Estilo Tribal em Buenos Aires: O que vai acontecer?

por Long Nu

Como já comentei em publicações anteriores, o estilo tribal em Buenos Aires (Argentina) continua a crescer,  não somente nas aulas regulares, shows, e eventos, mas também nas produções com convidadas internacionais do mais alto nível profissional.

Neste ano e no seguinte, teremos workshops e shows de ATS®, Tribal Fusion e Dark Fusion que podem ser interessantes para vocês por ter professoras convidadas do Brasil (entre outras) e também promoções para alunos do Congresso Tribal, além de incluir dançarinas estrangeiras muito importantes de cada estilo. Como sempre, estes workshops são uma boa oportunidade de viajar, aprender e compartilhar conosco, os "vizinhios do sul".




Em Maio, (do dia 19 até 21) teremos a visita do Illan Rivière no Fusion Fest, organizado pela Belén Caretti. Os Workshops com Illan serão sobre giros, ritmo e o equilíbrio, mas também haverá aula com Rebeca Piñeiro (Brasil), Aïda Jordà (Espanha), Aldana Argüello (Argentina) e Bel Caretti (Argentina). Há preços promocionais por inscrições em duplas. 

Organicação: Belén Caretti
Em Maio, teremos também, com a visita da Rebeca Piñeiro, a oportunidade de fazer workshops de ATS® com ela mais uma vez nos dias 25 e 27. Faremos limpeza técnica de dialetos, Dancing in flow®  e ATS® com espada! 

| Organização: Estudio Vinaya. 

Em Julho (de 7 até 9),  o retorno da mãe das trevas em sua quarta visita a nosso país: Ariellah Aflalo! As temáticas serão voltadas para os origens do Dark Fusion e suas bases, ideal para quem esta começando seu caminho neste estilo.  Vai ter também wokshops com professores regionais e show de gala. 

| Organização: Iman Najla. 



Depois de um breve recesso, em Outubro (do 6 até 8) o tribal volta com tudo com o já tradicional OPA! Fest, em sua sexta edição, organizado pela Florencia Benítez (Estudio Vinaya). Na edição de  2017 teremos a presença, pela segunda vez no país, da Ashley López (EUA) que, nesta ocasião, traz para nós (e  para vocês) trabalho de flexibilidade, teoria da música e elegância na dança. Além dela, outros wokshops serão ministrados pelas Joline Andrade (Brasil), Trilce (Chile) e as bailarinas locais Elessa  e quem aqui escreve (a Long Nu). Teremos show de gala com as professoras convidadas, Stellar Kinesis Co (a companhia internacional do evento) e os maiores exponentes do tribal no país. 

Organização: Florencia Benítez
| Contato: opafestargentina@gmail.com. 

Mas isso não é tudo! O interesse pelo tribal e fusões é tao grande que já temos confirmados mais dois eventos para o ano seguinte!



No caminho do ATS®, virá nos visitar uma das maiores dançarinas do estilo: a Devi Mamak (Ghawazi Caravan)! Do dia 29 de Abril até o 1 de Maio teremos wokshops com esta profissional, onde vamos trabalhar o dialeto que ela criou e inspirou a muitas tribos do mundo, além de outros conteúdos que vão ser escolhidos pelos participantes do evento. As horas de aula com a Devi poderão ser utilizadas na capacitação para o Sister Studio Continuing Education program (SSCE). O evento terá show de gala, hafla e clínicas de estudo com Sister Studios da América do Sul, que poderão se candidatar para ministrar aulas. A convocatória para ministrar as clínicas ficará aberta em Novembro deste ano para todos os Sister Studios inscritos no evento que tem interesse em participar.  Os participantes do Congresso Tribal Sul-Americano (2ª edição) ganham desconto! 

| Contato: vinayaestudio@gmail.com

Se você está procurando workshops de Fusion, também temos uma proposta imperdível: Tiana Frolkina (Dragonfly Tribe)! Vinda direto de San Petesburgo, Rússia para Buenos Aires (25,26 e 27 de maio). Ainda não tem os temas confirmados, mas em breve todas as informações ficarão disponíveis no site www.danzatribal.com.ar ou no site de Facebook: https://www.facebook.com/tribaleuse/

Se você está planejando suas próximas férias, ou pensando o quê fazer com sua dança e capacitação, aproveite para visitar-nos e fazer alguma destas aulas maravilhosas que vamos ter neste ano e no seguinte! 

