O experimento Tribal Fusion

por Janis Goldbard



O homem utiliza algum elemento artístico para se expressar desde a pré-história e, entre um destes meios, está a dança. Para ser expressa, ela necessita unicamente do nosso corpo, daí sua particularidade e amplitude.

A dança, desde então, veio se agregando de gestos e elementos que fizeram com que a linguagem gestual do ser humano se desenvolvesse e se aperfeiçoasse, chegando ao nível ao qual estamos. No caso da dança Tribal, para que esta evolução pudesse acontecer, houve e há muitos experimentos, pois não há fim para essa manifestação artística individual e coletiva. É uma eterna busca que dá impulso a um caminhar entre outras modalidades de dança, que traz, mesmo que subentendido, a busca pela essência de cada um(a) que pratica o Tribal Fusion e possui a vontade de se destacar por sua originalidade.

Esse caminhar entre as diversas modalidades criam pontes que nos tornam mais próximos dos diferentes modos de expressão, e tem por objetivo criar uma capacidade de reconhecer e usar partes do corpo antes não utilizadas. Desse modo, nos ajuda a termos uma melhor apropriação de nossa percepção corporal e nos dá maior arsenal de movimentos e possibilidades.

Há um aspecto na dança Tribal que sempre me chamou a atenção: as alterações no estilo. Pesquisando sobre o assunto no próprio blog e em outras fontes de pesquisa, constatei que, desde então, o estilo vem sofrendo mudanças e se caracterizando por sua linguagem versátil. Por isso mesmo, o Tribal Fusion  se conceitua como dança do ventre em evolução.

Penso que, hoje em dia, com tantas ferramentas de busca, podemos constatar a existência de vários trabalhos. Com certeza, fruto de experimentações que foram se manifestando em algumas dançarinas mais fortemente por suas características de fusão com o então determinado estilo de dança escolhido; ou por suas experiências artísticas diversas, dando a mesma propriedade e originalidade em todas as suas propostas artísticas.

Podemos citar a grande Dançarina Anasma, que tem uma autenticidade em seu trabalho e possui um forte teor experimental em sua carreira trabalhando também com outras linguagens artísticas, como música (canto), teatro, produção, composição. Além de experiência com outras expressões corporais como yoga, danças urbanas, dança contemporânea, flamenco, ginástica e etc.
Quanto aos valores de experiência vivenciados em cada modalidade e transportados  para o estilo Tribal Fusion, posso relatar algumas vividas por mim  que, com certeza, muitas dançarinas  de Tribal já vivenciaram,  já que nos permitimos essas experimentações com outras modalidades para nossa construção de identidade na dança Tribal Fusion.

Primeiramente, cito o exemplo de como o teatro-dança agregou em minha expressão artística como dançarina de Tribal Fusion.  Sinto que a desconstrução da Bellydance (aquela que é a personificação da mulher perfeita) de início foi muito difícil, ainda mais para mim, que nunca tive contato com teatro. Depois de passado algum tempo, consigo perceber que foi muito interessante para a construção de personagem e de conceituação do como e por que gostaria de fazer determinada coreografia.

No jogo coreográfico de Lígia Tourinho (Dança Contemporânea), nos é ensinado que, mesmo nos momentos de pausa, há de se cuidar da presença em cena, e essa percepção nos ajuda a compreender o quão importante é a comunicação com o público e com nossos colegas de cena.

Na experiência com as danças urbanas, consegui me enxergar fazendo parte de um movimento além do Tribal por questões de gosto musical e de se sentir a vontade com a execução de alguns passos, além da idéia forte de coletivo, tão enfatizada na dança Tribal. As experiências com o balé e o jazz foram realmente muito importantes no sentido de saber como se conceitua planos, movimentação de palco, postura, resistência, importância do uso de nomenclaturas, disciplina, delicadeza e determinação.

Eu costumo dizer a quem me pergunta sobre minhas expressões artísticas é que a modalidade principal a que estou ligada é o Tribal Fusion,  mas tenho as então chamadas por mim “Práticas Auxiliares” como suporte. “Por que práticas auxiliares?” - o povo pergunta. Eu digo “Práticas Auxiliares” porque me ajudam a chegar onde está minha essência; seria um caminho necessário para a minha busca de uma expressão original. Sempre estudando a base, mas tendo como auxilio outras modalidades para enriquecer e atribuir valor à minha expressão como dançarina de Tribal Fusion.

Todo dançarino de Tribal Fusion possui, em minha opinião, alguma prática auxiliar que utiliza para se sentir inteiro no que faz. Alguns praticam, além do Tribal, outro estilo de dança; alguns estudam DVDs de grandes nomes; alguns gravam suas performances e depois analisam; alguns sempre estão viajando e procurando fazer workshops e cursos. Enfim, todos no seu caminhar para a evolução de sua dança - o que, claro, engrandece também o cenário artístico da dança Tribal e nos estabiliza como importantes meios de arte e cultura.


Então, como reflexo de nossas experiências de outrora (pré-história) o estilo Tribal Fusion está em evolução e seu próprio conceito se alimenta dessa idéia de experimento, agregando gestos e elementos diversos que o enriquecem e torna diferente de tudo já observado. Esse reflexo é fruto da experimentação, e essa evolução é fruto de dançarinos corajosos e muito estudiosos. É a prova de que estamos evoluindo junto e estamos atualizados com o presente e conectados ao futuro.

Texto: Janis Goldbard
Edição: Anne Nascimento





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