Ubuntu Tribal com Gabriela Miranda


Ubuntu Tribal
Gabriela Miranda, Tramandaí-RS, Brasil

Sobre a Coluna:

Ubuntu significa "sou o que sou graças ao que somos todos nós". Nesse coluna falaremos sobre atualidades do meio Tribal e também sobre o desenvolvimento do estilo como um todo, além de transitar por assuntos diversos que possam acrescentar algo à nossa experiência pessoal, contudo sempre mantendo como foco a sororidade e espírito de coletividade inerentes às danças tribais, partindo do princípio de que não existe Tribal sem TRIBO.


Sobre a Autora:


Gabriela Miranda é bailarina, professora, coreógrafa, figurinista, tradutora e produtora de eventos que abrangem a Dança do Ventre, Tribal Fusion, Dark Fusion e American Tribal Style® - ATS®.  É professora de dança desde 2004, tendo estudado Dança do Ventre desde 1999. Estuda e pesquisa o Estilo Tribal desde 2005 tendo estudado com diversas professoras internacionais e nacionais. Seu foco atual inclui também a Dança Contemporânea e o estudo e prática da Hatha Yoga. Gabriela é professora certificada de ATS® Sister Studio FCBD®, estando registrada no site oficial www.fcbd.com/sister-studios-listings. É diretora artística da Cia DSA – Dancers South America e colunista da Revista Shimmie. Dirige junto com Yoli Mendez o projeto Sis Tribal, grupo de ATS® que, além das duas, inclui suas alunas e parcerias com amigas bailarinas de diversos lugares. Juntas, Gabriela e Yoli criaram em 2010 a marca Tribal Skin, que começou como um Ateliê de figurinos, tornou-se produtora de eventos de dança e, recentemente, um estúdio no sul do Brasil. Formou, com seu próprio método e didática, diversas professoras e profissionais atuantes no mercado atual, tanto de Dança do Ventre como do Estilo Tribal, em diversas localidades do Brasil, sendo também uma das referências nacionais em Dark Fusion.


[Vida com Yoga] Yoga no Palco

participação de Melissa Souza

Hoje temos uma colunista convidada, a Melissa Souza, trazendo um assunto muito interessante: a importância das práticas de Yoga para as bailarinas. Isso me lembra o que meu Swami disse uma vez durante a aula, sobre algumas posições partirem da dança antiga tradicional Indiana. Tudo está interligado! Aproveitem o texto.

Vemos muitas bailarinas de Tribal praticarem Yoga, mas você sabe por quê?

A Yoga é uma prática milenar que tem como objetivo recuperar o equilíbrio entre o corpo e a mente através de técnicas corporais e de concentração, como exercícios de respiração, métodos de relaxamento e meditação, por isso o incentivo à sua prática fora da sala de aula e a inclusão de suas técnicas nos exercícios de aquecimento e relaxamento são muito importantes.

Se você deseja aprimorar sua técnica, a sinuosidade dos movimentos e sua capacidade de equilíbrio e concentração, incluir as práticas de Yoga em sua rotina é fundamental. Os exercícios não se limitam somente em trabalhar posturas, mas também visa uma alimentação saudável e ensinamentos sobre comportamento, tudo para favorecer sua relação com seu mundo interior e exterior.

Além da prática de Yoga, também é comum ver asanas no repertório coreográfico das tribaldancers, e a grande responsável por essa inclusão foi Rachel Brice. A Yoga está sempre presente na didática e na performance da dançarina. Se você não puder assinar o Datura Online, fica a dica para adquirir o DVD didático Serpentine, onde Rachel traz programas de Yoga bem estruturados para aquecimento, fortalecimento e relaxamento dos músculos, referindo-se aos nomes sânscritos de todas as posturas.

Aqui, trarei apenas dois para você praticar e incluir no seu repertório: Natarajasana e Kapotasana.

Kapotasana



O nome vem do sânscrito kapota e asana, que significa "pombo" e "postura" respectivamente, logo: a "postura do pombo". Kapotasana é um asana que ajuda a abrir o peito, fortalece as costas e virilha, aumenta a flexibilidade dos quadris e alonga os músculos das coxas.

Natarajasana


O nome vem do sânscritos "nata", "raja" e "asana", que significa "dançarina", "rei" e "postura" respectivamente, logo: postura da dançarina. Nataraja é um dos nomes dados ao deus hindu Shiva em sua manifestação enquanto dançarina cósmica. Este é um asana de equilíbrio que fortalece a musculatura das pernas, quadris e coluna vertebral e exige bastante concentração.

Assim como todas as poses de Yoga, não existe pressa para a execução. A prática engloba todo o processo de preparação, tempo de permanência da pose e o modo como você sai dela também. Você tem que respeitar os limites do seu corpo. Existem uma série de variações das posturas que você pode praticar, de acordo com seu nível de instrução, até conseguir alcançar um asana.


Algumas performances para se inspirar:

Glide Trio



Rachel Brice



Moria Chapell








[Organizando a Tribo] Release Artístico

por Melissa Souza

“A dança não fala sobre nada, ela se refere a alguma coisa.” 
Marcela Benvegnu

Muitas empreendedoras na dança iniciam sua carreira sem ter conhecimento do conceito de release e, ao se deparar com uma ocasião que o solicite, se veem um tanto desorientadas. No caso das bailarinas, professoras e coreógrafas, essa ocasião pode ocorrer no processo de inscrição num concurso ou mostra de dança. E quando se trata de organizadoras de eventos, o release é de suma importância para um crítico ou jornalista escrever uma resenha e para disparar aos veículos de mídia que tem interesse em divulgar a peça. Mas o que é, afinal, um release e como escrevê-lo?

O release nada mais é que uma apresentação da sua obra que introduza o público interessado a respeito da peça exibida. Pode ser redigido antes, durante ou depois da produção e deve conter informações detalhadas sobre a mesma, justificando seu propósito. Fazemos essa listagem inconscientemente durante um processo de criação, só que nem sempre colocamos em palavras. Todavia, escrever um bom release é uma das coisas que diferencia um profissional de um amador.