Esperamos vocês com os braços abertos, snujs e muita dança! 



[Retalhos de uma História] Lucy

por Ju Najlah


“Da mesma época de Fifi Abdo e até considerada sua rival, foi uma dançarina extraordinária e reconhecida por seus movimentos rigorosos, bonitos e controlados e uma simpatia sem igual. 

Quando pequena, praticava ballet clássico, mas diz que se recorda pouco dessa fase. Inspirada em Tahia Carioca e Sämia Gamal, começou a atuar como atriz, mas em suas atuações Lucy misturava passos de dança e muitos perguntavam se era uma atriz ou uma dançarina. Ela respondia que esta era uma pergunta errada, e dizia que havia algo dentro dela, que não podia ser separado. "A arte é uma totalidade, e não pode ser dividida. O artista, o ator principalmente, deve ser competente em cantar, não o tarab, que é completamente diferente, mas em cantar em ritmo, em movimento... e em dançar, se isto requerer dele", dizia Lucy. "Dançar é minha prioridade. É o que eu nasci fazendo, e logo a dança mais refinada, que é o ballet. Dançar tem que vir primeiramente, depois atuar e então cantar. Eu amo todos os três, me amo em todos os três e, graças a Deus, me realizo em todos o três".

Lucy foi considerada uma alma nova em Alexandria. "A Dançarina de Dança do Ventre e Atriz de Cinema". Foi reconhecida por vários papeis importantes no cinema e deu aulas de dança nos Estados Unidos. Lucy, hoje, dona do Cabaret Parisiana, continua com a mesma simpatia e sorriso encantando seu público eternamente.


Fontes:
* Shokry Mohamed - La Danza Mágica Del Vientre
* Merit Aton - Dança do Ventre, Dança do Coração

Extraído do site de Aysha Almeé”
http://khandara.multiply.com/journal/item/8/8?&show_interstitial=1&u=%2Fjournal%2Fitem, acessado em 28 de agosto de 2012



[Venenum Saltationes] Saturno

por Hölle Carogne



"Saturno. Senhor do tempo, das estruturas, do que permanece e do que é corroído. Planeta de natureza fria e seca. Infértil, escasso, magro. De tempos invernais, em que a vida é mais difícil, é chamado tradicionalmente de Grande Maléfico.

Tudo o que existe na Terra, seja material ou conceitual, pode ser relacionado a um dos 7 planetas tradicionais - na ordem caldeica: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. No nosso corpo, por exemplo, à Saturno são atribuídos os ossos e os dentes; no clima, seria o tempo fechado ou o mormaço; uma árvore saturnina é seca, sem frutos, sem folha, sem vida. Saturno ensina pelo esforço, pela resiliência. Saturno testa nossas bases e o que não for sólido ele destrói. Onde temos esse planeta no nosso mapa natal, enfrentamos dificuldades, também somos mais críticos e sérios. Saturno é o pessimismo e negatividade que trazem o ceticismo muitas vezes necessário pra que não sejamos iludidos. Sim, tudo nesse Universo cumpre uma função, mesmo aquilo que consideramos mais abominável ou difícil. Saturno nos ensina que o Universo é amoral e o destino é implacável, todos temos que lidar com seu peso de chumbo em algum momento. O tempo vai trazer suas lições, amadurecer o que tiver que ser amadurecido, e com sua foice cortar o que tiver que ser cortado, doa a quem doer."
 
Manu - Mercúrio Peregrino


Saturno é o nome do meu projeto de Videodança, em duas partes, realizado em parceria com Alessandro Roos, da Red Fox Filmes.

