Mais uma vez lhes trago um pouquinho da cena do RS dos últimos meses, já que ainda estamos na seca de eventos nestes tempos caóticos.
Primeiramente, abro com um vídeo da Karine Neves & turma, que na realidade deveria ter entrado na última resenha que fiz, com trabalhos de julho. Porém, a cabecinha avoada aqui passou batido pelo vídeo, então aproveito pra deixar o recado: se você é do RS e não apareceu, me dá um toque! Eremitice e algoritmos de redes sociais não ajudam muito. hehehe
Em seguida, um vídeo-arte da Hölle Carogne, "Espelho D'água". Há também uma série de fotos belíssimas desse trabalho postado por ela nas suas redes. ;)
Dia 14/10 teve a cerimônia de premiação do Prêmio Açorianos de Dança 2021, que teve o Laboratório Dark Cabaret entre os indicados, das bailarinas Hölle Carogne, Patrícia Nardelli e Bianca Brochier. Infelizmente elas não levaram desta vez, mas você pode conferir os demais premiadosaqui!
Além disso, o espetáculo premiado de 2020, Dura Máter, da escola Al-Málgama de Bruna Gomes, foi reapresentado no XXXVIII Congresso de Psiquiatria, na FIERGS!
E esta-que-vos-fala participou do 4º Dark Fusion Brazil Online, organizado pela Gilmara Ígnea em setembro. :) Você pode conferir a mostra completaaqui!
Por fim, deixo aqui uma postagem da Si Faller, que está gravidíssima neste momento, com o vídeo de conclusão da Formação em Fusion Bellydance dela. ;)
Por hoje é só, galera! Com sorte os próximos virão mais recheadinhos, tendo ou não eventos, pois agora irei expandir para a cena do RS como um todo. ;)
Anath Nagendra (Esteio-RS) é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Cartazes de divulgação das edições de 2013, 2015, 2016, 2017 e 2018. Fonte: Facebook Baladi Congress
Podemos
afirmar que o Baladi Congress é atualmente o maior evento independente de dança
do ventre da Bahia, e afirmo isso levando em conta tanto o alcance de público,
quanto o destaque na mídia local, bem como a estrutura do evento e a quantidade
de profissionais renomados no mercado que participam. O evento vem contribuindo
significativamente com a formação de muitos profissionais e estudantes da dança
do ventre no estado há dez anos, e é uma vivência intensa e intensiva que
proporciona ao seu público uma imersão em um ambiente que transborda paixão
pelas danças árabes. Contudo, arrisco dizer que uma das maiores conquistas do
Baladi Congress foi projetar a dança do ventre da Bahia para o Brasil
afora.
Nós que atuamos com o
estilo tribal, com as fusões, precisamos aproveitar eventos como esse como uma
oportunidade de conhecer um pouco mais as danças árabes e o universo das danças
do ventre, afinal de contas, as próprias criadoras do estilo tribal americano e
do tribal fusion afirmam que são estilizações da dança do ventre. Defendo que
uma boa base de dança do ventre, bem como o estudo das danças árabes, é
fundamental para quem deseja estudar e atuar com as fusões tribais, até porque
essa nomenclatura já está sendo abandonada e o termo Fusion Bellydance
(dança do ventre de fusão) vem assegurando e reafirmando a dança do ventre como
o centro dessa roda.
O Baladi
Congress (carinhosamente vou apelidar de BC) é realizado pelo Studio Dance
Baladi, escola especializada em Danças Árabes e Danças de Salão, e aqui aproveito
essa oportunidade para parabenizar a escola pelos seus dezoito anos de vida! A
direção do Dance Baladi e do Baladi Congress é do casal Fernanda Guerreiro e
André Uzêda.
Workshop com Lukas Oliver (São Paulo) em 2018.
