Nos dias
03 e 04 de Agosto de 2019 aconteceu a 3ª Edição do Encontro Capixaba de Dança
do Ventre, organizado pelas professoras e bailarinas do Espírito Santo: Aleh
Fassarella , Janine Muzzi, Marcela Gimenez, Natália Piassi, Nathália Antunes e
Kristiny Concha, com o objetivo de divulgar a arte milenar da dança do ventre
para leigos e praticantes.
Flyer 3º Encontro Capixaba de Dança do Ventre
No dia 3,
aconteceu a Noite de Gala e mostra não competitiva, com apresentações de
profissionais, grupos amadores e convidados, no Centro Cultural Sesc Glória,
Vitória/ES.
Vídeo abertura Encontro
Capixaba:
Encontro Capixaba - Kristiny Concha, Nathália Antunes e Natália Piassi
O show
teve o seu diferencial por manter a mostra não competitiva e o show de gala ao
mesmo tempo, trazendo dinamismo, variedade e criatividade para o palco.
O grupo Lua Rubra Tribal estreou seu primeiro trabalho, com a coreografia “Raiz
Ancestral “
Lua Rubra Tribal - Raíz Ancestral
No dia 04,
o encontro promoveu oficinas, avaliações, feira de trajes, acessórios e
palestras.
Oficina de Snujs com Nathalia Antunes
Oficina de véu duplo com Kristiny Concha
Oficina de wings com Janine Muzzi
Oficina de véu com Ameena Haneesh
Oficina de fan véu com Natália Piassi
Oficina de Espada com Aleh Fassarella
Palestra Lua Rubra
Tribal
O grupo
Lua Rubra Tribal esteve entre os convidados com uma palestra, sobre o que é o
tribal fusion, suas raízes e ramificações. Foi feita uma dinâmica para conhecer
a movimentação no corpo e finalizando com uma vivência com as participantes.
Lua Rubra Tribal (Vila Velha-ES) é formado por Sahira Zomerod, KarMir, Aline Yuki e Bruna Benes; foi criado no ano de 2018, seguindo as lunações para formar uma liderança circular. Cada uma representa uma lua: nova, crescente, cheia e minguante, respectivamente.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Lua Rubra Tribal é formado por Sahira Zomerod, KarMir, Aline
Yuki e Bruna Benes.
Foi criado no ano de 2018, no Espírito Santo - ES, seguem as
lunações para formar uma liderança circular. Cada uma representa uma lua: nova,
crescente, cheia e minguante, respectivamente.
Cada uma tem uma linha de estudo independente para trazer
inspiração e variedade para o grupo, alguns professores são Dhani Pitteri (SP),
Renata Violanti (RJ), Giselle Ferreira (ES), Natalia Espinosa (SP), Natália
Piassi (ES), Sarah Belfort (DF), Raisa Latorraca (DF), Joline Andrade (BH),
Shabbanna Dark (DF), Cinthia Haeser (DF), Natália Machado (SP), Mimi Coelho
(BH/EUA), Lukas Oliver (SP), Nathalia Antunes (ES), entre outros grandes nomes
da dança.
Todos sofremos em algum grau com os impactos diversos que a pandemia nos trouxe: da saudade dos palcos e do contato direto com o público e os alunos, até mesmo a uma nova realidade corporal (acima do peso e fora de forma) consequente da súbita parada que nos acometeu.
Todos estávamos no automático, repetindo hábitos e criando vícios, relegando muitas vezes a nossa própria prática e estudo de dança - adaptando a nossa agenda lotada - (saudades rs) ao nível dos nossos alunos, muitas vezes deixando de lado uma rotina de base ou uma reciclagem nos fundamentos... e de repente, nos vimos todos com tempo de sobra, mas com um novo desafio: como manter as atividades minimamente para que não nos prejudicássemos profissionalmente?
A primeira saída foram as aulas online.
Eu mesmo estive envolvido na produção de três cursos online em parceria com a bailarina Krishna Sharana (do sul do país), onde pudemos coreografar remotamente três coreografias usando a linguagem gestual que permeia a todos os estilos de dança clássica indiana. Assim, ainda que tecnicamente o corpo se movimente de acordo com a singularidade de cada estilo (eu no estilo Odissi e ela no estilo Bharatanatyam), estávamos narrando a mesma história com os mesmos gestos.
Os cursos se valiam da riqueza de informações transmitidas para além de um curso puramente técnico de dança, dando oportunidade para que novos entusiastas se aproximassem da prática ainda que até então nunca tivessem tido uma aula de dança numa sala de aula presencialmente.
