por Janis Goldbard
“Entendi, você é cria da novela O Clone! ” - brincou minha primeira professora de dança do ventre
quando perguntou por que eu queria fazer aulas. Em seguida, sutilmente, começou a
esclarecer que esta arte milenar tem uma história e tem uma relação com a
Deusa-Mãe e a devoção das bailarinas à ela e de como as sacerdotisas a
veneravam e se entregavam de uma maneira espiritual, desejando uma conexão e agradecendo por essa
oportunidade.
A TV é um meio envolvente e no Brasil é um misto de
entretenimento, alienação, pouca informação e o que se observa ser uma ditadura
disfarçada de democracia que se propõe disfarçadamente a educar, porém nos deixa longe do que é a realidade; e
quando se trata da cultura de outro país, é obvio que o que será mostrado será
transmitido como os autores televisivos o preferem e cabe aos espectadores fazerem suas próprias
pesquisas, tirando assim suas conclusões a respeito de determinado tema, pois,
muitas das vezes, são informações transmitidas com superficialidade que nos pressiona
para um mecanismo pequeno e vago.
No entanto, nossa influência imagética é tão forte que se nos
submetermos a um certo estilo de arte com a qual faz relações com o nosso
cotidiano, passamos a aceitá-la e, consequentemente, a agregá-la em nossos gostos pessoais e a tudo
que nos cerca. No Brasil, onde diversas culturas são assimiladas muito
naturalmente e, na maioria das vezes, reestruturadas abrasileiradamente, seria um meio para se perceber em nossa absorção como se dá essa miscigenação artística em
nós.
Quando ficamos envolvidos em um tema isso pode ser também
transportado para nossas amizades, projeto de carreira, modo de se vestir e, naturalmente, ao que gostamos de
assistir.
Apesar de falhas nas pesquisas e algumas inverdades nas representações, a TV aberta vez ou outra se utiliza das danças
étnicas para dar um teor exótico as suas programações; os filmes também, quando
cabem ao roteiro, possuem elementos de danças.
A 1ª referência que lembro não poderia ser outra: é a novela O Clone veiculada, em 2001, pela TV Globo. Na cena do vídeo abaixo Lucas vê Jade pela
primeira vez dançando. Como não se
apaixonar? A cena ficou bonita, as mulheres em volta cantando e compartilhando
de um momento de felicidade com a família e amigas. Lililililiii!! Adorei!
A 2ª referência é um filme de 2001, de Luíz Fernando Carvalho, cujo roteiro foi baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, publicado em
1975 e teve trilha sonora de Marco Antônio Guimarães, líder do Grupo Uakti que
utilizou elementos de música árabe em suas criações para o filme.
Como o filme se trata de uma família libanesa, retratando essa
cultura de tradição agrária e patriarcal, para a composição de personagem, os
atores fizeram uma imersão na cultura libanesa, se propondo a ficarem em uma fazenda no interior de Minas
Gerais aprendendo e vivendo tal
cotidiano que foi realmente um trabalho de pesquisa digno, no qual o
próprio autor do livro vivenciou estando presente junto a equipe durante
algumas semanas.
A atriz Simone Spoladore teve uma preparação e um
aprofundamento em dança por sua personagem aparecer dançando em duas cenas
festivas do filme.
Esse filme recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior, e
dentre algumas características que o
fizeram ganhador está a fidelidade ao
livro, a música (simplesmente é maravilhosa), a fotografia belíssima , a
direção e as interpretações de grandes atores e atrizes.
Gostei muito do filme e, apesar de ser longo e ter
momentos muito diferentes do que se está acostumado a ver, foi exatamente isso o que me deu tanta vontade
de assisti-lo até o final e juro que quando o peguei na locadora não sabia que
haviam duas cenas dançantes, ao contrário do que meu noivo disse (risos) (ele
diz que eu só vou atrás de filme com dança
e mesmo quando não é intencional isso acontece intuitivamente, e eu
concordo).
A primeira cena de
dança é leve, é regozijo puro, doce e suave; a roda toda
está em harmonia e todos compartilham tranquilamente desse momento coletivo.
A segunda cena do
filme acontecem muitas coisas: “Ana já
com a peste no corpo, dominando a todos com seu violento ímpeto de vida” . Diante desta cena que toma de assalto a todos, causando
estranhamento na festa, observo a rebeldia juvenil e um pouco de revolta que a
personagem sentia e que se transportou para sua dança.Esta foi minha leitura sobre Ana dançando. Particularmente, preferi nesta segunda parte, pois acredito que as vezes o momento tem
de ser esse: o de extravasar a energia contida. Está certo que ela exagerou um
pouco(risos), mas achei bacana como foi colocado na dança, tanto sentimento e tanta expressão, tantas coisas a dizer e
que foram expostas dessa maneira, pois de
outra forma não lhe seria permitido fazer.
A 3ª referência é da novela Explode Coração de 1995, gente!
