Entrevista #4: Carol Schavarosk

por Aerith Asgard



A nossa entrevistada do mês de março de 2012 é uma das pioneiras da dança tribal no Rio de Janeiro-RJ!
Uma entrevista muito rica e esclarecedora!
Com certeza vão gostar!^^

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou para você? 
Eu comecei dança do ventre no finalzinho de 2005 numa academia de ginástica mesmo, no meu bairro. Foi engraçado, eu estava lá fazendo esteira ou bicicleta quando a moça da recepção apareceu oferecendo uma aula experimental de dança do ventre. Decidi fazer e me diverti muito. Depois disso apareci em mais duas (?) aulas e perguntei para a professora (Nadhirra) como poderia ter aulas mais de uma vez por semana e ela me indicou a Asmahan. Eu nem sabia que existiam escolas especializadas em dança do ventre! Obviamente, me apaixonei e só pensava nisso; em todo meu tempo livre eu estava praticando!

Após poucos meses (uns três, acho) minha nova professora, Jhade Sharif, esteve estudando algo de Tribal e criou uma aula aberta sobre o estilo. Foi estranho para mim porque eu não consegui visualizar, assim, sem jamais ter visto nada sobre a dança e o figurino antes - a imagem de uma mulher com flores no cabelo e todos aqueles adornos de metal os quais ela (a Jhade) se referiu na aula - mas me lembro sobre os braços super posicionados e como me encantei pelas músicas ousadas. Cheguei em casa, e procurei um vídeo de Tribal Fusion na internet(haviam poucos em 2005/2006, acreditem!). Era um vídeo da Rachel Brice, e o "choque" foi tão grande que me emocionei na mesma hora e decidi começar uma pesquisa sólida e específica sobre o Tribal.

Era apenas eu e a Jhade no Rio de Janeiro. Foi aí que conheci nomes brasileiros como Shaide Halim e Ally Hauff, e tive minha primeira aula com alguém que foi aluna da Carolena Nericcio, a bailarina Nadine Fernandez (Alemanha). No início de 2007 comecei a me apresentar oficialmente.


BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Jhade Sharif, Nadja el Balady, Sharon Kihara, Rachel Brice (como musa inspiradora). Essas pessoas me mostraram tudo o que sei e observando bem eu aprendi algo importantíssimo: a ética na dança. Então, há motivos infinitos para admirar essas professoras e levar a honra do aprendizado a diante.

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo? 
Quando era criança, ballet e jazz na escola. Mas muito primário. Eu larguei a dança porque  mudei de estado e comecei a me dedicar à música. Fiz 9 anos de canto antes de voltar para a dança.


BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Na dança: The Indigo , Nathalie Lucas, Svetlana Zakharova, Kahina.

Nas artes: Alfons Mucha, Eliphas Levi, Goethe, Debussy, Amy Brown, Waterhouse, Tchaikowisky, Zack Condom, Tuomas Holopainen, Tolkien, Bajramovic, Emir Kusturica etc etc etc.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida? 
Na verdade não apenas acrescentou, mas foi um divisor de águas. Existe a Carol de antes e a Carol depois da dança :) Eu era uma pessoa bastante introspectiva e a dança fez com que eu amadurecesse em vários sentidos.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte? 
Acho (ou pelo menos me sinto) que sou uma pessoa muito mais visual do que literal. A dança é uma das artes que permite a expressão livre de palavras. Além disso, permite que o artista tenha suas fases mais despretensiosamente. Isso me encanta.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre disso?
 A falta de cuidados com o corpo. Sim, sabemos que dança do ventre é uma dança democrática, onde praticamente qualquer tipo de corpo e pode praticar a arte com beleza e precisão, tendo um determinado tempo de estudo. Percebo a falta de compromisso com o corpo enquanto saúde, vindo por parte de muitas praticantes e bailarinas. O corpo é o instrumento de nossa dança e acredito ser necessário tanto a boa alimentação quanto os exercícios específicos para alongamento, aquecimento e otimização postural. Isso é algo que me cobro muito sempre que possível, até porque sei o quão difícil é seguir uma rotina saudável.

