Entrevista #35: Natália Espinosa

A nossa entrevistada do mês de julho é a bailarina de Campinas-SP, Natália Espinosa. Natália nos conta sua trajetória com a dança, como ela interpreta cada personagem e suas estórias, suas conquistas e dificuldades, e o amor pelo tribal, em especial o ATS®. Confira!

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre;como tudo começou para você? 
Eu comecei a dançar dança do ventre em 1998. Eu tinha 12 anos de idade, e minha tia que me matriculou após eu ter demonstrado vontade de aprender (acho que vi uma apresentação na televisão). Estudava na Escola Angel Vianna, no Rio de Janeiro, e se não me engano minha professora se chamava Cláudia Valéria. Eu me lembro que ela também era formada em dança contemporânea e me ajudou muito com consciência corporal. Pouco tempo depois ela foi morar no Canadá e me indicou uma aluna dela, a professora Hadjza Kalif, querida mestra e amiga até hoje. Fiz aulas com ela, inclusive particulares, até um ano antes de sair do Rio de Janeiro e até falávamos em profissionalização, em prova do sindicato e DRT, mas eu sempre fui muito tímida e perfeccionista e sequer conseguia me apresentar, apesar de ensaiar e ter figurino. Eu também tinha umas ideias pouco ortodoxas para figurino e música...

Viajei para Sorocaba em 2008 para ver um amigo querido e a namorada dele me apresentou o tribal fusion, que ela chamou de dança do ventre gótica, através de um vídeo no Youtube. Era um vídeo da Ariellah. Me interessei muito pelo estilo e comecei a casualmente pesquisar na internet. Encontrei nesta ocasião o Myspace da Paula Sampaio, que vivia em Campinas. Lembro de não ter encontrado outras ofertas de aula de Tribal e fiquei com nome da Paula na cabeça. Vim para Campinas em 2010, mas demorei ainda um ano para conseguir marcar minha tão sonhada aula com a Paula.Me apaixonei de cara pelo tribal fusion, que veio num momento muito delicado da minha vida. Paula me indicou estudar o ATS® para aprender a postura e o básico do tribal fusion, e foi assim que tudo começou. Acabei me apaixonando ainda mais pelo ATS®. Posso dizer, sem medo de estar exagerando, que já fiz pelo menos uma aula com a maioria dos professores do Brasil (antes da vinda da Carolena).

A profissionalização veio tarde para mim, se considerarmos que eu comecei a dar aulas no segundo semestre de 2013, 15 anos depois de eu ter começado a dançar dança do ventre. Quando eu era aluna de dança do ventre, nunca imaginei que esse fosse ser meu caminho. Mas eu sempre fui professora (de inglês, de ciências, de biologia) então foi bem natural para mim passar a investir na minha formação no ATS® e no tribal fusion com o objetivo de disseminar estas danças.

Me imaginar como bailarina, como performer, é que foi mais complicado. Eu sou muito envergonhada e não gosto de ser o centro das atenções, então prefiro subir ao palco com o ATS®, mas, nos últimos meses, me apresentar sozinha está sendo mais prazeroso. Acredito que ainda estou no processo de me acostumar com o palco.   

BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Como já mencionei, Hadjza Kalif me marcou muito por nunca ter desistido de mim, mesmo eu sendo super tímida. Ela também me ensinou a me divertir acima de tudo com a dança: dançar para ela era um grande prazer, ela tem um amor muito grande por essa arte e isso emana de sua dança.


Paula Sampaio e Natália

Paula Sampaio me mostrou muitas coisas enquanto professora e enquanto amiga. Com ela dei meus primeiros passos em direção à profissionalização e por causa dela, envolta em sua energia, permaneci firme nesta decisão. Ela me disse: você vai dançar sim, vai se apresentar sim. Ela acreditou em mim num momento muito crítico da minha vida e continuou abrindo muitas portas pra mim. Hoje dou aula em seu espaço, o Triluna. Sempre busco tratar meus alunos com o amor que a Paula me tratou.

Natália e Gabriela Miranda
Gabriela Miranda é minha grande mestra. Quando a vi dançar eu entendi que não poderia mais viver sem o tribal em minha vida. A Gabriela não se preocupa só em mostrar a aula, ela se preocupa se a aula entra na sua cabeça e te ajuda a ter o máximo de aproveitamento possível. Ela é muito comprometida com o ensino e não segura nenhuma informação. É uma grande inspiração para mim dentro e fora de sala de aula. Ela fez de mim uma bailarina, e isso significa muita coisa, tendo em vista minhas dificuldades.

