Entrevista#11:Daniela Fairusa

Em novembro, nossa entrevistada é Daniela Fairusa, bailarina de tribal fusion de Osasco, São Paulo. Com uma técnica precisa e impactante, Daniela nos conta sobre seu percurso na Dança até encontrar o Tribal e seus conceitos e projetos atuais.

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre;como tudo começou para você? 
Iniciei-me no Ballet Clássico aos 4 anos de  idade por motivos ortopédicos. E lá fiquei até os meus 12 anos de idade. Nesse tempo cursei outras modalidades enquanto cursava o ballet, como jazz e dança de rua. Assim comecei a me interessar por arte e não só por dança. Na adolescência, fui para o teatro, onde apreendi muito mais informações sobre o corpo e o palco.

Um dia (era final do ano de 1998) lendo o jornal da cidade onde morava com minha mãe (Osasco), vi que teria uma apresentação de dança do candelabro num centro holístico próximo ao centro da cidade. E logo vi que ministravam aulas. Eu estava numa fase confusa em relação a minha carreira. Estava cursando o Magistério e fazia aulas de teatro. Mas me encantava com as artes do corpo. Fui para as aulas feliz de ter encontrado um novo desafio. Mas me surpreendi ao ver como meu corpo se adaptava aos movimentos e como eu captava rapidamente as informações. Desde então, não parei mais de pesquisar e dançar a Dança do Ventre.

Em 2000, fui para a Casa de Chá Egípcia Khan el Khalili. Fiz aulas com as professoras: Lulu Brasil, Shahar Badri e Soraia Zaied. Tive a chance de conhecer os trabalhos de outras profissionais da Casa também. Foi lá que me firmei como profissional, porém nunca participei do casting da casa. Achava estranho ser avaliada sendo que ainda não havia encontrado meu produto final. Fiquei fazendo aulas na Casa durante 5 anos, interrompendo e voltando por várias vezes.

De 2002 a 2005, sempre aperfeiçoava minhas técnicas com aulas de ballet contemporâneo, ballet clássico e jazz lírico. Cursei essas modalidades com Greice Kerche, campeã mundial de fitness e irmã de Cecília Kerche, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em 2005, conheci o tribal através do DVD BellyDance SuperStars, que havia ganhado de presente. Fiquei só assistindo e estudando até 2007, que foi quando tive coragem de apresentar pela primeira vez, em Osasco mesmo. Foi o momento da prova final, já que aprendi através de vídeos.

Ao todo são 14 anos de Dança do Ventre, que ainda pesquiso e danço. E 5 anos de Tribal Fusion.

BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Primeiro vem Lulu Brasil. Me encantava o fato de ver que ela também estudava e praticava outras modalidades. E as técnicas que ela ensina são inesquecíveis. Lembro de sua aula de tremido até hoje. Foi brilhante. Nunca mais tive dificuldades com eles.

Soraia Zaied: Uma "show woman". Com ela entendi como deve ser um show profissional.

Shahar Badri: Aprendi a coreografar e a dar aulas.

 E, em um workshop, conheci o trabalho de Haqia Hassan. Era adorável ver  a forma como ela usava os pés no chão para fazer os movimentos. E entendi a simplicidade de se coreografar. Ela tem uma leitura musical limpa.

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Atualmente estudo interpretação e danças tribais. E ainda videodança com meu marido, Rafael Trevigno.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?

Tive inspirações diversas para o tribal: Zoe Jakes e Asharah. Dancei muito inspirada nelas. Porém, atualmente, tenho buscado a desconstrução da dança. Posto que arte é distorção e desconstrução muitas vezes, tenho me inspirado em fatores que não são necessariamente da dança: literatura, teatro, artes plásticas, Butoh.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
A dança me deu um objetivo na vida: sempre pesquisar e avançar. Valorizar a cultura do meu povo e a linguagem artística.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
 O fato de poder dizer o que quiser e quando quiser.

BLOG:O quê prejudica a dança do ventre/tribal e como melhorar essa situação?
Infelizmente, dança do ventre e tribal caminham juntas no seguinte problema: o padrão. É difícil dialogar com outras propostas que não as já concebidas como verdadeiras. A única maneira desse problema desaparecer é acabarmos com os conceitos de certo e errado. Não existe o “certo” ou o “errado” para a arte e sim propostas que aceitamos ou não. 

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou fusões? Como foi isso?
Não me lembro de ter sofrido diretamente. Já houveram discordâncias com outras colegas de trabalho. Mas mantenho minha posição e aceito que nem todos precisam aceitá-la.

BLOG: Como é ter um estilo alternativo dentro da dança? Conte-nos um pouco sobre isso.
 Desde a dança do ventre, eu já tinha essa postura "rebelde". Comecei a me apresentar de cabelos curtos e piercing em 2003. Daí para frente só continuei as transformações que sentia serem necessárias para que eu me sentisse "eu". Quando assisti ao DVD BellyDance SuperStars, senti que havia encontrado meu lugar. Nesse momento eu já tinha moicano, dois piercings e três tatuagens.