Ter um conteúdo para oferecer foi certamente o fator determinante para que meu trabalho não fosse engolido pela crise que o ano nos acometeu. Por isso é fundamental dominarmos a dança para além do trabalho corporal, e nos mantermos sempre em contato com os pensadores e produtores de conteúdo.
Ter um diferencial se torna o diferencial.
Pela primeira vez na história vimos diversas escolas na Índia se tornando abertas a alunos em todo mundo pelas plataformas de aulas onlines, workshops, fóruns, e até mesmo lives nas redes sociais. Eu mesmo pude retomar as aulas básicas com a renomada bailarina Smt. Sandhyadipa Khar, reciclando minha base e alguns itens expressivos do repertório.
Sandhyadipa Kar
Além do mais, tenho acompanhado e sugerido aos meus alunos os canais com material gratuito, para que possamos aproveitar a oportunidade dada pela crise e de fato aprendermos mais ainda com as novas possibilidades de troca.
Canal do bailarino Rinku Sahoo (Srjan - Bhubaneswar), trazendo os Basic Steps, o estudo dos movimentos isolados do corpo como narrados no Natya Shastra, além de ensinar itens do repertório tradicional. Super recomendado!!!
Canal da bailarina Tulika Reema, trazendo diversos solos dos itens de repertório, mas com muitas aulas sendo disponibilziadas gratuitamente, fornecendo videos de qualidade para o treino.
Canal da oustanding Bijayni Satpathi (Nrtyagram - Bengaloru) onde ela partilha videos de treinos de alta intensidade, mesclando elementos do yoga e artes marciais ao preparo físico. Além disso, o canal vale uma visita pela beleza, lirismo e vigor de uma das mais proeminentes bailarinas do Odissi na atualidade.
Você domina todos os giros e saltos isoladamente?
Eu particularmente sempre tive giros muito instáveis, e foquei em estudar os oito giros tradicionais registrados no Natya Shastra, além de estudar o contexto em que são melhor aplicados, e obviamente adquirir novas memórias corporais.
Conhece todos os mudras?
Mesmo conhecendo todos eles, o processo em coreografar me levou uma nova forma de observar outros bailarinos em cena - desenvolvendo novas formas de expressão, ampliando o repertório cênico.
Sabe a história das últimas gerações de bailarinas anteriores a nossa?
Aproveitemos a pausa nos dada para focar no nosso estudo, crie uma lista de metas para ir alcançando para você mesma. E certamente quando tudo se normalizar e voltarmos aos palcos e salas de aulas, teremos aproveitado muito melhor essa pausa, e teremos enriquecido nossa arte.
Se você tem interesse em estudar dança clássica indiana (presencial ou online), me procure e vamos nos divertir muito.
Raphael Lopes (São Paulo-SP) é bailarino de dança clássica indiana Odissi e tem levado à dança aos cenários dos Festivais e Encontros nacionais defendendo seu caráter sagrado, conscientizando as novas gerações a buscar um aprofundamento tradicional evitando a macula à essa refinada e sofisticada forma de arte.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Quemnunca ouviu que devemos dançar com o quadril
“encaixado”? Essa é uma orientação muito recorrente nas salas de aulas e
passada de geração em geração. Mas será que devemos mesmo assumir esta postura?
Bom, para começarmos a
entender a respeito disso vamos dar uma passada rápida sobre a coluna
vertebral.
A coluna vertebral é a
estrutura que forma o eixo do corpo, sendo constituída por ossos denominados
vértebras. Entre estas vértebras existem discos de fibrocartilagens que
impedemsobrecargas sobre as mesmas,
absorvendo o aumento da pressão intervertebral e permitindo uma maior
mobilidade da coluna.
A coluna possui 33
vértebras, 04 regiões ( cervical, torácica, lombar e sacro-coccígea) e 04
curvaturas fisiológicas (lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e
cifose sacral).
Como disse acima, as
curvaturas da coluna vertebral são FISIOLÓGICAS, ou seja, elas devem ser
preservadas. A coluna em toda a sua estrutura possui funções como a de
sustentação do tronco (mantém a postura ereta), auxilia na manutenção do
equilíbrio, mantém a flexibilidade das movimentações de tronco e protege a
Medula Espinal.
Tendo essas informações em mente, vamos analisar o “encaixe” e o “desencaixe” de quadril:
Na
primeira imagem, temos a posição neutra, em seguida o desencaixe e por último o
encaixe.