Rebeca Piñeiro e Natália


A Rebeca Piñeiro, quando era minha professora de ITS e posteriormente de ATS®, me incentivou muito no momento decisivo da minha história com o tribal, que foi em 2012Ela fez muito por mim nessa época, me incentivando e agindo como uma amiga, me dando apoio. Quando eu estava pensando em me formar Sister Studio eu perguntei a opinião dela e ela me incentivou, também. Além disso, eu fazia muitas aulas na escola dela, a Campo das Tribos. Aprendi muito lá e vivi momentos especiais. Sou extremamente grata.

Eu me identifico muito com a forma que Mariana Quadros vê o tribal. Ela é uma pessoa que dá muita importância para o aprimoramento do básico e valoriza o treino e a persistência na prática. Considero-a uma excelente profissional.

Aline Muhana e Natália
Aline Muhana é uma grande inspiração para mim. Quando eu assisto suas aulas, converso com ela, treino com ela, ensaio com ela, eu me sinto como se estivesse vivenciando o verdadeiro ideal do tribal. Ela e suas alunas são unidas, humildes e não tentam de forma alguma prejudicar ninguém; o grande objetivo da Aline é dançar com amor e respeito e dividir essa felicidade com os outros.

Natália e Raphael Lopes

Raphael Lopes – ele não me ensina tribal, me ensina Odissi. Mas como não falar dele? Ele me ensinou muitas coisas sobre como lidar com a minha dança e com o meio da dança, e também me ensinou que você pode ser genuinamente profissional sem ser sisudo.

Natália e Paula Braz

Paula Braz me marcou demais. Suas aulas me ajudaram a expressar a minha personalidade no Tribal Fusion sem descaracterizar a dança. Fora que suas aulas têm um quê de “reunião de bruxas”, parece que estamos fazendo um grande ritual e saímos da aula acreditando que podemos tudo. Eu amo as aulas da Paula Braz e o clima no estúdio das Shamans.

Entre as internacionais, é claro: Carolena Nericcio-Bohlman. Dispensa comentários. Uma mulher forte, visionária, criativa e que criou a forma de dança que mudou minha vida. É um exemplo. 

Rachel e Natália 

E Rachel Brice. Apesar do estilo de dança da Rachel não ser a que mais me move, sua aula e sua forma de ver a dança estão no nível em que aspiro chegar. É tão sincera  e cheia de amor e humildade em sua relação com a dança que é impossível ficar amargo em sua presença. Ela resgata a paixão e o entusiasmo do primeiro contato com a dança...

Mas sem exagero, todos os meus professores foram e ainda são importantes pra minha formação.  

BLOG: Além da dança do ventre você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Sim, eu fiz flamenco quando era criança, passei pelo jazz e fiz um tempinho de ballet quando adulta mesmo. Fiz também pole dance aqui em Campinas com minha melhor amiga, Ludmila Savitsky, que é professora. Hoje em dia ainda estudo Odissi mensalmente com meu professor Raphael Lopes. Se eu tivesse condições financeiras, certamente teria aulas de diversos estilos de dança o dia inteiro. Minhas metas são voltar para o pole dance e começar a ter aulas de Lindy Hop para dançar com meu namorado.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Eu não sou de focar num grupo ou pessoa inspiradora, mas em meu início eu me sentia especialmente inspirada pela minha professora Gabriela Miranda; vê-la dançar sempre me estimulava a permanecer no caminho apesar das dificuldades. Se eu tiver que especificar alguém diferente atualmente, acho que vale a pena mencionar Violet Scrap, April Rose, Colleena Shakti e Ashley Lopez; e no Brasil tenho gostado de assistir vídeos de dança do ventre, como os da Mahaila el Helwa e os da Esmeralda Colabone. Mas meus professores e suas aulas sempre serão minhas maiores inspirações.  

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Me permitiu socializar mais facilmente – o que não significa que esteja fácil agora, mas está mais fácil que antes. Aprendi a lidar melhor com as pessoas e comigo mesma.Fisicamente, melhorou minha postura e meu relacionamento com minha imagem.Me deu um canal através do qual posso contar as histórias que estão na minha cabeça, através do qual eu possa me expressar artisticamente.Eu também conheci pessoas maravilhosas através da dança. 