Quem não se lembra do cigano Igor apaixonado por Dara? Foi uma novela da TV Globo, cuja pesquisa também foi
fortemente incentivada e vivenciada pelos atores e atrizes. A protagonista
Tereza Seiblitz, que fez laboratório durante alguns meses com grupos de ciganos,
teve aulas práticas da dança cigana e participava de festas do povo cigano para
se aproximar da cultura e dar mais veracidade à sua personagem. Gostei da novela e as cenas das quais eu mais
gostava? Naturalmente as de dança e festa!
A 4ª referência, a
minissérie Sansão e Dalila da TV Record, no ano de 2011, também foi regada a bastante cenas de dança, mas teve uma que marcou,
tendo em vista que a personagem principal dança para o príncipe de Gaza e está
ricamente adornada (acessórios belíssimos e cenário bem trabalhado até hoje é
lembrada).Havia algumas cenas de dança na qual a amiga da Dalila
(Myra) coreografava que eram muito
bacanas também, porém, colocarei somente essa, pois é a protagonista da minissérie quem
dava o show.
A 5ª referência é um curta do Zé do Caixão (José Mojica Marins): Reino Sangrento é o nome deste trabalho
filmado em 1948 e somente divulgado em 1952. Esse filme era de aventura e ambientado na selva amazônica. Nesse curta, Zé do Caixão faz o sultão malvado, que foi
encontrado a pouco tempo (pois havia se perdido) e ele conta a história de um
pesadelo de dois rapazes (ele usou uma linguagem diferente do que era usual na época e com certeza causou estranhamento). Neste vídeo, ele diz que a dança do ventre já se dançava em 1948, mas o engraçado é porque ele, em sua direção, diz que aqui no Brasil a
referência é “a dança da bundinha” e pede a ela que insira isso em sua dança. Em determinada parte do filme (2:43 minutos do vídeo abaixo) se vê uma
dança do ventre muito esdrúxula (risos), mas nem por isso menos importante,
muito pelo contrário, já se vê que ele estava fazendo ali sua pesquisa
direitinho, inserindo elementos nacionais em seu modo de criar e dirigir, mesmo
retratando outra cultura.
A 6ª referência é José do Egito, da TV Record, que também
dentro da temática bíblica possui bastante cenas de dança, o que enche nossos
olhinhos e nos impulsiona a admirar tanto figurino, música e cenário. Gosto das minisséries da Record no quesito direção artística. Penso que
eles fazem um bonito trabalho, nessas
minisséries, pois há muitas cenas de pequenos trechos de dança e é difícil escolher
uma específica, até porque eles não nomeiam os capítulos com os nomes das cenas
de dança(risos), que pena!
A partir do minuto 11:17 do vídeo abaixo, há um pequeno trecho de bailarinas dançando em
uma festa, depois, mais na frente, a partir do minuto 30:19, a rainha Tany (Bianca
Rinaldi) dança para o faraó Apopi (Leonardo Vieira). Achei bem colocados os movimentos
da Tany, o que vocês acham?
A 7ª referência é também da TV Record, a novela Dona Xepa de 2013, que teve
participação de Karla Tem Tem, que foi pequena a aparição, mas com certeza alunas e
admiradoras da bailarina ficaram bem felizes.
A 8ª referência é a novela da TV Globo Caminho das Índias, do ano de 2009, e tem como protagonista a bela atriz Juliana Paes, interpretando Maya. Eu não
sei não, ainda não fui à Índia para saber como é a aura dessa cultura
riquíssima, penso que encheu nossos
olhos, mas que muito ficou a desejar, mesmo com tamanha pesquisa e idas à Índia
dos atores e atrizes. Porém, gostei da
fotografia, dos figurinos e das danças que foram apresentadas por Maya e outras
personagens ao redor da mesma. Para um trabalho artificial, como
qualquer novela, penso que a Índia
foi bem representada, porém, só indo lá mesmo para saber.
Bom, a 9ª referência não é uma novela, nem mesmo filme ou
minissérie, e sim um programa da TV Globo para crianças: TV Globinho.
A apresentadora é praticante
da dança e acredito que o que podemos observar é de como ‘O Clone’ teve mesmo
sua influência na disseminação desta arte e ajudou na popularização da dança do
ventre, não há como negar, é fato.
E a 10ª referência e
última é a novela da TV Globo Salve Jorge. A Cléo Pires no papel de Bianca, demonstrou
um pouco da dança turca. O trabalho de figurino
para a personagem ficou bem bacana (peças belíssimas e ricas), ), no vídeo abaixo há uma parte no
qual Ayla personagem de Tânia Kalil
demonstra um pouco do estilo e logo aparece algumas cenas de Bicanca dançando.
Vou pesquisar mais um pouquinho para poder fazer a minha análise do quão
diferente ela é da dança do ventre que conhecemos.
Então, queridas e queridos, fico por aqui e por favor se vocês se lembrarem
de algum trecho de filme, minissérie ou novela brasileira que eu não tenha
citado aqui e que faz menção ou mesmo há trechos de danças étnicas, me mandem. Vou
gostar muito dessa troca de informações.
Texto: Janis Goldbard
Edição: Melissa
Abrantes