Soneto de Luna Clara (PE) | Fotos de André Ferreira
Terminamos a postagem anterior falando sobre a chegada dos ciganos à Espanha. Sobre isso, vale
acrescentar que os teóricos das origens se dividem em “ciganistas” e
“andaluzistas”. Para os teóricos “ciganistas”, somente o que é por eles
considerado canto cigano tem garantia de pureza. Os demais cantos, que eles
consideram “flamencos ou aciganados” não tem valor intrínseco, e os intérpretes
não ciganos são meros aprendizes. Para os andaluzistas, os ciganos que se
instalaram em Andaluzia foram apenas transmissores do canto andaluz, às vezes
intérpretes geniais. Atualmente, seriam meros atores de um drama do qual
tomaram posse, e do qual, segundo Arrebola (2005) “reproduzem, presos a uma
tradição tribal, ecos, ressonâncias mecanizadas, artificiosas de algo que pode
ter sido, em suas origens, tragédia vital e espontaneamente comunicável”
(tradução do autor).
Na formação do flamenco houve um confronto entre a cultura espanhola e a
cultura dos ciganos, árabes e até mesmo dos judeus, principalmente na época da
reconquista pelos reis católicos (onde todos os não católicos foram
perseguidos). Os elementos opostos das culturas tendem a se excluir, se opor
uns aos outros ao mesmo tempo em que se interpenetram, conjugam e identificam.
Daí emergiu essa manifestação artística e cultural, da interpenetração e
conjugação de contrários.
Sevilha
O rastro flamenco se dilui nos três séculos posteriores,
durante os quais Sevilha, importante cidade de Andaluzia, tornou-se, como porta
de saída para a América, um movimentado centro europeu de negócios. A estreita
comunicação entre os dois lados do Atlântico permitiu, além do comércio, o
intercambio cultural. Assim começa o caminho de ida de cantos e danças
andaluzas, que depois de passar pela peneira nativa e mestiça (e, portanto,
africana) traria de volta as guajiras, milongas, rumbas, etc., gêneros
mesclados que foram popularizados a princípios do século XX por grandes
cantores da época.
As poucas alusões escritas sobre o folclore andaluz nesse
grande período, estão dispersos na literatura espanhola compreendida entre os
séculos XVI e XVIII. La Gitanilla de Miguel de Cervantes, mesmo autor de Dom
Quixote, retrata Preciosa, uma ciganinha que poderia ser considerada protótipo
da posterior bailaora e cantaora (bailarina e cantora flamenca). As Cartas Marruecas
de José Cadalso dão, já na segunda metade do século XVIII, o que muitos
estudiosos consideram o primeiro testemunho escrito sobre o flamenco. Nessa
mesma época surgem registros dos primeiros artistas de flamenco. A partir de EI
Planeta, cantor natural de Cádiz, vão aparecendo, no triangulo Sevilha, Jerez e
Cádiz, três importantes cidades de Andaluzia, outros nomes do canto, da dança e
da guitarra.
Soneto de Luna Clara (PE) | Fotos de André Ferreira
A partir do século XIX começa a existir documentação mais
consistente a respeito da história do flamenco, razão pela qual, muitos
estudiosos tomam essa época como seu início. São os jornais da época e o olho
observador dos viajantes românticos que começam a gerar esses registros.
Pode-se considerar o flamenco como o conjunto de expressões artísticas e culturais constituídas pelo canto, a dança e o toque da guitarra (violão flamenco), trata-se, portanto, de uma manifestação interdisciplinar e, como veremos ao longo do texto, mestiça desde a sua formação. Reconstruir a história do flamenco, buscar sua origem e seguir seus passos até os dias de hoje não é uma tarefa fácil. A carência de tradição escrita até o século XIX, acabou gerando diversas e contraditórias teorias sobre as origens do flamenco que tentam explicar quando e porque ele surgiu. Existe consenso apenas a respeito de onde, o berço do flamenco seria mesmo Andaluzia, região ao sul da Espanha.