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
A filosofia de tribo e a possibilidade de se desprender do ego e se tornar a própria dança.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre/tribal e como melhorar essa situação?
Acredito que o ego e o orgulho das pessoas prejudique muito o cenário, bem como as panelinhas. Não acho que seja possível acabar com esses aspectos pois são inerentes ao ser humano, mas seria interessante se tentássemos sempre desconstruir esses sentimentos, se buscássemos caçá-los e subjugá-los ao invés de fechar nossos olhos para não percebê-los.

Eu também acredito que ainda há uma boa dose de amadorismo no nosso meio profissional. Acho que é preciso estudar muito para se tornar um profissional, e continuar estudando com humildade para saber que nunca se chega à perfeição. 



BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou tribal? Como foi isso?
Recentemente soube de um caso muito chato de preconceito em relação a mim. Não em relação à minha dança ou ao meu trabalho, mas a uma condição minha que me causa dificuldades. Acho que foi a primeira vez em que isso aconteceu. Não vale a pena falar. Fiquei muito magoada, mas acredito que um discurso preconceituoso, com o objetivo de prejudicar um artista, na realidade depõe contra quem o profere. É lamentável que uma pessoa precise lançar mão desse recurso.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Ah, sim. É inevitável. Mas hoje em dia eu prefiro reconhecer as coisas boas, que ocorrem com frequência muito maior. Percebi que reagir ao que me deixa indignada ou frustrada só me traz problemas e não resolve nada. 

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
A minha principal conquista foi conseguir subir no palco, dançar e sair só no final. Eu sou muito tímida, me cobro muito, detesto estar em evidência e a própria disposição do palco, as luzes, o calor, a dificuldade de ver as pessoas, tudo isso me deixa muito confusa.

É claro que ter viajado para os EUA para me formar Siter Studio FatChance BellyDance® foi uma conquista também, e uma das coisas mais maravilhosas que aconteceram. Ir ao ATS® Homecoming esse ano também.


O Coletivo Conexão Tribal, projeto idealizado por Surrendra, Annamaria Marques, Mimi Coelho e eu, é uma das minhas maiores conquistas atualmente. Estamos realizando encontros mensais em Belo Horizonte e tem dado muito certo. Nosso objetivo é tornar o tribal mais acessível, bem como juntar as pessoas interessadas no estilo.

Minha mais recente conquista foi levar quatro alunas para dançar na mostra do Festival Campo das Tribos. Todo mundo se divertiu e saiu feliz.

Recentemente eu e minha aluna Maria fomos selecionadas para dançar no show de participantes do ATS® Homecoming 2016. Fiquei muito feliz com isso. Estou empolgadíssima!!

Além disso, toda vez que alguém faz aula comigo e sai encantado pelo estilo é uma conquista. Foi para isso que eu me tomei professora, para difundir essa arte que amo tanto.  

BLOG: Atualmente, como é o cenário da dança tribal em Campinas? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal? 
Infelizmente a dança tribal ainda é pouco conhecida em Campinas.

Não temos muitos espaços culturais na cidade, e mesmo a dança do ventre não tem a visibilidade que tem na capital, por exemplo. Até bem pouco tempo o tribal ainda era visto como dança do ventre de figurino preto e bailarina com cara de malvada. A Paula Sampaio era a única professora que eu conhecia por aqui até dois anos atrás.

Hoje em dia eu e a Marina Ribeiro somos as professoras por aqui. A Marina foi minha aluna de ATS® e dá aula no Templo de Ísis, e está levando suas coreografias pela escola para eventos e concursos na capital.  Acredito que uma das alunas de Marina, Viviane Hayan, tenha se tornado professora também. Então posso dizer que estamos melhor que antes.

Acredito, no entanto, que o tribal ainda seja visto como uma atividade extra-curricular, um apêndice da dança do ventre. Mas é a evolução natural das coisas. Pelo menos já começamos a desabrochar, estou otimista. Acho que Campinas, até por ter a Unicamp e seus estudantes, é uma cidade que tem tudo pra acolher o tribal.

Sininho
BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal?

As coreografias que eu posso chamar de principais são a Sininho, a Boneca, Beastmaster e a Caçadores dos Sonhos.