O BC acontece todo ano em Salvador desde 2011, sempre no mês de agosto. Foram nove edições no total, a décima iria acontecer em 2020, mas por causa da pandemia essa edição especial precisou ser adiada. A décima edição já tem data marcada para 2022 e Fernanda Guerreiro adiantou em sua rede social que vai ser uma edição ainda mais especial! Será nos dias 05, 06 e 07 de agosto de 2022 no Quality Hotéis e Suítes São Salvador, e eu já estou me organizando para participar! Simbora?! Se você é também apaixonad@ por dança do ventre, é um evento imperdível, daqueles que recomendo ir pelo menos uma vez na vida para conhecer! Provavelmente depois da primeira vez que participar você vai querer ir de novo!
Fernanda
Guerreiro explica que o objetivo, a proposta do evento, é proporcionar
conhecimento através de workshops, palestras e cursos com grandes nomes
nacionais e internacionais da dança; promover intercâmbio entre os
participantes; dar visibilidade à novos talentos; promover momentos de
interação e alegria aos participantes e elevar o nome da Bahia no cenário
nacional. O evento tem um alcance de aproximadamente mil e quinhentas pessoas
nos três dias e propõe em cada edição uma grade de aulas que agrada diferentes
perfis e preferências, o que possibilita a participação de um público amplo,
com interesses e estilos diversos. No quadro de professores, profissionais
reconhecidos na Bahia, no Brasil e até mesmo no cenário internacional da dança
do ventre já participaram do evento. O Baladi Congress ganhou duas vezes o
prêmio Shimmie de melhor evento de dança do ventre do Brasil, reforçando e
reconhecendo a proporção que o evento tomou, resultado do trabalho árduo,
sério, competente e dedicado de toda uma equipe de realização e produção.
É uma grande
responsabilidade, ao mesmo tempo que uma emoção falar do BC, porque é de fato
um evento importante para a cena da dança do ventre na Bahia ao passo que é
também um evento importante para mim. Participei da primeira edição do BC, em
2011, e de lá pra cá já participei de várias edições, sempre que posso me
inscrevo, faço as aulas, assisto a mostra, o show, e fico babando na feira de
exposição que, aliás, é um destaque do evento, oferecendo a oportunidade de
adquirirmos itens de dança que dificilmente teríamos acesso. Para mim
particularmente, o Baladi Congress é marcante, pois acontece no mês de agosto,
que é o mês do meu aniversário e já me dei de presente diversas vezes o pacote
de aulas e/ou até mesmo um figurino, um lenço, um véu da feira de exposição.
São muitas lembranças de aniversários meus celebrados nesse evento... em uma
certa edição um dos dias chegou a cair exatamente no dia do meu aniversário,
lembro nitidamente da aula que fiz, foi com Ju Marconato! O BC foi
importante para a minha formação enquanto dançarina e professora de dança do ventre
e fusões, mas não somente, nessa trajetória de dez anos fui observando o evento
crescendo à medida também que eu fui amadurecendo enquanto profissional e
enquanto mulher.
Workshop com Gamal Seif (Egito) em 2019."
E o BC cresceu muito, de maneira rápida! Quando perguntei à Fernanda Guerreiro sobre a evolução do evento, ela me respondeu: “O Baladi cresceu rapidamente e além de qualquer expectativa esperada. Acredito que pela qualidade do evento e pela organização (ouvimos muito isso do nosso público). O Baladi também traz muitos diferenciais do que existe no mercado... preparamos sempre muitas surpresas que acontecem durante todo o Congresso, temos dois estilos específicos e distintos (Danças Árabes e Salão) mas que se complementam (normalmente os eventos com essas modalidades acontecem separadamente), festas cheias de alegria e interação do público.
