Este acessório tem sido usado
recentemente por muitas na dança Tribal, principalmente no ATS® por
seu charme exótico e porque, vocês hão de concordar, não há nada melhor do que
ter muitas franjas para chacoalhar e evidenciar ainda mais o movimento dos
quadris! Saye Gosha são bordados tradicionais do Usbequistão e norte
do Afeganistão feitos pelos grupos étnicos Lakai e Kungrat, tecidos com
franjas, são decorações muito usadas em yurts – tenda tradicional dos
pastores mongóis e outros povos - e casas na Ásia Central.
Os desenhos do bordado exibem o talento, riqueza e identidade cultural das
mulheres que os fazem e incluem símbolos de suas ascendências e afiliações
tribais. Podem ser compostos apenas pelo bordado no tecido ou ter agregadas
franjas e franjas de tassels e além de serem usados como decoração, muitas
vezes eram usados para fazer as bolsas onde os nômades carregavam toda sorte de
utensílios. No fim do artigo vou deixar um link para quem se interessar em
conhecer o significado dos símbolos dos bordados Lakai.
Usados para embelezar os lares, são colocados junto a outros
tecidos, pendurados em paredes e sobre portas. No Ocidente, também são
colocados sobre sofás ou mantidos como peças de coleção.
Dançarinos tribais usam esta peça em formatos e tamanhos
variados, como xale nos ombros ou quadris ou como franjas para cintos dando um
toque de movimento e cor aos figurinos.
Sobre a Coluna: Nesta coluna, Fairuza falará sobre ritmos e musicalidade nas musicas para tribal Fusion e ATS®, com destaque aos árabes, dando, também, dicas de snujs e desenvolvimento de danças variadas, utilizando essas bases. Sobre a Autora:
Fairuza, filha de árabes, possui 28 anos de carreira consolidada. Bailarina, coreógrafa e professora de dança do ventre, folclore árabe, tribal fusion e FCBD SISTERSTUDIO® lancou seu primeiro de vídeo aula para dança do ventre em 1998. Autora junto com Yasmin Chahoud, do livro "Curso Pratico de dança do ventre" editora Madras. Lançou, também, DVDs didáticos de tribal Fusion. Seu último lançamento foi os SNUJS BY FAIRUZA, snujoes para dança do ventre, tribal e ATS®.
Entrevista: Clique na imagem acima para acessar a entrevista.
Bailarina de ATS®, Dark Fusion e Tribal Fusion. Dez anos de estudo constante em dança do ventre e tribal style. Professora certificada em ATS® e Sister Studio do FatChance Bellydance®, certificada em nivel 1 no UNMATA ITS. Integrante de: 'La Nouvelle Tribal' (Tribal Fusion, Arg) , 'Sabaku Fusion' (Alternative Fusion, EU) e Metamorphose (Dark Fusion Butoh, Arg). Diretora de 'The Monster Project' (Alternative Bellydance) e 'Naja Haje Bellydance' (ATS®, Tribal Fusion, Dark Fusion).
Neste mês em que celebro
mais um ano de vida agraciada por tantas experiências maravilhosas, tenho a
grande oportunidade de escrever sobre o programa que mudou minha relação com a
“Dança” completamente. Tal afirmação pode até parecer um exagero diante da
minha longa caminhada no universo da dança (comecei aos cinco anos com as
minhas sagradas aulas de Ballet Clássico), entretanto, é com entusiasmo que
inicio este relato enfatizando que o programa “The 8 Elements” de Rachel Brice foi uma vivência pessoal transformadora.