Na cinesiologia, o encaixe
e desencaixe são chamados de retroversão e anteversão pélvicas, respectivamente.
Repare na
sigla “EIAS” ( Espinha ilíaca ântero-superior) na imagem acima. É através dela que
analisamos essas duas movimentações, ou seja, quando a “EIAS” se projeta
anteriormente temos uma anteversão pélvica (desencaixe de quadril) e quando
ocorre o contrário, ela se projeta posteriormente, vemos uma retroversão
pélvica (encaixe de quadril).
Observe em como essa
mudança no posicionamento da “EIAS” interfere diretamente nas curvaturas
fisiológicas da coluna vertebral. Na posição neutra as curvaturas se encontram
preservadas, no desencaixe aumentadas e no encaixe diminuídas.
Quando adotamos a postura
de encaixe para a nossa dança, a coluna (com ênfase na lombar) perde boa parte
de suas curvaturas naturais, o que pode resultar em lesões e distúrbios
musculares como :
- Encurtamento dos músculos
abdominais e glúteos;
- Retificação da coluna
lombar resultando em desequilíbrio/desvio postural;
- Lesões nos ligamentos e
na face anterior articular do quadril por uma rotação externa do fêmur
aumentada;
- Hérnias de disco;
- Lombalgias.
Sabendo-se que
a nossa coluna possui toda uma anatomia que nos disponibiliza recursos para as
nossas movimentações, para o nosso bem estar, porque retiramos todos esses
benefícios naturais e caminhamos no sentido inverso complicando ainda mais a
execução de nossa prática dançante e prejudicando uma das principais e mais
importantes estruturas do nosso corpo? Não faz sentido.
Isso não quer dizer que
devemos abolir o encaixe e desencaixe de nossa dança, masdiferenciar postura de movimento, que são
coisas bem diferentes, é essencial. Encaixe e desencaixe devem estar na
categoria de movimentações assim como todos os outros movimentos que
utilizamos. Falando de postura, devemos adotar a posição neutra, que é natural,
preserva a saúde de toda a estrutura da coluna vertebral e seus benefícios
fornecidos pela mesma.
Como identificar se estou em posição neutra?
Para conseguir identificar em que posição se encontra o quadril, você deve relaxar e tentar“encaixar”, novamente relaxar e agora
“desencaixar” o quadril. Você precisa conseguir “encaixar” sem antes
“desencaixar”e vice e versa. Quando dançamos na postura neutra também temos
como vantagem este maior controle sobre as contrações súbitas para realizar a
anteversão e a retroversão pélvicas.
É importante
questionar as informações que nos são passadas, afim de evitar lesões e
prolongar nossa vida dançante.
Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial
Raissa Medeiros (Belo Horizonte-MG), Graduanda em Fisioterapia, é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora em Dança do Ventre, Fusões Tribais e Danças Comerciais ,sendo o primeiro, desde 2006.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Para inaugurar na coluna
resolvi construir uma resenha descritiva acerca da Fusão Tribal ou estilo
Tribal de Dança do Ventre no estado de Alagoas, contando os fatos principais do
surgimento da nossa dança na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Então, convido
você para conhecer Alagoas para além do paraíso das águas. Convoco para
perceber sensivelmente o modo de organização da cena Tribal Fusion a partir do
ano 2015 até 2018. Desde já, desejo uma boa aventura.
Em 2015, criei um projeto de
extensão universitária intitulado por “Poética da Dança Tribal”, na cidade de Maceió.
Tal projeto gratuito e de natureza experimental, surgiu após a oficina que ministrei de Dança do
Ventre no UniversiDança - Semana Acadêmica do Curso de Licenciatura em Dança,
da Universidade Federal de Alagoas. Como docente efetiva na referida
universidade, vislumbrei a possibilidade de construir um projeto inteiramente
destinado para o ensino-aprendizagem da Dança Tribal. Notei que existia um
enorme interesse por parte dos estudantes, seja pela necessidade de aprender
novas técnicas para o mercado profissional, seja pelo encantamento pelos
figurinos, maquiagens e acessórios. Alguns talvez nem soubessem o que era de
fato o Tribal, afinal não existia aulas do estilo em Alagoas. O único movimento
tribal de dança em todo o estado foi um workshop de ATS ministrado tempos atrás
pela querida Rebeca Piñero, sob organização da professora de Dança do Ventre, a
querida Dilma Tarub. Imaginem só o entusiasmo! Ouvia frequentemente frases
como: “chegou o Tribal em Alagoas”; “finalmente, vou dançar tribal”; “será que
vamos aprender aquele passo de dança do YouTube?”; “como serão as aulas, serão
para sempre não é?”...