Falando um pouco da
configuração do evento, o BC é um megaevento com vários eventos dentro dele, ao
longo dos três dias acontecem workshops, palestras, dois shows, dois bailes,
sendo um à fantasia (o Baladi Fantasy), feira de exposição e ainda, um flashmob
de dança do ventre que é um show a céu aberto! Para esse evento acontecer é
necessário de fato uma organização afiada, e esse é um dos trunfos do BC! Com
inúmeros fãs declarados pelo Brasil, o público cativo reconhece a competência e
a seriedade da produção, e seus admiradores estão espalhados por todas as
regiões do país. O Baladi Congress é uma referência de evento independente de
dança do ventre que deu certo e se consolidou no mercado nacional da dança.
Flashmob de Dança do Ventre em 2019.
Foram
tantos profissionais renomados que passaram pelo BC ao longo dessas nove
edições que eu precisaria escrever um texto à parte para dar conta de mencionar
os diversos mestres e mestras da dança do ventre e fusões que ministraram
workshops, palestras e dançaram no palco do Baladi Congress. Com todo cuidado e
respeito do mundo, vou citar alguns nomes, já de antemão dizendo que muitos
profissionais incríveis participaram do evento e não vou conseguir mencionar
todes, então meu recorte será com base em minha experiência. Tive a
oportunidade de fazer aula no BC com mestres e mestras como Gamal Seif, Lulu
Sabongi, Esmeralda, Mahaila El Helwa, Ju Marconato, Kahina, Elis Pinheiro, Dani
Nur, Cris Azevêdo, Lis de Castro, Pâmela Cruz, Fernanda Guerreiro....Pude
assistir belíssimas apresentações desses professores e professoras e mais
tantas danças que levaram ao palco das mostras e dos shows seus estudos e seus
trabalhos com aquele entusiasmo de estarem dançando para um público que está
ali porque quer muito, porque ama. Essa energia é inexplicável, uma vibração
diferente fica no ar quando um evento reúne tantas pessoas que amam dança do
ventre, e é isso que o Baladi Congress faz, agrega pessoas diversas com essa
paixão em comum.
Como sempre venho afirmando
nessa coluna, não é tarefa fácil realizar eventos independentes de dança no
Brasil, ainda mais no momento extremamente difícil que estamos (so)brevivendo,
com um governo que desqualifica a arte e a cultura sem um mínimo de vergonha.
Convidados do Baladi Congress Dança do Ventre
2019 no Show de Gala.Todas as imagens foram cedidas pela produção.
Então
registro aqui, como rito obrigatório nos meus textos, a minha reverência,
respeito e admiração ao Baladi Congress por se sustentar e apoiar tantos e
tantas profissionais da dança do ventre, fusões e da dança de salão, mesmo
diante de adversidades e dificuldades. Quando perguntei como tinha sido ficar
sem realizar o BC em 2020 e 2021 por causa da pandemia, Fernanda respondeu:
“Foi bem difícil, mas mediante tudo que estava acontecendo no mundo foi a
decisão mais acertada. De forma presencial seria uma irresponsabilidade realizar
qualquer evento mediante uma pandemia. Optamos em não realizar nem no formato
online porque o Baladi é feito de momentos de muita interação do público, uma
verdadeira aglomeração de alegria e muita troca, e vimos que o formato online
não teria a essência do Baladi Congress.”.
Deixo registrado também
meu apoio e admiração por essa decisão e pelo posicionamento firme e sim,
politizado, de Fernanda Guerreiro diante da pandemia e dos absurdos do governo
atual no Brasil. É preciso ter coragem para se posicionar, para deixar os
interesses pessoais de lado e pensar no coletivo, para viver profissionalmente
de dança, e ainda mais, de dança do ventre, no Nordeste. A minha reverência à
Fernanda e ao seu trabalho que há mais de vinte anos é realizado em Salvador com
a dança do ventre. Para finalizar esse texto, deixo as palavras de Fernanda
sobre o que é o Baladi Congress para ela: “O Baladi é a realização de um grande
sonho de viabilizar conhecimento e trazer visibilidade para a nossa Bahia.