Eu amo a personagem Fada Sininho e me identifico um pouco com ela. Eu sempre pensei que há um lado dessa personagem que as pessoas não vêem muito ou ignoram quando lêem a história do Peter Pan, então resolvi levá-la para o palco. Minha principal inspiração foi o sentimento de ser deixada de lado pela pessoa mais importante da sua vida, por quem você faz tudo e tudo perdoa. Eu vesti esse sentimento de Sininho, com uma roupa e maquiagem inspiradas nela, e levei. Associada a essa inspiração estava a música, "Pagan Poetry" da Björk. A letra fala bastante desse amor que fere e, no refrão, ela diz “Na superfície, simplicidade; porém, as profundezas mais escuras de mim” – parece algo simples e bobo, de fácil resolução, mas é o mais profundo e complexo sentimento que há. Lendo ou assistindo Peter Pan, parece que a Sininho é apenas uma criatura ciumenta, descontrolada e assassina, mas ela é uma figura feminina que está sempre ao lado da pessoa que ama, disposta a lutar e morrer por ele, mesmo sabendo que jamais poderia ser para ele o que a Wendy, uma pessoa que chegou depois dela, se torna. Minha inspiração é essa análise. Sobre a roupa, eu não quis fazer um cosplay, minha maior preocupação era que ficasse caricato. Levei a ideia para o Ateliê Tribal Skin e a Gabi desenvolveu o figurino, que ficou perfeito.

A Boneca nasceu em 2012 (sim, foi antes do filme Annabelle). Eu amo filmes de terror, amo bonecas e amo bonecas amaldiçoadas. Certa vez, estava ouvindo a música-tema do filme Rosemary’s Baby tocada pelo Fantômas e o conceito apareceu na minha cabeça. Outra inspiração para o conceito foi a música "Gingerbread Coffin", da banda Rasputina, que eu não utilizei no solo. Nesse solo eu queria usar uma roupa que remetesse diretamente a uma boneca de porcelana antiga, meio quebrada, com uma boquinha de coração. Foi a primeira vez que usei cílios postiços. Me diverti muito criando essa boneca e amo este solo.

Boneca
Beastmaster é um conceito do RPG (Pathfinder) que usei ano passado com uma música da Lindsey Stirling, "Roundtable Rival". O beastmaster, ou mestre das feras, é meio druida e meio ranger. Ele anda na natureza como se fosse parte dela, tem uma ligação espiritual forte com os animais, criando uma conexão com eles. É também um protetor da natureza. Eu improvisei a roupa, comprei apenas o colete. A maquiagem era inspirada em... bem... um lagarto... hahaha! Acho que eu não representei os répteis na coreografia, então representei na maquiagem.

Eu não sei como minhas coreografias repercutiram na cena tribal. Honestamente, acho que não repercutiram, pois não tenho vídeos delas no youtube, a não ser o da boneca (ou talvez tenha, mas não divulgue ;) ). Mas sei que muita gente que viu a coreografia da Sininho se emocionou, chorou e me chama de Sininho até hoje – eu ADORO! Teve gente com medo da Boneca, e a coreografia Beastmaster me rendeu um prêmio no festival do Templo de Ísis no ano passado (que eu nem sabia que estava concorrendo, achava que era apenas uma mostra). Nesse ano, por causa dessa coreografia, dançarei na gala deste show e levarei outra coreografia da Sininho. Dessa vez, com outra roupa e com outros sentimentos.    

A Caçadores de Sonhos eu só posso falar depois do Gothla ;)

BLOG: Como é fazer parte de um grupo de ATS®? Qual a importância que você vê no ATS®? 


Hoje em dia não tenho mais o Amora como uma trupe de ATS® com bailarinos fixos. Agora o Amora é um coletivo formado pelas minhas alunas e eu. É muito gostoso poder fazer parte de um grupo de ATS®. Além de dançarmos juntas, acabamos estreitando os laços a cada encontro. Nos fortalecemos enquanto amigas, enquanto tribo e enquanto grupo de dança progressivamente.
O ATS® é muito importante para mim, pois tornou-se um caminho para minha socialização. Mas em relação à dança tribal, acredito que o ATS® traz os conceitos mais básicos e indispensáveis do estilo em sua própria estrutura. É bem didático e tem um vasto arcabouço técnico. Observo que o bailarino de tribal que estuda o ATS® experimenta um enriquecimento notável em sua dança. Estudar o ATS® ou não é uma escolha pessoal, mas eu sem dúvida recomendo. Estudando o ATS® você tem a garantia de estar trabalhando sua linguagem corporal através de um viés tribal.  
BLOG: Conte-nos como surgiu o seu grupo de ATS®, o Amora Tribal, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora. 

O Amora é um sonho meu que venho tentando transformar em realidade. É para ser, em poucas palavras, meu grupo de ATS®.