De fato, foi um momento efervescente
para a cultura de Alagoas, inclusive para pessoas de outras danças que não
estavam acostumadas com toda a estética da nossa arte. Durante o ano de 2015,
recebi um pouco mais de 20 estudantes entre graduação e técnico de dança, ambos
os cursos da UFAL. Além desse número, acolhi a comunidade em geral uma vez que
é papel da extensão universitária o diálogo afetuoso e o compromisso com o
ambiente não acadêmico. Nesse primeiro ano, três módulos foram desenvolvidos:
bases BellyDance (senti uma necessidade de iniciar por onde fiz a primeira aproximação
com Tribal), Tribal Fusion (bastante focalizado nos meus estudos com a querida dançarina/professora/pesquisadora
Joline Andrade – BA) e por fim, tópicos especiais para os estudos no Tribal
Brasil (ênfase maior no que a turma trazia como repertórios da cultura popular,
pois entendi que Alagoas é um estado repleto de manifestações culturais, sendo
o Coco Alagoano dançado pelos estudantes da rede pública de ensino, por
exemplo). Ao final do ano, a turma apresentou na Sala Preta (Espaço Cultural
UFAL para convidados (docentes do curso e alguns familiares).
Em 2016, resolvi cadastrar o
projeto através da minha lotação na Escola Técnica de Artes/Instituto de
Ciências Humanas e Artes da UFAL. Com a procura, abrir mais uma turma. O
projeto passou a ter duas turmas de 20 pessoas em cada uma delas. Com mais
organização da minha docência e maturidade dos envolvidos, fui inserindo
gradualmente textos acadêmicos do universo da Dança do Ventre e Tribal. Como o
projeto era gratuito, decidi criar estratégias para a boa relação
professora-aluno, principalmente, porque pretendia continuar a desenvolver um
trabalho sólido e vivo dentro de Alagoas. Discussões de temas, frequência das
aulas, diários de bordo, relatório individual, palestras ou oficinas com
convidados locais a respeito de assuntos “complementares” como educação
somática, maquiagem, representatividade do corpo negro nas artes e por aí vai,
foram abordados no projeto. Ao final do ano, organizei o I Encontro de Dança
Tribal ETA/UFAL que estreou com a Mostra Artística no Teatro Jofre Soares /
SESC, Maceió. O evento de três dias consecutivos, contou com a presença da
querida Mestra Kilma Farias, dançarina/professora/pesquisadora, que nos
forneceu com a oficina de Tribal Fusion e Tribal Brasil e, do querido professor
doutor da Universidade Federal da Paraíba,Guilherme Schulze, que ministrou a
oficina de videodança para o Tribal. Além disso, tivemos uma mesa-redonda com
tais profissionais e com a doutoranda em antropologia Juliana Barreto, também
aluna do projeto. Em conformidade com o papel da extensão na UFAL, todo o
evento também foi gratuito. Imaginem só!
Em 2017, o projeto cresceu
ainda mais no que tange ao aspecto ensino-aprendizagem. Focalizei nos conteúdos
dos módulos Tribal Fusion e Tribal Brasileiro, com a inclusão das tarefas
improvisacionais como estratégia de refinamento dos repertórios de movimento e
como lugar do devir pessoal e coletivo. As duas turmas estavam completamente
disponíveis para as investigações, independente dos níveis individuais. Busquei
organizar uma divisão mínima de níveis entre os dois horários apresentados, mas
imediatamente notei que funcionava melhor deixar que cada estudante escolhesse
o horário que lhe cabia confortavelmente. Por exemplo: eu tinha aluno que
entrou em 2017, mas fazia aula na turma que estava desde 2015 e isso não era um
problema, era um desafio. No entanto, a maioria conseguia acessar e permanecer
na turma mais compatível ao seu tempo na Dança Tribal. Percebi que ter um aluno
apreensivo com um horário, não valeria a pena. Portanto, era mais harmonioso
que este estivesse onde o seu aprendizado pudesse fluir, mesmo que mais devagar
em relação aos demais. Foi um ano surpreendente, pois produzimos (não cabia
mais o verbo “produzi”) o II Encontro de Dança Tribal da ETA/UFAL com a
participação das queridas convidadas: Joline Andrade (BA) – Tribal Fusion,
Kilma Farias (PB) – Tribal Brasil e as professoras da UFAL – Kamilla Mesquita –
Ghawazee e Joana Wildhagen – Dança Clássica Indiana. Foram três dias de evento
com palestras, oficinas e mostra artística, sendo esta última, apresentada na
Bienal Internacional do Livro, no Teatro Gustavo Leite, Maceió. Tivemos 65
inscritos no evento de vários estados brasileiros.