Lidamos com este tipo de texto todos os dias, apenas não o notamos. Ele está presente na apresentação de um álbum musical com detalhes sobre o cantor, compositor e ano da produção; no anúncio de um filme com a citação do diretor, atores e sinopse da obra; no lançamento de um livro; numa peça de teatro, ao recebermos aquele folhetinho; naquela pequena legenda abaixo da obra de arte, com título e descrição da técnica utilizada, entre inúmeros outros exemplos. Muitas vezes, ao prestigiarmos um espetáculo de dança, o locutor se dá ao trabalho de lê-lo para situar o público do que será apresentado, mas não é obrigatório que essas informações sejam expostas.

O Release Coreográfico

Afinal, qual o tabu do release e porque a escrita do mesmo muitas vezes assombra a (o) coreógrafa (o)? No processo de escrita, muitos se perguntam: A quem nos referimos? Escrever sobre o que? Como traduzir a intenção nas palavras?
O segredo está em organizar as suas ideias. Todo processo de criação tem um propósito. Ainda que você não perceba, isso acontece quando seu corpo responde à música, quando você pensa no figurino... Por que essa música? Por que esse figurino? Por que essa escolha de movimentos? Qual o tom que você busca para essa performance? O papel do release é contar o que é a sua dança.
Cada coreógrafa (o) tem a sua própria maneira de trabalhar, de organizar seus pensamentos, e é sobre este pensamento que deve ser o release.  A dica é escrever tudo o que vier em sua cabeça durante o processo de composição e depois estruturar o texto, tornando-o claro e coeso, sem se esquecer de informações básicas como título, gênero, tempo de duração, composição do figurino, créditos pela música, entre outros.


Legenda:

“A dança está sendo mostrada para você. Feche os olhos e veja. Confie no que você vê e muito mais será revelado.” (tradução livre). Publicação de April Rose em sua página do Facebook. No status: “Não faça dança, descubra-a.”.


[Retalhos de uma História] Badia Masabni

por Ju Najlah


Badia Masabni, a madrinha da dança oriental, nasceu no Líbano (que na época era parte da Síria) e mudou-se para o Egito no início do século XX, onde estabeleceu-se. Alguns anos mais tarde, em 1926, ela abriu o primeiro music hall egípcio, no Cairo – um centro cultural da época. Badia nomeava o seu cabaré "Opera Casino" (que era o nome oficial), mas ele também era conhecido como "Badia's Casino" ou "Madame Badia's Cabaret". A boate oferecia uma variedade de entretenimento como cantores, bailarinas e comediantes. Lá estiveram atuando grandes estrelas, entre elas Naima Akef , Taheya Carioca e Sâmia Gamal, que eram treinadas pela própria Badia, tendo as duas ultimas se tornado as dançarinas mais famosas, extraordinárias, influentes e inovadoras do meio do século XX. Trabalhava com uma equipe completa composta de músicos, tais como Farid El Atrashe e Mohamed Abdul Wahab. Este cassino foi frequentado por intelectuais egípcios e pela aristocracia nacional e estrangeira da época.

O casino de Badia foi modelado de acordo com os cabarés europeus, a fim de atrair tanto o público do Oriente Médio quanto o da Europa, que visitava o Egito cada vez mais. Seu Casino começou de fato a apelar para uma variedade de públicos provenientes de todo o mundo. Foi mais do que um simples cabaré, foi a sede social mais popular do Cairo. Comediantes como o Sírio Naguib al-Rihani tiveram sua passagem no Badia's. Rihani, cujo apelido era ‘Kesh-Kesh Bey’ tornou-se marido de Badia. Foi seu único casamento e durou por longo tempo.

Durante a década de 1940 o Badia's Casino fez história mundial, no período da Segunda Guerra Mundial, quando a máquina de propaganda de Hitler achou necessário atacar Madame Badia acusando-a de ser uma traidora, uma perigosa espiã britânica e uma agente secreta. Era do conhecimento geral que o filho de Churchill e do Duque de Gloucester tinham estado no seu cassino.

Uma das maiores contribuições que ela fez a dança oriental foi inovar a dança fora das tradições de chaabi ou dança popular. Antes, por exemplo, a dançarina tinha um repertório limitado de movimentos de braço, então Badia teve a ideia de explorá-los para os lados, de elevá-los acima da cabeça, usando gestos mais fluentemente, o que mais tarde ficou conhecido como braços de serpente. Ela influenciava não só a forma como os bailarinos mexiam seus braços, mas também a forma de utilização do espaço do palco. As ghawazee e almeeh dançavam quase exclusivamente em um determinado local. Agora, as bailarinas eram obrigadas a usar todo o palco, que era maior do que o que estavam acostumadas. Badia Masabni foi pioneira na utilização de coreografias. Como o público, ao ver a bailarina de costas não podia ver perfeitamente os belos movimentos, adereços como o véu foram incorporados ao baile show. Talvez ela tenha sido inspirada por uma mostra de Isadora Duncan (1877-1927) em Paris. O véu teve mais efeito na apresentação para um público distante. Badia Massabni foi a grande responsável pela primeira fusão do ballet com a dança do ventre, dando origem ao estilo hoje conhecido no Ocidente, além de tornar clássico o uso da roupa bustiê/cinturão que também é chamado de figurino hollywoodiano. De fato, a utilização de véus e dos trajes de duas peças foram inspirados pelas produções cinematográficas Hollywoodianas, como muitos cartazes de filmes podem comprovar. Foi lá também que surgiram os primeiros grandes nomes da dança, como Samia Gamal e Tahia Carioca.

Além disso, outra grande ideia de madame Masabni foi adicionar músicos clássicos formados para a linha tradicional de riqq, derboukka e ney ou zurna. O taqsim ou improvisação musical alterou o ritmo linear do maqsoum ou baladi. Takasim foram feitas no chamado tsifteteli ou Wahda al Tawila ou de outra forma sobre os Masmoudi, uma batida baladi lenta. O ritmo tsifteteli era de fato típico, mas não egípcio Oriental – o ritmo viajou ao longo do caminho da seda da Ásia Central para a Turquia e Grécia, na época do império Otomano. Em função da velocidade mais lenta do tsifteteli, outros instrumentos poderiam estar mais presentes durante as partes de improvisação. Além da linha de percussão da orquestra se incluíam alguns violinos extras, um violoncelo, oud e acordeão. As composições tornaram-se mais complexas e os movimentos tiveram que acompanhar. Arranjos musicais alterados pela improvisação inspiraram a dançarina a fazer um show que agradou tanto o público ocidental quanto oriental. Agora, todos estes elementos juntos começaram a dar forma ao que ficou então conhecido como Raks Sharki[1]. Badia de fato mudou o cenário da dança egípcia, com a criação desse novo estilo de dança, usando coreógrafos ocidentais. Ela também introduziu um coral de 30 bailarinas.