A ideia de fazer este projeto surgiu da necessidade de trabalhar no corpo os sentimentos advindos do período ou ciclo planetário chamado na astrologia de “Retorno de Saturno”, período este que, para quem tem Saturno em Sagitário, iniciou em 23 de dezembro de 2014 e vai até 20 de dezembro de 2017.

Retorno de Saturno refere-se ao tempo necessário para que o planeta Saturno realize uma volta completa em torno do Sol. Enquanto nosso planeta, a Terra, leva em torno de 365 dias para realizar esta volta, Saturno leva aproximadamente 29 anos terrestres para fazer o mesmo movimento. Acredita-se que quando Saturno completa este ciclo e forma uma conjunção consigo mesmo, ele, o grande maléfico, vem para cobrar aquilo que ainda não foi resolvido em nossas vidas.

“Ninguém está preparado para saber lidar com o peso do tempo. O grande maléfico atropela alguns sonhos e expectativas contrárias ao anseio de viver. Saturno professa a restrição e a solidão. Alguns lidam mais, outros menos. Porém, ninguém vive uma vida sem pisar em alguns cacos.” 
Bárbara Ariola 



"Saturno tem a ver com buracos. Como o da terra, por exemplo, quando a mão ali cavuca para enterrar uma semente.
Saturno também é o buraco do umbigo que um dia, através do cordão, nos uniu a um outro corpo, também unido, um dia, a outro mundo.
A tesoura que corta o cordão umbilical é a foice de Saturno. Saturno ao cortar o condão, cria o tempo, o umbigo e o destino da alma do mundo.
O buraco que um dia abrigará o corpo também é de Saturno.
Saturno vive a 7 palmos do chão.
A caveira com seus vários buracos é de Saturno.
O buraco na estrutura da sua vida é de Saturno.

É negra
É negra
É negra
a sua presença."


João R. Acuio, Saturnália



As filmagens foram feitas nas ruínas do antigo Manicômio de Morungava, Distrito da cidade de Gravataí/RS.

Os registros fotográficos foram feitos pela Martha Buzin. E Gabriela Lando deu suporte em diversos momentos, inclusive me auxiliando com a trança.


A primeira parte das gravações foi feita dentro do manicômio, entre corredores, escadas e salas abandonadas. A segunda parte foi feita em meio à natureza que rodeia o prédio.

A edição ficou por conta do talento do Alessandro Roos, que escolheu cenas, filtros e mesclou poeticamente cada detalhe.

As músicas utilizadas foram carinhosamente escolhidas por mim, tendo como ponto de partida a conexão e a identificação com a proposta da videodança. São elas: Ah Estereh Komh Derah do Treha Sektori; Lascia Ch’io Pianga do Handel, na versão de Tuva Semmingsen; e Firehymn do Bewitched.

Em relação à dança, nada foi coreografado ou pensado. Cada movimento surgiu de forma improvisada e de acordo com o que me fazia sentir o lugar onde dançava.


Algumas ideias de enredo foram planejas por mim antes das filmagens, como por exemplo, a trança em frente ao rosto representando uma máscara/mordaça, o ato de tingir a pele com a cor da densidade, e as cenas com sangue nas mãos.



Algumas ideias surgiram na hora e foram dadas pelo próprio Alessandro, como, por exemplo, a caminha em meio à natureza e a cena onde esfrego sangue no rosto.



O figurino não remetia em quase nada ao Universo Tribal. Não usei acessórios e, pela primeira vez, dancei com a barriga coberta. A ideia era dar um ar mais minimalista para o trabalho. A maquiagem, como de costume, foi extravagante e pesada, para combinar com a cor do chumbo!