Ainda que a maioria dos estudiosos, ao buscar a origem do flamenco, ignore a história do sul da península ibérica, anterior ao século XVIII,creio quetem lógica pensar que o cruzamento de culturas ocorrido em Andaluzia ao longo de sua história, tem a ver com a formação dessa expressão artística e cultural.
O genótipo flamenco contém informações sobre suas influências greco-romanas, refugiadas até a Idade Média nos cantos litúrgicos bizantinos. Segundo Calado (2005), Manuel de Falla, compositor espanhol, achou essa conexão em traços como a melodia e a escala menor descendente. Parece haver também influencias hindus. Os estudiosos citam Abulhasam Ali Ben Nají (Zyryab), procedente de Bagdá, que foi músico da corte durante o califado de Abderraman 11 em Córdoba (822-852 O.C.). Objeto de estudos para intelectuais e fonte de inspiração para os artistas, Ziryab (o pássaro negro) foi tema de um disco do músico Paco de Lucía em 1990.
A dominação árabe (711-1492) enraizou na região de Andaluzia modos de organização política, social e econômica, ciências, artes e costumes. Depois de mais sete séculos de convivência, a música não deve ter sido menos influenciada. Assim mostram exemplos do palpável paralelismo entre as modulações dos cantos flamencos e as chamadas à oração muçulmanas, assim como entre os ritmos de ambas as músicas. Além disso, textos do séc. XIX, tais como Cosas de Espanha de Richard Ford, fundamentam a idéia da influência árabe no flamenco.
Tampouco podemos descartar a influência judaica na formação da arte flamenca. Rossy (1998) diz que "o povo israelita por sua convivência de séculos com os espanhóis, inclusive na Espanha muçulmana, teve grande oportunidade de influir no canto flamenco..." (tradução do autor). O autor acredita que muitos cantores flamencos, os chamados cantaores, eram judeus.
O paulatino desmembramento político dos territórios árabe-andaluzes abre para os reinos cristãos do norte da península, as portas desse rico caldeirão cultural. Desde 1236, ano de queda de Córdoba até 1492 quando a tomada de Granada finaliza a reconquista, Castela influenciou Andaluzia e foi, obviamente, também influenciada por ela. O fato é que a partir do século XV outros modos culturais tiveram caminho livre para matizar ainda mais o repertório cultural de Andaluzia.
Na mesma época, ocorreu outro fator chave para a formação do flamenco; a chegada dos ciganos à Espanha. O mais antigo documento que trata dessa onda de imigrantes data de 1425. A teoria mais aceita é que os ciganos seriam de Punjab, noroeste da índia, de onde teriam empreendido um longo êxodo que, entre os séculos VII e XIV, por causas pouco esclarecidas, foi adentrando o continente europeu. Os ciganos que se estabeleceram no sul da península ibérica, teriam se encontrado com o rico folclore andaluz, o qual teriam assimilado, e passado a interpretar segundo as características de sua própria cultura.
O Flamenco é um dos pilares do
tribal, sendo, ele mesmo, uma manifestação multicultural e híbrida desde as
suas origens, tendo, portanto, desde os seus primórdios, características atribuídas
às manifestações artístico-culturais da contemporaneidade. Percebo que o tribal
fusion está para as danças ditas “étnicas” (Flamenco, dança do ventre, dança
indiana) assim como a dança contemporânea está para as modalidades das quais se
utiliza como base (ballet clássico, moderno, jazz, etc). Ou seja, utilizando-se
das movimentações dessas danças, vai desconstruindo e criando sua própria
linguagem, linguagem essa, que, embora contenha elementos das danças
tradicionais ou das modalidades com técnicas mais cristalizadas, já não é mais
literalmente aquilo nem uma simples mistura das danças que tomou como base, mas
algo que se transformou, hibridizou, fundiu e que está em constante
deslizamento, sem se fechar enquanto técnica pronta e acabada.
Nesta coluna pretendo
contribuir trazendo informaçoes sobre a dança flamenca tradicional, suas
origens, história, estilos musicais, as modificações que a mesma vem sofrendo
ao longo do tempo e abordar a questão da fusão, trazendo um pouco da minha
experiência como bailarina e coreógrafa, primeiro (e ainda hoje) com o flamenco
tradicional e depois com as possibilidades que o estudo do tribal me abriu de
dialogar e fundir com outras linguagens.