Sobre o nome: minha ideia principal era que esse grupo fosse aqui de Campinas, e uma das coisas mais legais que notei quando vim pra cá, em 2010, é que tem muita amoreira. Eu adoro amoras, além de achá-las deliciosas eu acho que têm um formato muito bonitinho. 


Acontece que a amora não é uma fruta só. A amora é um fruto agregado – isso significa que ela vem de uma flor que tem vários ovários. Cada bolinha dela, ou mini-drupa, é uma fruta. Mas é a união dessas mini-drupas que torna a amora visível, bonita... Isso pra mim é uma metáfora perfeita para um grupo de ATS®. O fato de que às vezes as mini-drupas apresentam cores diferentes e deixam a amora colorida por um tempo me remete às saias girando e tornando a roda multicolorida... Então eu dei esse nome.

Antigamente o grupo era formado por mim, Valeria Forrer, Andrea Elektra e Marina Ribeiro. Após um tempo, Marina saiu por morar longe de onde seriam os ensaios, e convidei a Akima Cresto. A Jamille Berbare, da Cia. Shaman Tribal, participou brevemente do grupo também enquanto morava por aqui, participando de uma apresentação. Dançávamos ITS (na verdade, passos de ATS® sem snujs), e o grupo durou de setembro de 2013 ao fim de 2014. O nosso grande problema sempre foi questões logísticas: horário de ensaio e deslocamento. No ano passado Valeria, Akima e Andrea resolveram não continuar no grupo, pois tinham outros projetos juntas que escolheram priorizar. Eu me diverti muito com essa primeira fase do Amora e tenho memórias muito preciosas de nossos encontros.


Hoje em dia o Amora, que chamo de Coletivo Amora, é meu grupo de alunas.

Nossa estréia foi no Festival Campo das Tribos, em abril de 2015. Dançamos eu, Maria Badulaques, Emi Victoria, Simone Fernandes e Annamaria Marques. Dançou aí Campinas, São Paulo e Belo Horizonte. Foi uma delícia. Estamos muito empolgadas com o grupo e a energia está ótima. Estou muito feliz com essa nova fase do meu tão sonhado projeto.

BLOG: Em 2013 você esteve em uma imersão na Califórnia a estudos pela dança tribal e por sua certificação em ATS® com a criadora do estilo, Carolenna Nericcio. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de certificação(General Skills/ Teacher Training1 e 2) e como se alcança o tão estimado selo de Sister Studio. E qual importância de conseguir tal certificação, em sua opinião.
Carolena Nericcio, Natália e Megha Gavin


Eu posso falar apenas sobre a minha experiência.

Pelo que presenciei, o General Skills é um curso que engloba todos os passos do ATS® Clássico (catalogados nos DVDs 1 e 4) e Moderno (Catalogados no DVD 7). Não é um curso de explicações minuciosas; ele dura menos de uma semana e é melhor se você já conhecer os passos antes de decidir fazê-lo. Ele ajuda mais na limpeza dos passos e esclarecimento de dúvidas. Isso de forma alguma significa que apenas estudantes avançados podem fazê-lo. Eu não era avançada quando fui.

Além dos passos, aprendemos sobre os conceitos e também sobre formações. É um curso maravilhoso, inebriante. Passar uma semana imersa numa dança cujo fundamento é o respeito e a conseqüência inevitável é o amor, só pode dar certo. Quero fazer esse curso mais vezes em minha vida.

O Teacher Training é um curso para quem deseja dar aulas de ATS® no formato FCBD® - você aprende a ensinar, basicamente. É um formato que vem dando certo e é muita generosidade da Carolena ter a disposição de ensinar isso em um curso. O Sister Studio é o título para quem se compromete a ensinar por esse formato. Você precisa enviar um e-mail e ela te retorna com um contrato que você tem que se comprometer a respeitar e honrar. Quando eu fui, Carolena deixou claro que iria analisar os pedidos. Não parecia ser garantido. Mas pelo que tenho ouvido de comentários sobre isso, ou mudou ou eu estava enganada (droga, me estressei à toa!! ahahaha!!!).


O Teacher Training 2 ou The Business of ATS® é uma sessão de conversa com a Carolena sobre como gerenciar seu negócio com ATS®. Você traz suas perguntas, ela tira dúvidas, ajuda a encontrar soluções. É uma conversa mesmo, como se fosse uma reunião informal.
   