No destino há dor, mas também há esperança. É na dor que aprendemos qual é o nosso destino. A dor nos ensina a viver. Devemos respeitá-la e amá-la como algo necessário. Muitos indivíduos não respeitam sua dor, não aprendem nada com ela. Estão sempre se lamentando e maldizendo a vida. Muitos nem ao menos sabem por que sofrem. Acham que a dor é causada pela falta de dinheiro, falta de amor, falta de emprego. Se tentassem entender a dor, tudo seria mais fácil. Perceberiam que ela não é causada pelo mundo, mas é uma dor pessoal causada pela insatisfação, causada pelo desejo de viver, causada pelo desejo de liberdade. Não percebem que é seu destino que reclama dentro de seus corações. Os homens sufocam seu destino e é na dor que o destino grita por socorro. É o destino em nossos corações que reclama à vida.Friedrich Wilhelm Nietzsche



Ruína
"Eu queria construir uma ruína.
Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução.
Minha ideia era fazer uma coisa com jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam.
Porque o abandono não pode ser apenas um homem debaixo da ponte, mas pode ser também um gato no beco ou uma criança presa num cubículo.
O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra.
Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. Digamos a palavra AMOR... A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela.
Queria construir uma ruína para salvar a palavra amor.
Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo."

Manoel de Barros 






Uma situação interessante que aconteceu enquanto filmávamos é que em um dos corredores havia um pano pendurado no teto, que caía amortecido até metade da altura da parede. Eu passaria por ali, caminhando ondulante em direção à câmera, e falei para o Alessandro que iria parar para interagir com o pano. O pano estava sujo. Imundo, pesado e fedido de tempo. Eu parei para dançar com o pano e o que era para ser apenas um minuto esticou-se e tornou-se um tempo diferente. Entrou um vento pelos buracos das ruínas e o pano começou a dançar comigo. Ele ia para lá e para cá, como se respondesse à minha investida. Parece bobo contando, mas a sensação foi incrível. Em alguns momentos tive a impressão de esquecer a filmagem, esquecer as pessoas que estavam comigo, e só pensar no pano como se fosse um corpo. Um corpo igual ao meu, pesado como chumbo, mas que tem seu próprio fluxo. Como diria João Morgado, "um corpo alquebrado, maltratado, castigado, torturado, até que se abra um sulco de arado na alma…". Poucas cenas deste momento foram para a edição final. Mas este momento ficará eternizado em minha mente como uma experiência surreal.



“A multidão é vento. E eu só. Eu, no meu passo. Passo. Eu pó.” Moinhos de Vento

Mesmo se eu tentasse, eu não conseguiria explicar e contar mais sobre o que representa este projeto para mim. É doloroso. Não há palavras minhas que possam contemplar tal sentimento.

Como nos diz Isadora Duncan: “Se eu pudesse explicar o que as coisas significam, não teria a necessidade de dançá-las.”.

Eu aproveito a deixa e agradeço a todos os poetas e escritores que me ajudaram a contar esta história até aqui. Cada trecho contido nesta matéria carrega um significado bem próximo do que o universo Saturno representa para mim!

"Sem perceber, sou envolta por um mal-estar leve, porém prolongado. Não uma depressão, algo mais como um fascínio pela melancolia, que giro na mão como se fosse um pequeno planeta, triscado de sombras, de um azul impossível." Patti Smith 


Agradeço a todos os que leram até aqui.
Obrigada por acompanharem meus experimentos!

Canção Mística (Fragmento)
"No mistério do jardim
Equilibra-se uma borboletra
E, na borboletra, um jasmim,
E, no jasmim, um poeta,
No poeta um planeta..."


(Cris de Souza)






Confira as Videodanças:


Teaser: 




Saturno - Parte I:




Saturno – Parte II: 




Confira todas as fotos:

Conheça a Red Fox Filmes:
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCcxo2MDY11HBC8IOekrpX7w/videos



[Resenhando – SP] Hafla Tribal

por Irene Patelli 

No dia quatro de fevereiro deste ano, aconteceu o Hafla Tribal em Jundiaí/SP, organizado pela professora Melissa Souza no Mausoléu Pub, que contou com flash tattoo, workshop de tribal fusion, mostra de danças e jam session jazz & blues.