Em 2018, buscamos aprimorar
os conteúdos programáticos do ano anterior e refinamos o projeto a fim de
desenvolver o III Encontro de Dança Tribal ETA/UFAL. Consideramos que no
referido ano, deveria existir uma delimitação das ações do projeto, uma
“identidade”. Percebi que o foco principal era garantir uma boa troca de conhecimentos
no âmbito do Tribal, reconfigurando a mostra artística com o peso que ela
deveria ter naquele momento. Abro um parêntese para dizer que considero relevante
a culminância dos processos artísticos na universidade, no entanto o desejo de
contribuir no ensino-aprendizagem (oficinas e palestras) era grande, posto que
temos um número alto de excelentes festivais de dança espalhados no Brasil.
Para tanto, foram convidadas três mulheres pesquisadoras e queridas com
interesses similares aos meus: Professora Doutora Márcia Mignac da Universidade
Federal da Bahia – Processos Criativos e de Improvisação na Dança do Ventre,
Professora Mestra Carla Roanita (BA) – Tribal Fusion e Professora Mestra Camila
Saraiva (BA) – Processos Criativos e de Improvisação na Dança do Ventre. A mesa
de abertura foi composta pelas convidadas palestrantes e pela Pro-Reitora de
Extensão da UFAL, Professora Doutora Joelma Albuquerque, pela Vice-Diretora da
Escola Técnica de Artes Professora Pollyanna Isbelo e Professora Mestra Noemi
Loureiro. Foram três dias de muito diálogo, reflexão
durante as oficinas e engajamento na mostra artística que somou em equilíbrio
no evento.
Termino esta matéria
agradecendo aos alunos do projeto de extensão “Poética da Dança Tribal” e a todos
os profissionais que auxiliaram na construção da trajetória inicial do Tribal
em Alagoas. Hoje, temos uma história a contar. Que venham novas e muitas
outras! Vida longa ao Tribal!
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e
pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola
Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no
Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Ana Clara é dançarina e
pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola
Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no
Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Possui Licenciatura em Educação Física (UESC)
e formação em Dança através de especializações. Coordena a extensão universitária
em Tribal na UFAL. Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal (AL). É estudante de
Bharatanatyam. Contato: anaclaradanca@gmail.com e
seu instagram é @anaclaradanca.
Quando criamos coreografias usando
personagens ou conceitos já existentes, temos certa liberdade de moldá-los e
encaixá-los melhor na nossa linguagem e interpretação.
Vou chamar isso de liberdade
artística, ok?
Devo frisar que estou usando o termo
liberdade artística para a dança, como o termo licença poética é usado para
linguagem (falada, escrita, cantada): no sentido de permitir modificações e
“erros” para inovar, desconstruir ou criticar, desde que o contexto permita
(lembrando que até mesmo para desconstruir ou subverter algo, é necessário
conhecê-lo, e conhecê-lo bem).
No entanto, mesmo cientes da
liberdade que a arte nos dá, é necessário termos responsabilidade com nossas
escolhas e como isso aparecerá em nossa dança.
Eu costumo dizer que o limite da
liberdade artística ao desenvolver um personagem é o bom senso.
Isso pode parecer genérico, e é. Pois
cada pessoa vai ter uma interpretação e estabelecer limites aos quais não
estará disposta a ultrapassar.
Por isso, como citei no texto
anterior, é necessário pesquisar bastante antes de criar uma coreografia
baseada em uma figura já existente, seja ela mitológica, histórica ou até mesmo
da cultura pop.
Existem características chaves, pelas
quais tais figuras são facilmente reconhecidas, características que formam sua
personalidade. E estas devem ser mantidas.
E há o espaço para criar, se
expressar, subverter e inovar.
Você pode dar uma roupagem moderna a
Anúbis, por exemplo. Usando figurinos e movimentos urbanos. Mas é importante
que ainda assim, ele seja reconhecível. Ele é um deus ligado à morte, à
mumificação e ao julgamento dos mortos. E isso deve ser mantido, seja nos
detalhes do figurino, nos movimentos e na expressão. Mas você não precisa usar uma cabeça
de chacal, ou trajes “egípcios”. Não precisa ser caricato ou estereotipado.