BLOG: Você já sofreu preconceitos no tribal? Como foi isso? 

Sinceramente não me lembro de ter sofrido. O Tribal geralmente atrai excelentes opiniões  :)

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Sempre! hahaha mas acho que tem a ver com a minha pessoa, que muitas vezes não se dá por satisfeita e também pelo fato de que dançar não é a minha única atividade.

Frustração mesmo é mais quando vejo competitividade desnecessária por aí. A dança para mim SEMPRE foi e sempre será minha válvula de escape, e me deixa muito triste ver a falta de amizade enquanto deveria haver união. Por sorte, percebo que o meio Tribal costuma ser mais unido, o que é realmente muito animador de se ver! 

BLOG: E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
As conquistas maiores foram, sem dúvida, as amizades que fiz. Minhas melhores amigas conheci dançando e algumas tenho a plena certeza de que estarão comigo por toda a vida. Também conheci excelentes músicos e artistas. Esta troca não tem preço para mim! Claro, conquistei prêmios (1º lugar Belefusco Internacional 2008); dividi palco com bailarinas mundialmente conhecidas (Sharon Kihara, por exemplo); dancei em lugares imensos, maravilhosos e igualmente importante; recebi a BENÇÃO de ensinar.    

BLOG: Como  e quando você descobriu o tribal fusion e por que se identificou com esse estilo?
Quando comecei a praticar o tribal fusion? Me identifiquei com o estilo principalmente pelas músicas. A liberdade de repertório e a riqueza de detalhes folclóricos, étnicos ou até mesmo de elementos instrumentais é o que mais busco para qualquer atividade artística. Tenho o costume de pesquisar música folk de todos os lugares e estilos e ir catalogando e comparando os ritmos, as semelhanças...é um hobby e ao mesmo tempo um quebra-cabeças :)

BLOG: Você é uma das mais antigas bailarinas de tribal fusion do Rio de Janeiro. Conte-nos como era o tribal na época em que ele ainda estava engatinhando no Brasil. 
Tirando a carência de figurinos e apetrechos, era engraçado. Algumas pessoas olhavam para o Tribal quase como uma dança impossível de se dançar. Comentários do tipo: “Tem que ter o corpo da Rachel Brice" ou "É dança do ventre com breakdance" , eram muito comuns.


BLOG: Qual a diferença entre o tribal de outrora e de hoje em dia, no Brasil? 
Hoje em dia temos quatro vezes mais pessoas competentes e profissionais mostrando seus trabalhos. Hoje em dia há uma comunidade Tribal consistente e ativa, assim como há uma comunidade de dança do ventre.

BLOG: Você foi uma das integrantes da antiga formação do Templária, dirigido por Jhade Sharif. Conte-nos como era a formação do mesmo, estilo de dança, preferências do grupo,etc.
A meu ver, era algo bem ensaístico, pois afinal creio ter sido o primeiro grupo de tribal do Rio de Janeiro. A maior parte das influências vinham da Jhade, com seu estilo místico e misterioso. Bons tempos, com certeza!

BLOG: O seu grupo de dança é formado pelas suas alunas, certo? Conte-nos como surgiu o Vlax, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora. 
Sim, eu criei um grupo com a primeira turma que julguei capaz de começar a apresenta-se. Funciona assim: qualquer pessoa pode ser integrante do Vlax, desde que tenha feito certo tempo de aulas de Tribal. Então o grupo já passou por mudanças, e geralmente eu insiro novas pessoas de outras turmas quando sinto que as mesmas já tem a capacidade de apresentar-se.