Na minha opinião, o título de Sister Studio é importante para quem quer dar aulas de ATS®. Mas mais importante que isso é honrar o compromisso e permanecer focado e estudando para levar uma aula de excelente qualidade a quem não pode estudar no estúdio FCBD®.

BLOG: Sua presença nos EUA ajudou-a a entender melhor todo o processo por trás da criação dessa dança?Compartilhe suas impressões sobre essa maravilhosa jornada! =)
Com certeza. A cena lá é bem diferente daqui. Toda vez que vou lá eu entendo um pouco melhor por que o tribal tem esse poder de atração tão grande. O contexto todo é muito bonito e muito poderoso. É uma história de resistência! As mulheres que encabeçaram esse movimento fugiam da norma e resgataram essa forma de arte como um instrumento empoderador para outras mulheres, conscientemente ou não. Lá fora, é comum ver mulheres de todas as idades e tipos físicos estudando e se dedicando, no caso, ao ATS® (pois só fui a eventos voltados para o ATS®). Também temos a presença de homens, embora em menor número. O clima sempre é de alegria, de respeito e de humildade. Não dá pra sentir clima de competição. São todos pela dança, e não pelos próprios egos.

Eu tenho um profundo desejo de que alcancemos essa vibração aqui no Brasil também, e acredito que estamos caminhando para isso.
BLOG: Em 2014, você começou a ministrar aulas de ATS® em Minas Gerais.Como foi essa receptividade mineira para com o estilo? Será que há pretensão em formar-se grupos  de ATS® nesse estado? 
O povo de Minas Gerais foi muito receptivo comigo! Eu fiz amizades preciosas por lá. Percebi que o ATS® foi muito bem aceito por lá, cativou muitos corações. É um dos meus lugares favoritos, pois as pessoas estão sempre muito empolgadas e interessadas.

Conexão Tribal com Natália Espinosa,
Anamaria Marques, Mimi Coelho e Surrendra
Acredito que sim!! Mesmo após o primeiro curso que dei lá, de módulo I, algumas alunas se reuniram para dançar tribal inspirado no ATS®. A vontade é muito grande. Com o Conexão Tribal eu ensino três horas e quarenta minutos de ATS® por mês lá em Minas Gerais, e mais e mais pessoas têm aparecido nas minhas aulas para conhecer e se interessam pelo estilo. A Thalita Menezes acabou de se formar Sister Studio, então podemos esperar algo vindo do estúdio dela também. Não adianta, Minas Gerais já está se rendendo aos encantos do ATS®. ESSE TREM É BÃO DEMAIS, SÔ!!  

BLOG: Em 2014, você, Carine Würch (RS) e Maria Badulaques (SP) se uniram em prol do “Pilares do Tribal”. Gostaria que nos contasse um pouco sobre os objetivos do projeto. Qual expectativa inicial que vocês tinham, antes de lançarem a idéia,  e como o projeto vem se desenvolvendo na prática?  A respeito do tema, diga-nos: o quê você mais acha interessante sobre cada “pilar” ? 
O Pilares do Tribal é mais delas do que meu. Nós queríamos fazer postagens sobre as três mulheres que representam os Pilares dessa dança até a chegada de Carolena Nericcio-Bohlman no Brasil. É uma grande pesquisa sobre a história do tribal.

Hoje em dia, o projeto tomou proporções maiores. Temos entrevistas nacionais e internacionais e também postagens com uma pegada mais pessoal, principalmente feitas pela Maria Badulaques. Temos muitos planos legais com o Pilares e ainda estamos discutindo que direção tomar com ele. Mas é aquilo que disse antes: onde as meninas quiserem, eu vou. A decisão é delas. Por enquanto ainda estamos mexendo o caldeirão. Vamos ver que bicho dá.

Sobre a Jamilla Salimpour, o que eu acho mais interessante é o fato de ela ter recaracterizado a dança do ventre. Acho que o formato do Bal Anat era interessantíssimo e tenho muita vontade de ver esse tipo de entretenimento aqui no Brasil. No último festival Campo das Tribos, a abertura foi um número no estilo do Bal Anat, com música ao vivo. Foi a melhor parte do show pra mim.

Sobre Masha Archer, a própria postura dela. A vontade de elevar a dança, de que as pessoas passassem a ver a dança do ventre como arte e não como entretenimento masculino de cunho sensual ou erótico. Achei isso lindo, sou muito grata.