Sobre a autora:
Karina Leiro
- Foi aluna e posteriormente bailarina e professora da EDACE,
Escola de Dança Arte e Cultura Espanhola e integrante do Mar Esmeralda Cia de
Dança (ambos no centro Espanhol de Salvador, Bahia), desde 1990 até o
ano de 2006 quando foi convidada para dançar fora do Brasil. Foi bailarina de
flamenco no Palácio de Almanzor em Fátima, Portugal. Foi bailarina do grupo
Hijas del Flamenco em Lisboa, tendo participado de vários eventos e espetáculos
entre os quais o "Mescla – Da Origem a Fusão" no café teatro EDSAE em
Lisboa. Integrou também o grupo El Camino do guitarrista Xavier LLonch com quem
se apresentou em vários espetáculos, entre eles a mostra de dança do Festival
do Sudoeste em Portugal (2007). Estudou dança flamenca na Flamenco Ados, escola
de Isabel Bayón e Ángel Atienza em Sevilha. Foi bailarina convidada da turnê de
lançamento do CD Mediterraneo Profumo Latino do tenor italiano Giovanni D'Amore
e paricipou do Fusion Dances, grupo de fusão de salsa, flamenco e dança do
ventre. Foi professora da Escola 1001 Danças no Ateneu comercial de Lisboa
tendo ministrado workshops e aulas diversas, inclusive no Andanças, Festival
Nacional de Dança em São Pedro do Sul, Portugal. Em 2008, já de volta ao
Brasil, em parceria com o guitarrista Eduardo Bertussi, fundou o grupo Aires em
Salvador, Bahia, tendo participado com o mesmo e também como solista em
diversos eventos e espetáculos. Foi professora de flamenco no curso de extensão
da Universidade Federal da Bahia em 2008 e 2009.
Em 2009 iniciou o estudo da Fusão Tribal com
Bela Saffe na casa Kairós em Salvador, tendo estudado também com Kilma Farias e
Ale Carvalho, além de ter feito workshops com diversos profissionais de tribal
entre eles Sharon Kihara, Carolena Nericcio, Kami Liddle, Lady Fred, Jill
Parker, Ariellah, Morgana e Rachel Brice, além vários profissionais do Brasil.
Atualmente reside em Recife, foi bailarina de tribal do ATF - Aquarius Tribal
Fusion. Atualmente é bailarina, professora e coreógrafa de flamenco do
Instituto Cervantes Recife, professora de dança flamenca do Ballet Gonzalez,
proprietária do Studio Karina Leiro, ministrando aulas e promovendo cursos de
flamenco com profissionais nacionais e internacionais. É diretora e bailarina
de tribal fusion da Cia Lunay Pernambuco, sob a direção geral de Kilma Farias.
É diretora da Cia Karina Leiro de dança Flamenca. Atua como bailarina e
ministra workshops de flamenco tradicional e fusão em várias cidades do Brasil
e do exterior. É também bailarina e coreógrafa da
Cia DSA (Dancers South America) em São Paulo, dirigida por Adriana Bele Fusco.
Força, impacto e técnica! Linda apresentação da bailarina Karina Leiro (PE), na Caravana Tribal Nordeste 2013. No início ela faz um solo bem flamenco, com muita batida de pés. Mostra a força proveniente desta dança, com muitos braços e giros. Mas Karina não pára só no flamenco, ousando com breaks e shimmies e, é claro, muito tribal.
Karina Leiro, bailarina de dança flamenca e tribal fusion do Recife-PE fecha nossa seção de entrevista de 2013 com chave-de-ouro!Ela nos conta com muita simpatia sobre sua trajetória e experiências na dança,sua fusão entre tribal e flameco, sua participação como integrante da Cia Lunay de Kilma Farias e também como diretora da Lunay PE . Vamos conferir?=D
BLOG:
Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal;como tudo começou para
você?