Adorava fazer relações públicas. Certa noite, Badía vendeu o cassino, obteve um passaporte falso foi para sua terra natal, Líbano. Devia impostos ao governo egípcio. Morreu em Beirute em 1975 e o Egito todo a recorda com carinho. Com Badia formou-se toda a geração de bailarinas egípcias.




[1] O nome dança do ventre veio a partir do século IX, por viajantes franceses que assistiram aqueles estranhos movimentos de quadril das ghawazee e o descreveram em suas histórias de viagens como "danse du ventre" ou dança do ventre. Naquele tempo – antes de 1900 – esse foi o nome dado a dança, mas como temos visto, a descrição se tornou logo a limitação.



Vídeos:








[Perdido na Tradução] Episódio 7: "Ode ao Brasil: A Cidade Maravilhosa que me ensinou a viver de novo"

por Raphaella Peting







Como o meu tempo no Brasil chega ao fim, é com o coração partido que eu começo a primeira frase do meu último artigo para esta série. Após 4 anos nesta cidade maravilhosa que eu tenho chamado "casa", estou admirada com o quanto minha vida mudou. O propósito das contínuas lutas, torções e voltas que eu encontrei na minha tentativa de assimilar essa cultura tão diferente da minha própria se revelou. O resultado é uma compreensão profunda, doce-amarga sensação de satisfação e de preparação para o que vier em frente.

Finalmente, posso ver a imagem completa. É como se eu estivesse em uma galeria de arte, olhando para uma pintura pontilhista. Quando alguém fica perto da pintura, tudo o que ele ou ela percebe é uma vasta gama de pontos coloridos. No entanto, se você se mover mais para trás, toda a cena é revelada.

Para mim, o Brasil não é apenas um lugar de majestosa maravilha. É um farol de revitalização e tranquilidade que, juntamente com o seu povo, transformou a mim  e a percepção do que eu pensava que era; não só como uma dançarina, mas também a respeito à minha própria auto-consciência e valor como ser humano.

Eu tenho uma grande dívida com muitas pessoas que conheci ao longo do caminho em minhas aventuras aqui.  Sua paixão pela vida é genuíno, cuidar da natureza me transformou e despertou meu espírito de maneiras que eu nunca pensei que fosse possível. E, como tal, agora tenho um melhor entendimento do que significa abraçar verdadeiramente a vida. O interessante é que, até aquele momento, eu não era nenhuma mais sábia. Como diz o provérbio, "Você não sabe o que está perdendo até encontrá-lo", tá?

Como tantos de nós, até estes dias, eu tinha sido pré-condicionada a me definir baseada unicamente na qualidade do meu trabalho. Eu tinha inadvertidamente permitido a medida do meu sucesso através de elogios profissionais, como comentários positivos de composições de dança, prêmios e reconhecimento para vários artigos de notícias e discursos, etc. para segurar mais relevância sobre o meu valor como ser humano contra as qualidades intrínsecas que realmente importam. O fato sedutor é que até a minha mudança para o Brasil, eu tinha sido completamente impedida  de forma emocional e inconsciente, infligindo a mim por tantos anos.

Como a maioria dos americanos, eu estava completamente imerso no meu trabalho, levantando minha cabeça apenas para comer e planejar mais projetos. A coisa é, quando você tem sua cabeça para baixo por tanto tempo, você não percebe que você está olhando para o chão. Estamos tão acostumados a olhar para o que está na frente de nós que desenvolvemos um tipo de "vício ao trabalho"  como se fosse uma visão de túnel. Não é até que todas as distrações se forem que percebemos que não estão realmente vivendo... apenas existindo.

É um fato que se tornou mais evidente com a nossa crescente dependência diária em dispositivos eletrônicos móveis. Como uma sociedade, nós nos tornamos viciados ao nossos iPhones, laptops e iPads; vivendo através essas peças baratas de plástico em vez de nós mesmos. É tomar o comportamento já prejudicial do "vício ao trabalho" com uma visão de túnel para novas profundidades e, posteriormente, diminuir a nossa auto-estima, menosprezando as nossas vidas ao ponto onde se ninguém dava o "like" lá no Facebook, não aconteceriam. É um comportamento tóxico que tem espalhado a uma velocidade alarmante e precisamos acordar antes que seja tarde demais.

Depois de sair da capital de ruído branco do mundo (conhecida como EUA), era hora de despir a falsa sensação de segurança de reconhecimento dos colegas e elogios cobiçados que eu tinha trabalhado tão duro para conseguir e dar uma boa olhada em que foi deixado. Este não foi um processo fácil, por qualquer meio.

Imagine que você está encalhado abruptamente em uma ilha deserta. Não há nada e ninguém por perto para te assegurar que "Tudo vai ficar bem." Porque você não tem mais ninguém em quem confiar além de você mesmo, toda a sua força deve vir de dentro. É tão importante para perceber a beleza de seu valor intrínseco; para encontrar essas qualidades e permitir-lhes a subir para a superfície. Você deve reconhecer o quão valioso você é; que sua vida significa algo fora do que você faz... um propósito além da dança do ventre.

O que é tão admirável sobre as dançarinas que conheci no Brasil é o nível de orgulho que elas têm em quem elas são. Todas e cada uma delas são tão simultaneamente apaixonadas e poderosas quando dançam. Para as mulheres em particular, mantêm um sentido adicional de feminilidade delicada que corresponde surpreendentemente o alto nivel de intensidade em sua dança, como Darah Hamad e Natália Piassi, entre outras. Digo "surpreendentemente" porque nós normalmente associamos a palavra "feminilidade" com traços mais dóceis.

