Nossa entrevistada de maio é a bailarina Kilma Farias, da Paraíba. Kilma é uma das bailarinas de destaque do Brasil não só por sua técnica, mas pelo desenvolvimento do estilo Tribal Brasil e seu profissionalismo na Dança Tribal desde sua origem no país. Nesta primeira parte, Kilma conta-nos sobre sua trajetória e atual carreira, suas conquistas,sobre o desenvolvimento da Cia Lunay e muito mais! Confira!!!
BLOG:
Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou
para você?
Meu primeiro contato com a dança foi na
infância, aos 4 anos de idade, no pré-ballet e dança criativa; depois vieram a
ginástica rítmica e a dança contemporânea, mas eu não tinha ainda o real desejo
em viver para a dança. Praticava enquanto hobby.
Na adolescência também fiz teatro um longo
tempo. E acabei largando tudo para me dedicar à faculdade de comunicação
social. Vim me reencontrar com a dança já aos 21 anos, quando busquei a dança
do ventre como uma forma de equilibrar corpo e mente, no final de 1999. Aqui
mesmo em minha cidade encontrei uma professora, a Martha Farias, e logo
me matriculei, mas também não tinha pretensão em trabalhar com dança.
Minha relação profissional com a dança veio
de um processo natural. Em 2002 eu já estava bem desenvolvida nos estudos e
buscava ainda outras professoras que pudessem me auxiliar na caminhada e logo
surgiu a oportunidade de ministrar aulas. A partir de 2003 percebi que a dança
do ventre tinha me escolhido e que eu deveria fazer escolhas, pois não dava
para continuar com o jornalismo ao mesmo tempo. De lá pra cá foram muitas idas
e vindas, me dividindo entre ser apenas professora e entre ser professora,
bailarina e jornalista.
Em 2004 publiquei o livro Dança do Ventre da
Energia ao Movimento pela Editora Universitária (UFPB) e já me dedicava ao
estudo do Tribal e das Fusões com danças populares e afro-brasileiras. Desde
então, do primeiro contato com o Tribal, me apaixonei fortemente e decidi tomar
para mim a missão de divulgar o estilo e de também contribuir com uma formação
de caráter mais brasileiro, contendo nossa identidade.
BLOG: Quais foram as
professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Tive uma em especial chamada Ismália Sales, aqui em João Pessoa,
e que, apesar de ser da dança do ventre, ela tinha a mente muito aberta às
fusões.
A Nuriel El Nur que me mostrou a
importância em se estudar ritmos, folclore do Oriente Médio e leitura musical.
A Shaide Halim, que foi a primeira
bailarina de Tribal do Brasil e que tive a chance de trazê-la para minha cidade
para ministrar o primeiro workshop sobre o estilo nessa região.
Vant Vaz
que me ensinou sobre a perseverança.
Unmata
por me mostrar como um grupo pode ser uma unidade, uma personificação de um
conceito.
Jonh Compton que me
ensinou que as flores do seu jardim podem lhe trazer muito mais alegria do que
as pessoas.
E por fim,
afirmo sem sombra de dúvidas, que minha alunas me ensinam muito a cada dia:
sobre companheirismo, superação, dedicação, sobre tribo.
BLOG:
Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto
tempo?
Comecei
aos 4 anos com pré-ballet e fui até os 9 anos. Dos 9 aos 14, Ginástica Rítmica
Desportiva, cujo elemento que eu amava era a fita. Também praticava com corda,
arco e bola, mas a fita me encantava. Dos14 aos
16 fiz dança contemporânea e teatro, também dos 15 aos 16 estudei capoeira.
Continuei
com o teatro até os 20 anos e voltei a reencontrar a dança aos 21. Estudei um
ano de Flamenco, um ano de Hip Hop e venho há 10 anos estudando danças
populares e afro-brasileiras,que para tanto temos o projeto Cultura em Movimento que nos traz sempre
um professor de uma modalidade de dança diferente para dentro de nossa escola.
Dança do Ventre e Folclore Árabe estudo há 14 anos e Tribal há 10 anos também.