Já
respondido mais adiante. =)
BLOG:
Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Muita
gente me ensinou muitas coisas; corro até o risco de ser injusta. Bem, Tina
Leiro, minha irmã, Ana Emeralda, Irene, Madureira, Yara Castro, Fabio Rodriguez,
Raul Morales, Deborah Nefussi, Isabel Bayón e Ángel Atienza, com quem fiz aula
em Sevilla. Muitos outros com quem fiz cursos workshops, como Manuel Liñán, Carmen
Talegona, Stefano Domit, isso no flamenco.
No tribal:
Bela Saffe, Kilma Farias, Alê Carvalho e Jill Parker com quem fiz uma imersão e
também tive oportunidade de fazer aulas particulares de tribal e dar aulas
particulares de flamenco no período do MEM 2011 na Argentina. Os workshops que
fiz com a Sharon Kihara, Ariellah e Morgana também me marcaram muito. E mais
recentemente o curso com a Carolena Nericcio e a Megan Gavin no MEM deste ano.
BLOG:
Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
São
muitas e mais uma vez corro o risco de omitir alguém.
Bom no flamenco: Carmen
Amaya, Antonio Gades e Cristina Hoyos foram os primeiros, hoje tem muitos Eva
Yerbabuena, Farruquito, Juan Andrés Maya, Antonio Canales, Domingo e Inmaculada
Ortega, Isabel Bayón, Belén Maya, Rafaela Carrasco, Carmen Talegona. Têm também
os nossos brasileiros que vivem e brilham na Espanha: Yara Castro, Fabio
Rodriguez, Stefano Domit; e os que brilham por aqui, como Deborah Nefussi e Andréa
Guelpa, com quem também fiz aulas e que possibilitou muitos acessos, inclusive,
do nordeste aos workshops internacionais.
No tribal: Fat Chance Belly Dance, Jill Parker, Rachel Brice, Zoe Jakes,
Ariellah, Ashara, Kami Liddle e as minhas professoras Bela Saffe e Kilma Farias. Bem, aqui no Brasil tem muita
gente que me inspira.
BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Disciplina e
coragem.Também me ajudou muito com a minha auto estima, eu me sentia muito feia
na adolescência; muito magra, muito branca, estranha, pescoçuda rsrs.Mas dançando
eu me sentia bela.
BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
Difícil
dizer, tanta coisa...Talvez a possibilidade de expressar coisas indizíveis.É
uma paixão imensa, intensa que tenho pela dança, difícil dizer o que mais
aprecio.
BLOG:O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa
situação?Você acha que o tribal está livre disso?
Acho que
o que prejudica a dança em geral é o preconceito. Eu sempre transitei no meio e
gosto de dança do ventre, inclusive faço aulas pra pegar base pra o tribal, mas
não sou bailarina de dança do ventre, portanto não me sinto com propriedade
para falar disso, pelo menos por enquanto.
BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como
foi isso?
Rsrs eu
já sofri preconceitos na dança. Tipo aquelas coisas: “O que você faz? Dança.
Sim, mas você trabalha em quê?” rsrsrs
BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na
dança?
Sempre há.
Acho que todos passamos por isso e em qualquer área de trabalho. Mas até mesmo
isso pode ser usado a nosso favor. Se soubermos lidar com as dificuldades e as
frustrações, nos tornaríamos mais fortes. Eu sou perfeccionista, portanto, eu
mesma acabo sendo meu carrasco rsrsrs e quem é assim nunca está satisfeito com
aquilo que produz. Isso gera frustrações, mas também tem um lado bom, pois estamos
sempre buscando mais, e isso gera crescimento.
Eu me
indigno sempre com falta de ética. Já tive gente tentando me puxar o tapete mesmo
de forma absurda e violenta até, mas, mesmo com essas pessoas, eu sempre
procurei agir com ética e respeito. Hoje acho que essas pessoas que me fizeram
mal acabaram me ajudando mais do que atrapalhando. Uma vez eu fiz um
agradecimento a todos os que acreditaram em mim e também aos que não
acreditaram, porque esses, sem saber, fizeram despertar em mim uma força que eu
nem sabia que tinha.
BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Nossa muita
coisa...Sou muito grata, muito mesmo, a Deus e a todos, todos os meus
professores ao longo da vida por tudo que aprendi e pelo resultado disso. Eu
fui caminhando, galgando, e foram muitas conquistas, como ser uma das pessoas
que iniciaram o trabalho da EDACE (Escola de Dança Arte e Cultura Espanhola) em
Salvador, na Bahia. Essa escola é dirigida pela minha irmã Tina Leiro e lá aprendi muito com ela, com minhas colegas e com os
profissionais de fora que foram dar cursos lá.
Ter tido
a oportunidade de dançar fora do Brasil, tanto na Espanha com a Edace, como em
Portugal, para onde fui em 2006.Tive a oportunidade de dar aulas em Lisboa e de
integrar o grupo Hijas Del Flamenco,
um trabalho lindo e super sério dirigido pela bailarina Marta Chasqueira. Também integrei o grupo El Camino, do guitarrista Xavier
Llonch, uma pessoa que também me ensinou muito.
Tive
oportunidade de estudar com profissionais maravilhosos do Brasil e de fora,
tanto de tribal quanto flamenco.
Foi
maravilhoso ser convidada pela Kilma
para ir com a Lunay para Buenos Aires
ano passado e ser chamada para integrar a Cia e dirigir o braço pernambucano. Os
convites para dançar e ministrar workshops nos eventos do DSA, no Campo das Tribos,
no Gothla e em Buenos Aires de novo.
Por mais que eu fale aqui, vou esquecer alguma coisa. Acho que tudo isso tem a
ver com seriedade e muito trabalho mas também com as pessoas que me cercam. Me
sinto privilegiada de verdade.
BLOG: Em 2009, você começou seus estudos de tribal fusion através do grupo Kairós, dirigida por Bela Saffe e, posteriormente, integrou a
Cia Aquarius Tribal Fusion(ATF). Como
foi participar de ambos grupos e o que os dois acrescentaram a você de
experiência e em sua dança?
Bom, Bela foi a minha primeira professora de tribal,
ela me ensinou muito, desde a base e foi ela que me incentivou a desenvolver a
fusão flamenca. A Kilma Farias (que
conheci pessoalmente através da Bela e hoje é minha diretora) também me
incentivou a estudar tribal e a trazer a minha experiência com o flamenco para
agregar a esse estudo. A essas duas mulheres, a minha gratidão, meu respeito,
minha admiração. Me sinto muito honrada por tê-las no meu curriculum. Eu sempre
digo que “a culpa”é delas por eu dançar tribal rsrs. Eu não cheguei a integrar o Kairós, não deu tempo, porque logo me
mudei e eu era aluna iniciante de Bela mesmo; ela me pegou sem dançar nadinha de
tribal ou ventre e ainda não era assídua como eu gostaria. Eu estava numa fase
de fundação de um grupo de flamenco em Salvador, o Aires (mais uma conquista), que está lá funcionando com gente linda
bailando, tocando e cantando. Mas ainda assim, tive momentos ótimos de aulas e
experimentações com pessoas do grupo que fizeram toda a diferença pra mim.
Quando me
mudei para Recife há quase 3 anos, procurei a Alê Carvalho, do Aquarius Tribal
Fusion, para fazer aula e um dia fazendo aula ela me convidou para integrar
o grupo. Foi com o Aquarius que subi
no palco pela primeira vez dançando tribal (isso foi em 2010). Aproveito também
para agradecer a Alê e às meninas do Aquarius
por tudo que me ensinaram e pelo muito que contribuíram para meu crescimento.
BLOG: Em 2011 você integrou a Cia
Lunay, dirigida por Kilma Farias(PB).
Como é fazer parte de um dos mais conceituados grupos de tribal do Brasil? Como
você trabalha a Fusão Brasil dentro da sua dança e em conjunto com o grupo?
Nossa...é
muito emocionante MESMO! rsrsrs Sabe você super admirar um trabalho, ver
vídeos, acompanhar de longe antes mesmo de conhecer as pessoas e pouco tempo
depois se ver dentro do grupo? Pois é. É uma honra ser Lunay.