Independente de ter encontrado o tribal, sinto que teria encontrado um jeito de continuar na Dança do Ventre do jeito que sou, como já estava fazendo.

BLOG: Qual a sua relação com as fusões alternativas e a dança tribal? Como você encara  a cena alternativa inserida no tribal e suas fusões? Na sua opinião, por quê pessoas com um estilo de vida alternativo têm optado mais pela dança tribal, desde a sua criação, nos EUA, do que a dança do ventre?
Visualmente o Tribal já abraça as "doidas". O fato de você poder dar seu toque pessoal com suas próprias experiência de dança faz com que o tribal seja o lugar ideal para experimentar, já que é uma dança que permite as fusões.

Optei pela fusão com hip hop justamente porque é a leitura mais clara que tenho no corpo. Mas venho tentando fundi-la com outras formas de dança como a dança interpretativa e as tribais.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Somente a resistência de algumas pessoas em aceitar propostas novas.

BLOG: E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
Acho que as conquistas foram muito íntimas. São mais para mim e meu repertório. Hoje me sinto pronta para dizer o que penso e dançar o que sinto graças a todos esses 29 anos vendo e fazendo dança.

BLOG: Por um tempo você teve que se ausentar brevemente com a dança e depois retornou a mesma. Como foi esse retorno? Você enfrentou alguma dificuldade?
O afastamento da dança, por conta da gravidez e recuperação da mesma, me deu tempo para avaliar melhor o que estava fazendo. Ao voltar, eu já tinha definido qual era o lugar da dança do ventre e a do tribal na minha vida e na minha arte. Comecei a estudar interpretação e a estudar coisas como artes plásticas e política. Tudo com grande contribuição de meu marido, Rafael Trevigno.

A dificuldade maior era encontrar um meio de representar e interpretar com danças tão definitivas como a dança do ventre e o tribal. Foi aí que começou a desconstrução da dança bem como seus componentes como maquiagem e figurino.

BLOG: Como é ter uma parceria, entre dança e música, com seu irmão Daniel Wergan que, além de derbaquista  também possui uma banda chamada Antiqua, onde você já fez várias participações dançando?
Na verdade, meu irmão não é meu parceiro. Nós nos ajudamos trocando favores. No período de 2002 a 2004 estivemos mais unidos ministrando aulas e a partir de 2005 só participávamos um do trabalho do outro. Mas sempre foi ótimo representar a música dele bem como tê-lo como derbaquista. Nossa sintonia sempre foi impecável, obviamente. Mas estaremos apresentando trabalhos ainda até onde a vida permitir.

BLOG: Em 2010, você participou do vídeo clipe “Menininha”, da banda Súbita. Como foi participar desse projeto tão diferente?

 Foi um pouco desafiador, já que nesse período eu estava imersa no tribal Fusion. Mas gostei bastante do resultado. 

 BLOG: Você participou do Programa Silvio Santos, em 2010,no quadro de Dança, onde haviam muitas categorias diferentes. Dentre todas elas, a sua foi a melhor recebida pelo público. Como foi participar de um programa de TV aberta, como o SBT, onde muitos telespectadores do Brasil inteiro estariam assistindo a sua performance? Qual foi o retorno das pessoas e impressões que você obteve com essa experiência? É muito diferente de dançar em um evento de dança ou em um restaurante?
Para começar as coisas na Tv são muito rápidas. Todos os participantes tinham 1 minuto para se apresentar. Foi trabalhoso escolher os movimentos certos para tão pouco tempo. O retorno não foi tão grande. Não fui reconhecida nas ruas ou recebi telefonemas... hahaha.Mas o prêmio é de verdade!!

Lugares diferentes merecem cuidados diferentes sim. Sempre procuro saber com antecedência informações do espaço e das pessoas que estarão assistindo minha performance. É um tipo de cuidado necessário para qualquer pessoas que vai se expor ao público, pois é um momento onde você expõe um pouco mais que somente seu figurino e maquiagem. Você expõe suas idéias e sentimentos.

BLOG: No Mercado Persa 2011 você foi convidada a dançar no espetáculo Alquimia. Como foi dançar no maior evento de dança oriental da América Latina?Como sua dança foi recebida nesse projeto e pelo público?
Nesse período eu ainda estava amamentando e meu corpo não estava definido, bem como minha cabeça. Mas consegui, com certas limitações, apresentar o Tribal de uma maneira justa e bonita. Pelo menos foi uma apresentação bastante elogiada. E fiquei feliz de ter conseguido. Visto que tb fiz uma performance livre com a dança do fogo. Que foi uma proposta totalmente diferente da apresentação tribal.