Minhas primeiras
inspirações vieram das Danças dos Orixás e do quanto eu achava que tudo aquilo
tinha muito a ver com a dança do ventre: as ondulações e os tremidos.
A Cia Halim foi a primeira
trupe que vi e, a partir de então, comecei a pesquisar. Descobri a Rachel Brice e o encanto foi completo.
Já fui fã incondicional da Mardi.
Hoje curto muito a April Rose, Ariellah,
Illan, Zoe, Sera.
BLOG:
O quê a dança acrescentou em sua vida?
A
perseverança, a superação, a disciplina.
Dançar é
transcender o corpo, muito mais que a junção de passos, de movimentos. É para
mim o encontro comigo mesma e com o outro que me vê, e com essa relação com o
mundo. A dança me coloca no meu lugar no mundo. Só assim me sinto forte, plena,
realizada.
Uma prece
com todo o meu ser. Isso é dançar. E se posso juntar a tudo isso uma pesquisa,
um conceito, um tema para se discutir, então afirmo que a dança traz também
consigo uma qualidade de fomentadora social.
A partir
da dança aprendi valorizar a pesquisa, a organizar e sistematizar os estudos,
principalmente no que diz respeito ao Tribal Brasil.
Assim sou
capaz de dançar minha vida no meu ritmo, me apaixonando a cada dia por uma nova
forma de expressar o belo.
A capacidade de estar em tribo, de ver e reconhecer nos colegas o
conhecimento, a beleza, a deusa, a dança que move o mundo. Cada um de nós é
portador de uma potencialidade criativa infinita e quando isso aflora através
da dança, emociona. Transformar sentimentos em gestos; essa é a alquimia que transformou
minha vida.
No tribal em especial, é de encher os olhos as tramas entre linguagens
que o corpo pode traduzir. Reconhecer traços do flamenco, da dança indiana, do
hip hop, da dança do ventre. Enfim, se perder e se achar no colorido das
roupas, em cada detalhe dos cabelos, das joias que contam histórias. Na minha
opinião, o tribal é um grande legado cultural da contemporaneidade.
BLOG:
O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que
o tribal está livre disso?
Particularmente, não gosto muito dos apelos ao corpo que a mídia
confere à dança do ventre. Seja em novelas, mini-séries, programas de entrevista,
pois o senso comum é a abordagem do corpo, da sedução. Como se a única
finalidade dessa arte, ou a mais importante, fosse dançar para o marido, ou
ainda, para se conquistar um marido.
Penso que só através da informação séria, do incentivo a trabalhos acadêmicos e das grandes produções para palco é que teremos uma disseminação dos reais valores dessa arte.
O tribal é abordado da mesma forma. Parafraseando Jill Parker: “É tudo belly dance”.
Às vezes me chateio quando estou sendo entrevistada nas TVs e sempre surge esse assunto de dançar para seduzir homens. Parece que nem importa sua pesquisa, sua arte, os objetivos dessa expressão. Tudo se resume a sexo. Chega a ser freudiano, rsrs.
Já sim.
Em minha cidade, há 10 anos, não se ouvia falar em tribal como hoje. A Lunay estava iniciando suas pesquisas e
eu vinha experimentando diversas fusões da dança do ventre com danças populares
e afro. Foram inúmeras às vezes em que alunas relatavam o que se ouvia nos
bastidores e camarim; comentários do tipo “ela não sabe dançar e fica
inventando isso”, ou ainda, “é louca, não tem a menor noção”. Um dia, nas
coxias de um festival, uma bailarina de ventre soltou um grito de horror ao me
ver – se disse assustada com minha aparência, rsrs. Só que ela já tinha me
visto antes e inclusive tinha me visto ir para as coxias, enfim... era o
simples prazer de denegrir o outro.
Tem uma história tensa de uma aluna que estudava dark fusion comigo em 2007 e, belo dia durante a aula, sua mãe chegou lá me xingando. Ela dizia que minha dança era do demônio, me chamou de anticristo e puxou a filha dela pelo braço. Bom, elas se diziam evangélicas. Dá pra perceber, né, por tamanha compreensão e gentileza com o próximo.
