[Estilo Tribal de Ser] Figurinos pelo mundo - Parte 2

por Annamaria Marques 

Olá pessoal!


Desta vez para nossa viagem pelo universo das fusões eu trouxe a referência da artista japonesa Natsumi Suzuki


Ela é dançarina, coreógrafa e diretora, nascida em Tóquio ,(Japão) e atualmente mora em São Francisco (Estados Unidos) e tem um trabalho incrível e requintado, repleto da influência da sua cultura, fazendo um belo exemplo de trabalho de Asia Fusion, como ela mesma chama.



Tribal Asia Fusion é o nome do estilo desenvolvido por ela. Ele junta vários estilos de dança que ela estudou com movimentos de danças folclóricas japonesas. Além disso, utiliza gestos mímicos japoneses do formato tradicional de contação de histórias. 


Na coreografia abaixo, Garota que se transforma em ave, além da dança, ela utiliza uma técnica vocal com a qual imita o canto da ave na qual a garota se transforma. Segundo a bailarina, esses animais aparecem com recorrência em histórias e folclores antigos e este recurso é usado pelos contadores de histórias para ilustrar e enriquecer a performance.





No vídeo abaixo ela trabalha tanto os movimentos de leque quanto a máscara do teatro Noh (possivelmente a Onnamen ou máscara de mulher, ou ainda a Komote ou a mulher bela e calma).




As máscaras no teatro Noh são feitas geralmente em madeira e representam emoções e personagens específicos da história sendo contada. Existem máscaras para representar as emoções e idades das personagens femininas, masculinas, monstros e heróis.


Um detalhe maravilhoso sobre elas é que são construídas de forma que mudanças no ângulo do do ator também mostram emoções diferentes devido às mudanças na iluminação que elas recebem.


Natsumi Suzuki com a Máscara Kitsune: a entidade raposa




Mais um vídeo com figurinos japonês:





Mais referências:

https://japanobjects.com/features/japanese-masks


https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Kitsune


https://historyplex.com/japanese-masks-meanings/amp


https://kimurakami.com/blogs/japan-blog/traditional-japanese-mask#:~:text=JAPANESE%20THEATER%20MASK%20MEANING&text=No%20masks%20are%20used%20for,were%20also%20played%20by%20men


Site:

http://natsumisuzuki.com/


___________________________________________________________________________

Estilo Tribal de Ser



Annamaria Marques (Belo Horizonte-MG)
 é bailarina, professora, produtora do festival Tribal Core, dona do atelier InFusion e diretora da Trupe Andurá de ATS® e da Tribo Dannan de Tribal Fusion de Minas Gerais.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Corpo & Dança] A importância de treinar força no contexto dançante

 por Jossani Fernandes

Michelle Sorensen (EUA)


Fundamental para execução de diversos movimentos e interações individuais e em duplas, utilizamos a força em significativas situações coreográficas, consistindo na ação que causa uma mudança no estado de movimento de um objeto, pessoa ou seu próprio corpo.


Do ponto de vista fisiológico, a força é a capacidade de exercer tensão contra uma resistência, que ocorre por meio de diferentes ações musculares (BARBANTI, 1994), as quais já foram abordadas na coluna anterior. 


O processo de treinamento, não somente da força, mas de qualquer capacidade física, se dá pelo planejamento e programação com embasamento em alguns princípios, que, devem ser respeitados e utilizados de forma coerente com as particularidades encontradas tanto no nosso corpo que será treinado, quanto na modalidade, no nosso caso a dança! 


Detalhe, não é qualquer estilo de dança não é minha gente...


Daí vem as maiores dúvidas:


Não vai me atrapalhar na dança?


Anteriormente, o treinamento de força de certa forma era considerado impopular na dança, devido á hipertrofia (ganho de massa muscular) ser uma preocupação para os bailarinos, pois antes acreditava-se que o ganho de massa muscular poderia prejudicar a flexibilidade, agilidade e a estética que necessitavam, algo que já tem sido estudado fortemente e já vemos que não irá acontecer:


  • Uma coisa é fato, primeiramente para as mulheres, vocês não irão ganhar massa muscular o suficiente para ficar masculinizadas, pois não produzimos hormônios que permitem esse acontecimento. 

  • Aos homens, se vocês não desejam ficar musculosos, existem formas de manipular os treinos de força para que vocês não hipertrofiem tanto.