BLOG: Neste ano, você teve a oportunidade de apresentar-se na Virada Cultural, em São Paulo. Conte-nos como foi dançar para um público tão grande e diversificado e a responsabilidade de talvez ser a primeira vez que aquelas pessoas teriam contato com o tribal fusion? 
Foi incrível. A proposta que Heitor Werneck me fez, o organizador do palco Cabaret, foi tudo o que estava precisando no momento. Eu podia usar minhas técnicas de interpretação e hip hop e dar um ar mecânico e assustador à performance. O resultado foi muito positivo tanto para mim quanto para os que assistiram.


BLOG: Em tribal fusion você é autodidata, certo?Comente sobre essa experiência e suas dificuldades que você teve na época em que começou a estudar.
Fui autodidata por falta de opção. Sempre gostei de trocar idéias e de observar minhas professoras. De início foi meio assustador., pois sabia que iria me apresentar mais cedo ou mais tarde sem que tivesse sido avaliada. Tive que dar muita importância ao que sentia e principalmente ao meu senso crítico. Acho que foi daí que realmente comecei a prestar mais atenção às minhas experiências corporais. Foi realmente um salto no meu estudo.

BLOG: Você tem pretensão em retomar com o seu antigo grupo Bella Tribo?Conte-nos como surgiu o grupo, o significado do nome, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora. 
 A Bella Tribo surgiu de uma vontade grande que eu tinha de colocar minhas coreografias e estudos em prática. A Zan Rotini foi minha aluna de dança do ventre e tribal, já o El Cesar dançava comigo em uns grupos alternativos nos quais eu participava no setor cultural de Osasco. Ele se encantou com o tribal e acabei por convidá-lo a participar e aprender. Na verdade ele é professor de danças populares e um ótimo costureiro.


No final dos trabalhos da Bella Tribo tivemos duas pessoas ocupando o lugar de quatro membro: Katri Viana e Mariana Garavello. Infelizmente não tenho mais notícias da Katri. Bom, a Mari você vê sempre na ativa com seu tribal nos eventos e festas.


O nome não foi nada especial. Só achamos que soava bem o Bella Tribo

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
A possibilidade.

BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Como disse nas perguntas iniciais: esquecer o "certo e "errado" na dança e se abrir a novas possibilidades e propostas.

BLOG: Como você descreveria seu estilo? 
Tribal Fusion. Mas hoje em dia estou começando a optar por Dança Tribal.

BLOG: Como você se expressa na dança?
Bem, não tem receita. Tem que se dançar o que se sente.

BLOG: Quais seus projetos para 2012? E mais futuramente?
O ano de 2012 está sendo de trabalhos bem diversos.  Estou tendo a possibilidade de usar inúmeras técnicas e pesquisas em áreas que nunca pensei em transitar. Para este ano continuarei a fazer apresentações em festas e night clubs e paralelamente darei continuidade a meu estudo de danças tribais e interpretação. 

Para o ano que vem parece que os projetos aumentarão qualitativamente. Exigirão maiores responsabilidades. Mas não posso adiantar nada além disso, pois o projeto não é meu.

BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê? 
Os dois. Coreografar é importante para experimentar movimentos e dominá-los. Mas tenho um amor pelo improviso. Tenho me focado bastante nele para estudos. Em breve espero colocar em prática meus pensamentos e experimentos sobre o assunto. O improviso faz a dança ser mais genuína.
  
BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Meu foco principal é a dança. Mas nesse ano flertei com as artes plásticas, moda, poesia, videodança e tenho propostas para iniciar um estudo com canto
.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Os rótulos devem ser deixados de lado. A arte da dança chegou a um ponto onde merece o respeito devido à sua grandeza. Falando sobre isso, quero dizer que a dança nunca terá um produto final. Não se chegará a uma verdade única e imutável. Portanto, as amarras devem ser liberadas, a arte deve nascer do ser genuíno. Da ancestralidade e da intuição. Pensando desta forma, até mesmo quando se reproduz a técnica pura, sua arte transparece e conta sua história. Isso é a beleza a ser alcançada. Muito mais do que com a estética posta atualmente, de cabelos e figurinos. A força deve vir de dentro e deve tocar o mundo do lado de fora. Essa é a bruxaria. Esse é o poder feminino.

Contato
Tel/cel: (11)2063-3747
E-mail:
danifairusa@gmail.com









Para conhecer mais o trabalho desta bailarina, acesse seu canal no Youtube!
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Ela é linda , encantadora e inovadora...sou fã...Adriana Eda

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  2. Daniela foi a primeira bailarina do Brasil que procurei para fazer aulas,e devo muito a esse primeiro momento na dança, pois a partir daí decidi me aprofundar no Tribal. Ela é maravilhosa, profissional e de técnica impecável e ainda assim, não vemos o ego saltar na frente da arte como em muitas danças que vemos por aí. Fico feliz por ela estar seguindo um caminho próprio. Parabens a ela e ao blog! Calliandra Abhijit.

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