Sobre Carolena Nericcio-Bohlman, eu admiro demais a criatividade dessa mulher e o empenho em construir um formato de dança do ventre que estimula a união ao invés da competitividade.  

BLOG: Em 2015, você participou da primeira edição do ATS® Homecoming, evento voltado para o universo do American Tribal Style ®. Conte-nos um pouco sobre o evento! Quais foram seus pontos fortes e quais deixaram a desejar? Quais foram suas aulas favoritas?  Algum  momento especial ou curiosidade que você gostaria de mencionar? 
Natália Espinosa no ATS® Homecoming 2015
Nossa, como eu amei este evento!! Eu dei uma série de entrevistas sobre isso que pode ser encontrada na página do Pilares do Tribal.

Este evento foi muito especial, realmente me senti muito a vontade, em casa mesmo. O clima era descontraído e acolhedor, e todo mundo estava muito interessado em estudar. Pude conhecer muitas pessoas com histórias de vida diferentes, mas com uma coisa em comum: o amor pelo ATS®.



Honestamente? Nenhum ponto deixou a desejar. Para mim, tudo foi maravilhoso. O ponto mais forte foi justamente esse clima intimista, as professoras estavam bem acessíveis. Todas as aulas foram muito interessantes e contribuíram muito para minha formação.

Eu amei todas as aulas, de verdade. Não tenho uma favorita. Estou aqui tentando pensar em uma, não consigo. Todas foram fantásticas.

Uma coisa que adorei foi quando Carolena e sua esposa Loretta se sentaram comigo e com uma amiga minha no hall de entrada do hotel. A Loretta é muito simpática e engraçada, é o tipo de pessoa que você quer que fique por perto porque não dá pra parar de rir. É uma figura!!! Eu adorei todos os momentos em que a Loretta interagiu com a gente.
Natália, Larissa e Masha Archer
Outro momento especial foi quando fui conversar com Masha Archer e ela disse: “Obrigada por estar aberta a esta forma de dança.” Acho que isso dispensa maiores explicações. Dá pra ver o tipo de percepção que Masha tem em relação à dança. Uma lição em uma frase.

BLOG: Em 2015, o Festival Campo das Tribos recebeu, pela primeira vez no Brasil, a criadora do ATS®, Carolena Nericcio. Além disso, será a primeira vez que teremos o TT e GS por aqui, possibilitando e facilitando a formação de mais sister studios brasileiros.  Como foram os preparativos e expectativas para sua vinda? Podemos dizer que é um marco na história da cena tribal brasileira? 
Puxa, demorei muito a responder essa entrevista. O festival já passou! Teve muita expectativa e todos se perguntaram como seria, mas foi tudo maravilhoso. Pelo que posso perceber as pessoas estão eufóricas, muito felizes e extremamente sensíveis, à flor da pele. Tivemos vários professores formados. É um sonho realizado para todos nós e definitivamente é um marco na história da cena tribal em nosso país.
Só temos a agradecer à Rebeca Piñeiro e ao Campo das Tribos por isso.
BLOG: Como você enxerga a cena tribal hoje, quando todos já tem conhecimento sobre o que é o ATS® e sua importância para o tribal fusion? Na sua opinião, o quê precisa ser melhorado, aperfeiçoado e até mesmo mudado no comportamento da tribalista(o) brasileira (o)
Acho que já abordei essa questão anteriormente.

A cena tribal no Brasil ainda é muito jovem. Temos muito a crescer – e há espaço, há espaço para todos. Especialmente agora, depois da vinda de Carolena e Megha, o ATS® está começando a ser conhecido e reconhecido e a cena só tem a ganhar, pelos motivos que citei antes.

Reitero que, em minha opinião, precisamos estar atentos ao nosso orgulho e aos caprichos do ego. Em minha opinião, precisamos ser o instrumento da dança e não o contrário.

BLOG: Hoje contamos com diversos recursos de estudos. O próprio FCBD® vem lançando materiais muito bons nos últimos anos. Em relação ao estudo de ATS®, que dicas você daria para aqueles que ainda não podem estudar com uma professora do estilo, mas que gostariam de aprender mais sobre o mesmo, tanto na teoria quanto na prática? 
Temos muitos vídeos maravilhosos de drills no Youtube feitos pelo próprio FCBD®. Esses vídeos são gratuitos e dá pra estudar um bocado com eles – eu uso e abuso!
Existem as aulas online de ATS® conduzidas pela própria Carolena no site Powhow. Já fiz algumas dessas aulas e recomendo. São pagas, mas valem a pena.
Tem muito material teórico legal na internet, mas a maioria está em inglês. Os blogs nacionais são uma boa fonte de estudo, no entanto.
Muitas professoras também se colocam à disposição para aulas por Skype. Eu sou uma delas, e também já tive aula por Skype. Não é a mesma coisa que uma aula presencial, mas pode ajudar a dar aquela limpada na técnica e esclarecer dúvidas!