  • Para todos, sua flexibilidade, agilidade e afins só será afetada se deixar de treinar essas capacidades, o ganho de massa muscular não te fará perder o que você possui.

Para que treinar força?


Assim como no âmbito esportivo, a dança tem característica forte quanto aos níveis de exigência, aspectos coreográficos que envolvem diversos valores físicos e psicomotores. Nós sabemos mais que ninguém o nível de exigência que demandamos do nosso corpo, principalmente, com a aproximação de festivais, concurso e eventos, ondes enfrentamos cargas horárias extensas de ensaios e aulas, assim como as companhias de dança profissionais.


Por esse e outros motivos, como nossa saúde, precisamos nos preocupar em manter nossas bases fortes, para evitar lesões, cansaço excessivo, adquirir uma maior consciência corporal e manter o condicionamento para aguentar a carga de trabalho.


Preciso treinar força?


Muitas vezes, quando não conseguimos executar de forma correta um dado movimento, dizemos que estamos fracos ou com o corpo inadequado para tal, o que pode ser precipitado, podendo apenas necessitar de um ajuste na técnica, melhorando sua postura, equilíbrio, flexibilidade e a iniciação correta no movimento com trabalho de força específico. Buscando sempre o alinhamento corporal, favorecendo a execução de qualquer movimento.


Além disso, O fortalecimento muscular possibilita romper com os desvios posturais advindos do nosso cotidiano ou até mesmo de movimentos repetidamente reproduzidos na dança.


Esse fortalecimento é um importante fator prevenção de lesões, auxilia na recuperação das lesões preexistentes, os músculos agem de forma mais eficiente e integrada, além de nos tornar fisicamente mais disposto e mais habilidosos. 


Como organizar a rotina de treinos?


Cabe ressaltar, que as melhoras das capacidades ligadas à dança estão condicionadas à uma prescrição e estruturação que sejam coerentes com a proposta a serem desenvolvidas em nós bailarinos/as, distribuindo os estímulos com volumes e intensidades adequados, para isso um profissional de educação física qualificado é de extrema importância.


Sobre organização, depende da sua rotina, em relação a ensaios, aulas, trabalho e estudo... Para que não entre em sobrecarga, mas para que tenha bons resultados recomento que tenho uma frequência semanal mínima de 2 a 3x em seus treinos de força para que o seu corpo tenha adaptação.


Modalidades recomendadas para que tenha ganhos de força:

 

  • Musculação


  • Treinamento Funcional (imagem Treinamento Funcional)


 

  •  Cross Trainning/Crossfit

 

  • Body Pump

 

  • Pilates

 E na própria aula de dança, com orientação, é possível fazer um trabalho de fortalecimento muscular, desde que o professor tenha formação e conhecimento adequados para realizar treinamento de força.

Por fim, é importante que o treinamento de força deve ser realizado de forma global com exercícios próximos ou iguais aos que serão realizados na dança, se o seu objetivo ao treinar força, for se preparar para a dança é claro! Se trabalharmos a força do músculo de forma isolada, sem considerar a coordenação do corpo como um todo, podemos não atingir o resultado técnico desejado e ainda atrapalhar o desempenho na dança. Por esse motivo, é importante procurar um profissional de educação física para orientar esse treinamento de força, pois ele vai planejar o treino dentro de um objetivo com uma intensidade adequada e periodização das fases e progressões.

Referências: BARBANTI, Valdir J. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2.ed, São Paulo: Edgard Blucher, 1997 FLECK, Steven J.; KRAEMER, Wiliam J. Fundamentos de treinamento de força muscular. Porto Alegre: Artemed, 2006.

______________________________________________________________________________

Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial


Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG)
 é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 3

por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos fazendo por aqui pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre. No nosso último encontro falei sobre um ponto em comum de muitas bailarinas incríveis que foi a companhia de dança Bellydance Superstars e finalizei propondo uma reflexão sobre como a cultura pop e a tecnologia nos anos 2000 pode ter influenciado o estilo tribal.