Bom, o
grupo aqui de Pernambuco começou com a ideia de puxar mais para a fusão
flamenca, mas, como temos pessoas com vivênciam de popular no grupo, acabamos
conseguindo trabalhar em cima do tribal Brasil também, fora, lógico, as coisas
que sempre aprendemos com Kilma e a Lunay, da Paraíba. O nosso grupo tem
muita gente talentosa, o que acabou fazendo com que tivéssemos um certo
ecletismo: já criamos coreografia
Burlesca, Flamenco Fusion, Tribal Brasil, Tribal Fusion com inspiração Vintage.Enfim,tenho
imenso orgulho da equipe que tenho:Tamyris
Farias, Danilo Dannti, Daniela Albuquerque e Harumi Fukahori.
BLOG: No mesmo ano você participou do MEM e o Tribalópolis, em 2012, em
Buenos Aires(ARG). Como foi ministrar um workshop internacional? Qual é a
repercussão de levar conhecimento brasileiro para outro país?Qual importância
disso para seu trabalho?Então, é muito bom ter essa oportunidade e
esse reconhecimento, mas também é uma imensa responsabilidade. Deu um frio na
barriga, mas daí fui estudar, me preparar para fazer o melhor possível. Eu
contei e sempre conto muito com a orientação e a experiência da Kilma e isso dá muita segurança. Além
disso, ela faz algo que admiro muito: ela acompanha todos os workshops das
integrantes da Lunay,seja fazendo a
aula, ajudando com os alunos, ajudando no som ou fotografando. Com uma força
dessas, fica mais tranquilo encarar o desafio.
BLOG: Em 2012 formou-se a Cia
Lunay de Pernambuco, sob sua coordenação. Como são os trabalhos
desenvolvidos em conjunto com a Cia Lunay
da Paraíba e como é essa extensão do trabalho realizado pelo grupo original e
com a segunda formação? Há alguma peculiaridade ou característica marcante do
grupo de PE com relação ao da PB? Onde os grupos convergem entre si e em quê
quesito eles têm autonomia) ?
Acho que
já respondi na outra. Bom, a Kilma
confia muito na gente e nos dá total autonomia para trabalhar. Até agora
funcionou mais ou menos assim: a gente se juntou para dançar no Gothla, por exemplo, éramos duas de
Pernambuco e quatro da Paraíba; e eu e Tamyris íamos para João Pessoa ensaiar.
No espetáculo Axial deste ano,
tivemos que ensaiar mais separados, mas dançamos duas coreografias nossas e uma
da Kilma e fomos pra lá fazer o ensaio geral antes do show. Para 2013 estamos
querendo viabilizar para que os grupos trabalhem mais juntos e sob a orientação
também do Guilherme Schulze
(professor doutor da Universidade Federal
da Paraíba), que tem desenvolvido um trabalho lindo com o grupo.
BLOG: Em 2012 você participou da Cia
Dancers South America(DSA), dirigida por
Adriana Bele Fusco. Como surgiu a oportunidade de fazer parte do
DSA ?Comente como foi a
experiência de dançar em grupo tão diversificado em modalidades de dança e em
proporção de projeto? Como foi sua contribuição para o espetáculo de 2012?
Bem, eu
era do Aquarius quando a Kilma
indicou o grupo para o DSA, daí a
Adriana conheceu meu trabalho com flamenco e acabou me chamando para fazer
coisas de flamenco, além do tribal, de forma que minha participação se estendeu
para dançarina de tribal e flamenco; além de eu ter coreografado a parte
flamenca de uma coreografia onde ela mesclava flamenco e dança do ventre.
Então, por causa do flamenco, acabei virando coreógrafa do DSA também e também ministrei uma aula de flamenco voltada para
dançarinos de tribal e ventre no Encontro
Internacional de Tribal e Fusão, em 2011.
BLOG: Além de bailarina de tribal fusion, você também é professora e
bailarina reconhecida de dança Flamenca. Conte-nos como essa experiência
somou-se à dança tribal.
As duas
coisas se somaram. O tribal me deu outra consciência corporal e me fez crescer
como dançarina de flamenco, por outro lado levei para o tribal a influência do
flamenco que perpassa o meu corpo já a uns bons anos, o que acabou se tornando
o meu diferencial.