Quando comecei a viajar levando minha dança Brasil afora, costumava ouvir
bastante a seguinte frase: “Não sabia que tinha Dança do Ventre na Bahia”. Foi
algo que me impulsionou ainda mais para tirar esse sonho do papel e mostrar os
talentos da nossa terra, assim como a qualidade na produção de eventos. O
Baladi se tornou um filho de uma história de amor e entrega à Dança.”.
Camila Saraiva (Salvador-BA)é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.
Como já foi dito, a força é extremamente
fundamento no contexto da dança e da saúde, propriamente dita. Sabemos que o
fortalecimento muscular possibilita romper com os desvios posturais advindos do
nosso cotidiano ou até mesmo de movimentos repetidamente reproduzidos na dança.
Além de ser um importante fator na prevenção de lesões e auxiliar na
recuperação das lesões preexistentes. Mas trabalhar a força das alunas em uma
aula de dança?
·Primeiro é importante
saber os tipos de força e qual ou quais desejamos trabalhar de acordo com a
modalidade:
Força máxima
É a capacidade que um músculo ou grupo
muscular tem em realizar máximas tensões
Força explosiva
A força explosiva (ou rápida) representa a
relação entre a força expressada e o tempo necessário para a alcançar a ação,
ou seja, esta relacionada a movimentos de força com velocidade.
Resistência de
Força
É a capacidade do organismo de resistir à
fadiga, como se fosse uma força de longa duração.
·Após essa breve
explicação é possível perceber que na dança utilizamos todos os tipos de força,
mas algumas se sobressaem.
No caso do tribal, utilizamos se forma
significativa a força explosiva para a execução de movimentos que
demanda explosão, como uma batida de quadril forte que demanda maior contração,
nas dissociações corporais marcadas, giros rápidos e por aí vai... Além disso,
a resistência de força está presente em nossa realidade, seja para
sustentar o braço durante períodos constantes, segurar um meia ponta e etc.
Para conseguir planejar
em sua aula treinos de força, precisamos ter em mente 3 princípios:
Sobrecarga: a
força não pode ser aumentada a menos que os músculos sejam trabalhados além da
sua carga normal de treino, ou seja, para evoluir na força e para continuar
tendo resultados vai chegar um momento em que você precisará aumentar a
intensidade dos treinos, frequência e até a duração dos exercícios.
Especificidade: Você deve escolher os exercícios o mais próximo possível da
modalidade e os movimentos que você irá trabalhar.
Reversibilidade: Se você não continuar treinando a força se perderá rapidamente,
nesse ponto precisamos estimular as alunas a não trabalharem a força só na aula
de dança, mas levar para a vida!
Pronto! Você já sabe o básico para iniciar os treinos de
força dos seus alunos, uma sugestão é, seja em uma aula de 60 ou 90 minutos,
separe de 10 a 15 minutos iniciais para esse trabalho.
Inicie com um trabalho articular (alongamento dinâmico,
como já citado em outra coluna).
Exercícios de força, de acordo com o objetivo da turma,
isto é, se você precisa que os alunos tenham força para descer ao chão e
subir, foque em membros inferiores.
Sempre tenha um momento para fortalecer o abdômen,
força do core é importantíssima para qualquer momento em sua dança.
Iniciar com 2 séries de cada exercício já é um bom
volume, sobre repetições pode-se trabalhar de 8 a 12, a depender do nível
de cada aluno.
Seja criativo, para o aluno não chegar 15 minutos após
o início da aula.
Preze
sempre a segurança, lembre-se o simples bem feito gera resultados
incríveis!
Vejo você em uma próxima coluna com algumas sugestões de exercícios!
Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial
Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG) é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Quando iniciei a coluna “Formação”, veio-me à memória a obra e vida do nosso querido Paulo Freire que se presentifica nas práticas pedagógicas zelosas pela ética e educação sensível no interior de e para as lutas sociais. Neste sentido, temos nos dedicado a refletir o seu legado para sulear nossas atuações no campo da Fusão Tribal. Na matéria de hoje, abordaremos um tanto do primeiro capítulo do livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (FREIRE, 2020) – 66ª edição. Afinal, em setembro do presente ano comemoramos o seu centenário. Viva, Paulo Freire!