Na minha pesquisa pessoal comecei a pensar sobre esta influência ao observar vídeos antigos do grupo Unmata. O grupo é dirigido por Amy Sigil, foi fundado em 2004  e desenvolveu a proposta do ITS - Improvisational Tribal Style. Atualmente o significado da sigla foi alterado para Improvisational Team Synchronization. O ITS é baseado nas regras de improvisação coordenada do ATSⓇ, porém o grupo se vale de um dialeto próprio, estruturado por combinações de movimentos.  O Unmata trouxe muitas inovações para o estilo Tribal, como a ampla utilização das músicas eletrônicas, as coreografias mais dinâmicas em nível e espaço, mais velocidade na execução e figurinos inovadores, inspirados em um visual pós-apocalíptico como podemos ver neste vídeo:

 


Quem viveu nos anos 2000 pode ter experimentado a expectativa de um futuro com uma tecnologia quase cinematográfica, os celulares ficando mais populares e com designs cada vez mais diferentes, com luz de fundo colorida, flips e música em formato mp3. Essa foi a década em que surgiu o GPS, o pendrive, as TVs de tela plana, a internet de banda larga, a trilogia de filmes Matrix e uma grande influência estética baseada em paletas de cores metalizadas, calçados de plataforma, óculos com lentes coloridas e customizações diversas nas roupas entre outras tendências da moda que tinham como denominador comum “ser disruptivo”. De alguma forma a sociedade foi influenciada por essas expectativas e por essa vontade de ousar, modificar e transformar, demandadas pela época. Para compreender o que pensava Jamila Salimpour ao criar o Bal Anat e todo seu legado, precisamos entender o contexto dos EUA nos anos 70, assim como se faz necessário, para assimilar o período old school Tribal, interpretar o que pode ter levado as bailarinas da época a criar linguagens tão diversas, em constante experimentação. Nesse âmbito a adesão da música eletrônica nas apresentações do estilo Tribal tem muito a nos dizer. Divergindo da década de 70, quando a contracultura incitava a busca pelo exótico, pelo “tradicional”, pelo “étnico” ou raíz, surge, na virada do séc. XXI, uma tentativa de modernização, de misturas e novas investigações.


Unmata, 2008

Nesta trajetória da época em questão, é imprescindível citar as bailarinas Zoe Jakes, Sharon Kihara e Kami Liddle. Seus respectivos estilos são muito peculiares e específicos, bastante influenciados pelas danças do movimento Hip Hop e música eletrônica. Há movimentações como o waving, o popping, isolamentos pequenos e rápidos, assim como há a nítida influência do Bellydance Superstars e da dança “espetacular”, posto que as três foram também integrantes da companhia.

Eu considero também essenciais nessa análise as bailarinas Mira Betz e Elizabeth Strong que foram alunas de Katarina Burda e fizeram parte de seu grupo Aywah!, onde todas as integrantes não só dançavam, como tocavam e cantavam, o que as diferenciou em sua leitura musical e em seu trabalho com músicas balcânicas e trilhas de jazz dance. Assim como ocorreu com Zoe Jakes, que também foi aluna de Katarina Burda e integrante do Aywah!, podemos perceber que seus estilos não estão embasados no ATSⓇ, o que se observa através da postura, figurino e escolha de repertório. Entretanto, ao meu ver, elas já estavam dançando Tribal Fusion, pois eram influenciadas por toda comunidade do estilo tribal da época, estavam nos mesmos DVDs e shows, ou seja, eram consideradas como bailarinas da mesma linguagem.

Mira Betz em apresentação no transatlântico Queen Mary na Califórnia

É claro que existem muitas bailarinas incríveis e que foram muito importantes nos anos 2000, mas preciso selecionar os pontos mais relevantes da minha pesquisa e diante dessa pequena cronologia que apresentei podemos pensar: o que todas essas bailarinas e grupos têm ou tiveram em comum? Eu arrisco dizer que a resposta está na ousadia para compor a partir das próprias referências. Assim, certas escolhas estéticas - como o fato de Frederique poder ter se inspirado em um filme para dançar sua trilha sonora, como o fato de Rachel Brice ter buscado referências em em Star Wars, ou ainda, o fato de Melodia Medley pensar em uma modelagem de calça capaz de facilitar a movimentação ao se performar o Tribal em raves, - são elementos que deixaram, aos poucos, de serem pessoais para compor uma linguagem estética do tribal.
Parafraseando Mira Betz, o Tribal é muito mais sobre você descobrir quem você é e expressar isso com essa dança herdada do que de fato tentar reproduzi-la. Irei abordar mais isso no nosso próximo encontro em que finalizamos esta pequena análise, deixe um comentário com sua opinião sobre o texto e me conte: o que você considerava mais disruptivo no tribal dos anos 2000?