Ah, e para quem se interessa por materiais de estudo, eu estou escrevendo a coluna Passo a Passo aqui no blog, na qual falo a respeito disso. Vale a pena acompanhar e deixar sugestões e feedbacks!
BLOG: Você possui um blog chamado “Tribalices”. Descreva um pouco sobre o seu blog. Como é ser blogueira? 
Gente, eu sou uma blogueira muito relapsa.
Esse blog surgiu da minha necessidade de expressar minhas opiniões sobre a dança, mas quase nunca encontro tempo para escrever da forma que gostaria. Ainda estou experimentando com este blog. Recentemente me ocorreu a ideia de transformá-lo num vlog, mas acaba que editar vídeos leva mais tempo ainda.
Então vou mantendo neste formato mesmo. Coloquei como meta escrever com mais frequência. Espero conseguir!

BLOG: Na sua opinião, o quê é tribal fusion?
Um tipo de dança do ventre. É, para mim, a junção do ATS® (tribal) com outros estilos de dança (fusion). A postura vem do ATS®, a forma de executar os passos vem do ATS®. O fusion é adicionar mais coisas, mudar algumas outras coisas, tirar do formato, mas nunca do contexto.   

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
A expressividade e a possibilidade de quebrar os moldes. Acho fascinante a imprevisibilidade deste estilo de dança.

BLOG: Como você descreveria seu estilo? 
Eu sou uma bailarina de dança do ventre estilo tribal americano (ATS®) e de tribal fusion que conta histórias.

BLOG: Como você se expressa na dança?
Como eu disse, eu sou uma contadora de histórias. Quando subo no palco, faço da minha dança uma narrativa. Todos os elementos da minha performance servem a essa narrativa.

BLOG: Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Dadas as dificuldades de trabalhar com dança no Brasil, meu principal projeto é continuar dançando.

Pretendo continuar com o projeto Conexão Tribal, levar meus queridos alunos para dançar em eventos com o Coletivo Amora, estudar ainda mais... 

Pretendo viajar mais para estudar dança, mas isso depende do dinheiro.

Tenho alguns projetos em mente, mas prefiro esperar que eles amadureçam antes de falar sobre eles.
BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê? 

Os dois. Por falta de tempo eu, muitas vezes, me vejo sem opção a não ser improvisar, e isso me incomoda um pouco.

Coreografar é como construir um relacionamento sério com a música. Você conhece cada parte dela, cada sutileza, aprende a amá-la e odiá-la às vezes e, no final de tudo, se casa com ela através da sua dança. É uma relação de muita intimidade e um compromisso. Você lapida e lapida sua dança e, mesmo assim, sempre há algo que pode melhorar. Isso é lindo. Como eu amo música, coreografar é muito gostoso.

O improviso é muito mais difícil. No improviso, você corre pra alcançar a música. É como um primeiro encontro, e pra isso precisa traquejo, jogo de cintura. Acho que um bom improviso demanda uma segurança extraordinária, você precisa estar à vontade com sua técnica e com a música.

Mas em casa, longe dos olhos dos outros, estou sempre improvisando. É muito gostoso também. E muitas vezes, de uma série de improvisos sai uma coreografia muito boa.
  
BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Não. Eu sou professora de inglês e tradutora freelancer! Eu também faço mestrado em Ecologia, embora minha bolsa tenha acabado há algum tempo.

Eu gostaria de trabalhar somente com dança, mas viver de dança tribal em Campinas ainda não é possível. 

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.  
Muito obrigada por terem se interessado pela entrevista e por terem lido até aqui!

Nossa dança é muito especial. A capacidade de fazer arte é uma característica incrível no ser humano. Vamos usar isso em nosso favor!

Com muito respeito e humildade é mais fácil e prazerosa a caminhada rumo aos nossos objetivos.  

Beijos a todos e muito obrigada mais uma vez!


Contato
Tel/cel: 
(19) 983048444
E-mail: 
nataliaespinosa@gmail.com
Website:
http://tribalices.blogspot.com




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