Para mim, a essência do Vlax é trabalho em grupo em forma de fusões, que variam de acordo com o brainstorm do grupo. Nunca levei idéias prontas, sempre sentei com as minhas alunas e perguntei o que elas querem fazer, e peço para trazerem idéias, músicas, o que for. Assim todas tem a oportunidade de exercer a criatividade. Vou apenas coordenando para que haja sempre organização.

Vlax é um sub- dialeto Romani (cigano) e o povo Vlax encontra-se na Romênia, Ucrânia e Rússia.


BLOG: Você já fez parte do atelier de figurinos para dança tribal Nataraja Design’s, de Aline Muhana. Você estava junto quando o mesmo fora criado? Por que  não trabalhar mais com a criação de roupas? Você ainda tem pretensão de trabalhar com algum tipo de produção artística inserida ou mesclada ao tribal? 
A idéia do Nataraja foi minha juntamente com uma aluna na época e resolvemos chamar a Aline. Infelizmente não pude continuar, pois como já mencionei, tenho outras atividades além da dança e tive que escolher. Não pretendo ter outra marca de figurinos nem nada do tipo, mas costumo realizar parcerias com a Aisha Hadarah, grande amiga, figurinista, fotógrafa e artista plástica.


BLOG: Como é fazer parte de um grupo de ATS®, como o Mozuna, dirigido por Nadja El Balady e Aline Muhana? Qual a importância que você vê no ATS®?
Foi muito legal participar do Mozuna. O ATS® se faz primordial para qualquer bailarina de Fusion, isso é um fator incontestável.

BLOG: E como é ser membro do Caballeras, dirigido por Nadja El Balady e Jhade Sharif? Como adequar seu estilo a um projeto com essa proporção tão diversificada? 
Maravilhoso. Uma experiência única! Acho que a dificuldade maior não é adequar os meu estilo, pois gosto de diversificar e fazer coisas novas, e sim criar um link entre um estilo e outro, como em uma história ou uma ópera, com seus atos. Mas ao mesmo tempo, essa é a uma das partes mais divertidas, eu me identifico bastante com roteirização  :)

BLOG: Conte-nos sobre seu gosto pelo estilo balkan. Como surgiu a oportunidade de dançar no Go East Festa e como foi a experiência?
 Bem, o estilo balkan foi algo que voltou a tona quando comecei a dançar Tribal e ao contrário do que muitos pensam, não, não tem NADA a ver com cabaré, pois as músicas simplesmente podem ter uma "levada alegre" mesmo. Sobre música balkan compreende-se a música folclórica do leste europeu, às vezes com um toque cigano.


Meu avô era maestro e violinista, filho de russos e lembro-me que quando eu era criança ele colocava LP`s de músicas típicas e clássicos do leste europeu e outros países. Um dia, uma aluna me levou um mp3 da banda Gogol Bordello e me falou sobre a festa, Go East. Era 2007, se não me engano. Em minha primeira ida a festa, lembro-me de ter ouvido logo de cara a música que meu avô colocava para ouvir  (a música é a "Ochi chernye -Les Yeux Noirs" - por sinal, esse é o titulo do meu tumblr, quem tiver é só seguir http://ohkrol.tumblr.com/). Minha segunda ida a festa foi meses depois com a Aline Oliveira, dividindo o palco. Dai em diante virei frequentadora assídua e SUPER FÃ da Go East Orkestar, criada tempos depois.

Ao mesmo tempo, o Tribal nos EUA seguia o mesmo ritmo, cores e temática, creio eu que boa parte disso deveu-se a genialidade da Mardi Love, e ao crescimento das ensembles, fanfarras e o retorno ao retrô que a Califórnia alternativa sempre sugere. Incrível como os estilos casam-se perfeitamente, não? :)


BLOG: Você agora está se voltando mais a dança do ventre. O quê a motivou a buscá-la? 
Amadurecimento pessoal, talvez. A vontade de voltar a me apresentar em dança do ventre é antiga, e ainda estou retornando. Estou buscando ser uma bailarina mais completa, já que não acho que tive uma base muito sólida de dança no passado. E plus, eu adoro as roupas, véus, ritmos, brilhos e movimentos! :)

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Sou uma dançarina de Fusion - Dança Étnica Contemporânea. Gosto de passear pelos estilos. Já fiz uma dança balcânica totalmente inspirada nos ciganos, assim como já dancei uma música do The Prodigy em roupas de vinil (hehe). Da mesma forma, já coreografei fusion com levada de hip hop. Essa é a magia desta dança. 