______________________________________________________________________________

Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Campo em Cena] A produção de eventos no Tribal: O poder sobre os meios de produção de capital intelectual.

 por Thaisa Martins



Nesta coluna, refletimos aspectos do campo da Dança tendo a teoria de campos do pesquisador francês Pierre Bourdieu como principal suporte teórico. No artigo de hoje, seguiremos a trilha que estamos construindo para pensar a importância dos eventos para a consolidação do campo da Dança, analisando especificamente a cena brasileira do Tribal. 


Bourdieu (2003) nos aponta que dentro do campo científico (aqui estamos interpretando o termo científico de forma mais alargada, associando ao lugar de campo de produção de conhecimento), há duas principais formas de poder: o poder político e o poder sobre os meios de produção. A essas formas de poder, Bourdieu associa dois tipos de capital intelectual específicos de produção. O primeiro é o capital “puro” que são os resultados diretos das pesquisas, sejam os artigos, os livros, e acrescentamos aqui as obras coreográficas, os video-danças, as performances e etc, tudo aquilo que tem a possibilidade de conceder um prestígio por meios de créditos simbólicos. O segundo tipo é o capital da instituição, que são acumulados com o tempo e que se inserem em estratégias políticas específica, temos aqui a participação em bancas de mestrado e doutorado, cerimônias, reuniões e acrescentamos, apresentação de trabalhos em eventos, palestras como convidado em eventos, ministrar aulas em eventos.


Assim, os eventos têm um papel diretamente conectados à produção de capital da instituição, onde eles administram o poder sobre os meios de produção, ou seja, eles acabam por legitimar quem são os profissionais (ou agentes no jargão Bourdieusiano) que tem espaço e concedem prestígio e reconhecimento para os mesmos. Fomos muito longe? Calma que agora vem os exemplos que esperamos desanuviar nossas idéias.


O que estamos apontando aqui é que os eventos são importantes influenciadores e viabilizadores de desenvolvimento para o fazer da Dança. Quando analisamos a cena do Tribal no Brasil, podemos identificar algumas das marcas que os eventos nos proporcionaram. O evento Tribal y Fusion, produzido por Adriana Bele Fusco (SP) em  2009, foi um dos primeiros eventos a trazer estrelas internacionais do Tribal Fusion para o Brasil, nomes como Sharon Kihara (USA), Mardi Love (USA) e Ariellah (USA) fizeram parte da equipe de professoras e dançarinas do show de gala. Aqui, as brasileiras que só tinham acesso limitado à informação, geralmente através de DVDs de aula com umas 2h de duração, estavam frente a frente com as profissionais para tirar suas dúvidas e receber feedbacks.

Em 2014 no Shaman’s Fest, organizado pela Shaman Tribal Co na coordenação de Cibelle Souza (RN) e Paula Braz (SP), tivemos pela primeira vez no Brasil (e única vez até a data de publicação deste artigo) a dançarina Rachel Brice (USA) para ministrar um Curso Profissional e workshops. A vinda da principal dançarina de Tribal Fusion do mundo ao país impactou imensamente na produção coreográfica.


Em 2015, no Festival Campos das Tribos organizado por Rebeca Piñeiro (SP), tivemos o que consideramos um dos maiores impactos para a profissionalização latino americana do então ATS® (American Tribal Style), com a realização do curso de formação ministrado pela própria criadora do estilo. Segundo informações do site do evento, foram mais de 50 profissionais que adquiriram o certificado que, antes deste momento, só seria possível ser realizado nos EUA. De lá para cá, muitos eventos marcaram a profissionalização, a produção de conhecimento e de material artístico na cena do Tribal brasileiro, bem como o pensamento curatorial. 


Com a situação pandêmica do COVID-19, a produção de eventos foi diretamente impactada e precisou se reinventar. Em 2020, o Simpósio Práksis coordenado por Lailah Garbero (MG), marcou a produção dentro da cena Tribal ao propor um evento com palestras totalmente teóricas. A procura de mais de 100 inscritas evidenciou que há muito espaço para discussões e proposições críticas dentro da produção de eventos na cena Tribal.