A entrada do Mausoléu Pub fica ao lado do estúdio de tatuagem, para quem for nas próximas, é um corredor que dá acesso a um local simples mas muito aconchegante, com pessoas super atenciosas e solícitas como a Carla Mirela, dona do local. O ambiente é muito interessante, meio vintage, com quadros de variados estilos que prendem a atenção.



            O tempo todo rolou lanche natural, lanche vegetariano, bolos e biscoitos que estavam deliciosos e leves e bebida para todo gosto, contando inclusive com hidromel.

O flash tattoo ficou lotado o tempo todo, várias tatuagens lindas. O tatuador Boka não parou um minuto.


O workshop “Comunicação e Improviso – ITS” com a Dayeah Khalil, bailarina, ATS® sister studio, professora, derbakista, etc, foi muito bom. Muitas técnicas importantes, tanto para iniciantes que passam a compreender melhor algumas técnicas de aula, quanto para professores que podem usar essas técnicas em suas aulas, aprimorando o trabalho em grupo. Tudo passado de forma muito didática e divertida. Foram três horas que passaram voando, deixando o gostinho de quero mais.

Os ateliês Khardi, da Ana Dinardi de São Paulo, e Lehonora, da Lenice de Campinas, estiveram presentes com peças lindas, exclusivas e atendimento personalizado.


  
Depois tivemos mostra de dança com muita energia boa e estilos diferentes. Foram solos, duplas, grupos, cada uma com seu encanto e magia própria, foi muito gostoso ver alunos e professores como iguais, não havia competição, apenas um encontro entre pessoas da mesma tribo.

Houve até uma linda coreografia em forma de homenagem que comoveu a todos, culminando em um “montinho de abraços”.



 No meio da mostra foi feito um improviso pelo pessoal que participou do workshop, onde foram colocadas as técnicas a prova e foi muito emocionante ver todas aquelas técnicas funcionando juntas. Até algumas pessoas que não fizeram o workshop acabaram participando e tudo fluiu como se houvessem ensaiado.

            O evento todo procedeu muito bem, foi bem planejado e organizado, não dava vontade de ir embora, eu como participante gostei de tudo, não tenho reclamações nenhumas, para mim, só faltou um bodypiercer.

Fiquei encantada quando, antes da banda e depois da mostra, pude escolher vinil para tocar e só haviam clássicos. 


            Após a mostra de dança, houve a jam session jazz & blues com a banda Vespêro Blues que, infelizmente, vi poucos minutos, pois tive que ir embora. Mas o pouco que vi estava ótimo. Espero poder vê-los novamente.



Mais fotos do evento no link abaixo:
  

Referências

Felipe Lima (fotógrafo oficial)

Melissa Souza (organização do Hafla Tribal)

Mausoléu Pub (local do evento)

Dayeah Khalil (ministrante do workshop)

Khardi Atelier Tribal

Lehonora Tribal Acessórios Personalizados

Sabbats TattooArt

Banda Vespêro Blues









Sobre a autora do Resenhando desse mês:
Técnica em dança pela Etec de Artes - SP
Coreógrafa, bailarina/dançarina, performer, professora de 
gothic bellydance, tribal fusion e dark fusion.



[ Entrando na Roda] Apropriação cultural e o ATS®

por Natália Espinosa

Este artigo foi escrito em sua totalidade por Natália Espinosa e de forma alguma reflete as opiniões de Aerith Asgard e Aline Muhana.

Maria Fomina, da Ucrânia, utilizando traje de ATS® com diversos elementos étnicos.

Um assunto que tem estado muito em voga ultimamente (ainda bem) é a questão da apropriação cultural. O que seria apropriação cultural? Basicamente, trata-se de uma cultura privilegiada utilizar elementos de culturas de povos oprimidos sem imprimir a eles o devido significado e sem sofrer as represálias e preconceitos sofridos por quem é oprimido. Alguns exemplos bem conhecidos do tribal seriam o uso de dreads e turbantes tranquilamente por pessoas brancas como acessórios de moda, sendo que quando os mesmos são utilizados por pessoas negras levam a uma interpretação pejorativa.