Isto foi muito inspirador para mim por causa da minha falta de feminilidade; é algo que eu esforçava por muitos anos; mais em conta a sensibilidade e demonstrações de emoção. É uma característica minha que pessoas próximas a mim sempre comentam, me dando o pequeno apelido divertido "Robô".

Não é que eu associava demonstrações de emoção a ser fraca. É só que eu tenho uma resposta automática para me parar quando eu sinto que estou prestes a chorar ou lançar-me de qualquer maneira. Ao longo dos anos, eu ensinei-me a "guardá-lo para a pista de dança".  Compartilhar os meus sentimentos parecia bastante conveniente no momento (menos dores de cabeça e estômago). No entanto, como a maioria dos profissionais de saúde mental lhe dirá, ele pode ser extremamente danoso para a sua saúde psicológica.

Mas eu não podia desistir. Era uma habilidade que eu domino desde a infância, por isso era (e ainda é) um hábito difícil de quebrar. Quando você passar a maior parte de sua infância e adolescência em violência doméstica e abuso, esse mau hábito de compartilhar torna-se uma ferramenta necessária para a sobrevivência.

No espírito da consciênciada saúde mental e violência doméstica, eu vou compartilhar com vocês uma faceta da minha vida que eu lutei para esconder durante a maioria da minha existência. Um passado infeliz que continua a me assombrar até hoje, resultando em uma condição lamentável que pode fazer as tarefas da vida diária de uma luta, às vezes.

Eu sofri de uma condição grave de Desordem de Ansiedade Social e leve Pós Transtorno de Estresse Traumático, conhecido em Inglês como Post Traumatic Stress Disorder ou PTSD. Esta condição foi parcialmente desenvolvida pelo ambiente traumático e perigoso em que eu morava a partir do momento em que nasci até os 16. É uma vida que eu não desejo a ninguém, cheia de ataques de pânico que são tão intensos que parece que você está tendo um ataque cardíaco;uma ansiedade tão intensa que você fisicamente não pode deixar o seu apartamento por dias, terrores noturnos, insônia, etc. É cansativo e incrivelmente frustrante porque 9 vezes em 10, não há nada pode fazer sobre isso, exceto esperar até que o ataque termine. Imagine ter que viver com isso. Agora imagine você própria como uma performer e professora sofrendo com esta condição diariamente. Não é divertido. Minha única graça é a dança do ventre, e agradeço a Deus todos os dias por esta bênção.

No momento em que tocar a música e começar a me mover, tudo  simplesmente desaparece.  Esta forma de arte bonita salvou minha vida. E por causa disso, eu sou capaz de funcionar. Interligados entre a música e a energia doce do movimento, é que estou viva; imersa em um sentimento de alívio e revitalização que só poderia ser descrita como um estado meditativo. Estou ligada ao universo. Eu sou capaz de deixar ir, de focar, sentir alegria. Esse é o meu remédio. Essa é a minha graça salvadora. Essa é como eu sou capaz de prosperar.

Apenas alguns anos atrás, não teria tido nenhuma maneira que eu teria sido capaz de compartilhar essa parte da minha vida. A razão de eu poder compartilhar isso agora é devido à coragem e força demonstrada por duas brasileiras em particular que têm liderado e inspirando-me a ser aberta sobre a minha história, como Helena Marinho e Natália Espinosa. Ambas têm sido muito abertas sobre suas próprias lutas pessoais de ser uma dançarina com Síndrome de Asperger. Embora nós estamos lutando batalhas diferentes, os seus esforços inspiradores em aumentar a consciência de Asperger me deu a coragem de falar para os artistas lutando com estes tipos de desordens, removendo estigma associado às problemas de saúde mental.



Pense nisso. Você não teria vergonha de um diabético tomar a sua insulina. Mas se alguém tem uma doença que os obriga a tomar medicação para aumentar o seu nível de serotonina, de repente, essa pessoa é "louca". Bem, eu sinto muito, mas isso é completa e absoluta besteira! Para aqueles de vocês que sofrem de desordens de ansiedade, depressão, Síndrome de Asperger ou quaisquer outras condições relacionadas com a saúde mental, por favor, saibam que não há vergonha nisso e que você não está sozinho.

É interessante. Quando eu cheguei aqui, eu estava tão intimidada por este lugar e suas espalhafatosas e carismáticas pessoas. Mas agora, eu não poderia imaginar minha vida sem elas.  Bem, eu acho que eu poderia... mas eu não quero. Elas me ajudaram a me tornar uma pessoa mais delicada e esperançosa.

As minhas experiências aqui no Brasil tiveram um efeito profundo sobre o meu senso de improvisação e técnica, injetando a minha dança com tal fervor e sentimento que eu tenho sido capaz de levá-la a um nível completamente novo. Descobri que eu sou capaz de coexistir com certas dinâmicas em minha prática de dança que antes estavam fora do alcance, interagindo com o nível de energia, em vez de permitir que ela simplesmente assuma. Onde, se antes minha relação com a improvisação poderia ser classificada como mais de um estado possessivo, agora ela tinha a transição para um processo meditativo e dinâmico.

Essas transformações vão além das qualidades carismáticas do aspecto de desempenho que eu aprendi com as dançarinas apaixonadas aqui. Apesar de que é uma peça extremamente importante do quebra cabeça, é algo muito mais profundo. Há uma energia benéfica e revitalizando no ar aqui que se infiltra em todos os seus poros, intoxicando os sentidos.  Tenho viajado para muitas cidades no mundo, mas não há nada como Rio. Este lugar é verdadeiramente a "cidade maravilhosa" e, pra mim, um lugar de desenvolvimento espiritual e cura.

Embora há muitos benefícios para viver aqui, há também algumas desvantagens. Um dos mais substanciais sendo uma falta de oportunidade para dançarinos de Tribal Fusion no Brasil interessados em aperfeiçoamento profissional com os melhores instrutores do mundo (devido ao fato de que a maioria deles residem na Califórnia ou em Portland) e a extensiva pilha burocrática  que eles têm que percorrer a fim de chegarem lá.