A primeira edição do livro foi publicada em 1996. Nesta obra lançada em vida, o educador deixa o último legado na Terra. Muitas de nós, da comunidade da Dança do Ventre e fusões, éramos crianças, adolescentes e suponho que algumas ainda não eram passageiras deste mundo. No entanto, o livro é tão importante que foi reimpresso diversas vezes. O exemplar que tenho em mãos pertence ao ano de 2020. Nesse grande intervalo podemos perceber que a linguagem poética e política de Paulo Freire é essencial para o sistema-mundo que vivemos. Observemos as seguintes palavras da orelha do livro: “Paulo faz um chamamento aos(às) educadores(as) para, com ética crítica, competência cientifica e amorosidade autêntica, sob a égide de engajamento político libertador, ensinarem a seus(suas) educandos(as) seres Seres Mais”.
O livro então, demostra lucidez e maturidade a fim de levantar questões para a formação do corpo docente e discente, aprofundando a teoria de uma vida voltada para a humanização, revolução e contra a lógica do capital. Outro fator importante é dito nas palavras da pedagoga Nita Freire: “Pedagogia da autonomia sintetiza a sua Pedagogia do oprimido e o engradece como gente. É um livro-testamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se por inteiro, na sua grandeza e inteireza”. Assim, são esses aspectos que nos aproximam da Pedagogia da autonomia de Paulo Freire com o objetivo de realizar o exercício de nos perguntar constantemente sobre nossa professoralidade e aprendizado nas aulas de Fusão Tribal, bem como, questionar as estruturas do Norte Global e não ingeri-las sem rigor crítico.
Isto posto, temos no primeiro capítulo intitulado Prática docente: primeira reflexão, 23 páginas nas seguintes divisões/caminhos teórico-práticos:
1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica
1.2 Ensinar exige pesquisa
1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos
1.4 Ensinar exige criticidade
1.5 Ensinar exige ética e estética
1.6 Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo
1.7Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação
1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática
1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural
Em cada seção, Paulo Freire argumenta de diferentes maneiras a recusa ao ensino bancário e apresenta caminhos para uma prática de ensinar-aprender vívida, dialógica, política, gnosiológica, estética e ética, em que a “boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade” (FREIRE, 2020, p.26). Na verdade, cada subtítulo desse capítulo mostra a compreensão de que ensinar inexiste sem aprender; aprender não existe sem ensinar, “e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar” (FREIRE, 2020, p. 25-26).
O autor acrescenta: “foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar” (FREIRE, 2020, p. 26). Ele considera que aprender antecede a ensinar ou, melhor dizendo, o ensino se dissolve na experiência autêntica fundante de aprender, sendo o pensar certo a base da formação docente e do aprendizado discente. O pensar certo “implica a existência de sujeitos que pensam mediados por objeto ou objetos sobre que incide o próprio pensar dos sujeitos. Pensar certo não é que-fazer de quem se isola, de quem se “aconchega” a si mesmo na solidão, mas um ato comunicante” (FREIRE, 2020, p. 38). “O pensar certo, por isso, é dialógico e não polêmico” (FREIRE, 2020, p. 39).
Diante dessa breve descrição, de que modo o capítulo conversa com você? Faz sentido? Me conta do teu pensamento.
Que a obra de Paulo Freire continue a nos inspirar e transformar nossas práticas!
Viva Paulo Freire!
Fonte: Wilkipédia
Abraços dançantes,
Até breve!
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 66ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2020.
Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ...Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
No dia 12 de Agosto às 20:30 foi apresentado o show de aniversário de 3 anos do Lua RubraTribal, que foi transmitido pelo youtube.