Fase 1: A Ignição
Sabe aquela velha frase
que muitos reproduzem por aí, “Nada acontece por acaso”? Atrevo-me a dizer que
os caminhos da vida são sinuosos por um propósito maior e ainda bem que são,
pois agora compreendo que nossos papéis ou nossas contribuições a serem
realizados nela não podem ser negados ou ignorados facilmente em definitivo. E
qual o motivo de eu estar falando sobre isso? Como muitos que já me conhecem há
algum tempo sabem, sempre tive uma conexão grande com a dança e com a arte
desde muito pequena, o meu grande sonho era ser bailarina profissional em uma
companhia de dança no exterior. No entanto, considerando os padrões nutridos
por grande parte do meio da dança e especialmente pelos métodos pedagógicos
utilizados no Brasil, os quais ainda vigoram hoje na maioria das escolas,
cresci lutando contra as ideias de que meu corpo não era ideal para a dança, de
que faltava talento para o estilo Ballet e de que dificilmente eu conseguiria
avançar em uma carreira profissional. A velha frase reproduzida por inúmeros
professores de dança em muitas academias “Você quer a dança, mas será que a
dança te quer?”, retumbava em minha mente e era, então, registrada no meu corpo
(e mais tarde eu ia entender sobre isso...). Tais condições me impulsionaram a
trabalhar sempre um plano B para o meu futuro (tinha medo de não conseguir
condições financeiras mínimas à sobrevivência, o que também é um paradigma
sócio-cultural – “não se pode viver só de arte”). Acho que isso representa uma
realidade compartilhada por muitos dos colegas de nossa área.
Todas estas pressões e valores exercidos em mim
e por mim absorvidos resultaram em um curso de graduação em Artes Cênicas (na
época não existia Dança na UFMG e, como dança é uma arte performática, escolhi
aquele relacionado dentro da área de Artes) e, simultaneamente, um curso de
graduação em Economia (achei que poderia me manter financeiramente assim).
Entretanto, nunca deixei a dança e dancei muito na época da faculdade, não
conseguia diminuir ou eliminá-la em favor de maior dedicação aos estudos. (Juro
que toda esta história vai chegar ao ponto do artigo, este “background” vai facilitar o entendimento de como Rachel Brice e o
The 8 elements transformaram minha forma de pensar, dançar, praticar e me ver a
mim mesma. Só mais um pouquinho de calma e vocês entenderão).
[1]
Para maiores detalhes sobre o programa, descrição das fases que o compõe, lista
dos praticantes e professores e datas dos próximos cursos ver o site http://www.rachelbrice.com/about8elements/
Um pouquinho da dança como bailarina solista da Sesiminas Cia de Dança - Acervo Pessoal
Anos se passaram, e eu
comecei a fazer outros estilos de dança pelo medo de ter que parar de dançar
(pois a velha história de que a vida de bailarina é breve me assustava demais e
já era um valor que eu carregava). Fiz então cursos e mais cursos dos seguintes
estilos: dança do ventre, danças folclóricas e populares brasileiras, dança de
salão, dança contemporânea, jazz, moderno, sapateado. Mas eu ainda não
conseguia me encontrar nestas outras formas, a minha paixão pelo ballet era
imensa e eu não me dedicava do mesmo modo aos outros estilos, por outro lado
também não alcançava um possível “trampolim” para uma vida profissional mais
segura. O final dessa história foi um mestrado e um doutorado em economia, na
esperança de um trabalho que sustentasse meu amor pela arte. É claro que não
deu certo!
Aqui eu chego ao ponto em que meu caminho começa
a se direcionar ao encontro de Rachel Brice. Durante o doutorado em economia
tive a oportunidade de realizar parte de minha pesquisa na Califórnia (EUA) e,
na época em que eu estava me preparando para este período no estado berço do
Tribal, fui introduzida ao trabalho dessa profissional com maior profundidade
pela minha querida professora de Dança do Ventre, Mariana Bracarense (ela
plantou a sementinha da curiosidade em mim e me despertou a vontade de ver de
perto este novo estilo de dança). E foi o que eu fiz! No meio de uma pesquisa
de campo sobre Exclusão Financeira, encontrei uma maneira de ver Rachel Brice de
perto em um evento em Hollywood (na Zulu Lounge). Não consegui fazer um curso,
mas pude presenciar ao vivo a energia dela ao dançar e fui tocada de tal forma
que decidi ali mesmo diante daquela apresentação: Preciso aprender este estilo!
