por Kilma Farias
Podemos
pensar a dança Tribal como uma extremidade da Dança Moderna americana que se
dissolve em diálogos diversos em época de pós-modernidade.
No
texto Tribal Synergy 2, com Paulette Rees-Denis e Kajira Djoumahna, vamos
encontrar a seguinte referência à Dança Moderna, “Paulette e seu companheiro
bailarino/professor Patrice Hawkwood Schank têm pesquisado o ATS como uma evolução da dança moderna
americana, voltando-se para esses dançarinos do início do século XX, como Ruth
St. Denis e Martha Graham. ‘É emocionante’, diz Paulette, ‘ver a evolução do
Tribal Belly Dance como uma forma de dança moderna. Nós não somos
tradicionalistas como um todo, apenas buscamos continuamente formas de nos
expressarmos.’[1]
Ao
observarmos a trajetória artística de Ruth St. Denis, uma das pioneiras da
Dança Moderna Americana, ao lado de seu companheiro Ted Shawn, vamos contemplar
uma história de encontro com o espiritual através da dança, indo buscar fonte
de inspiração em diversas danças étnicas a exemplo da Egípcia, Indiana,
Flamenca, Tailandesa, Chinesa, entre outras. Na Denishawn School, passaram
nomes como Martha Graham e Doris Humphrey. Ruth St. Denis ficou conhecida pelos
seus solos, a exemplo de Rahda (1909) e The legend of the peacock (1914), onde
retratava a “complexidade e autonomia das mulheres.” [2]Esses
solos em muito se assemelham à estética do que conhecemos hoje como Tribal.
Ainda
em Tribal Synergy 2, Paulette Rees-Denis comenta “Vamos nós mulheres bailarinas
governar o mundo e ele seria um lugar muito diferente para se viver!”[3]
Esse pensamento que traz a mulher como líder, à frente de seu tempo, é uma
constante no Tribal. Talvez como uma herança deixada por Ruth St. Denis.
Jamila
Salimpour e seu grupo Bal Anat nos ofereceram um legado de muitas tribos,
unindo tradições pelo movimento e evocando o culto à deusa mãe. A personificação
dessa deusa se dava através da utilização da máscara como elemento de
identidade mística que, através desse acessório, conferia à bailarina que a
usava uma expressão divina.
De
Carolena Nericcio às inovações de Illan Riviere ou Zoe Jakes, um mundo de
identidades se imbricam pelo simples contato. O Tribal Brasil surge da fricção
dessas referências com as danças populares e afro-brasileiras, não como uma
tentativa de negar a cultura norte-americana, mas no sentido de abraçar e
reafirmar essas mesmas referências aliadas a inúmeras outras.
Se
pensarmos a tradição como aquilo que se vive, iremos nos dar conta que esse
viver molda a cada dia novas tradições. E é imerso nesse constante renovar-se e
reinventar-se que o Tribal Brasil constrói imagens, provoca percepções
múltiplas, rascunhando assim sua tradição.
Uma
das mais geniais características do hibridismo é a capacidade plástica da arte
ser plasmada sob diferentes parâmetros culturais, buscando sua essência mais
nas intercessões do que em conceitos fechados. Teorizar sobre o Tribal Brasil é
viver as diferentes possibilidades de reinventar e traduzir tradições próximas
e distantes, das comunidades afastadas dos centros urbanos e da cultura da rua,
das grandes metrópoles. Uma dança que se molda a cada novo movimento, a cada
nova possibilidade de investigação, mas que reconhece e reafirma, pelo
movimento, um legado que vem da Dança Moderna Americana, atravessando muitas
tribos ao longo dessa nossa história, como o Fatchance Bellydance, Gypsy
Caravan, Ultra Gypsy, The Indigo, Unmata, Deshret Dance Company, Datura, e
muitas outras, em diálogos abertos com etnias e técnicas diversas e as danças
populares e afro-brasileiras, em um pensamento globalizado, com as danças do(s)
mundo(s), sejam eles reais, imaginados ou ainda nunca sonhados.
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* Kilma Farias é graduada em Comunicação Social-UFPB,
autora do livro "Dança do Ventre da Energia ao Movimento", publicado
em 2004 pela Editora Universitária-PB, cursa Licenciatura em Dança-UFPB,
bolsista do projeto de extensão ContemDança 2 (videodança), pesquisadora das
danças do Oriente Médio, populares e Afro-brasileiras desde 2000,
sistematizando desde 2003 o estilo de dança híbrido denominado Tribal Brasil. Vem divulgando essa nova
proposta de movimento em todo o Brasil e alguns países como Perú, Argentina e
Estados Unidos, e através de 2 DVDs didáticos. Diretora da Cia Lunay e
proprietária do Studio Lunay em João Pessoa-PB, integra o grupo SIX, em São
Paulo, composto pelas seis maiores expressões da Dança do Ventre e Tribal do
Brasil. Colunista da revista Shimmie-SP, possui diversas matérias e entrevistas
publicadas em revistas nacionais e internacionais, a exemplo da Fuse: a tribal and tribal fusion belly dance
mgazine e Yallah Magazine,ambas
dos Estados Unidos.
[1] Tradução minha: “Paulette and
fellow dancer/teacher Patrice Hawkwood Schank have researched ATS as an
evolution of American modern dance, going back to such early twentieth century
dancers as Ruth St. Denis and Martha Graham. "It is exciting,"
Paulette says, "to see the evolution of Tribal Belly Dance as a modern
dance form. We are not traditionalists as a whole, just continuously searching
for ways of self-expression.”, disponível em <http://www.blacksheepbellydance.com/writings/files/synergy2.html>, acesso em 05 de jul. de
2014.
[2] Disponível em
<http://tribalmind.blogspot.com.br/2011/01/ruth-saint-denis.html> ,
acesso em 05 de jul de 2014.
[3] Tradução minha: "Let us women dancers rule the world and it
would be a very different place to live!"