Nos EUA, estamos inconscientes da vantagem que temos quando se trata da acessibilidade de treinamento com os instrutores de elite do Tribal Fusion como Rachel Brice e Zoe Jakes.  Workshops e intensivos já são difíceis de pagar por conta própria. Além de ter que pagar o custo do intensivos, hotel e comida, uma dançarina brasileira precisa pagar as despesas adicionais. Não só eles precisam pagar US $ 2.000 adicionais para uma passagem de avião?! E ainda por cima, eles precisam solicitar um visto, sentando-se através de cada consulta meticulosa, preenchendo pilhas de formulários e pagando por todos os custos relacionados a isso também. É injusto.

O custo para participar de um Festival de Tribal nos EUA para uma dançarina brasileira é ridículo.  E a situação está prestes a ficar ainda pior. Com o valor do real esgotando a uma velocidade tão substancial e o custo de vida cada vez maior (especialmente no Rio de Janeiro), a probabilidade de ser capaz de assistir a um festival nos EUA está indo  de ridiculamente escassos para impossível!


Infelizmente, a opção de guardar o seu dinheiro e esperar para o instrutor vir ao Brasil raramente é uma opção, pois há muito poucos instrutores desse calibre que viajam para o Brasil. Os grandes nomes vão mais para a Europa, Rússia, Japão, etc., mas, infelizmente para nós, o Brasil, e o Rio em particular, não está geralmente na agenda da turnê.

Eu não estou totalmente certa sobre a causa disto. Talvez seja porque os filmes "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" fizeram um imenso desserviço para a comercialização do Rio de Janeiro como um lugar amigável ou o fato de que o Rio de Janeiro está na lista das 10 Cidades Mais Perigosas do Mundo para Viajar. Ok, essa última pode ser um fator contribuinte. Mas, independentemente do motivo, o fato é que a maioria dos instrutores americanos de Tribal Fusion não vem para o Brasil. E, a propósito, você não deve ter medo de vir para o Brasil. Rio de Janeiro não é diferente de qualquer outra grande metrópole como Chicago ou Nova York.  Apenas use seu cérebro. Pense nisso. Você estaria andando pelas ruas do Brooklyn no meio da noite vestindo um relógio caro ou exibindo seu iPhone extravagante? Não, porque você não é um idiota.

Depois de perceber o quão limitada as possibilidades de treinamento profissional foram para os dançarinos brasileiros, eu decidi fazer algo sobre isso. Esta foi a minha chance de retribuir a bondade que eu tinha recebido. As meninas aqui têm feito muito por mim e esta foi a minha oportunidade de utilizar os recursos e conexões que tive à minha disposição e mostrar-lhes o quanto eles significavam para mim. Então, decidi organizar um workshop intensivo com algo que nunca tinha experimentado antes; algo que nunca antes tinha sido ensinado no Brasil... UNMATA ITS!! A cereja do bolo que eu estava preparando para ser a instrutora era a linda April Rose, de quem eu adoro.

Era muito trabalho e preocupação de arranjar, mas valeu a pena! Eu não poderia ter feito isso sem a ajuda de Aline Oliveira, Helena Marinho (tradutor), Silvia Pantoja, Morena Santos, Jhade Sharif e o resto da família Asmahan. Foi um grande sucesso e assim como eu previ, a Brasileiras são totalmente viciadas ao ITS agora. Devo dizer, é bastante impressionante que FIZEMOS HISTÓRIA! Brasil, nós arrebentamos com sua cereja UNMATA.Rsrsrs.

O Brasil me ensinou como deixar ir e abraçar a natureza do inesperado, pois pode segurar alguma coisa na loja pra você muito maior do que você planejou. Eu vim à conclusão de que a vida é uma improvisação gigantesca. Então, se você mudar de curso, abraçá-lo e explorar as possibilidades.

Antes de vir aqui, eu não era uma pessoa muito feliz. Constantemente insatisfeita, pensando que eu só ia encontrar a felicidade se eu continuasse a trabalhar muito mais.Até estou tão cansada só de pensar. Essa pessoa era miserável; viciada ao trabalho e impossível de agradar.  Nada era bom o suficiente. Nada jamais seria.

Então, eu admito que estou um pouco assustada. Tenho medo de que quando que eu for devolvida ao ruído branco caótico do meu ambiente anterior, mais uma vez me transformarei em a casca de uma pessoa obcecada com o trabalho que age tão duramente a ela mesma ao ponto de exaustão que ela esqueça o que é realmente importante na vida. Eu não quero voltar a isso.

Em um esforço para evitar essa regressão emocional, eu planejo ser diligente em meus esforços para ficar conectado com todos vocês e manter o espírito do Brasil vivo em meu coração. Parte disto inclui ficar em contato com a minha família Asmahan que significa o mundo pra mim. Cada um deles tocou meu coração de uma maneira única e especial. Eu nunca vou esquecê-los.


DEDICATÓRIA:

Para Aerith Asgard, que me deu um lugar seguro para compartilhar minhas aventuras, OBRIGADA.

Para Jhade Sharif, que abriu seu estúdio para mim e me deu uma chance quando ela não precisava, um lugar para ensinar e um estúdio para chamar de "casa", OBRIGADA.

Para Aline “Muhana” Oliveira, meu anjo da guarda, tradutor, guia, terapeuta, professora de Português, figurinista, parceirade dança, irmã da alma e todos BrazizzlefoShizzle!!!! ... Eu adoro você. Você se aproxima de tudo que você faz com tanta dignidade e graça. Você é uma dançarina incrível, com uma presença de palco tão poderosa e, ao mesmo tempo, tão elegante. Não só isso, mas você é um farol de luz para todos aqueles que a cercam. As possibilidades do que você pode conseguir neste mundo são ilimitadas. Você é uma trabalhadora diligente, dedicada à sua arte e as pessoas nela. Você tem tanta grandeza em você mesma ... uma força dominadora e régio de uma rainha com um coração carinhoso. Não há palavras para descrever o que sua amizade significou pra mim nestes últimos 4 anos. É uma honra te conhecer e um privilégio te chamar de minha amiga.