BLOG:
Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Sempre.
Acredito
que só continuo porque sou indignada. Porque preciso mostrar com meu trabalho
que pode sim ser diferente.
Desde muito nova sofri preconceitos na dança, da época do ballet. Pois tenho pé chato e um ligeiro desvio nas pernas. Todos diziam que eu nunca iria conseguir dançar, que era melhor eu desistir porque eu iria me frustrar. Eu chorava muito e pensava que se até Garrincha tinha problema com as pernas e foi um craque da seleção brasileira, por que eu não poderia dançar? Nunca pensei em viver da dança, ou muito menos ser a primeira bailarina da escola. Queria apenas poder dançar. Que mal tinha nisso? Tanta foi a pressão que saí do ballet e passei a frequentar aulas de Ginástica Rítmica. E daí descobri mais um obstáculo: encurtamento nos tendões das pernas.Eu pensava mesmo em desistir, mas quando assistia as paraolimpíadas me perguntava: por que não posso conseguir também?
Cheguei a praticar dança contemporânea e outras técnicas, mas foi a dança do ventre que me aceitou do jeito que sou, com todas as minhas limitações fisiológicas e que, falando sinceramente, não me atrapalham em nada. Até porque quando danço percebo muito mais as coisas da alma do que as do corpo.
Indignação também quando percebo a falta de respeito das colegas de dança, umas com as outras, de adeptos de um estilo de dança com outros.
BLOG:
E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
Nossa,
são muitas. A primeira delas é ver minha filha uma moça feita; esse ano
completando 15 anos. A maternidade é algo que modifica as mulheres. Só quem
passa é capaz de entender plenamente o sentido do amor incondicional, do real
respeito à outra mulher, da dor de gerar uma vida, de ver nosso corpo se
modificando, perdendo curvas para nutrir outro ser e amar tudo isso. Ser mãe é
minha grande conquista como ser humano.
Na dança,
a trajetória é larga: ter dois DVDs didáticos de Tribal; um livro publicado,
outro em processo de finalização; ter sido capa de cd para Tribal no Japão; ter
sido convidada como uma das atrações principais do Spirit of theTribes, em 2010, na Flórida; ver o Tribal Brasil sendo sistematizado e
estudado por universitários em seus TCCs; ter percorrido quase o Brasil inteiro
ministrando workshops e alguns países da América Latina; ter sido capa da
revista Shimmie; capa da revista Pitanga; ter sido entrevistada para a Yallah Magazine (EUA); ter escrito
matéria para a revista Fuse (EUA); estar
fazendo parte do SIX, novo projeto da
Shimmie, sendo citada como uma das
seis melhores bailarinas de Dança do Ventre do Brasil, onde este ano já estaremos
iniciando a turnê Brasil; ter sido a primeira bailarina a levar o Tribal Fusion
para dentro da Khan El Khalili, através
do projeto Ventreoteca; ter hoje meu
Studio de dança; e recentemente ter sido aprovada no vestibular para a UFPB que
estréia o curso de Licenciatura em Dança, no qual conquistei o primeiro lugar.
BLOG
Você foi uma das primeiras bailarinas do Brasil a se envolver com o estilo
tribal. Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a
pesquisar? Como era visto a dança tribal naquela época e como hoje ela vem se
apresentando na cena brasileira?
Era
bem difícil. Eu fazia parte da lista de discussões da Cia Halim no Yahoo e lá
se trocava a pouca informação sobre o estilo. A Shaide e o Fernando Reis
sempre foram muito generosos com a socialização da informação, então tudo que
eles pesquisavam logo postavam nos arquivos do grupo.
Na prática, as experimentações eram muitas e a carência de uma professora de Tribal em minha região me fez ir buscar nas danças populares e afro-brasileiras a personalidade que expressamos hoje. A Halim divulgava que o tribal era Dança Étnica Contemporânea. Pensando assim fui buscar nossas danças étnicas. No meio do caminho encontrei aulas de Dança de Rua e Flamenco como aliados da formação do corpo que se metamorfoseava.