Preciso me expressar através dele! Aquilo
foi a primeira ignição para a vivência The 8 Elements e o que causou também
o surgimento de uma “fã-estudante” (e olha que sempre achei que nunca faria
aquelas ações típicas de fãs: pedir foto, autógrafo... Sempre achei tudo isso
um belo de um exagero. E olhem eu ali
-vejam as fotos e vídeo abaixo-, fazendo exatamente o que nunca pensei
que faria! Nossa!) Incentivada (quase que empurrada, pois sou tímida) por minha
amiga Mariana Gabos (MA) que tinha me acompanhado naquela noite, pedi
singelamente ao gigante segurança à porta do camarim para falar com Rachel
Brice. E para a minha surpresa, ela veio me conhecer (“a fã brasileira”), com
um sorriso estampado no rosto e uma
atitude tão aberta e acolhedora que me deixou simplesmente abobada,
completamente sem fala. Sim, um ser
humano gentil, humilde e que adora pessoas! Ela logo percebeu que eu estava
nervosa e conversou comigo para me deixar mais relaxada, tirou foto, assinou
meu bloquinho de viagens, se apresentou para a MA e mudou minha percepção de
como um profissional de dança com certa fama deve proceder (claro que a postura
totalmente contrária ao que já tinha observado na maioria dos eventos nacionais
de dança, não querendo parecer injusta, mas pontuando uma realidade que deve
ser repensada por todos).
Show no Zulu Lounge em Hollywood, 17 de Junho de 2011 - Acervo Pessoal
Após o episódio de ignição marcante, devido às turbulências e às inconstâncias típicas da vida, passaram-se quase dois anos até eu realmente concretizar minha primeira viagem à Portland, para cursar a fase 1 do The 8 Elements.
Recordo-me do dia em que fiz a minha primeira inscrição vividamente. Após clicar o último passo para garantir a minha vaga, a sensação foi de que uma intensa experiência começava, como uma pequena primeira vitória rumo ao desconhecido caminho do saber: o coração disparado e cheio de expectativas pelo que ainda viria. Encorajo a todos que quiserem tentar uma vaga a persistirem e a “ficarem de olho” na virada dos segundos do relógio para a hora em que as inscrições se iniciam. As vagas são muito disputadas e acabam em uma respiração, mais precisamente em frações de segundos. Pode-se dizer que é o primeiro desafio dessa linda jornada, a vaga para o Initiation, phase I.
Neste momento abro um
pequeno parêntese aqui (juro que vai valer a pena e que está relacionado ao
assunto), citando meu amigo e partner
querido por alguns anos na dança, Humberto Texeira[1],
que em sua série de vídeos “The Grateful Artist” demonstra a importância de se
agradecer àquelas pessoas que aparecem em nossas vidas, exercendo um impacto
profundo e positivo na maneira como pensamos e na forma como nos vemos a nós
mesmos. Um ensinamento também repassado e praticado por Rachel durante as
quatro fases de seu programa, ou seja, o reconhecimento de seus mestres, daqueles
que exerceram e exercem influência sobre nossa evolução enquanto artistas e
pessoas (em suas palavras “it is
important to honor your masters”).
"One looks back with appreciation to the
brilliant teachers, but with gratitude to those who touched our human feelings.
The curriculum is so much necessary raw material, but warmth is the vital
element for the growing plant and for the soul of the child."[2]
-Carl Jung
Deve-se, assim,
destacar a unicidade destes mestres que iluminam os caminhos dos alunos
(conforme a individualidade de cada aprendiz, é claro), que influenciam
positivamente a vida dessas pessoas através de seus ensinamentos, sem a preocupação
de filtrar as informações a fim de evitar uma possível competição no mercado ou
uma ameaça profissional (já que trabalhamos, praticamos e realizamos atividades
na mesma área), que transcendem o ego e que focam nas contribuições do tipo “life
changing” aos seus pupilos. Rachel Brice é uma professora assim, que se doa aos
seus alunos e que se propõe a instigar, a tirar “tudo” dos mesmos (“pull everything out of your students”).