Para Morena Santos, uma fotógrafa fenomenal cuja impressionante imagens têm recebido reconhecimento internacional por toda a comunidade de dança que dá os melhores abraços, e que tem o coração mais puro  que eu conheço , eu digo muito OBRIGADA. Você tem a bondade de um santo e a capacidade de elevar os espíritos de todas as pessoas ao seu redor através de sua generosidade e natureza encorajadora. Você merece nada além de felicidade e prosperidade na vida.

Para Darah Hamad, que recebia esta estranha desajeitada, que mal conhecia duas palavras em Português, em sua aula com um sorriso e um senso de humor ("Revels!") e cuja técnica e presença de palco que admiro muito, OBRIGADA.

Para Bruna “Amirah” Daniel, que TEM UM  espírito generoso e animada personalidade ajudou-me a sentir-me bem-vinda na comunidade de dança e me apresentou aos cativantes, noites divertidas em Al Khayam, eu digo OBRIGADA.

Para toda a minha família ASMAHAN, uma matriz de dançarinas incrivelmente talentosas e apaixonadas incluindo Rhada Naschpitz,Laura da Cunha, Aziza Abdullah, Haluxx, Marta Vieira, Corina Mourão, Ana Asch, Helena Marinho, Carol Marques, Silvia Pantoja, Marie Nogueira, Izabelle Bruna, Rayzel Rosa, Noor Farag, Cristal Aine, Natália Seiblitz, Valeska Nadhirra Torres, Selenah Jhones, Jessie Ra'idah, Rane Souza, Luciana Rabelo, Samantha Monteiro, Thaisa Martins, Rafaela Morrighan, Rebeca Warda, Itália Rebuzzi, Ana Paula Pereira, Samantha Nogueira, Nitya Montenegro, Ana Carolina Cosati, Dina Claudia,Tati Craveiro, Pilar Barradas e Anna Gregoriocuja totalidade das paciência e bondade me ajudaram a navegar meu caminho nestes últimos 4 anos através de sua irmandade, apoio e compaixão, eu digo OBRIGADA.

Para TODAS as minhas alunas, que me fizeram uma mama orgulhosa e trouxeram uma grande quantidade de alegria para minha vida, OBRIGADA. Continuem a serem destemidas e praticarem sua dança com amor, compaixão e devoção reverente... E lembrem-se de dobrar esses joelhos!!

Para Os incríveis dançarinos que eu conheci ao longo do caminho ao longo da minha jornada no Brasil cujas apresentações transcendente fizeram um impacto profundo em mim incluindo Rebecca Piñeiro e a equipe inteira de Campo das Tribos, Natália Espinosa, Paula Braz, Cibelle Souza e as meninas talentosas de Shaman Tribal, Guigo Alves, Gabrielle Huang, Gabriela Miranda, Long Nu, Karina Leiro, Lukas Oliver, Sara Félix, Marisu Parada, Marina Quadros, Jonathan Lana e Luisana Alvarez, OBRIGADA.  


Paz e Luz pra SEMPRE,

~ Raphaella ~


Episode 7:  “Ode to Brazil: The Marvelous City that taught me how to live again”


As my time in Brazil comes to a close, it is with a heavy heart that I begin the first sentence of my last article for this series.   After 4 years in this marvelous city that I’ve called “home”, I am in awe of just how much my life has changed.  The purpose of the continuous struggles, twists and turns I’d encountered in my attempt to assimilate into this culture so different from my own has made itself known.  What is left is a profound understanding, bitter-sweet sense of satisfaction and preparedness for what lies ahead.   

I can finally see the whole picture.  It’s as if I were standing in an art gallery, gazing at a Pointillist painting.  When one stands close to the painting, all he or she notices is a vast array of colored dots.  However, if you move further back, the entire scene is revealed.   

To me, Brazil isn’t solely a place of majestic wonder.  It’s a beacon of revitalization and tranquility that, along with its people, has transformed me and the perception of who I thought I was; not just as dancer, but in respect to my own self-awareness and value as a human being.

I owe a great debt to the many individuals I’ve met along the way in this beautiful country.  Their passion for life and genuine, caring nature have transformed me and awakened my spirit in ways I never thought were possible.  And as such, I now have a better understanding of what it means to truly embrace life.  The funny thing is, that up until that point, I was none the wiser.  As the saying goes, “You don’t know what you’re missing until you find it”, right? 

Like so many of us these days, I’d been preconditioned to define myself based solely on the quality of my work.  I had unintentionally allowed the measure of my success through professional accolades such as positive reviews of dance compositions, awards and recognition for various news articles and speeches, etc. to hold more relevance over my value as a human being versus the intrinsic qualities that actually matter.  The beguiling fact is that until my relocation to Brazil, I’d been completely unaware of the emotional handicap I’d bestowed upon myself for so many years.  

Like most Americans, I had become engrossed in my work, picking up my head only to eat from time to time and plan more projects.   The thing is, when you have your head down for so long, you don’t realize you’re looking at the ground.  We’re so accustomed to looking at what’s in front of us (and what’s coming next) that we develop a sort of “work-a-holic tunnel vision.” It’s not until all of the distractions are taken away that we realize we aren’t actually living… just existing.  

It’s a fact that has become even more apparent with our ever-growing daily reliance on mobile electronic devices.  As a society, we’ve become addicted to our iPhones, laptops and iPads; living through those cheap pieces of plastic instead of ourselves.  It’s taking the already detrimental behavior of “work-a-holic tunnel vision” to new depths and subsequently diminishing our self-esteem, belittling our lives to the point where if nobody “liked” it on Facebook, it didn’t happen.  It’s a toxic behavior that’s been spreading at an alarming rate and we need to wake up before it’s too late. 

Once out of the white-noise capitol of the world, it was time to strip away the false sense of security of peer recognition and coveted accolades I had worked so hard to achieve and take a good, hard look at what was left.  This was not an easy process by any means; particularly when it came to distancing myself from approval seeking behavior.  

Imagine you’re abruptly stranded on a deserted island.  There is nothing and no one around to reassure you that, “Everything is going to be okay.”  Seeing as you have no one else to turn to but yourself, all of your strength must come from within. It is so important to realize the beauty of your TRUE self; to find those qualities and allow them to rise to the surface.  You must acknowledge just how valuable you are; that your life means something outside of what you do... a purpose beyond belly dance.  

