por Kilma Farias
Estandarte do Coletivo Fusion Brasil - direção de Kilma Farias |
Durante os anos de pesquisa com o Tribal Brasil (Fusion Brasil) me deparei com múltiplas memórias; fossem elas nos corpos das bailarinas e bailarinos, fossem as memórias geradas no grupo de dança ou ainda as memórias tomadas de empréstimo pelas comunidades a serem estudados na cultura popular.
Dessa forma, fomos esboçando caminhos para desenvolvermos procedimentos criativos e compositivos em dança ao mesmo tempo em que trabalhávamos nosso autoconhecimento, o que chamo de “arte de si”.
Assim, deu-se a ver uma memória ligada à percepção individual, mais volátil, e que assume caráter de atualização do sujeito e da sua história.
Estandarte da Andreza Tenório |
O tempo aqui é o próprio tempo da arte, o tempo do elemento éter enquanto espaço, um tempo “extemporâneo” que tá além da contemporaneidade e perpassa todos os tempos numa grande teia, um amálgama. Nesse tempo, destaca-se a impermanência das coisas, inclusive da própria memória; um tempo não linear e que só é possível senti-lo no aqui e agora do presente. É a completa entrega do ser que dança; entrega ao seu corpo cênico, ao seu estado de presença na dança-vida.
E como articulamos essas memórias para compor dança?
Sentindo, observando, expressando, traduzindo, criando, vivendo.
Atualmente, na turma de Fusion Brasil online, estamos trabalhando o Maracatu Nação no Fusion Brasil. E resolvemos, cada uma, produzir um estandarte que trouxesse nossas marcas de vida e memórias sobre o que estava sendo vivenciado no momento de vida de cada uma e na turma. O trabalho é terapêutico, pois olhar pra dentro e trazer pra fora através de fitas, tintas, miçangas e palavras, faz a pessoa se pensar a si mesma e se expressar verdadeiramente.
Estandarte da Karine Neves |
O processo seguinte foi a construção das danças a partir dos estandartes construídos, dando sentimento e movimento às palavras estampadas em cada um deles. Também construímos um estandarte coletivo, nutrindo o pensamento de uma memória de grupo coletiva.
Para os procedimentos compositivos em dança, utilizamos o Tanz-Ton-Wort (Dança-Tom-Palavra) de Laban, método que mais tarde inspira Pina Bausch em sua Dança Teatro com seu interesse pelo cotidiano, pela fragmentação do sujeito, pela repetição, pelas experiências de cada bailarino, pelas desconstruções e reconstruções, pelas narrativas.
Estandarte da Raquel Silveira |
E assim, também seguimos no Fusion Brasil, transformando em dança nossas próprias histórias enquanto corpos estéticos e sociais, mas principalmente como seres humanos que se transformam através da própria arte.
Os solos da turma produzidos com inspiração no maracatu e uma videodança coletiva sobre o mesmo tema estão previstos para serem apresentados nas redes sociais no final de agosto. Acompanha a gente por lá!
Estandarte da Sirlei Oliveira |
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Fusion Brasil - Identidade no Corpo