O motivo, então, de eu
abrir este espaço para o agradecimento é por entender, agora, a importância da
minha professora Rachel Brice para meu momento de transição. Acho que de tempos
em tempos todos nós passamos por períodos (que não necessariamente são curtos
em duração) como este que eu ainda estou atravessando, em que a vida nos “coloca
em xeque-mate[3]” e
só há uma opção a se recorrer: realizar aquelas grandes decisões que definem
seu caminho de forma a resultar em sua “contribuição para o mundo”. Dessas
decisões, surgem suas ações evolutivas que configurarão a transformação na sua
maneira de pensar e de se ver a si mesmo. O seu foco muda, a sua dedicação
aumenta, os seus limites são questionados e por você forçados e ampliados. Tal
mudança significa a sua nova caminhada rumo ao conhecimento e à especialização,
preparando-lhe para sua vez de difundir conhecimentos e ajudar o próximo (como
uma corrente do bem). Seria mesmo um despertar, um retirar de venda dos seus
olhos, ampliando seu horizonte e alterando suas ações, que refletirão
positivamente em outros. Para ilustrar isso, cito uma frase de Ralph Nader que
Rachel Brice nos “prega” desde o princípio e até o fim:
“I startthe premise that the function of the leadership is to produce more
leaders and not more follower.” [4]
- Ralph Nade
Não posso afirmar que
foi fácil tomar a decisão de ir à Portland fazer aulas com esta profissional de
destaque. Para mim que sou uma introvertida natural, além de perfeccionista ao
extremo, participar de um programa como o The 8 Elements sem nunca ter feito
propriamente alguma formação prévia no estilo Tribal Fusion Bellydance era ousado demais e, portanto, assustador. Isto
sem contar a minha condição de não proficiente em inglês, o que configura de
certa forma como uma atitude “cara de pau” (pois é um dos pré-requisitos),
talvez uma das únicas que já fiz em toda minha vida. O fator de ignição, entretanto,
foi mais forte e a vontade de aprender era gigante.
A experiência pela qual
o programa te conduz é completamente diferente de tudo que se possa imaginar a
princípio, quero dizer de um ponto de vista externo. Já de início notei uma
grande diferença diante do que se vê no ramo da dança normalmente (em especial
no Brasil), no que se refere ao comprometimento do aluno com o curso, com a
rotina diária de aula (e aqui há uma semelhança com a cultura do Ballet
Clássico). Há a introdução de um novo hábito do estudante de dança: chegar ao
estúdio 30 minutos antes do início da aula com os fins de troca de roupas, de socialização
e de autoconcentração para a aula. Isso é colocado como responsabilidade do
aluno, que pode ou não optar por seguir este novo hábito.
As regras que são
passadas e assinadas em acordo por todos participantes podem parecer um tanto
incômodas e autoritárias demais para alguns. Entretanto, enfatizo que o
aprendizado sobre a responsabilidade e a assunção das consequências de suas
decisões, assim como sobre a disciplina e o foco é um dos muitos pontos altos
desse programa. Rachel Brice e toda equipe 8 Elements projetaram a melhor forma
para garantir que a experiência de cada participante seja vivenciada em
completude, mesmo que seja necessário ensinar sobre regras e atuar segundo elas
frente às ações dos próprios alunos que as contrariam. Literalmente é saber que
os alunos pagaram uma quantia considerável em dinheiro para estar ali e por isso
não permitem que os mesmos “desperdicem” seu próprio investimento monetário.
Mais adiante, com o decorrer das fases, os estudantes entendem que estes são
também aprendizados consistentes a se abraçar, enquanto profissional da dança.
Sim, é difícil vencer como em outras carreiras, mas é possível se houver
organização e foco.