O primeiro material de estudo que tive acesso foram dois DVDs didáticos da Khajira e o Tattooed One do FCBD®. Lembro que logo depois o Bellydance Superstars estourou, e a Rachel Brice se destacou como uma bailarina exótica, a snake charmer do grupo. Logo descobri dois sites de relacionamento americanos, o tribe.net e o mandala, ambos repletos de tribal dancers, com textos sobre o estilo, dicas para maquiagem, cabelos e lá estava o perfil da Khajira e do Black Sheep Belly Dance. Lá continha diversas entrevistas e artigos sobre o Tribal.
De lá pra cá muita coisa mudou. Inclusive a entrada do Brasil na rota das bailarinas americanas. Hoje, não estuda Tribal quem não quer. As informações estão todas aí, inclusive no próprio Facebook. Eu mesma disponibilizo em “notas” diversas matérias que escrevo para jornais e revistas. Dá para encontrar facilmente uma professora de Tribal ou material de videoaula com as melhores bailarinas do mundo no estilo.
BLOG:
Conte-nos sobre suas fusões tribais com danças populares brasileiras e
africanas. Como surgiu a afinidade por tais fusões? Como delineou-se o estilo Tribal Brasil no país e como você criou
um formato para ele dentro dessa vertente da dança?
Esse
estilo de fusão veio de uma necessidade, pois como eu ia dizendo na pergunta
anterior, em minha cidade não havia professora de Tribal. E entendendo que
Tribal era danças étnicas fusionadas dentro de uma linguagem contemporânea que
guardava vocabulários da dança do ventre, passei a pesquisar nossas danças
étnicas. Essa pesquisa teve o músico João
Cassiano como parceiro e, assim, delineamos um estudo comparativo de ritmos
do Oriente Médio com os nossos Afro-Brasileiros. A partir dos primeiros
resultados dessa pesquisa iniciei os primeiros experimentos, o que me rendeu
convite para ministrar workshop em Buenos Aires sobre o estilo.
A Cia Halim também incluía danças
populares e afro-brasileiras em seus trabalhos e chamava de Estilo Tribal Brasileiro. Nessa época eu
era de um grupo chamado Zaíbe,
coordenado pela bailarina Ismália Sales.
Em 2002 montamos um espetáculo chamado “Ciclos”, onde fusionávamos as Danças
dos Orixás com a Dança do Ventre e conquistamos inclusive prêmios nos festivais
de dança da nossa cidade. O interesse em aprofundar essa possibilidade cresceu
em 2003 quando fundei a Lunay, que
seria o grande laboratório para as nossas fusões. Com os primeiros resultados
de nossas vivências, percebi que em muito se diferenciava do estilo da Halim, e nomeei de estilo Tribal Brasil. Muitos grupos e solistas
também realizam a fusão de danças populares ou afro-brasileiras com o Tribal,
também desenvolvem o Tribal Brasil,
ou Tribal Brasileiro se preferirem.
Em 2010, iniciamos, juntamente com Bela
Saffe, Shaman e Aquárius, a Caravana Tribal Nordeste, evento
itinerante que visava desenvolver essa linguagem, trocar experiências, divulgar
o estilo que todos esses grupos desenvolviam paralelamente.
O que
mudou ,desde 2011 na Lunay, foi que
sistematizamos os movimentos que mais utilizamos no nosso Tribal Brasil, assim como no American
Tribal Style, nomeamos os passos que mais apareciam em nossos trabalhos,
conferimos senhas, e hoje também desenvolvemos o improviso coordenado. Em 2012
a Shimmie me convidou para participar
do Ventreoteca, gravando um DVD
didático, e decidi incluir Tribal Brasil
para improviso coordenado nele, além do Tribal Fusion. Essa abordagem já foi
levada a diversos públicos. Ano passado ministramos aula em Buenos Aires já
dentro dessa formatação, no Gothla Brasil
também. Isso transforma o Tribal Brasil
em uma marca, um produto cultural que hoje se encontra em estudo pela UFPB
através do NEPCênico, um núcleo de
pesquisas do corpo cênico, onde já saíram diversos TCCs sobre o tema.