BLOG: Quais seus projetos para 2012? E mais futuramente?
Em 2012 voltei a estudar música. Já estou em processo de criação para o Vlax no Gothla BR e para o meu outro grupo, do Espaço Mosaico, para o Lumina Qamar. O resto...aguardem ;)

BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê? 
Prefiro Coreografar. Estamos lidando com música aqui, e música trata-se basicamente de matemática. Não acho que improvisar deixa a pessoa mais livre, pelo contrário. Quando a bailarina entra no palco sabendo o que tem que fazer, seus movimentos tendem a ficar mais limpos. Acho o improviso interessante para o ATS® e para momentos de descontração ou derbake.


BLOG:  Você trabalha somente com dança? 
Não, eu sou designer e no momento estou trabalhando em uma empresa de Marketing voltado para Redes Sociais.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Uma vez uma bailarina conhecida me falou que só a Rachel Brice podia fazer -aquele fusion- fiquei arrasada, pois o estilo dela era totalmente o que eu queria fazer. Essa pessoa me disse que só funcionaria se eu tivesse o corpo dela, o alongamento dela, os mais de 15 anos de yoga que ela (a Rachel) tem. Eu não acreditei. É claro que não virei um clone da Rachel Brice e nem poderia, mas passei por momentos que só eu, Carol, fui capaz de conquistar. Hoje em dia eu olho para a Rachel como uma grande mulher, um exemplo a ser seguido, não apenas como bailarina mas como PESSOA. 

O sucesso para qualquer coisa é o equilíbrio. Sejam felizes na dança, busquem a técnica sem esquecer que dançar é felicidade e não dor de cabeça e intrigas. Não desistam e não acreditem que o Tribal é para certas pessoas. O Tribal é para TODOS! Vamos praticar!!!!!!


 Contatos:
E-mail: carolschavarosk@gmail.com

Twitter: @ohkrol


Facebook: Carol Schavarosk







Para conhecer mais o trabalho desta bailarina, acesse seu canal no Youtube!
Comentários
4 Comentários

4 comentários:

  1. Que adorável, sou carioca mas não conhecia o trabalho da Carol. Adorei a entrevista e o que ela disse a respeito do mito de que "para fazer "aquele fusion" tem que ser igual à Rachel Brice".
    Esse blog é demais!

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  2. Fiz parte do grupo da Shaide aqui no Rio de Janeiro em 2004, o Jaya Mahati, que trabalhava a dança de acordo com a música que seria trabalhada. Era mais uma fusão de danças orientais, também uma Dança Étinica Contemporânea cujo o figurino era inspirado no ATS. Também descobri o tribal fusion através da Rachel Brice e fiquei encantada. Mas como o meu foco sempre foi a dança do ventre, que pratico há 16 anos, achava que era algo fora do meu alcance. Eis que em uma dinâmica em aula, com a professora Melinda James, o meu lado tribal aflorou. Foi quando a Carol começou a dar aulas no Espaço Mosaico e tudo pareceu se encaixar. Amo o tribal! Adoro o estilo e as ideias da Carol! Adoro fusões, a liberdade de criação, e as infinitas possibilidades que a dança tribal proporciona!

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  3. Obrigada Carol pela maravilhosa entrevista!^^ Muito rica e esclarecedora! Adorei as respostas^^
    Beijos,

    Aerith

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  4. Poxa, eu e Mari ficamos fora da foto do Vlax :(

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