O tema "corpo: a casa que dança" girou em torno da reflexão trazida com o isolamento sobre nossa relação com o nosso próprio corpo, com a nossa casa e com o reconhecimento de que habitamos um corpo dançante.
Estamos em um mundo diferente por conta da pandemia e mesmo em dias difíceis buscamos a arte para expressarmos os nossos dias, os desafios, as dores e alegrias.
Toda arte é uma história construída pelo nosso cotidiano, vivido um dia de cada vez, celebrando as vitórias, os ciclos da vida, o movimento de estar presente no aqui e agora, almejando o futuro melhor e dias que seguem com verdade e presença.
Estar presente no corpo, nas nossas casas, nas pessoas que nos rodeiam. Dias correm como os movimentos da dança e é nesse sentir que convidamos você para celebrar conosco essa alegria dos movimentos, da dança da vida.
Para essa celebração, convidamos bailarinos que se expressam nessa vida cotidiana, que expressam a dança para além do cenário, figurinos, coreografia... Celebramos o corpo, a casa, o movimento de estar vivo.
"Nas danças e andanças do fazer corpo com o digital, me chega novamente essa poética do corpo-casa; esses anos sem abraços e sem enlaços nos instiga e leva a ser devir caramujo, devir quarto, devir outro pelo olhar frio da tela.
O tempo de estar clausura trouxe um aroma de outros tempos, um gosto de outros ritmos, do mover-se hodierno, mais também vintage e também imagem.
Assim sendo sou atravessada por uma fagocitose mágica de deslizamentos e fricções com culturas (e também dores) atemporais, bebendo em fontes distantes e diversas.
No fim e novo começo, o que me move não tem nome, o que me ancestra não tem era, tem uma estética/ética/poética própria e não-dependente: nada importa mais que entreter o corpo e fazer-se festa de átomos no desfazer-se poeira de estrelas uma vez mais".
Selvática - Uma convocação a ouvir o nosso chamado interior, a força selvagem e potência feminina que habita o nosso corpo corpo-casa-terra, em um movimento ritualístico e celebrativo para as nossas múltiplas faces de mulheres luas e a coragem de ser mulher.
No aparente vazio cantam as vozes de nossos ancestrais dizendo que tudo o que somos vem de um pedaço de cada história de cada um que pisou no solo desta terra.
Somos todos eles.
Na solitude somos presenteados com a oportunidade de perceber esse sussurro cantando baixinho em nossos corações dizendo: "você não está só!"
"Talvez minha feitura pode ter sido na praia errada”. Foi isso que pensei quando me percebi também como um tengu dançante nagô latinamericano. Os tengu são criaturas dos misticismos japoneses que vivem por lutar com espadas, moram em florestas e montanhas, lutando entre si e escutando sabedorias de outras criaturas celestiais. Olho para meus montes, cheios de existências fortificadas pela vida em crise, da favela, e me reconheço partícipe desse lugar, e dessa sobrenatureza. Assim como os tengu são parte das montanhas e bosques, sou osso dessas madeiras e coluna desses concretos, que tanta gente luta para viver, bem como o tengu luta. Porém, diferente dessas criaturas combatentes celestiais, não tenho asas, tenho cordas que me amarram a vidas e corações, dessas e de outras montanhas. O que me resta é dançar a descida desse monte, dessa espada ter pousado em terra tão distante, mas jamais diferente na qualidade de lutar. Além disso, há a feliz coincidência desses montes preenchidos de vida serem constelações brilhantes na noite da varanda da minha vista. Diante dessa fantasia me pergunto sobre essa encruzilhada do dançar e do lutar, seria eu um tengu feito numa praia distante do arquipélago nipônico? Assumindo a fantasia e transmutando em dança o aço do meu encanto, dedico às moventes encantadas da Lua Rubra Tribal o “Descida do Monte Enconstelaçado”.