BLOG: Qual a semelhança entre ambas danças ,tanto na dança quanto na
expressão ou figurino? Qual a importância do flamenco para o tribal fusion?
Você acha que foi mera coincidência terem criado o ATS tendo o flamenco como
uma das bases? Você acha que essa “mistura” foi interessante, alcançando
identidade própria?
A semelhança
é que são danças muito “terra”, mais densas. Há muita semelhança na postura do
tronco e nos braços também. Não sei se foi coincidência ou se teve a ver com o
gosto estético das precursoras, mas, na minha opinião (e não me acho ainda apta
a opinar muito sobre o tribal, preciso ler, estudar mais e mais), as coisas se
cruzam desde lá de trás com os ciganos que tanto influenciaram o flamenco, e
que vieram provavelmente da Índia; e os árabes ficaram 800 anos na Espanha. Portanto,
há uma rede aí, muitos cruzamentos e pontos de contato.
BLOG: Como e quando você descobriu o tribal fusion e porquê se
identificou com esse estilo?Quando começou a praticar o tribal fusion?
Quando eu
estava morando em Lisboa em 2006/2007 tinha uma aluna de flamenco que também
fazia tribal e me falou sobre o estilo e me passou uns vídeos para eu conhecer.
Achei lindo, interessantíssimo, mas eu só fui começar a estudar em 2010, aqui
no Brasil, com Bela Saffe.
BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
A
liberdade. Acho que o tribal fusion está para as danças ditas “étnicas” (entre
muitas aspas porque não concordo com essa designação) como a dança
contemporânea está para o ballet clássico,
o moderno, etc. É possível utilizarmos essas danças (flamenco, dança indiana,
hip hop, dança do ventre) e desconstruir, reconfigurar, transformar...isso não
significa que qualquer coisa seja tribal fusion, é importante que exista
embasamento técnico e critério para que o trabalho seja bem feito, existem
recorrências que permitem identificar algo como tribal fusion, assim como há
recorrências que permitem identificar algo como dança contemporânea; o fato
dessas danças estarem em processo (e espero que nunca se fechem) não significa
que qualquer coisa seja tribal ou contemporâneo. Essa tem sido a minha busca,
mas faz muito pouco tempo que comecei no tribal, espero aprender cada vez mais,
inclusive com os erros.
BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Esta eu
vou responder mais pra a frente rsrs. Eu praticamente acabei de entrar.
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Bom, se
eu fosse dar nome ao que faço no meu trabalho como solista, chamaria de fusão
flamenca.
BLOG: Como você se expressa na dança?
Quando estou dançando me sinto livre e feliz...me sinto plena, embora fique sempre muito nervosa antes de entrar em cena rsrs
BLOG: Quais seus projetos para 2012? E mais futuramente?
Para 2013
pretendo aprender muito, estudar muito tribal e flamenco, continuar nesse rumo
que venho tomando desde 2011 participando dos eventos, aprendendo e
contribuindo com o que aprendi. Pretendo investir no meu estúdio em Recife. E
além disso vamos comemorar dez anos de Cia
Lunay, então, vem coisa boa por aí!!!
BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê?
Os dois. Confesso
que tenho dificuldade para improvisar, tenho medo de ficar repetindo
movimentos, de não estar inspirada na hora, de cair no que é mais cômodo pra
mim, de dar branco rsrsr, enfim. Eu sempre prefiro coreografar porque acho que
fico mais segura, procuro deixar uns espaços para improviso dentro da própria
coreografia, mas realmente costumo coreografar. No entanto, estou buscando
melhorar no improviso, porque considero isso uma lacuna minha. Sempre procuro
ir preenchendo as minhas lacunas para me tornar uma profissional mais completa.
BLOG: Você trabalha somente com dança?
Sim,
trabalho dando aulas, workshops e fazendo shows.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Gente, vamos canalizar as nossas energias para
estudar, produzir, para fazer acontecer, para as discussões saudáveis e para
nos mobilizarmos para que a dança tenha cada vez mais espaço, respeito e
reconhecimento no nosso país. Deixemos de lado as picuinhas e os egos inflados,
pois a arte é muito maior do que isso e nós somos instrumentos dela.