O deus Anúbis, na série Deuses Americanos. Uma interpretação
atual que manteve as principais características dele: a ligação do deus com a
morte, pois ele trabalha em uma funerária, e ainda é seu papel de pesar o
coração dos mortos e determinar seu destino.
É possível reinterpretar mitos e
criaturas, fazendo-os conversar com o presente, desde que eles não sejam
descaracterizados.
E como fazer isso sem deixar caricato?
Eu vou dar algumas dicas, baseadas em
experiências que tive na criação e desenvolvimento de personagens para as
coreografias do grupo do qual faço parte, o Asgard Tribal Co., dirigido pela
minha professora Aerith Asgard, e codirigido pela Rossana Mirabal e por mim. E
também vendo apresentações de outros grupos e bailarinas e bailarinos que
desenvolveram um trabalho primoroso.
Nós gostamos muito de trabalhar com
personagens, e para encaixá-los nas nossas propostas de coreografia,
pesquisamos a fundo, buscando as principais características que serviram ao
nosso propósito sem descaracterizá-los.
Vamos lá!
Depois de escolher a personagem e
fazer uma boa pesquisa sobre ele (eu vou bater MUITO nessa tecla da pesquisa):
primeira
coisa a se fazer é se perguntar: por que eu quero fazer essa figura? O que eu
quero dançar sobre ela?
escolha uma ou duas
características principais com as quais você gostaria de trabalhar na
dança. Pode até ser mais, mas quanto mais aspectos você tentar inserir,
mais chance tem de ficar bagunçado.
busque referências à essa
personagem em diversos lugares. Além dos livros de mitologia, você pode
pesquisar outras fontes históricas e arqueológicas, como imagens, canções
e poesias dedicadas à essa figura. Músicas que falam sobre ela, filmes,
produções literárias, quadrinhos e o que mais você encontrar.
use posturas, movimentos e
expressões que tenham a ver com a personalidade da figura a ser
trabalhada.
escolha símbolos, cores,
acessórios coerentes com as características que você quer evidenciar.
Mescle isso com os elementos dos quais você gosta e se identifica.
cuidado na escolha da música.
Independente do estilo, ela precisa conversar com a personagem que você
irá interpretar.
Não subestime seu público. Não
seja literal, isso deixará sua apresentação caricata. Use sua imaginação e
siga seus instintos.
Lembrando que essas são apenas dicas
e sugestões. De forma alguma quero criar um manual de regras.
Abaixo coloquei algumas coreografias
nas quais as interpretações de personagens
que considero muito bem executadas:
A maravilhosa Ebony interpretando a
queridíssima princesa Shuri, de Wakanda. Figurino no ponto, a música e os movimentos combinando ancestralidade e modernidade, trouxeram a personalidade carismática de Shuri e representaram Wakanda.
Irina Akulenko, com sua coreografia
“The Call of The Amazon Warrior”. O figurino simples foi muito bem composto, pois os tecidos, o corte e as cores evocam a ideia da guerreira amazona. Além disso a expressão corporal e facial, os movimentos e as posturas trazem todo o porte e a força da guerreira representada.
Edenia e sua interpretação matadora
de Pennywise, do clássico do terror, IT. O figurino e a maquiagem muito bem construídos, lembrando o personagem, mas sem se tornar uma caricatura. A mudança na atmosfera da música e dos movimentos trazem a quebra de expectativa comum às obras de horror. A bailarina também referenciou movimentos do personagem no filme sem abusar desse elemento.
E para finalizar, o grupo Shaman
Tribal Co. com sua icônica coreografia “Carcará”. A harmonia entre movimentos e música é incrível. Sabemos que se trata de um pássaro, e um pássaro brasileiro. O grupo usa movimentos que lembram o bater de asa, o andar e o movimento da cabeça do carcará aliados aos movimentos do Estilo Tribal Brasileiro. Tudo isso junto ao figurino e à maquiagem resultou em uma apresentação impactante e celebrada.
Vimos então personagens mitológicos,
da cultura pop e até mesmo animais, cujas características transbordam na dança,
na expressão e na escolha das músicas.
É nítido o trabalho de pesquisa e o
cuidado com as referências usadas pelas bailarinas.
A dança nos dá autonomia para
fazermos o que quisermos. Mas isso não significa que temos que fazer de
qualquer jeito.
Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>