Não é a toa que a fase
1 se chama Initiation (Iniciação). Nela há a introdução de todos os 8 Elementos
a serem estudados e como serão abordados: Técnica, Musicalidade, Vocabulário,
Improvisação, Coreografia/Composição, Prática, Adornos, Performance. Apesar de
saber que há participantes de diversos níveis, desde aqueles que possuem um ano
de dança (pré-requisito) até os mais experientes dançarinos, Rachel Brice nos
pede para assumirmos uma cabeça de um completo iniciante a fim de que nossas
mentes sejam libertas de qualquer “pré-conceito” e ou “pré-julgamento”,
permitindo-nos uma experiência completa e com apreço pelo fortalecimento dos
fundamentos. Nós adotamos o espírito e a postura de quem está principiando o
caminho da dança e ela “faz de conta” que todos nunca dançaram antes, começando
tudo do zero. Dessa forma, aqueles que experimentam esse “começar de um
processo”, podem decidir se retornarão para o seu cultivo e, então, para o seu
ponto clímax, seguido do estudo sobre o “transmitir de conhecimentos”. Dentre
alguns fortes motivos de se realizar tal fase introdutória, pelas palavras
próprias de quem idealizou e concebeu este programa, destaca-se o fato de que “O
8 elements não é um programa para todos os profissionais que buscam este estilo
de dança, Tribal Fusion Bellydance”. E tal afirmação não é uma forma de
descriminação ou arrogância, mas retrata fielmente a singularidade da
metodologia e do conteúdo do mesmo, que não se limita somente à técnica, ao
como se faz isso ou aquilo. O programa te conduz de forma intensa à descoberta
de seu próprio artista e de sua própria voz. Citando a página http://www.rachelbrice.com/about8elements/
:
Os
participantes deste intensivo sairão com uma caixa de ferramentas cheia de
métodos e conceitos para melhorar técnica, estimular criatividade, e começar a
criar danças eficazes e dinâmicas, sejam improvisadas ou coreografadas, solo ou
com outros dançarinos.” (8 Elements team, tradução por Mimi Coelho)[1]
Nesta fase 1, os alunos
são expostos de maneira ainda tímida às diversas e contraditórias emoções que
compõe a construção de um artista. Introduzem-se novos padrões que brigam com
alguns paradigmas antigos sobre habilidades e sucesso. Esclarece-se que há a existência
de predisposições naturais de algumas pessoas para determinadas técnicas, mas
que talento se constrói através do que pode ser chamado por “prática profunda”.
É um turbilhão de primeiras informações sobre um vasto universo, o início da
experimentação do “ampliar de seus próprios limites”, a quebra de velhos
valores que permeam a nossa arte e por isso pode ser doloroso e ao mesmo tempo
gratificante. Pra mim foi assim, o início de um grande aprendizado, de um
processo de transformação. Chorei, desacreditei, acreditei novamente,
enlouqueci e me doei.
Foram dias intensos e a
experiência tribalística em terras estrangeiras estava cada vez mais real e
transformadora. Os vínculos aos poucos iam se formando, as identidades
culturais se entrelaçando e o rito de mulheres unidas em prol de uma mudança de
concepção artística passo a passo ia se fortalecendo. Éramos mulheres
fragmentadas e cheias de dúvidas que assim como as estações iam se descobrindo
e florescendo. A expectativa nessa altura do campeonato era que ao final de
tudo literalmente desabrochássemos. Liberássemos os medos, os julgamentos, as
angústias de um mundo cênico que muitas vezes pode ser tão cruel e apenas
existíssemos na dança como seres de poder e vontade que éramos e somos. Não
havia espaço para timidez, receios ou inconstâncias. Pagamos por um aprendizado
como nunca se viu igual no mundo e deveríamos corresponder da forma correta:
com dedicação e envolvimento.
O universo das mulheres que dançam com Rachel
Brice, naquele setembro de 2013, estava formando a sua própria órbita. Uma nova
turma, várias novas personalidades, um mesmo objetivo. Transcender. A ignição
havia sido dada. A chama interna de cada uma de nós estava flamejante e sendo
alimentada diariamente por doses nada homeopáticas de conhecimento.
Compreendemos ali o que estava por vir e como deveríamos nos comportar como
bailarinas na próxima fase que se iniciaria em breve. Uma entrega “meia-boca”
não tinha espaço naquela sala. Ou você era uma lagarta em busca da ascensão por
inteiro, ou você desistia do sonho e retornava apática ao seu casulo. Para mim
não havia questionamentos: já sentia nas costas o peso das ainda minúsculas
asas. Só me faltava voar. Deixei Portland com aquela sensação de quem acabou de
degustar a última gota do seu sorvete favorito. Mas, o carrinho passaria de
novo, em alguns meses.
[1] Existe
uma entrevista maravilhosa e super recente realizada por LaDibi, em que Rachel
Brice descreve o programa e algumas de
suas próprias impressões. Vale a pena conferir, tempo 16’35” do vídeohttps://www.youtube.com/watch?v=j2h9aEbFgPM.