Quando consideramos o dress code do ATS® e até mesmo do tribal fusion e da dança do ventre praticada no Bal Anat, é inevitável nos depararmos com essa questão. Turbante, choli, jóias étnicas, bindis, harquus (aquelas tatuagens faciais que fazemos com delineador ou lápis de olho, muitas vezes sem nem conhecer o significado daqueles símbolos) e até mesmo os dreads são parte de nosso dia-a-dia e a grande maioria das bailarinas, tanto aqui quanto no exterior, são brancas ou lidas como brancas na sociedade em que estão inseridas, ou seja, são pessoas que não sofrem preconceitos devido à percepção do que seria sua “raça”. Nos EUA, onde essas fronteiras são bem delimitadas, essa questão tem sido bastante abordada pelas dançarinas de Tribal Fusion. Kami Liddle puxou essa discussão em seu facebook no ano passado, e muita gente (inclusive eu) participou do debate. Algumas bailarinas escolheram não utilizar mais alguns elementos étnicos em seu vestuário e houve até quem escolhesse não dizer mais que faz dança tribal por crer que essa nomenclatura seria desrespeitosa aos nativos norte-americanos, coisa com a qual eu, Natália Espinosa, discordo completamente. Mas vamos voltar ao ATS®.

O nome American Tribal Style, Estilo Tribal Americano, já está registrado e até agora não há nenhum tipo de esforço no sentido de alterar o nome. As praticantes do estilo nos EUA, brancas ou não, não parecem se engajar muito nessa discussão – pelo menos não na internet. Talvez seja por causa se alguns fatores que eu gostaria de enumerar aqui:

  1. O dress code do ATS® não representa nenhum povo específico – como mistura elementos de diversas culturas, não constitui uma fantasia, um estereótipo de nada. A imagem que associam ao nosso dress code é apenas, talvez, a de uma dançarina de ATS® 😊
  2. Embora Jamila Salimpour, Masha Archer e Carolena Nericcio-Bohlman sejam brancas, o ATS não é uma dança das maiorias privilegiadas. É uma dança inclusiva, realizada por mulheres e, mais recentemente, também por homens de diversas etnias e na qual a tolerância e aceitação são estimuladas. A própria história do ATS® está ligada à necessidade de uma dança do ventre que abraçasse as mulheres fora do padrão.
  3. Nenhum dos elementos do dress code é utilizado levianamente. A ideia de Masha Archer, ao definir o figurino que viria se tornar o dress code do ATS®, era devolver a dança às mulheres, destacar o ventre sem erotizar a bailarina e proporcionar um ar régio e confiante. Masha buscou re-significar elementos étnicos, sem esvaziá-los de importância ou apagar sua relevância em sua cultura original.


A própria dança do ventre poderia ser considerada apropriação cultural, se vista por esse prisma. O que é realizado no ocidente com esse nome é, na verdade, uma amálgama de diversas danças com propósitos e significados diversos, muitas vezes desconhecidos das dançarinas ocidentais. Deveríamos então parar de dançar dança do ventre ou tribal?

Minha opinião é a de que não podemos limitar a arte e sua evolução. Com o acesso à internet e a globalização, isso se tornou, arrisco dizer, impossível. Em relação ao ATS® e tribal fusion, temos que ter em mente que são danças ocidentais com influências étnicas, e não são originalmente de nenhuma cultura de minoridades. Utilizamos seus elementos, mas a maior parte de nós o faz com respeito e busca estudar de onde vem, sua história, seu significado. Por isso o estudo teórico se faz tão importante, para que não haja um esvaziamento de culturas tão ricas e para que nosso contato com esses povos através de tais elementos aumente o respeito e colabore para, de alguma forma, diminuir a opressão e o preconceito que sofrem.

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