confusa para o Tribal mundial.
Muitos sabem da importância do ATS® na história do Tribal Fusion, mas muitos
ainda se recusam a entendê-lo mais profundamente. Por conseqüência, muitos
praticantes têm dificuldade em delimitar essa linha do que ainda é tribal e do
que passa a ser somente fusão. Essa resposta só vem com uma compreensão mais
abrangente do histórico do estilo, de sua árvore genealógica mesmo, de onde
foram vindo as mudanças no ATS® até “virar” Tribal Fusion; e como o Tribal
Fusion foi mudando e se afastando cada vez mais do ATS® e como daí chegamos aonde estamos. Nessa
coisa totalmente sem forma, onde muito debate existe, mas se chega a poucas
conclusões. Fusões cada vez mais “fusionadas” vão sendo feitas, e pouco de
tribal vai ficando. Sendo que um mínimo estudo dos fundamentos do ATS® já clareia
tanto essa questão do que é realmente tribal. Resumindo, atualmente vejo muito
fusion e pouco tribal.
BLOG: Já vi algumas indagações em sites estrangeiros da importância que alguns bailarinos sentem das precursoras do Tribal Fusion direcionarem melhor o estilo para não provocar tais confusões com relação a dança. O quê você pensa sobre o assunto? Na sua opinião, por quê você acha que isso ainda não foi feito?
Acredito
que como artistas, as precursoras não sentem essa necessidade. O mesmo ia acontecer
com o ATS®, até que a Carolena segurou as rédeas e definiu o estilo
para o restante do mundo. Ela podia fazer isso pois foi ela quem criou tudo. O
Tribal Fusion tem algumas pioneiras, mas ninguém se posicionou sobre isso para
dizer o que "pode" e o que "não pode". Com exceção da
Rachel, que sacramentou seu estilo e criou seu formato, o restante não se
manifestou a respeito. Mas para mim, o que o olhar destreinado não enxerga, é
que as pioneiras do tribal americanas tem o tribal em seu DNA. A memória
muscular é uma coisa muito difícil de se mudar completamente, então, se uma das
que sabemos serem pioneiras faz uma fusão bem maluca com contemporâneo, na sua
memória muscular ainda existem as técnicas do tribal. Portanto, sua execução
será tribal. E sua dança também. É somente isso. Isso é Tribal Fusion pra mim.
BLOG: Como é ser blogueira? Descreva um pouco sobre o seu blog.
Comecei meu blog a 5 anos numa tentativa de dividir
o que eu estudava, minhas experiências e impressões com outras pessoas. Sempre
fui muito atrás de informações e por isso sempre descobri muita coisa. E sempre
soube o valor de poder encontrar informações confiáveis. Não sou uma blogueira
muito fiel, já deixei o blog praticamente esquecido mais de uma vez, mas esse
ano um dos meus compromissos é voltar a escrever semanalmente!
BLOG: Na sua opinião, o quê é tribal fusion?
Minha opinião continua a mesma a muitos anos: Tribal
Fusion é a fusão de ATS® (que é por si só um estilo de fusão, mas com técnicas
e princípios muito bem definidos) com outras danças.
BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
Muitas coisas. O resgate de muitos arquétipos
femininos numa leitura contemporânea; a liberdade de expressão, liberdade na
escolha musical, uma estética própria e influências próprias, sua força.
Podemos trazer muito do nosso background para o palco. Ao mesmo tempo,
reconheço que essa é sua "ruína", pois acaba-se por perder as
referências sobre o que realmente constitui o estilo. Essa coisa anamórfica é,
ao mesmo tempo, o que o torna interessante e imprevisível. Mas mesmo dentro de
toda inovação, acho que devemos levar a essência do estilo, senão, como já
disse, vira qualquer coisa.
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Sempre busquei ter esse DNA tribal no meu corpo, na minha
memória muscular, para sentir que o que eu produzo carrega a força que me fez amar
o estilo. Já me senti mal por isso, já me senti bem por isso, e hoje acredito
que essa é a única maneira para mim. Sempre vou valorizar esse aspecto técnico
firmado no ATS®, ainda que eu mude algumas coisas para meu Tribal Fusion, quero
poder olhar meu trabalho e ver que tem raiz ali.
BLOG: Como você se expressa na dança?
Me expresso desde o lugar que escolho para colocar o grampo
no cabelo até a maneira que decido usar para agradecer e deixar o palco. Toda
escolha na dança é uma forma de expressão. E quando você dá aulas, se expressa
dividindo sua paixão e visão de dança e de mundo com os outros. Ah, e me
expresso pelo meu blog!
BLOG: Quais seus
projetos para 2015? E mais futuramente?
Em 2015 estou retomando meu
trabalho no tribal com força total e, mais futuramente , pretendo expandir o
público do tribal, quero levá-lo para novas plateias e novas possibilidades.
BLOG: Improvisar
ou coreografar?E por quê?
Os dois. Ambos são igualmente importantes e enriquecedores,
além de se complementarem.
BLOG: Você trabalha somente com dança?
Atualmente
sim.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Tente entender o tribal. Entendendo realmente o estilo você
terá muito mais inspiração e liberdade para se expressar real e unicamente, de
uma maneira que acredito que poucas danças permitem. Se tiverem dúvidas, pode
mandá-las pelo Facebook (Mariana Quadros) ou pelo
email (marianaquadros@outlook.com). Ficarei contente em ajudá-los em suas
pesquisas!
Contato
E-mail:
marianaquadros@outlook.com
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