The 8 Elements Initiation, Phase 1 -Acervo Pessoal
[1] Humberto
Teixeira é bailarino, coreógrafo e professor de dança, hoje residente em New
Jersey . Seus projetos em vídeo podem
ser visualizados em https://www.instagram.com/humbertoloopmaster/
e são uma fonte preciosa de vários ensinamentos, muitos deles praticados e
repassados por Rachel Brice em seu programa. Um fato curioso a se ressaltar é
que apesar de conhecer o Humberto há anos, somente após cursar o The 8 Elements
- e assimilar novas formas de pensar a
dança, de agir como aluna, professora de
dança, bailarina e ser humano -
visualizei seus vídeos que tratam de questões que estudei em Portland.
Fantástica coincidência e afirmação de tudo que acumulei em meu processo de
transformação.
[2] “Um olha
para trás com apreço aos professores brilhantes, mas com gratidão àqueles que
tocaram os nossos sentimentos humanos. O currículo é tanto matéria-prima
necessária, mas o calor é o elemento vital para o crescimento da planta e para
a alma da criança.” (tradução por Mimi Coelho).
[3] No
sentido figurado, xeque mate indica o momento em que alguém está em uma
situação constrangedora, quando recebe um ultimato e deve tomar uma decisão
para seguir um caminho ou perder alguma coisa (dicionário etimológico).
[4] “Eu
começo com a premissa de que a função da liderança é produzir mais líderes e
não mais seguidores” – Ralph Nader (tradução por Mimi Coelho)
Algumas informações disponíveis a respeito da vida de Naima Akef são muito controversas. Em função disso não farei considerações a respeito das datas de nascimento e falecimento e possíveis idades. Abordarei aqui somente temas comuns e de valia para o estudo da dança.
Nasceu em Tanta, no Egito. Sua família era circense e possuía o Circo Akef. Eles viajavam muito fazendo turnês especialmente na Rússia. Por conta disso Naima começou sua carreira muito cedo. Se envolvia em todos os tipos de profissões, jogos acrobáticos e arte circense e se tornou a estrela mais talentosa do circo. Seu pai percebeu seus dons, incentivou e reconheceu seus talentos.
Chegou a cantar e dançar, por algum tempo, no famoso Cabaret de Badia Masabni. Seu talento como cantora e dançarina logo fizeram dela uma das maiores e principais estrelas de lá, mas não permaneceu por muito tempo.
Em 1957, foi nomeada melhor dançarina de folclore do Youth Festival, realizado em Moscou. No Teatro Bolshoi, havia uma foto em sua homenagem.
Naima foi descoberta primeiro pelo diretor Abbas Fawzy que lhe apresentou seu irmão Hessein Fawzy. Ele percebeu o talento dela e lhe deu papel principal pela primeira vez em que Naima aparecia em um filme. Fawzy dirigiu mais de 15 filmes para Naima Akef. O diretor não pôde resistir a seus charmes e a relação de trabalho tornou-se uma relação amorosa. Os dois casaram-se. Naima continuou a florescer e logo se tornou a mais famosa atriz do cinema egípcio. Na’ema Fawzi ingressou em um dos primeiros grupos folclóricos profissionais no país, Lail Ya ayn Group, e contribui muito para o seu sucesso.
Ela foi muito bem sucedida como atriz, era consciente do seu peso, sua forma física, não poupava esforços nos ensaio. Dotada de grande técnica e estilo, suas coreografias encantaram o cinema egípcio com sua arte de canto, atuação e dança. Atuou em aproximadamente 30 filmes. Sua expressiva dança, teve origem nas atuações acrobáticas sobre cavalos. Frequentemente criava suas coreografias mas ficou muito famosa por ser disciplinada e obediente aos seus treinadores.
Seu maior filme talvez tenha sido YaTamr Henna(também o nome de uma música popular), dirigido por seu marido, no qual desempenhou o papel de uma jovem dançarina ghawazee. Dançou também um sapateado em Ya Halawaat Al Hob (1952). Seu primeiro filme em cores foi Amir El Dahaa (1964).
Após ter se separado de Hessein, ela se casou com seu contador e com ele teve um filho que começou mais tarde a trabalhar com música.