Em relação ao pensamento curatorial, temos eventos com um direcionamento mais regional integrando a cena. O Ankaa Fest organizado pela Ankaa na coordenação de Joline Andrade (BA), Kilma Farias (PB) e Alinne Madelon (CE), o Congresso Mineiro de Tribal organizado por Annamaria Marques (MG) e a Convenção Carioca Tribal organizada por Jessie Ra’idah (RJ) evidenciam o trabalho de profissionais das suas regiões. 


E seguindo um caminho curatorial de descentralização regional, o Fórum Tribal, que também ocorreu em 2020, contou com organização de 13 profissionais brasileiras das mais diversas regiões do país e buscou promover um espaço para debate entre praticantes, produtores e profissionais de todo o país. Aqui não houveram aulas dadas, mas sim conversas e trocas de experiências. 


Desta forma, podemos identificar que os eventos na cena Tribal tem 5 principais pontos de influência: 1) Viabilizam o acesso a profissionais estrangeiras e nacionais; 2) Servem como um espécie de vitrine para professores e dançarinas; 3) Profissionalizam o campo; 4) Geram mercado consumidor; 5) Legimizam produções intelectuais e artísticas.


O problema da construção de público


Acreditamos que o principal problema que a produção de eventos da cena Tribal brasileira enfrenta, nos últimos tempos, é a construção de público consumidor, ou seja, platéia dos eventos. Com o direcionamento das produções voltadas para o ensino de praticantes da modalidade, pouco desenvolvemos na produção de espetáculos em Tribal. Os shows de gala e de mostra artísticas não são o suficiente para construir um público consumidor da arte. Temos ainda a ideia de que o público é um potencial aluno, não um apreciador e essa é uma mentalidade que precisamos mudar.


Vemos que já tenhamos uma cena amadurecida o bastante para começar a propor espetáculos de dança que tenham a modalidade Tribal Fusion como sua linguagem artística. As Shaman Tribal Co. já nos provaram, mais de uma vez, que isso é possível. Os editais de incentivo à arte, editais de ocupação de teatros  e a busca de parceria de financiamento privado são os principais caminhos que o campo da Dança utiliza para concretizar tais projetos. 

A vida forçada no mundo digital também nos abriu para muitas possibilidades de criação, as plataformas de reunião se tornaram os novos palcos dos espetáculos de dança e teatro e, na cena Tribal brasileira, pouquíssimo (ou nada eu diria) foi produzido nessa direção. Temos muito a desenvolver nessas direções nos próximos anos.


Conclusão   


Buscamos neste artigo, refletir sobre a importância da produção de eventos para o campo da Dança, tendo a cena Tribal brasileira como foco investigativo. Apresentamos os conceitos Bourdieusianos de o poder político e o poder sobre os meios de produção, os dois tipos de de capital intelectuais o “puro” e da instituição, sendo esse segundo onde os eventos afetam diretamente.


Trouxemos um pequeno apanhado de eventos que marcaram a cena Tribal brasileira nos aspectos da profissionalização, a produção de conhecimento e de material artístico na cena do Tribal brasileiro, bem como o pensamento curatorial com o intuito de evidenciar a discussão da influência dentro do campo. E finalizamos apontando para o problema da construção de público apreciador da dança Tribal Fusion como o desafio dos próximos anos da produção. Esperamos contribuir, de alguma forma, na autonomia e fortalecimento do nosso campo a partir destas análises.


Vale ressaltar que apresentamos exemplos super pontuais de eventos. Nosso intuito não foi discorrer sobre um apanhado histórico dos eventos da cena, mas apenas exemplificar, através de uma pequena amostra, a importância da produção para o campo da Dança. Temos consciência de que muitas outras produções fizeram parte dessa construção e causaram grandes impactos no fazer artístico. 


Sigamos!    



Referências:

BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo

científico. São Paulo: Ed. da UNESP, 2004. 

https://centraldancadoventre.com.br/publicacoes/notcias/42/tribal-y-fusion-e-4-edio-do-encontro-internacional-de-dana-do-ventresp/454 (acessado em 01/08/2021)

https://congressotribalcom.wordpress.com/sobre/campodastribos/ (acessado em 01/08/2021)

http://shamansfest2014.blogspot.com/  (acessado em 01/08/2021)

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/danca-para-a-alma/275877 (acessado em 01/08/2021)



______________________________________________________________________________

Campo em Cena


Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é graduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ,  junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Organizando a Tribo] Caminhos para o retorno: do online para o presencial

  por Isadora Oliveira


Eii bailarinx! Como está a organização da vida por ai?