Continuamos trabalhando com a cena coreografada. O Axial, espetáculo que comemora os 10 anos da Lunay, tanto é desenvolvido por coreografias quanto por improviso coordenado.
BLOG:
A ritualística envolvendo muitas danças regionais brasileiras é terreno fértil
para se trabalhar dentro do tribal, cuja essência também evoca um certo
ritualismo místico que a dança emana em seus arquétipos através do figurino,
acessórios, passos,etc.Como você encara esse ponto em comum entre ambas danças?
Você acha que essa fusão entre a dança tribal e a cultura brasileira ajuda a
abrir espaço para o tribal fusion no Brasil?
Com
certeza. As danças étnicas, em sua grande maioria, estão ligadas a uma
simbologia ou grupo religioso, conferindo um caráter ritualístico. A meu ver
essa abordagem se aproxima bastante com o Theatrical
Bellydance.
Uma vez, assistindo um DVD didático, vi a Ariellah ensinando uma coreografia onde ela personificava Kali, em outro a Sera personificava a “sombra”. Daí nos perguntamos, por que não personificar Iansã ou a “tempestade”?
As saias
do ATS® se assemelham em muito com as saias dos Orixás, Oxum, Iemanjá... as jóias
em tons envelhecidos, repletas de búzios e penas de pavão também arrematam a
semelhança. Essa identidade vai além da aparência, uma vez que a África é berço
de várias expressões étnicas. Está no DNA cultural. A partir do momento que nos
assumimos “cidadãs do mundo” essas semelhanças ganham muito mais corpo e dão
lugar a uma nova linguagem, ou se preferirem a uma nova
vertente da mesma linguagem.
BLOG:
Conte-nos como surgiu a Cia
Lunay, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do
mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi
criado até agora.
Em abril de 2003 eu precisei colocar um nome no meu grupo de alunas com as quais montei “Dança do Ventre: Da Energia ao Movimento”, espetáculo que lançou meu livro homônimo, pela Editora Universitária da UFPB, e que, na ocasião, Lunay me pareceu agradável, sugerindo uma hibridação de Dolunay (lua cheia em turco) com Luna (lua para diversos países latinos). Unir oriente e ocidente sempre foi uma tarefa que assumi como missão e que deixo de herança para a Lunay. Em 2003 eu já dançava “Bicho de 7 Cabeças”, na versão de Zé Ramalho, no espetáculo “Dança do Ventre: Da Energia ao Movimento”, unindo dança com espada e dança de Iansã. Esse espetáculo nos conferiu o Prêmio de Melhor Produção em Dança, em 2005, na XII Mostra Estadual de Teatro e Dança da Paraíba.
A Lunay já teve diversas formações, mais de 50 bailarinos já passaram pelo grupo. A formação inicial tinha 23 integrantes, depois fomos em número de 12, depois 11, depois 8, 9, 4, 6 e hoje somos 13: Jaqueline Lima, Fabiana Rodrigues, Juliana Garcia, Jackeline Lira, Luana Aires, Priscila de Carvalho, Guilherme Schulze, Ademilton Barros, Karina Leiro, Tamyris Farias, Danilo Dannti, Daniela Albuquerque e eu.
Já mudamos o conceito diversas vezes. A princípio trabalhava com dança do
ventre clássica e folclore árabe, mas eu já me atrevia com as fusões com danças
e músicas brasileiras. Tivemos por um tempo divisão de conceito, Lunay Ventre e Lunay Tribal, até encontrarmos nossa personalidade no Tribal Brasil.
BLOG: Em 2011, a Cia Lunay cresceu, tendo uma segunda formação em Pernambuco (PE), sob direção de Karina Leiro.Como são os trabalhos desenvolvidos em conjunto com a Cia Lunay PE e como é essa extensão do trabalho realizado pelo grupo original e com a segunda formação? Há alguma peculiaridade ou característica marcante do grupo de PE com relação ao da PB? Onde os grupos convergem entre si e em quê quesito eles têm autonomia?