What is so admirable about the dancers I’ve met in Brazil is the level of confidence they have in who they are.  Each and every one of them are so simultaneously passionate and powerful when they dance.  For the women in particular, they maintain an additional sense of delicate femininity that surprisingly matched the level of intensity in their dance, such as Darah Hamad and Natália Piassi among others.  I say “surprisingly” because we usually associate the word “femininity” with more docile traits.  

This was very inspiring to me as my lack of femininity is something I’d struggled with for many years; more so in regard to sensitivity and displays of emotion.   It’s a characteristic of mine that those close to me would always remark on, deeming me the fun little nickname “Robot”. 


It's not that I considered displays of emotion to be weak.  It's just that I have an automatic response to stop myself if I feel I’m about to cry or lash out in any way.  Over the years, I’ve taught myself to “save it for the dance floor”.  Compartmentalizing my feelings seemed quite convenient at the time (minus the headaches and stomach pains).  However, as most mental health care professionals will tell you, it can be extremely detrimental to your psychological health.   

I couldn’t help it though.  It was a skill I’d mastered since childhood, so it was (and still is) a difficult habit to break.  When you spend the majority of your childhood and adolescence in domestic violence and abuse, that bad little habit of compartmentalization becomes a necessary tool for survival.   

In the spirit of awareness for mental health and domestic violence, I’ll share with you a facet of my life that I fought to conceal for the majority of my existence.   An unseemly past that continues to haunt me to this day, resulting in an unfortunate condition that can make the tasks of daily life a struggle from time to time.  

I suffer from severe Social Anxiety Disorder and PTSD partially due to the traumatic and dangerous environment I lived in from the time I was born until the age of 16.  It’s a life I wouldn’t wish on anybody full of panic attacks that are so intense it feels like you’re having a heart attack, bouts of anxiety so intense that you physically can’t leave your apartment for days, night terrors, insomnia, etc.   Pardon my language, but it’s f*#king exhausting and unbelievably frustrating because 9 times out of 10, there’s nothing you can do about it except to wait it out.  Imagine having to live with that.  Now imagine yourself as a performer and teacher suffering with this condition on a daily basis.  It’s not fun. I’ll tell you that.  My only saving grace is belly dance, and I thank God everyday for this blessing.   

The moment I switch on the music and begin to move, everything else just fades away.  This beautiful art form of ours saved my life.  And because of it, I’m able to function.  When intertwined between the music and the sweet energy of the movement, I am alive; immersed in a feeling of relief and revitalization that could only be described as a meditative state.  I am connected to the universe.  I am able to let go, to focus, to feel joy.  THAT is my medicine. THAT is my saving grace. THAT is how I’m able to thrive. 

Only a few, short years ago, there would’ve been no way I would’ve been able to share that part of my life.  The reason I’m able to now is due to the courage and strength demonstrated by two Brasileiras in particular who have led by example, inspiring me to be open about my story, Helena Marinho and Natália Espinosa.  Both have been very open about their own personal struggles in being a dancer and performer with Asperger Syndrome.  Although we are fighting different battles, their inspiring efforts in raising awareness for Aspergers gave me the courage to speak out for performers in the arts struggling with these types of disorders, and to help remove the stigma attached to mental health issues.   

Think about it.  You wouldn’t shame a diabetic for taking his or her insulin.  But if someone has a disease that requires them to take medication to increase their serotonin level, all of a sudden that person is “crazy”.  Well, I’m sorry, but that is complete and utter bull shit!  For those of you suffering from anxiety disorders, depression, Asperger or other conditions related to mental health, please know that that there is NO SHAME in it, and that you are not alone.

You know, it’s funny.  When I first arrived, I was so intimidated by this place and its loud and charismatic people.  But now, I couldn’t imagine my life without them.  Well, I guess I could… but I don’t want to.  They’ve helped me to become a more delicate and hopeful person.  

My experiences here in Brazil have had a profound effect on my improvisational sense and technique, injecting my dance with such fervor and feeling that I have been able to take it to a whole new level.   I’ve found that I am able to coexist with certain dynamics in my dance practice that had previously been out of reach, interacting with the level of energy versus allowing it to simply take over.  Where as before my relationship to improvisation could be classified as more of a possessive state, it had now transitioned into a meditative process.  

These transformations go beyond the charismatic qualities of the performance aspect I’ve learned from the soulful dancers here.  Although that is an incredibly important piece of the puzzle, it’s something much more profound.   There is a blissful, revitalizing energy in the air here that seeps into your every pore, intoxicating the senses.  I’ve traveled to many cities throughout the world, but there is nothing like Rio.  This place truly is the “cidade maravillosa”, and for me, a place of spiritual growth and healing.  

Although the grass is definitely greener here in most respects, there are a few disadvantages.  One of the most substantial being a lack of opportunity for Tribal Fusion dancers in Brazil interested in further training with the world’s top instructors (as most of them reside in California or Portland) and the mile-long pile of red tape they have to go through in order to get there.  

In the US, we are unaware of the advantage we have when it comes to the accessibility of training with THE top-notch instructors of Tribal Fusion like Rachel Brice and Zoe Jakes.   Workshops and intensives are hard enough for us to afford as it is.  In addition to having to pay for the cost of the intensive, hotel and food, a Brazilian dancer has to pay even more! Can you imagine tacking on another $2,000 for a plane ticket?!  And on top of that you’ll have to apply for a VISA, sit through every painstaking appointment and pile of forms, paying for all of the costs related to that as well.  It’s unfair.

The cost of attending a Tribal Festival in the US for a Brazilian dancer is ridiculous.  And it's about to get even worse.   With the value of the real (Brazilian currency) depleting at such a substantial rate and the cost of living sky rocketing (especially in Rio de Janeiro), the probability is going to go from ridiculously scarce to impossible!  

Unfortunately, the option of saving one’s money and waiting for the instructor to come to Brazil is rarely an option as there are very few Tribal Fusion Instructors of that caliber that make it down to Brazil.  The big names will make it over to Europe, Russia, Japan, etc., but unfortunately for us, Brazil and Rio in particular, is not on their tour schedule.  