Estamos caminhando lentamente para um retorno da vida presencial. Agora, como inovar e principalmente se organizar para a volta das atividades presenciais?


Já estamos a um bom tempo na rotina do on-line, será que já é momento de se preparar para voltar à vida presencial? Como retomar as aulas e fazer com que as alunas tenham o mesmo interesse de antes da pandemia ou até, convencer as amantes do on-line que o retorno é uma boa opção? 

 

Vamos conversar sobre possibilidades e estratégias de planejamento e organização! 

 

1 - Qualidade e Entrega 

 

Não podemos nos esquecer que como professoras estamos prestando um serviço e as aulas são o nosso produto. A qualidade das aulas presenciais devem superar ou equalizar o conforto das aulas on-line. Aproveitem as muitas vantagens da troca de energia da sala de aula. Explore o espaço, dinâmicas de movimentação e interação, sequências e exercícios de grupo, pensando sempre em acolher e cativar a aluna. 

 

 

2 - Dinamicidade e Inovação 

 

Inevitável dizer que as aulas on-line diminuíram o ritmo e a intensidade dos momentos dançantes. Agora é o momento do resgate, de propor coisas novas, fazer com que a aula seja dinâmica e interativa.  

Faça na medida do possível uma divisão do conteúdo e das dinâmicas que você vai trabalhar naquele mês e planeje as suas aulas de forma a integrar conteúdo teórico, prático, técnico e interativo para maior integração das alunas. 





3 - Flexibilidade e Hibridização

 

Entender que muitas alunas não voltaram ao presencial é necessário, por isso seja flexível, atenciosa e disponível para conseguir atendê-las da melhor maneira possível. Ter a alternativa de aulas gravadas, vídeos sequências e até aulas on-line de reforço, são maneiras de manter a sua aluna rica em material e com a opção de escolher como vai estudar. 



Se programem e tenham muita calma para esse retorno. Muitas vezes um retorno lento, gradual e organizado é mais vantajoso e, principalmente, mais seguro, do que apenas retornar sem planejamentos ou protocolos de segurança. 



Bailarinxs, tenham uma ótima e organizada semana!

______________________________________________________________

Organizando a Tribo

Isadora Oliveira (Belo Horizonte-MG) é bailarina semi-profissional, estudante e mobilizadora social. Com 19 anos de idade, graduanda em Bacharel em Direito e amante da Cultura Árabe Oriental, tem uma vasta experiência em organização grupal (apesar da idade), são aproximadamente 10 anos de trabalho e serviços sociais voluntários. É integrante da equipe VIDES Brasil (Voluntariado Internacional de Desenvolvimento e Educação Social) e está à frente da Iniciativa da Nova Geração das Danças Árabes Orientais no Brasil.  Clique aqui para ler mais posts desa coluna! >>


[Formação no Tribal] Conteúdo (Parte2): Um Trabalho Pedagógico

por Ana Clara Oliveira

Paulo Freire

Na última postagem da coluna, nós nos dedicamos sobre uma pergunta específica: qual é o conhecimento que importa na nossa dança? Em comemoração ao centenário do patrono da educação brasileira Paulo Freire – que se completará em setembro do presente ano -, vou discutir com vocês, nesta matéria, o entendimento dos conteúdos a partir do currículo Crítico-libertador declarado por ele.

Ao aproximarmos a prática educativa da dança às orientações de Paulo Freire (2019), poderíamos observar que a escolha do conteúdo programático é uma das preocupações que atravessam o cotidiano dos professores. Quando situamos o campo do estilo tribal, percebemos o alargamento das discussões sobre como ensinar e o que ensinar. Seja no formato de combos, seja numa investigação de improvisação, ou ainda, por teorização aprendemos que é preciso gerar conteúdos para as aulas.

Tal natureza não se organiza somente como uma preocupação pedagógica ou como um problema identificado: nós, docentes do estilo tribal, valorizamos um ensino com conteúdo, isto é, com o objeto do conhecimento para o desenvolvimento das capacidades dos alunes. Eis que surge a “inquietação em torno do conteúdo do diálogo e a inquietação em torno do conteúdo programático da educação (FREIRE, 2019, p. 115-116). 