Com
nossa ida a Argentina em 2011, onde eu, Karina
e Jaqueline apresentamos um trio,
ministramos aulas enquanto Lunay,
sentimos que poderia ser maravilhoso a Karina
desenvolver a Lunay também em
Pernambuco.
Alguns
trabalhos são desenvolvidos em conjunto, outros não. Depende da proposta. Ano
passado no Gothla Brasil, tínhamos na
nossa coreografia integrantes da Lunay PB
e Lunay PE. Os ensaios aconteceram
ora em João Pessoa, ora em Recife.
A Karina traz o peso maior de sua arte no flamenco e eu acredito que isso enriquece nosso trabalho, assim como a Tamyris traz influência do Asian Fusion, o Danilo do ballet, e nesse mosaico tudo se encaixa perfeitamente, diversificando linguagens e enriquecendo nosso repertório. Paralelamente eles também pesquisam o Tribal Brasil e aí tudo se soma.
BLOG: A partir de 2011, a Cia Lunay apresenta coreografias mais alicerçadas no ATS®, não só
na busca dos passos característicos, mas como sua formação e movimentação de palco, desenhos de grupo fazendo alusão à este estilo de
dança mencionado, o que acabou conferindo muito dinamismo e riqueza ao
mesmo. Quando vocês começaram a se voltar para este estilo? Qual importância
que você vê no ATS®? Futuramente, você tem pretensão em conseguir o selo de Sister Studio de CarolenaNericcio (FCBD®)?
Na verdade, os primeiros estudos de Tribal dentro da
Lunay, foram de ITS, através dos DVDs
da Khajira e de ATS®
com o material didático do FCBD®. Mas como as informações eram bem
truncadas, nos detínhamos a estudar os movimentos e a coreografá-los. A partir
de 2007/ 2008 é que tivemos mais acesso a essa arte tão rica.
Entendo o Tribal como advindo da sistematização da Carolena, então penso que nada mais justo do que buscar em seu gestual as referências para nosso trabalho. Que o novo possa vir, mas a partir das construções, desconstruções e reconstruções do tradicional. Acho de suma importância entender o ATS®, conhecer, se permitir estudar, para poder mergulhar mais profundamente no Tribal.
Não tenciono os selos, nem ser uma multiplicadora do
estilo. Quero sim, estudar desse estilo para poder cada vez mais me sentir segura
em formatar o meu. Já estudei com a Megha
Gavin e tomei workshops com a Mariana
Quadros, Emine Di Cosmo, Isabel De Lorenzo, que são tituladas. A Karina e a Tamyris foram para Buenos Aires fazer o curso com a Carolena e a Megha, ou seja, buscamos estudar mas não para nos enquadrarmos em
um estilo pré-estabelecido, mas para termos embasamento, segurança para
seguirmos nossas pesquisas tanto no Tribal
Brasil quanto do Flamenco Fusion.
BLOG: Como é o cenário da
dança tribal na Paraíba? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade,
repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
O Tribal tem tido
excelente respaldo, tanto dentro da comunidade praticante do ventre quanto nos
círculos de dança contemporânea. Esse ano a Prefeitura me contratou para
coreografar a cena do Palácio de Herodes no evento da Paixão de Cristo, que
aqui é bem tradicional. E o pedido foi o tribal. Foram feitas oficinas
diversas, pois não trabalhei apenas com bailarinas da Lunay, havia integrantes de diversos grupos, inclusive bailarinos
de dança contemporânea. Todos amaram!
Claro que ainda há muita
desinformação e sempre que possível estamos nas TV, jornais, rádios, divulgando
o estilo e divulgando nossos eventos. Também já realizamos uma campanha
informativa, distribuindo fanzines que visavam esclarecer a dança tribal, dicas
de onde pesquisar na internet, onde baixar músicas, onde fazer aulas em nossa
cidade, sobre figurino e maquiagem, etc.