Há uma necessidade, uma intensa pressão por demonstrar e exibir o melhor o tempo todo, como se na verdade todos vivessem em um mundo de absoluta perfeição.
E ainda que vivamos o caos do momento, enfrentando uma doença surreal provocada por um vírus jamais conhecido antes, sucumbimos intensamente à essa outra doença do mundo atual. Ela que chega também de forma traiçoeira, mas que nos ataca violentamente e parece ser quase que inevitável, pois também significa trabalho efetivo para a maioria. A urgência por se transparecer perfeitamente impecável na vitrine social virtual vem minando a nossa vitalidade, a nossa qualidade de vida. E mesmo que percebamos esse mal não conseguimos evitá-lo. Lutamos contra o tempo e contra o natural para estarmos lá exibindo o mais lindo, impecável, feliz e esperado de nós e nossas vidas. Até o nosso sofrimento e nossa dor devem parecer perfeitos, maquiados por um filtro de embelezamento artificial. A arte e a expressão individual perdem qualidade diante de tanta pressão por conteúdo inéditos, que nada mais são mais do mesmo. Acabamos consumindo tendências e as exigindo também de todos, até mesmo de quem amamos. E assim vamos, modelos perfeitos na vitrine social, internamente corroídos e encurralados por estas ferramentas do momento, correndo, tentando alcançar o tempo que voa, levando junto nossa vitalidade e autenticidade de viver. Nós somos nossos próprios carrascos, nosso "Bad Guy", a metáfora em dança que eu criei para a música de Billie Eilish.
Uma linda mulher. Ousada, moderna e dona do seu próprio caminho. Anacrônica. Sim, baby, ela estava muito à frente de sua época. Mãe, esposa, companheira, amiga. Tantas cobranças, tantas facetas a desempenhar... Uma mulher que precisou ser forte. Uma mulher que perfumava à tantos sonhos. E nas brechas de tempo, ela só quer dançar, extravasar, se expressar. Um corpo vibrante. Um corpo que ainda pulsa. Uma imagem marcante, com seu batom vermelho; uma energia descontraída e contagiante; uma memória latente em nossos corações.
A dança abordada a partir da sensibilidade e da verdade desse corpo dançante , onde as castanholas e pés dialogam com a mola propulsora, o corpo com sua torções seu sentir, a partilha de emoções com o observador e a natureza.
A dança sempre foi minha vida, meu dia-a-dia e minha constante. Nesses tempos difíceis a dança tomou outras formas e rumos pra mim e se tornou um escape nada constante dessa casa em chamas que tem sido a minha mente, literalmente a bombeira que tenta apagar o fogo em momentos exaustivos.
Com as sombras que assolaram o mundo até o momento presente, fomos convidados a olhar para dentro de nossa própria morada. Nosso corpo. Nosso eu interior. E encarar a realidade e a certeza da morte.
O que desperta nossos medos, nossos piores pesadelos?
“...Para que haja luz é precisa aprender com as sombras.“
Lua Rubra Tribal - @LuaRubraTribal
O trabalho "Corpo: a casa que dança" retrata a jornada do Lua Rubra através dos tempos desafiadores que vivemos em razão da pandemia. O isolamento social que nos privou do convívio entre nós e com o público. O reconhecimento da casa enquanto o lugar de expressar a arte. As reflexões sobre o corpo dançante em que habitamos. A constante necessidade de adaptação ... e o pulsar da dança em nossos corpos.
O show também contou com uma caixa de colaborações voluntárias que foi dividida igualmente a todos os bailarinos.
E você, viu o show? Conta pra gente o que achou do tema!
Lua Rubra Tribal (Vila Velha-ES) é formado por Sahira Zomerod, KarMir, Aline Yuki e Bruna Benes; foi criado no ano de 2018, seguindo as lunações para formar uma liderança circular. Cada uma representa uma lua: nova, crescente, cheia e minguante, respectivamente.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>