Diante disso, o educador discorre a criação de um currículo crítico que responda à prática libertadora cuja “dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educandos-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes” (FREIRE, 2019, p. 115-116). Essa postura pedagógica se difere do chamado “educador-bancário”, que na sua “antidialogicidade” faz uma verticalidade do saber ou até mesmo impõe o seu programa de aula, sem nunca perguntar aos alunes sobre suas inquietudes. 

Mas, como colocar esse trabalho pedagógico em ação? Ou melhor: como reduzir a educação bancária rumo ao projeto crítico e de liberdade?

Neste momento, alguns de vocês talvez estejam perguntando se a ideia é eliminar o nosso repertório de movimento e toda a nossa rica estética, a fim de propor algo quase impossível de fazer. Pois bem, a responda é: não. Para o querido pensador, a nossa tarefa é: ensinar conteúdos disciplinares, ou seja, tudo que julgarmos necessário para o aprendizado das técnicas e do universo poético do estilo tribal, mas também convocar as diferentes realidades dos alunes numa ação consciente. Esse princípio gera a estruturação dos conteúdos que importam e que precisam ser problematizados em um processo dialógico no qual as experiências diárias também formulam a criticidade. O conteúdo programático então, deixaria de ser exclusiva eleição dos profissionais do estilo tribal, para ser deles e dos alunes. Por esse motivo, “é na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da educação” (FREIRE, 2019, p. 121).

Uma das formas de aplicar essas orientações nas nossas salas de aula é a partir do “universo temático” ou o chamado conjunto de temas geradores (FREIRE, 2019, p. 121). De modo breve, os temas geradores são investigações que não se concentram nas pessoas isoladas da realidade, nem ao contrário. São buscas metodológicas conscientizadoras entre corpo docente e discente que, sendo constituídas nas relações corpos-mundo, podem ser capturadas e entendidas no domínio humano e não como se fossem coisas – assuntos soltos, fora do humano. “Investigar o tema gerador é investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis” (FREIRE, 2019, p. 136). 


De maneira didática, podemos encontrar as seguintes etapas na abordagem de Paulo Freire (2019): investigação (busca por palavras e temas centrais); codificação dos temas (contexto concreto ou real em que os fatos ocorrem e o contexto teórico em que a codificação é analisada); decodificação (ato cognoscente realizado pelos corpos sociais e que gera a nova percepção) e por fim, a problematização (visão reflexiva). Obviamente, todo o arcabouço do currículo Crítico-libertador vai além desse texto, mas deixo aqui essas noções com o intuito de colorir e despertar ainda mais nossas aulas. Assim, vejamos o esquema abaixo:

Trama Conceitual Freireana: Ensino-aprendizagem
Ana Maria Saul e Patricia Lima Dubeux Abensur
Fonte: Revista Educação (UFSM)

Na próxima postagem, planejo publicar uma resenha do primeiro capítulo do livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa (FREIRE, 2020) – 66ª edição. Com estas informações, aspiro auxiliar a nossa comunidade de dança, especialmente docentes a refletir a própria atuação e a tomar decisões de maneira mais conscientes sobre: “que conteúdos ensinar, a quem, a favor de quê, de quem, contra quê, contra quem, como ensinar” (Freire, 2005, p. 45). 

E, vocês já trabalharam através do currículo Crítico-libertador? O que vocês pensam dos temas geradores? Vamos conversar? 

Finalizo com a imagem inspiradora da professora/artista/coreógrafa/estudiosa/pesquisadora do estilo tribal: Annamaria Marques, tão dedicada ao ensino amoroso e consciente.

Abraços dançantes,

Até breve!

Annamaria Marques ( @annamaria_tribaldancer) |  Fotografia: Greis Ferreira.


Referências:

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 

_____________Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.


 ______________________________________________________________________________

Formação no Tribal


Ana Clara Oliveira (Maceió-AL) é dançarina e pesquisadora do estilo Tribal de Dança do Ventre. Professora de Dança na Escola Técnica de Artes (UFAL). Doutoranda em Artes (UFMG) onde pesquisa a formação no Tribal. Mestrado em Dança (UFBA). Diretora da Zambak Cia de Dança Tribal ... Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>


LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...