Sua graciosa performance nunca era vulgar. Naima cantou, dançou e atuou em diversos filmes, principalmente filmes em preto e branco. A grande Nagwa Fouad denominou Naima Akef sua grande fonte de inspiração. Nagwa usualmente dizia: “Naima se movimenta como mágica”.
A dança de Naima Akef explora oitos seguidos de giros ou redondos grandes, chutinhos, arabesques, pernas altas, cambres trabalho de braços, expressão e grande utilização de espaços com marcações simples porém bonitas de quadril. Sua musicalidade e interpretação dramática são imortais.
Naima faleceu acometida por um câncer. Alguns datam de 23 de abril de 1966, outros de 1996.
Nesta edição do “Desvendando”, a
bailarina gaúcha Luiza Marcon revela o que há por trás da coreografia "Ghiaccio" e o que a inspirou a trabalhar neste enredo.
Eu
tive o imenso prazer de prestigiar esta apresentação ao vivo e confesso que me
emocionei muito!
Preparem os lencinhos, queridos leitores,
porque esta apresentação vem recheada de emoção, sentimento, expressão e
dramaticidade!
Espero que
gostem!
Obs.: Confesso
que estava com saudades do “Desvendando”! E vocês?
Venenum
Saltationes: Quando e
como surgiu a vontade de criar Ghiaccio?
Luiza Marcon: A
vontade de criar algo para essa música surgiu na primeira vez que escutei Akva,
que é a música de abertura do disco Sorni Nai, da banda russa Kauan, quando
este foi lançado em outubro de 2015. Ela me arrebatou desde as primeiras notas,
quando eu ainda sequer sabia sobre o que se tratava, e quando soube, essa
vontade só cresceu. Descobrir que Sorni Nai era um álbum conceitual, que exigiu
muita pesquisa e envolvimento emocional da banda, me fez querer desenvolver
algo especial, a altura do trabalho impecável dos músicos. Desde então, vim
compilando ideias e esperei pelo momento certo de levá-la ao palco.
Venenum Saltationes:
Do que se trata este trabalho? Qual o assunto abordado?
Luiza Marcon:
Ghiaccio é uma alusão ao Incidente do Passo Dyatlov, um caso até hoje não
solucionado, ocorrido em 1959, quando 9 montanhistas russos perderam a vida de
forma misteriosa e trágica, nos Montes Urais. O incidente já foi tema de
diversos livros, filmes e documentários, onde as hipóteses vão de forças
naturais até mesmo ataques alienígenas ou de criaturas selvagens. Assim como
Sorni Nai, Ghiaccio é a história de uma jornada apenas de ida.
Venenum Saltationes:
Existe alguma linguagem oculta por trás de Ghiaccio?
Luiza Marcon:
Não diria oculta, mas muito sentimental. É uma história sem final feliz, logo,
além de se tratar de um enredo triste, que lida com emoções profundas
(sofrimento, desespero e a própria morte), houve também um diálogo com um
período pessoal conturbado, de perdas, mudanças e incertezas. O momento ajudou
a moldar a dança, assim como a dança permitiu que algumas sensações se
libertassem. A magia, neste caso, foi transformar algo trágico em arte e fazer
das próprias dificuldades, um combustível para a expressão e a criação.
Venenum Saltationes:
Com quem Ghiaccio tenta se comunicar? E o que ela quer dizer?
Luiza Marcon: Creio
que essa coreografia conversa com quem busca algo além de movimentos belos e
técnica na dança (coisas que ainda não domino, por ser iniciante), mas também
feeling, entrega e um "porquê" de ser, como quem busca um livro para
conhecer uma história. Também com quem vê beleza nas coisas que a maioria das
pessoas costuma evitar. A tristeza e a morte são condições humanas, naturais, e
ainda assim são um tabu. Negamos nossa humanidade ao rejeitar essas sensações
consideradas ruins.
Assim como os
vitorianos viam sua relação com a morte com beleza, honrando a memória de seus
falecidos com carinho, Ghiaccio foi uma forma de contar um fato trágico através
da graciosidade da dança.
Venenum Saltationes:
Comente sobre os processos de criação de Ghiaccio.