I’m not entirely sure as to why.   Perhaps it’s because the movies “City of God” and “Elite Squad” did an immense disservice to the marketability of Rio de Janeiro friendly place or the fact that Rio de Janeiro is on the list of the 10 Most Dangerous Cities in the World to Travel.  Okay, that last one might be a contributing factor.   Regardless of why, the fact remains that most US based Tribal Fusion instructors do not make it down to Brazil.   Just for the record, you should not be afraid to come to Brazil.  Rio de Janeiro is no different than any other big metropolitan city like Chicago or New York City.  Just use your head.  Think about it.  Would you be walking the streets of Brooklyn in the middle of the night wearing an expensive watch or flashing around your fancy iPhone? No, because you’re not an idiot. 

After realizing how limited the professional training opportunities were for the Tribal Fusion dancers here, I decided to do something about it.  This was my chance to give back.  The girls here have done so much for me and this was my opportunity to utilize the resources I had at my disposal and show them just how much they meant to me.  So, I decided to arrange a workshop intensive with something that they had never experienced before; something that had never before been taught in Brazil… UNMATA ITS!!!  The cherry on top was arranging the lovely April Rose, whom I adore, as the instructor.  

It was a lot of work and worry to get the intensive together, but it was well worth it!  I couldn’t have pulled it off without the help of Aline Oliveira, Helena Marinho (translator), Silvia Pantoja, Morena Santos, Jhade Sharif and the rest of the Asmahan family.  It was a big hit and just as I predicted, the Brasileiras are totally addicted to ITS now.  I must say, it’s pretty awesome that WE MADE HISTORY!  Brazil, we popped your UNMATA cherry.  

Brazil has taught me how to let go and embrace the nature of the unexpected, for it may hold in store for you something much greater than what you had planned.  I’ve come to the realization that life is one gigantic improv.  So if you change course, embrace it and explore the possibilities. 

Before I came here,I was a tad miserable.  Constantly dissatisfied, thinking I’ll find happiness if I just continue to work harder and harder until I’m too tired to think anymore.  That person was miserable; addicted to work and impossible to please.  Nothing was ever good enough.  Nothing ever would be.  

So, I must admit that I’m a little scared.  I’m afraid that once I’m thrown back into the chaotic white noise of my former environment that I’ll once again turn into that obsessive work horse who is so acts so harshly towards herself to the point of exhaustion that she forgets what’s really important in life and only sees her worth in her accomplishments.   I DO NOT want to go back to that.   

In an effort to avoid this emotional regression, I plan to be even more diligent in my efforts to stay connected with all of you and keep the spirit of Brazil alive in my heart.  Part of that includes staying in touch with my Asmahan family who means the world to me.  Each and every one of them has touched my heart in a unique and special way.  I will never forget them. 

DEDICATION:

To Aerith Asgard, who gave me asafe place to share my adventures, THANK YOU.

To Jhade Sharif, who opened up her studio to me and gave me a chance when she didn’t have to, a place to teach and a studio to call “home”, THANK YOU.  

To Aline “Muhana” Oliveira, my guardian angel, translator, guide, therapist, Portuguese teacher, costume designer, dance partner, soul sister and all around Brazizzle fo Shizzle!!!!... I love you.  You approach everything you do with such dignity and grace.  You are an incredible dancer with such a powerful stage presence, yet so elegant at the same time. Not only that, but you are a beacon of light for those around you. The possibilities of what you can accomplish in this world are limitless.  You’re a hard worker, dedicated to your craft and the people in it.  You have such greatness in you… a domineering, regal strength of a queen, yet with a sensitive and caring heart.   There are no words to describe what your friendship has meant to me these past 4 years.  It has been an honor to know you and a privilege to call you my friend.  

To Morena Santos, a phenomenal photographer whose striking images have received international recognition throughout the dance community who gives the best hugs, and who has the purest heart of anybody I know, I say THANK YOU.   You possess the kindness of a saint and the ability to raise the spirits of anyone around you through your generosity and encouraging nature.  You deserve nothing but happiness and prosperity in this life.   

To Darah Hamad, who welcomed this awkward stranger, who barely knew 2 words in Portuguese, into her class with a smile and a sense of humor (“revels!”), and whose technique and stage presence I admire very much, THANK YOU.  

To Bruna “Amirah” Daniel, whose generous spirit and lively personality helped me to feel welcome in the dance community and introduced me to the captivating, shenanigan-filled nights at Al Khayam, I say THANK YOU.

To my entire ASMAHAN family, an array of incredibly talented and passionate dancers including Rhada Naschpitz,Laura da Cunha, Aziza Abdullah, Haluxx, Marta Vieira, Corina Mourão, Ana Asch, Helena Marinho, Carol Marques, Silvia Pantoja, Marie Nogueira, Izabelle Bruna, Rayzel Rosa, Noor Farag, Cristal Aine, Natália Seiblitz, Valeska Nadhirra Torres, Selenah Jhones, Jessie Ra'idah, Rane Souza, Luciana Rabelo, Samantha Monteiro, Thaisa Martins, Rafaela Morrighan, Rebeca Warda, Itália Rebuzzi, Ana Paula Pereira, Samantha Nogueira, Nitya Montenegro, Ana Carolina Cosati, Dina Claudia,Tati Craveiro, Pilar Barradas and Anna Gregorio all ofwhose patience and kindness have helped me navigate my way these past 4 years through their sisterhood, support, and compassion, I say THANK YOU. 

To ALL of my students,who have made me one proud mama and brought a great amount of joy to my life, THANK YOU.  Continue to be fearless and practice your dance with love, compassion and reverent devotion… And remember to bend those knees!! 

To the incredible dancers who I’ve met along the way throughout my journey in Brazil whose transcendent performances have made such an impact on me including Rebecca Piñeiro and the crew from Campo das Tribos, Natália Espinosa, Paula Braz, Cibelle Souza and the talented ladies of Shaman Tribal, Guigo Alves, Gabrielle Huang, Gabriela Miranda, Long Nu, Karina Leiro, Lukas Oliver, Sara Félix, Marisu Parada, Marina Quadros, Jonathan Lana and Luisana Alvarez, THANK YOU.  

Peace & Light,

~ Raphaella  ~


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