Luiza Marcon: O motor maior para
essa coreografia foi o encantamento pela música e as sensações que ela me
causava. Boa parte dela foi surgindo naturalmente, instintivamente, ao testar
improvisos. Porém, seguindo o objetivo de narrar um fato, percebi que ela
deveria seguir um certo roteiro. E baseada em pesquisas sobre o assunto, dividi
a dança em 3 momentos: a busca, o encontro e a destruição pelo desconhecido. Me
inspirei em fotografias e relatos sobre o incidente para os movimentos,
procurei usar cores que remetem ao gelo e ao frio e aludir às sensações
daquelas pessoas, perdidas em um lugar fascinante e assustador. Tudo ali tem
uma razão e um significado.
Carla Mimi Coelho iniciou seus estudos aos 5 anos de idade no Ballet Cristina Helena e cresceu sob os ensinamentos de Cristina Helena, Pablo Moret, Ofelia Gonzalez e Graça Sales. Ingressou na Companhia de Dança Sesiminas aos 13 anos de idade, onde participou de diversas apresentações e aos 15 anos começou a atuar como solista e solista principal. Dentre as muitas atuações dividiu o palco com grandes nomes da dança, dentre eles Ana Botafogo, Cecília Kerche, Carlinhos de Jesus, Fernando Bujones e muitos outros. Aos 16 anos, passou um curto período em Cuba, estudando e se apresentando também como solista. Durante esta época de sua carreira, Carla foi premiada em múlltiplas competições, incluindo no Festival De Dança de Joinville, o maior festival de dança do Brasil.
Carla também possui experiência com contemporâneo, dança moderna, jazz, dança de salão e dança do ventre, dentre outros. Formou-se em Artes Cênicas pela UFMG. Em adição à sua carreira de bailarina e atriz, Carla possui uma ampla experiência em outras áreas da dança, atuando como professora no Sul da Itália, EUA e Brasil, além de ter trabalhado como coreógrafa e ensaiadora de múltiplos alunos e grupos de dança. Uma das suas maiores paixões é ajudar seus estudantes a alcançarem seus objetivos e a evoluírem em suas carreiras.
Uma das maiores realizações de Carla na dança foi a fundação e a direção artística da Companhia SESC de Dança em Belo Horizonte, uma companhia que inicialmente tinha a ousada proposta de versatilidade de estilos.
Quanto à sua experiência como Tribal Fusion Bellydancer e Contemporary Fusion Bellydancer, após incentivo de sua professora Mariana Bacarense no Studio Brigite Bacha, Carla iniciou sua jornada ingressando no programa 8 Elements of Bellydance de Rachel Brice (de 2013, Fase Initiation, até 2016, fase Transmission – Teacher Training). Ela foi a primeira brasileira a se formar como professora do Datura Style™ e atualmente é a única no país com esta formação.
Ela participou de múltiplos programas e workshops como estudante de dança, os mais recentes são: Dancecraft Format de Zoe Jakes (certificada nas duas fases Key Of Diamonds e Key of Spades, em 2017), Tribal Fusion Intensive with Mardi Love (Jamballah NW, em agosto de 2017), Annual Odissi Dance Intensive Workshop com Colleena Shakti em Berkeley (2017 e em Portland 2018), Carolena Nericcios ATS® General Skills (clássico e moderno) e Teacher Training (em 2018), Ashley Lopez Integrated Dance (parte 1, em 2018, parte 2 em 2019, atualmente em fase de teste para certificação como professora).
Destaca como apresentações muito importantes fora do Brasil: Tribalfest 15 (em 2015) na California; Culmination Showcase no teatro Bodyvox, organizado por Rachel Brice em 2015; Lost in Perceptions com Allegro Dance Company em 2018; Jamballah NW com o trio “Shape of water” em 2018, Beats Antique Show em Portland em 2019, temporada 2018-19 do PDX Contemporary Ballet com o espetáculo “White Dress”;”Procession” com Allegro Dance Company em 2019; “Despicable” dance film de Ashley Lopez em 2019.
Atualmente, faz parte de 3 companhias de dança em Portland, nos EUA: a companhia de fusão experimental de dança do ventre, Variat Dance Collective; a companhia de dança e música ao vivo, inspirada nas danças egípcias, turcas e balcânicas, Baksana Ensemble; a companhia de Ballet contemporâneo, PDX Contemporary Ballet.